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Mostrando postagens de agosto, 2011

Fato literário

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O Fato Literário “Costuma andar seguro hum desarmado Entre gente esforçada & generosa, Que não ofende o forte ao descuidado.” In Francisco Rodrigues Lobo, Égloga VI: Carta ao Leitor, com a Égloga seguinte contra a murmuração Não importa que algo seja uma declarada mentira, ou que nos afiancem ser uma autêntica peta, daquelas coisas em que o impossível e o desfasado da realidade mais se revelem, em que nem o Diabo acredita, adiantamos, mas se estiver tão bem contada que, para nós, até mereça ser verdade, então a literatura acontece. Os escritores odeiam a realidade e declaram guerra aos desimaginados da vida. E os leitores, é precisamente por isso que os apreciam, ficam em suspenso das suas obras, as tornam na parcela de atualidade onde melhor se acomodam e repousam. Mesmo quando elas os inquietam, agitam e denunciam perante a mundanidade vigente. Portanto, pretender que a literatura tem fins definidos e está ao serviço de causas maiores, até de ideologias que seja,

Um Conto de Georges Lorinczy

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O CADETEZINHO DE FRIBURGO Georges Lorinczy* Tradução de Cristiano Lima Que um herói de romance não seja de condição a encarar, como um modelo exato e preciso, o bom senso na vida é o que, no fim de contas, ninguém melhor do que nós o sabe. O herói do romance está em pé de guerra com tudo o que, na vida representa o bom senso. Mais: ele está tão em pé de guerra com o bom senso como com a vida. O primeiro dever de um herói de romance é ser interessante, senão nem um gato lerá o romance de que ele é herói. E, nesse caso, pergunto-lhes para que serve ser herói de romance e se vale a pena afadigarmo-nos a escrever a sua história, visto que só temos uma preocupação: interessar o leitor. Numa palavra: é necessário que o herói de romance seja um herói dos pés à cabeça. Seja que herói seja, ele só deve ser herói. O cadetezinho de Friburgo era um herói verdadeiro, um autêntico herói. Ou antes, ele vai tornar-se um herói: herói da vida ou herói de romance, pouco importa. O que é certo é que vale

Troikas à portuguesa

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Toma, que é prò tabaco! “O Estado terá de ser mais flexível e versátil, para acomodar os pequenos impérios de diferenças que nos vão sendo revelados e a atitude cultural em que se consubstanciam.” In Francisco Pinto Balsemão, Progresso Social e Democracia , nº 3/4 Acabou o tempo do fazer política brincando ao fingir que está tudo bem, derramando ilusão por todos os meios, estatais e públicos, como privados ou corporativos, alimentando o regabofe e ramboia de uns à custa dos demais, incluindo daqueles que nasceram há pouco ou ainda nem sequer foram congeminados. Segundo o ministro da economia, o seu ministério, só em carrões e respetivos choferes, além de outras ostentações inequivocamente ofensivas para os cidadãos comuns que entraram obrigatoriamente nas ações de austeridade nacional, o glamour e finess do palacete e seus palacianos, é de bradar aos céus. Neste, caso, à Troika bendita, por cujo memorando nos vamos alinhar nesta legislatura; porque quem deve, tem que pagar, e quem se c

Presságio

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PRESSÁGIO Ao contrário daquilo que pretendo fazer-vos crer Nem tudo em mim é pura e singela transparência Também tenho segredos alguns inconfessáveis Difíceis de dizer, de calar, de escrever, de expelir De deixar esquecidos numa qualquer rua, esquina De grafitar nas paredes de alguma casa em ruínas De abandonar em banco de jardim ou gare ferroviária De acondicionar entre os livros da biblioteca pública De encaixotar no sótão com demais trastes e bibelôs De meter na gaveta das trivialidades preciosas Junto aos cromos da bola, aos porta-chaves, fotografias Calendários pornográficos, bilhetes de teatro ou concertos Recortes de fait-divers, catálogos de exposição, clipes Botões invulgares, relógios avariados e colchetes ímpares, Embora me tenha esforçado capciosa e exaustivamente Rasteirando-me amiúde ou tentando desmascarar-me Pra nada permitir oculto de mim e de meus semelhantes. Mas ontem à noite, ao deitar-me, tinha uma aranha Pequena e quase negra sobre a colcha branca da cama Por cuj