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Mostrando postagens de fevereiro, 2016

NO APERTO DA LEI

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NO APERTO DA LEI  Adoeceu-me a dor.  Deu-lhe de repente.  Ontem 'tava boa,  Mas hoje 'tá doente.  Adoeceu-me a dor...  E num instante, Não há que me doa  Daqui em diante. Milagre? Não sei...  Remédio... Quem sabe!  Se o amor é Lei, A dor não lhe cabe. Joaquim Castanho  

DOCE FAINA

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DOCE FAINA  Na solidão de tuas correntes Meu aconchego, meu naufrágio Nos sentires por que sentes Sou teu argonauta, e contágio. Que a rima me trouxe à vela Quando rumei só, sem medida,  E pouco a pouco plas marés dela Me ancorou à própria vida  – Com gestos de rosa à bolina Pleno vogar de espinho manso, Abranda o ser que me inclina, Alcança o ritmo no balanço.  E assim, encantado por sereia A cujos suspiros estremeço,  Aliso teus cabelos de areia  – Acúmulo os beijos que te peço.  Joaquim Castanho 

SONHO AZUL

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SONHO AZUL  Me desbasta a vida pouco a pouco Como um respirar de brandura,  Que percorrer o sonho é de louco  – Tal água mole em pedra dura. Intenso, por vezes, áspero até Acelera o pensar se o penso Carrega-me o desespero de fé.  A sua estirpe torceu o mundo Conduzindo-o bem para lá do lá,  E deu-lhe um céu tão profundo Que, se o chamarmos, ele virá.  Forjou o voo imortal e ufano,  Com que o mais simples animal Se tornou racional – e humano.  E assinou o espaço infinito Com laivos de angelicais penas,  No sussurro azul desse grito De onde nascem todos os poemas.  Joaquim Castanho 

A GENICA DO POEMA

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A GENICA DO POEMA  Entre a pré-compreensão e a compreensão Há um número infinito de poemas Que escapam à nossa interpretação,  Ocultos em subtemas de seus temas. Uns, são oriundos do vocabulário;  Outros, têm origem no inconsciente.  Porém, todos são também seu contrário Mesmo que o não tenhamos pertinente.  Se lidos, as mais das vezes, tão-só são Lineares encadeamentos de palavras;  Mas ao ouvi-los mudam sempre a questão E acrescentam à nossa vista outra visão,  De que as metáforas também são escravas.  Que na vida, nenhuma sílaba é serena...  Este mesmo poema me disse a mim, hoje Que o seu significado só vale a pena Se ao temo-lo ao mesmo tempo nos foge! Joaquim Castanho

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FÉ  A impertinente Felicidade, que ainda é jovem mas se não chama também Maria, estava, num dia assim, exatamente como hoje, fazendo nada, com todo o cuidado e esmero, que é coisa mais difícil de fazer do que qualquer outra que se conheça, quer por experiência tida, como contada, exceto esquecer, pois que para isso, se exige muita perícia na escolha e abnegação na armazenagem, caso contrário, a gente fica a esquecer aquilo que quer recordar e a lembrar tudo quanto importa esquecer. E do nada surgiu uma flor. E depois um rosto, que embora de corpo oculto, já se lhe podia vislumbrar o espetro das mãos. Precisamente como se fosse um sol incrustado no horizonte da tarde ou uma lua pendurada da noite, suspensa por invisíveis e misteriosos fios (da trama suspeita e, às vezes, até tenebrosa, dos sonhos, que são sempre desconhecidos por nós nela, como pelos efeitos de ressaca com que desassossegam os espíritos, os corpos e as culturas, a que à imaginação e fantasia não têm muita

REMANSO MATINAL por Joaquim Castanho

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REMANSO MATINAL  Espécie de silêncio, na fala O vento murmura à água,  Quanto a nossa luz exala Doçura e plácida trégua.  É a fidelidade eterna Numa canção que mal se ouve; Mas, como raiz viva, moderna Só nossa sombra a promove.  Porém, da manhã, um cicio Sem lamento que a estorve,  Pede ao momento seu brio   De instante que a renove...  que a renove... que a renove... que a renove... que a renove... E ele escuta. A água escreve. Joaquim Castanho 

POR QUE AMANHÃ É SÁBADO

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POR QUE AMANHÃ É SÁBADO Em Uruk, na eduba do templo a Inanna, foi encontrada nos princípios do século passado, entre os algures do tempo, do modo e do lugar, um cofre, uma caixa guarnecida a ouro e prata, com pedras preciosas incrustadas, dentro da qual estavam seis tabuinhas, que se supõe terem sido consideradas sagradas pelas vestais.  Na primeira, estava vincado, cunhado, escrito, assim: «a cada qual o mesmo que aos seus pares». Na segunda dizia que «a cada um segundo os seus méritos». Na terceira, que «a cada qual conforme as suas obras». Na quarta «a cada um na estrita observância de suas necessidades». A quinta afirmava que «a cada qual de acordo com o que lhe é devido por lei». E a sexta, concluía, que «a cada um consoante a sua posição, responsabilidade e obrigações». Porém, depois desta, havia uma prateleirinha idêntica àquelas onde repousavam as citadas tabuinhas, mas vazia.  Os estudiosos, arqueólogos, antropólogos e historiadores, conjeturaram ter havido ne