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Mostrando postagens de fevereiro, 2008

Nos wolksvagens da desgraça...

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Consta que o carro do povo dos tempos bíblicos terá sido o burro... Sobretudo se considerarmos que foi nele que a Senhora se deslocou a Belém para ter o menino! Seria?... Não seria?... O facto é que até meados do século passado ainda o era, embora o populacho o tenha substituído por besta maior, mais zurrante, potente, lesta e acomodatícia: o carocha. Ou os "wolksvagens" do progresso. E a tradição manteve-se não obstante o câmbio de alimália, para gáudio dos apologista do eterno retorno, ou aqueles que se empenham em regressar à terra tal e qual vieram ao mundo: ignorantes, brutos e bravos que nem uma vara de bronquicéfalos. Os marialvas da repetição tradicional. Os que zurzem o fado da bandeirola para exorcizar o medo de serem encavados por qualquer sem-abrigo ao cruzar da esquina. Os que se acoitam no espírito corporativista da capa (e espada) para executar a sua perversão. Com idem para os que da inveja pela sua moralidade - famosa, a do burro, como todos sabeis, se desen

Os Doutores-Rã: e a literatura de procriação assistida...

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Amélie Nothomb, no seu livro, quer dizer: romance, intitulado a Higiene do Assassino (Editorial Presença – 1997), estabelece que há diferentes tipos de leitores, ou que há leitoras/es e "leitoras/es" como há escritores, escritoras, escribas e escrivães, sendo que uns e umas gostam amiúde de fazer-se passar pelos outros ou outras e vice-versa. E que se há quem mergulhe na leitura para ficar encharcado de conteúdos até aos tutanos do córtex – e aqui era bom saber, na anatomia humana, onde é que isso fica!... –, não menos "leitores e leitoras" o fazem maquilhando-se apetrechadas, e apetrechados, com os seus fatos de mergulho, tipo escafandro de não-me-toques que me infectas, para poderem entrar e sair dos livros sem serem tocados pela mínima gota de conteúdo, defendendo-se do veneno das palavras alheias como fazia o diabo da cruz, embora tenha crucificado quantos inocentes pôde através dela, ou melhor dizendo, delas, que cruzes há muitas e de bastos formatos conforme o

Ambiente e Sustentabilidade

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A Oikos vai realizar as XIV Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento subordinadas ao tema “Pedra, Barro e Areia: Estratégias de Conservação e Exploração Sustentável." Para mais informações e inscrição, contactar: oikosambiente@mail.telepac.pt www.oikosambiente.com

Recortes do imaginário para uma paisagem real

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A Morte do Professor Hugo Santos Estas coisas são exactamente assim: há dois "judites" (Carranca, ex-seminarista que fuma cachimbo, e Pereira Dias, que cursara Direito/Letras) e um crime. Hediondo. Vil. Insólito. E inumano. Que curiosamente passa (também) a dois (lá prò fim). Por isso, tem forçosamente que haver um criminoso – pelo menos. Vai daí, os PJ's foram-se a ele, a procurá-lo, com as ajudas de um sargento, um cabo e quatro praças da GNR. Se o encontraram ou não, eis os outros quinhentos da questão... Que por agora, o que deveras importa, é o modo de agir, o raciocínio, as démarches , as sortes, no cumprimento do dever. E eis senão quando, o tempo (que continua sábio) actua, e duas salvas a Onan e quatro achegas depois, o caso se resolve, com o sublinhado a recair sobre uns elucidativos cadernos de capa preta. Estes cadernos, diários de bordo ou moleskines, são o patamar de passagem para outro nível de leitura. Lá iremos! Por enquanto, é à volta deles que gira o mi

Grupo de Leitura READCOM, de Portalegre

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A próxima leitura do GLRP é A Higiene do Assassino , de Amélie Nothomb, que é, nem mais, que o primeiro livro da autora publicado em Portugal, e antecedeu o já anteriormente "trabalhado com prazer" pelo grupo, intitulado Temor e Tremor . Não se confessará aqui mais nenhum pormenor do caso para não prejudicar as averiguações nem manchar o bom nome da vítima, porém, pode-se adiantar, que há fortes perspectivas de geringonça argumentativa quanto ao seu conteúdo, as provocações inomináveis que contém e os sapinhos (ou rãs) que fará engolir, desde que lhe aparem bem as unhinhas. Alguns lambões garantiram que este tipo de marisco dos charcos, é melhor se acompanhado com alexanders bem condimentados e explosivos; outros preferem-nas com molho de tomate, albardadas ou de escabeche, desde que não lhe faltem o queimor e os orégãos.Todavia, como gostos não discutem, força companheiros e companheiras, arrefinfem-lhe, que é dose!

O Toque de Mírdias

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Há que definirmo-nos em relação à natureza e não a natureza em relação a nós, estabelecer uma convivência harmoniosa de base simbiótica entre ela e nós, ao contrário do esclavagismo de espécies com que actualmente nos pautamos, a fim de nos consciencializarmos do nosso papel no mundo e de como poderemos auxiliá-lo a resolver a crise ambiental e as alterações climáticas que ora nos assolam, consubstancializar a nossa atitude numa maior responsabilidade e emancipação, que dê significado ao total respeito pela ciclicidade dos processos naturais de evolução e sustentabilidade, num claro rompimento com a visão tradicional humanista de incidência económica que acentua, estimula e valoriza mais a sua exploração e utilização como geradora de riquezas, do que como geradora e alimentadora de vida. Tendo dado pela falta de Sileno, seu mestre e criador, Baco resolveu procurá-lo. Mas em vão, pois o mundo era infindo e falho de meios de comunicação, mesmo para os deuses. Como era hábito, o velho and

Álvaro de Campos: apenas mais um heterónimo de Fernando Pessoa?

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Álvaro de Campos: apenas mais um heterónimo de Fernando Pessoa? "Os poetas não inventam os poemas O poema está algures lá atrás Há muito tempo que lá está O poeta não fez senão descobri-lo." Jan Skacel Introdução A poesia de Álvaro de Campos, enquanto elemento cénico-dramático da família pessoana, deve ser encarada paradigmaticamente como um produto de quatro vectores importantes, e a saber: a) no sentido estético-filosófico – o sensacionismo; b) enquanto espelho social do seu tempo – ou retrato da sociedade de produção; c) na perspectiva do "eu" e sua natureza confessional – ou reflexo da formação inglesa; e d) pela postura imagética na tradição oceânica portuguesa, seus motivos e argumentos poéticos. Não só porque Álvaro de Campos foi aquele heterónimo mais próximo do alter ego de Pessoa, como também foi, sem dúvida, o seu principal companheiro (imaginário) e confidente, o que o tornou no mais original, atrevido e mistificar de todos eles. Há até quem pretenda que

Palhaços!

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Entre os sete e os dezasseis anos tive uma amiga especial, nas mesmas idades, que se revelou essencial na minha formação. Desconheço se lhe aconteceu, a propósito de mim, na sua, igual importância, mas o que é certo é que aprendemos um com o outro a ensinarmo-nos histórias. Se algum adulto lhe contava alguma, ela vinha logo contar-ma a mim, e se não lha contavam, então inventava-a, conforme as diversas que anteriormente tivesse ouvido. Quando a minha avó se lembrava de outro conto e mo alinhavava ao serão, eu corria a pagar-lhe na mesma moeda, dando-lhe dele a minha versão, que raramente era coincidente com aquela que ouvira, a fim de melhor lhe prender a atenção enquanto o fazia. Se os líamos então brindávamo-nos mutuamente com o manuscrito da nossa "versão original" deles, modificando-os, sobretudo nos pormenores onde desconfiávamos que o seu autor tinha fugido à verdade, facto aliás confirmado, pelo incompetente descabimento de certas afirmações, controversas frases, e in

Os Ovos de Emma

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Não é necessária muita concentração para depreendermos que estamos nos arredores de Portalegre. Ao caso, e mais precisamente, entre a Serra do mesmo nome e a Serra de S. Mamede. Há como que um vale, um espaço parado no tempo, entre encostas, onde as ideias e as técnicas andam a passo de caracol. Daqui, semelhante a eco de resfolegar cansado, em ritmo cadente, subtraindo ao silêncio bucólico aquele algo de estertor manso das ravinas no rumorejar dos pinheirais, uma voz soa, qual crepitar líquido dos regatos perenes de início de Primavera. É Emma Maia. E se Emma vive entre serras, a sua linguagem também; é uma pronúncia rural mas urbana, um dialecto crioulo, que na composição mista arrasta ruídos com reminiscências e intuitos industriais, papaguear de jornaleiros em faina, arenga de ajuste e negócio, franjas da comunicação social em laivos sonoros de telefonia que acompanha o amanho das terras. Acarreta consigo, fundidos com o xadrez da chita, nos estampados do lenço sob o chapéu de fel