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Mostrando postagens de 2018
A VISITAÇÃO
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AUTO DA VISITAÇÃO 1. Chiam travões, bate uma porta E a tarde perde a calma monótona. A mosca abandona a migalha sobre a mesa; Há ainda a bolsa do casqueiro A corna das azeitonas Um pichel destapado Uma rodilha sobre o oleado Um corcho de cortiça Um cântaro com a asa partida. «Quem será?» ... os patrões foram a banhos, O gado está no curral, O carteiro já veio esta semana. A terra não pode com amanhos, As searas foram vendidas; Crescem olhos tamanhos – quem será?? 2. Ressalva-a, emenda a voz Estende os braços aos rés do tempo Ao degrau da entrada, à sombra Do umbral a moldura faz. Pestaneja quando eu chegar! Diz do trigo a colheita sólida Do fruto a amora brava, O suco revertendo do olhar, Posto lá na linha da planície Mais perto do mar do céu Que barcos sonhos navegam Na desvendação do futuro. Deixa uma calça arregaçada sobre As fivelas de couro com sola de pneu O boné dependurado do trinco; A porta a esconder-se na penumbra.
DELÍRIOS SE FIZERAM ROSAS
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DE LÍRIOS SE FIZERAM ROSAS Tal brota uma rosa sobre espinhos Assim é minh’amada entr’as demais Que, ao cruzarem-se, nossos destinos Os olhos do coração soltaram ais. Abriram novas sendas, novos caminhos Pintaram noutras cores, o arco-íris Pétalas coloridas foram lírios No rumor das brisas soaram jograis. Seus enganos sublimes (inocentes) Ensinara-me a espera sem desespero; Suas demoras foram puro esmero Que torna as rotinas bem diferentes, Já que antes apenas tédio eram… – Amantes amam, mesmo se só esperam! Joaquim Maria Castanho
LADOS DA VIDA... Teresa ou Luzia?
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"A pequena cidade francesa de Pau, perto dos Pirinéus, entre 1920 e 1930, é o cenário de fundo para a peça de teatro LADOS DA VIDA, de Fausto Correia Leite, que a RDP transmitiu no seu TEMPO DE TEATRO. Os personagens Pierre, Teresa, Maurice, Suzanne, Jean-Jaques e Mimi Marselha, são representados pelas vozes de, respetivamente, Álvaro Faria, Catarina Avelar, Carlos Daniel, Carmen Santos, Ruy de Matos e Manuela Cassola, sob a direção de autores de Rogério Paulo e realização de Teles Gomes. Teresa é uma versão sucinta de "Luísa Grande, que pertenceu à chamada 'alta sociedade', retratou a alta burguesia lisboeta dos loucos anos 20", mas não só, como também as terras e almas por onde passou, na sua vagabundeagem literária, sempre atenta e generosa. E fê-lo através de três pseudónimos: Sónia, Madame Butterfly e LUZIA, que predominou desde 1920, data da primeira edição do seu livro OS QUE SE DIVERTEM (Comédia da Vida), até à sua morte em 1945.
VERDADE RIMA SEMPRE COM ETERNIDADE
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VERDADE RIMA SEMPRE COM ETERNIDADE... Que se há soluções não dissolventes Contratos de vida, sentires eternos Nas gentes e suas almas imortais, Laços, pactos nos dares a que nos dermos Quaisquer que sejamos entr'os demais, Então é porque oceânicas estrelas Bailam, riem e retouçam enleadas Nas ondas dos teus cabelos; e vê-las – Ora sim, ora não, esconde-esconde, Pêndulo que marca ritmo – cativadas Sob luz que a distância não apaga É outro sangue a pulsar do coração... É uma fraga que liberta e traga. É uma primavera em cada verão. É uma tempestada sem ser plo clima. É um grito que não diz seja o que for. É só um princípio de eternidade. E é uma Paixão sem ser por amor. Ah! E já me esquecia, é verdade: É desejo de... – PARABÉNS, minha prima!!! Joaquim Maria Castanho
Escritora portalegrense reeditada na Madeira...
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OS QUE SE DIVERTEM, primeiro livro de LUZIA, pseudónimo de Luísa Susana Grande de Freitas Lomelino, nascida em Portalegre mas falecida no Funchal, é a primeira parte de COMÉDIAS DA VIDA, secundada pelo livro RINDO E CHORANDO. No seu interior há textos (diálogos) que já foram teatralizados para rádio, além de muitos apontamentos (ou crónicas) que retratam o Portugal cosmopolita da segunda década do século passado.
SEM SEGURANÇA NO EMPREGO, NINGUÉM SE SEGURA NA VIDA
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( Foto: uma gentileza de Beluxa Gto) 633 ANOS DEPOIS... E À PRECARIEDADE FRANCISCANA E não há três sem quatro Coisa que o povo não diz Mas devia, por ser farto No parco ajuizar sem juiz, Gizar sem giz nem quadro Torcer o nariz, e franzir O sobrolho, sem confiança Ou recear e ver traduzir Seu pedir com’uma dança… De ora vira para aqui De ora vira para ali, De ora vai e ora leva De ora leva e ora vai, Duma gente que é serva Mas logo que não servir – cai. Cai dessas estatísticas Das boas pessoas capazes Pra entrar pràs estatísticas Das violetas e dos lilases, Ou das flores tão malquistas Que não prestam prós fascistas Empresários e doutores Funcionários e senhores Sejam patrões ou comunistas! Joaquim Maria Castanho
O Sr. SUPERLATIVO
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O Sr. SUPERLATIVO Eu sei que é falta de educação escutar as conversas alheias, ainda que não sejam íntimas. Porém, estando sem nada mais que fazer num dos bancos do Jardim Avenida, em Casal Parado, eis que não pude evitar ouvir o que, um casal se dizia mutuamente, e certamente seria apenas um simples fragmento de conversa maior, onde residiriam as respostas que à minha curiosidade se impunham: – Mas eu sou um substantivo superlativo abstrato... – afirmava ele, convito, de farta cabeleira em encaracolado castanho-escuro, calças de ganga rasgadas (propositadamente) aqui e ali, para arejar a cueca, ténis de marcha, polo cinzento e kispo esverdeado. – Substantivo superlativo abstrato... Hhhhuummm! Isso não existe – sublinhou, perentória, ela, também nova, a flanar num vestido de chita em xadrez largo, com tonalidades de azul, dourado, creme e castanho-terra, sapatos mocassins quase pretos e cabelos compridos, ondeados e soltos, em louro-palha. – Não?!? – admirou-se ele. – Co