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Mostrando postagens de março, 2011

Muito Pode Quem Não cala

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O Poder da Fala " É preciso um espírito muito especial para analisar o que é óbvio. " – A. N. Whitehead Entre o provérbio e o verbo pró (ou contra), não há apenas o conceito de espaço-quando, nem sequer a manifesta intenção de acondicionar o saber de experiência feito numa embalagem linguística passível de ser acatada pelo maior número possível de utilizadores – ou falantes –, mas antes a noção ética que reflecte na íntegra o inconsciente colectivo que o gerou, nas mais profundas e arreigadas inspirações da criação engajada numa civilização, demonstrando assim a qualidade semântica de uma tese que, por si só, não obstante os registos "literários" em que eclodiu, detonou também a antítese que lhe corresponde e a síntese que é o produto de ambas. Logo, ao analisar os provérbios de um povo, de uma língua, de uma cultura, de uma região, de uma espiritualidade, nós não obtemos somente o espelho vivo desse povo, dessa cultura, dessa mentalidade, dessa língua, desse terr

Conto do Dia da (falta de) Poesia

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Negócios Corruptos “O melhor favor é o que se faz o mais depressa possível.” Provérbio egípcio N ão há justiça nenhuma neste mundo… Um soneto tão bem esgalhado, e aquela criatura só me pagou 0,50€ por ele, dinheiro esse que afinal era meu, que eu tinha investido no sector dos transportes, camionagem e obras lúdicas, em que só não conto quanto não me diverti nelas por vergonha e pudor, e ela, essa abominável carantonha da franja em onda para surfistas mal instruídos, ainda teve o descaramento de tripudiar em cima do meu desalento e infortúnio, acrescentando-lhe como juros uns míseros 0,03€ ao investimento, juros esses que nem chegam aos calcanhares daqueles que a portugalidade vai ter que pagar pela dívida a quem lha comprou. Francamente! Se isto não é martírio, o que é que vamos chamar à Páscoa? Pois. Sobretudo porque entre o culto da água e a água do (o)culto, existe uma enorme diferença que nada tem a ver com questões de liquidez – nem igual grau de pureza ou salubridade: é nela

Conto da Semana - Os Cêntimos Contados

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Tudo Por Uns Trocos “A ocupação de poeta É nobre por natureza; Mas todo o ofício tem ossos, E os deste são a pobreza.” Nicolau Tolentino, 1740-1811 A rrumadas as compras no porta-bagagem, apressei-me a sentar-me no lugar do morto, de copiloto na navegação em melhores horas, do pendura ou daquele que à boleia se aventura, mas que ao instante, a primeira função assentava na perfeição, dado que me sentia, à vontade e por defeito no arredondamento, dez furos abaixo de jumento em vias de virar cadáver putrefacto. «Estás tão macambúzio, porquê… O que é que se passa?», quiseste saber mal nos instalámos no carro, enquanto tua mãe foi estacionar o carrinho das compras entre as baias para o efeito, e recuperar os 0,50€ com que eu entrara para o respetivo frete. «Não se passa absolutamente nada.» «Nada?!?», estranhou Shara através do teu sorriso matreiro de gozada expressão ou de circunspecta diversão. «Pronto» consenti eu, elucidando a jovem inquisidora em que te transformaras momentaneamente.

Conto de Amanhã, dia 13, dia da Estrela

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A Pequena Estrela ( cor-de-rosa ) “Em nada à verdade falto, A dor me aviva a memória; E, por não entrar de salto, Deixai, Senhor, que esta história Tome o fio de mais alto.” In Memorial a Sua Alteza , de Nicolau Tolentino “A brisa vaga no prado, Perfume nem voz não tem; Quem canta é o ramo agitado, O aroma é da flor que vem.” In Voz e Aroma, Folhas Caídas , de Almeida Garrett Estamos disponíveis para nós mesmos se aos demais convocamos como desejáveis, preferidos e imprescindíveis. Até insubstituíveis. Nenhuma pessoa é como outra pessoa. Há algo que identifica aquela pessoa como favorita se lhe conhecemos o pormenor ínfimo que a diferencia da multidão de aqueloutras iguais a si, sem destrinça de cor ou feitio, fala ou cultura, costumes e trajes, princípios e atitude social, pessoal ou ideológica. A preferência dissolve-se e multiplica-nos depois como desejados e… inevitáveis à vida de quem assim nos rotulou. Marcou. Inventou. Assumiu. E acolheu. Mas não é fácil sê-lo. Principalmente q

Conto para os dias úteis

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Quando a Razão nos Observa “E daí? – Daí, a história Não deixou outra memória Dessa noite de loucura, De sedução, de prazer… Que os segredos da ventura Não são para se dizer.” In Aquela Noite! , Folhas Caídas , de Almeida Garrett 13. "Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho, E vejo o que não vi nunca, nem cri Que houvesse cá, recolhe-se a alma a si, E vou tresvaliando, como em sonho. Isto passado, quando me desponho E me quero afirmar se foi assi, Pasmado e duvidoso do que vi, M’espanto às vezes, outras m’envergonho; Que, tornando ante vós, senhora, tal, Quando m’era mister tant’outr’ajuda, De que me valerei, se a alma não val? Esperando por ela que me acuda, E não me acode, e está cuidando em al, Afronta o coração, a língua é muda." Sá de Miranda – Coimbra, 1481 – S. Martinho de Carrazedo, 1558 A cada qual o seu suplício, mas não há ninguém a quem seja alheio (e desconhecido) o meu martírio: não tenho vontade, que não seja influência sua; sou falho de sentir felicidade, de

Conto da Semana -- Entre os Rios, a Memória

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Entressonhando nos Mundos Paralelos “Teu nome, só para mim, Sabendo-o conhecido de toda a gente […] Sei-o de trás para diante Anterior ou partindo do meio, Repetido como refrão constante Atreito ao brilho do diamante Como às espigas do trigo e do centeio. “ In Joaquim Castanho, Nova Razão: Velha Aliança T emos sete sentidos e não apenas cinco, como nos admoestaram no ensinamento da escolástica. Além da empatia e propriocepção, há os comuns cinco das sebentas: visão, tato, gosto, audição e cheiro. Normalmente, esquecemo-nos dos dois primeiros porque os temos como garantidos ou incómodos. A propriocepção que faculta levarmos o garfo à boca quando comemos um bom bife, em vez de o metermos nas orelhas ou nos olhos, por exemplo, que tal como o equilíbrio e o ar, só lhe notamos a existência quando lhes sentimos a falta, se os perdemos; e a empatia, ou reconhecimento do outro, apenas se o outro demonstra não nos reconhecer (como devia), pela via sinuosa do melindre e narcisismo frustrado ou,

O Êxito e as Promessas

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As Cortes da Galhofa "O êxito está cheio de promessas até que os homens o alcançam: e então verifica-se que é um ninho do ano passado que os pássaros abandonaram." – H. Beecher Quase toda a gente diz disparates. Bom... exagero: das pessoas que eu conheço, muita delas, fazem-no. Incluindo eu! O disparate é inerente à comunicação entre indivíduos de manifesta e declarada intenção social. E ele até não faz grande mal ao mundo, não atrofia a vida de ninguém, não avoluma a densidade e a estatísticas do errare humanum est (errar é próprio do homem), não destrói a natureza nem esgota os recursos naturais, e se polui o ambiente, é apenas nocivo a quem falhou o filtro de barbaridades, a que comummente chamamos sentido crítico, enquanto genuíno antivírus de prevenção contra as canalhices da governação, da vizinhança e da coleguia profissional, que é outra espécie de máfia na panelinha do safe-se quem puder. Porém, não reconhecer os próprios disparates ou branquear os dos demais, devi