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Mostrando postagens de junho, 2008

Ainda Somos Humanos

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Resolução da Assembleia da República n.º 24/2008 Divulgação às futuras gerações dos combates pela liberdade na resistência à ditadura e pela democracia A Assembleia da República resolve, nos termos e para os efeitos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, recomendar ao Governo que crie condições efectivas, incluindo financeiras, que tornem possível a concretização dos projectos das autarquias e da sociedade civil, nas suas variadas formas de organização, designadamente: 1) Apoio a programas de musealização, como a criação de um museu da liberdade e da resistência, cuja sede deve situar-se no centro histórico de Lisboa (antiga instalação da Cadeia do Aljube), enquanto pólo aglutinador que venha a configurar uma rede de núcleos museológicos, podendo aproveitar-se outros edifícios que sejam historicamente identificados como relevantes na resistência à ditadura a par da valorização e apoio ao Museu da Resistência instalado na Fortaleza de Peniche. O Museu da Liberdade e da Resistência de

A Refeição Ganha

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Há rios e Rios; uns correm, outros, fazem correr... Naquele tempo, ainda o tempo era o que era. Embora prenúncio de Primavera (marcelista) que não passou de Outono, as alterações climáticas apenas se faziam sentir no aquecimento interno dos ambientes políticos. Sabíamos sempre em que estação estávamos, e se chovia, ventava ou nevava com frio de caramelo, então não havia dúvida nenhuma e estávamos no Inverno (do nosso descontentamento, dizem alguns... maldizentes); agora, se sentíamos o ar a estralejar lentejoulas, havia aquele calor abafado e seco, que nos impede o correr ligeiro na retouça das férias (grandes), isso significava que o Verão viera – e para durar. Entrementes, amenizadas as têmperas, ao aprazível florido das plantas ou chilrear tagarela do passaredo, o cabriolar da criação e o esgaravatar cacarejante das aves de chão com ninhada, ensinando aos pio-pios como se tratava de vida, o óbvio tornava-se certeza, porque Primavera, enquanto se o assim-assim da queda das folhas col

Mar Santo, de Branquinho da Fonseca

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Mar Santo Branquinho da Fonseca 160 Páginas " Aqui, q'ando não há pêxe, há bailhe, pra enganar... " " Vestidos com as camisas de quadrados de várias cores, ceroulas de fazenda idêntica, atadas em baixo, no tornozelo, na cabeça um barrete preto, comprido, tombado para trás, as costas contra o bojo do barco, empurravam-no para a praia. E a pesada embarcação deslizava sobre as grossas pranchas de madeira – os panais –, que lhe iam atravessando na frente. Um rapazito, "o velho da terra", corria em volta com uma bola de sebo na mão, a esfregar a quilha do batel. Soprava um vento fresco, carregado de maresia, dum cheiro de algas e de sal, que dilatava o peito. " Desta obra, ilustrada ao lado pela capa da 1ª Edição (popular) – sim, digo bem: popular , pois que dela terão havido três primeiras tiragens: uma excepcional, em papel pluma, de cinco exemplares, numerados de I a V, que ficara fora do mercado; outra de 50 exemplares, cada um deles numerados de 1 a 5

A Vida do Prazenteiro Mestre-Escola Maria Wutz em Aventhal

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A Vida do Prazenteiro Mestre-Escola Maria Wutz em Aventhal Jean Paul Tradução, Notas e Posfácio de Fernanda Gil Costa 82 Páginas “um romance é uma biografia enobrecida ” " Mesmo em troca de uma pensão vitalícia o chantre seria incapaz de imaginar uma casa, na terra inteira, em que nesse instante não fosse domingo e não houvesse sol e alegria. Impossível! " Quem de me dera a mim saber o que são "sílfides transparentes" para as poder convocar a fim de nos permitirem acompanhar a corrente de emoções, sob as quais baterá o coração de cada um, que se arriscar a ler este livro. Sobretudo porque falar de Jean Paul, aquele que foi considerado por muitos o Jean-Jacques Rousseau alemão, embora aqui me lembre melhor do Cândido , de Voltaire, como contraponto, é reportarmo-nos ao Weimar do século XVIII, berço daquele peculiar romantismo que resvalou para os nossos Herculano e Garrett através de Madame Stäel e Henrich Heine. Pseudónimo, aparecido em 1792, de Johan Paul Friedric

O Homem Ilustrado

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O Homem Ilustrado Ray Bradbury Trad. Eurico da Costa 216 Páginas Os contos que compõem esta colectânea, embora se sucedam de forma inesperada e imprevista, ou cuja não é superintendida por nenhum encadeamento lógico, funcionam estruturalmente como flashbacks extraídos à experiência ilustrada de um homem tatuado com imagens tridimensionais. É no seu corpo/tela que elas se observam e se movem; e cada parte dele, cada centímetro de pele pergaminho, relata uma história inaudita e diferente. Ao narrador, a quem esse homem se junta para passar a solidão da noite, mais não compete que contar o que vê nele; mas o discurso é de Ray Bradbury, recheado de fantasmagorias marcianas – seja lá o que isso for e signifique –, prosopopeias, animismos, projecções irónicas, imagens e demais alucinações típicas do figurativo literário, que abastecem o universo da retórica inebriante surrealista, e nos conduz aos antípodas da estranheza, principalmente daquela que é logicamente possível em ficção científic

Sherlock Holmes Contra Jack, O Estripador

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Sherlock Holmes Contra Jack, O Estripador Ellery Queen Trad. Eduardo Saló 192 Páginas O plano de fundo que sustenta a presente obra, é das maiores confusões que já alguma vez a literatura engendrou: dois primos (Frederic Dannay e Manfred B. Lee – 1905-1982 –, ambos redactores publicitários, e não obstante tenham passado a vida a discutir), criaram de parceria um narrador-detective, a atender pelo chamamento de Elery Queen, que não só veio a tornar-se mais famoso que os seus criadores como a sobreviver-lhe, porquanto continuam a sair novelas suas, ou da outra parelha suplente (Manford Lepofsky e Manfred Bennington Lee – 1905-1971),sabe-se lá!, que, auxiliado por um playboy com o aristocrático e principesco nome de Grant Ames III, se insurge contra a autoridade de Sir Athur Conan Doyle e sus muchachos , nada mais, nada menos que Sherlock Holmes e Dr. Watson, para a identificação desmascaramento do cruel serial killer londrino, Jack, de cognome, O Estripador . Imaginosamente – ou nem ta

Vergílio Ferreira, por Maria Joaquina Nobre Júlio

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O Discurso de Vergílio Ferreira Como Questionação de Deus Maria Joaquina Nobre Júlio 350 Páginas Tese de doutoramento da autora, este livro enuncia uma perspectiva teológica de abordagem à obra de Vergílio Ferreira, perspectiva essa que, já em desuso nas análises literárias, ainda se justifica, e é mesmo a mais adequada, em determinados autores onde a presença de Deus, não só pela inquietação ou apaziguamento que lhes facultou, se fez veio ou filão de verve. Portanto, percorrendo todo o corpus literário daquele que, em língua portuguesa, para além de Aquilino Ribeiro, claro está, foi quem mais mereceria o Nobel – sem obstaculizar ao existente e na minha humildíssima opinião –, descobre, raspa, revela, escrutiniosamente, ou como por escrutínio, a questão essencialista do linguajar vergiliano, que é a de decidir se Deus existe ou não, como se estas fossem duas respostas que andassem continuamente a girar na tômbola, havendo tanto para o "sim" como para o "não" as mes

Um Bilhete de Lotaria, de Júlio Verne

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Um Bilhete de Lotaria Júlio Verne Trad. J. Lima da Costa 264 Páginas A ficção de Júlio Verne não é apenas mais um registo literário de antecipação e ficção científica; é também, e principalmente, uma narrativa de costumes e tradições, um apanhado etnográfico, um relembrar do passado sob o pretexto do futuro, e uma reactualização dos valores humanos tão essenciais, quão comuns ao nosso tempo, como a família, a fidelidade, a fraternidade e a amizade, a responsabilidade e o compromisso, o trabalho e a sabedoria, a entre-ajuda e a partilha, a gratidão e a tenacidade, a fé e a esperança. (Que ainda continua verde, como sabeis!) À parte disto, é inclusivamente, um autêntico tratado de psicologia infantil. Mas um manual muito especial, porquanto a terminologia, a linguagem em que se enuncia e expressa, o vocabulário que utiliza, obriga a uma leitura activa, de atenção contínua às prolepses e analepses, com bastantes retomadas de ponto e constantes consultas ao dicionário, tornando-a mais conv

Grupo de Leitura READCOM, de Portalegre

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O Estranho Caso do Cão Morto Mark Haddon A próxima sessão do Grupo de Leitura READCOM-IPP, de Portalegre , a realizar no lugar costumeiro, e à hora de sempre (18 horas), no dia 18 de Junho, excepcionalmente uma quarta-feira, incidirá sobre os temas Relacionamentos , Literatura de Transição e Ser Diferente , tendo por ponto de partida e motivo principal, o livro de Mark Haddon, O Estranho Caso do Cão Morto , o que, nem de propósito, é igualmente um híbrido multifacetado, oscilando continuamente entre o policial, o cor-de-rosa, o drama psicologista, a novela realista, Banda Desenhada e o romance de ficção científica, cuja actualidade e pertinência tem suscitado tanto interesse como pertinaz polémica, além de inúmeras edições em diversos idiomas. No dizer do autor, em oportuna entrevista, uma criação que lhe surgiu inspirada pela "imagem de um cão morto trespassado por um garfo", ela mesma símile do típico "há cachorros quentes", dístico com que frequentemente se anun

Os Tambores dos Dragões

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Os Tambores dos Dragões ( Dragondrums ) Anne McCaffrey Trad. Eduardo Saló 256 Páginas Depois de impressionar um lagarto de fogo, há que alimentá-lo, cuidá-lo e protegê-lo. Mas depois de crescido, é ele quem nos protege, pois está melhor adaptado, e familiarizado, com as circunstâncias ambientais, ou às variações e perigos do ecossistema. Em troca da alimentação e afecto despendidos na sua formação, executará todas as tarefas de que o incumbirmos, principalmente as relacionadas com a recolha e transmissão de informações. Eis as bases práticas da simbiose mantida entre os colonos terrestres e os autóctones do "Planeta dos Dragões". Piemur é um jovem solista, soprano, que perdeu a aguda fineza da voz com a mudança de idade. Oriundo de um meio social e económico pouco esclarecido e referenciado, uma aldeia de pastores, que o individualiza e caracteriza, emprestando-lhe aquela rusticidade peculiar aos desfavorecidos mesmo quando dotados de talento, é porém senhor de extraordinária

A Terra é Uma Boa Ideia, de James Blish

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A Terra é Uma Boa Ideia James Blish Trad. Alexandre Tavares 2 Volumes: 192+192 Páginas No futuro intergaláctico, ou mundo interestelar, as cidades itinerantes, para sobreviverem, têm que recorrer aos produtos e matérias-primas dos planetas, principalmente aos fármacos e combustíveis. Para os adquirirem, pagam-nos em dinheiro ou em trabalho. Estabelecem contratos com as sociedades hospedeiras. Se os não cumprem integralmente, então tornam-se proscritas. E passam a ser denominadas por cidades-vagabundas (que fugitivas da polícia aportam novos mundos ou são exploradas como mão-de-obra barata), ou cidades-piratas, por se abastecerem à custa das outras cidades e planetas, através do saque e da vigarice. Mas ao espaço-quando universal, em que os homens e mulheres são quase eternos – graças aos antiágicos ou medicamentos antimorte – e as cidades voadoras, que milhares de anos envelheceu e desgastou, avizinha-se o caos e a crise estrutural e organizativa, facultando e permitindo a formação de

A Face Oculta de Kennedy

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A Face Oculta de Kennedy Seymour M. Hersh Trad. Clarisse Tavares 469 Páginas. Kennedy era sexista, mulherengo, vingativo, despótico, drogado, arrivista e (potencialmente) homicida. Fidel Castro, se JFK não tivesse sucumbido no atentado de Dallas, em 22 de Novembro de 1963, a mais negra sexta-feira americana, provavelmente ainda hoje estaria (por razões pessoais) sobre a mira dos “mafiosos” do presidente, que nunca lhe perdoou o fracasso da Baía dos Porcos/Operação Mangusto. E um homem que, a intervalos regulares de seis horas, dava a si mesmo injecções, mas que os mass media transformaram num mito, não só para os seus compatriotas, como também para uma das partes acinzentadas do mundo a preto e branco dos imperialismos. Oriundo de uma família bem instalada no establishment, cujo lema era NÃO SE IRRITEM – DESFORREM-SE, capazes de tudo para atingirem os seus objectivos, ou de optarem pelo errado desde que conveniente e lucrativo, viciados em sexo e poder, racistas, que passaram mais de

Memórias Eróticas de um Burguês

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Memórias Eróticas de um Burguês Anónimo Trad. Maria Emília Feros Moura Capa de Manuel Dias 464 Páginas " A realidade é mais estranha que a ficção ." (Página 302) " Uma mulher que queira conservar os seus segredos nunca deve dar a conhecer ao homem as datas dos seus períodos ." (Página 409) "– Agrada-lhe descer à adega, Mr. S...? Tratava-se de uma frase obscena, em calão, para as carícias com a língua aplicadas às partes privadas da mulher. "Descer até ela": por baixo da combinação ou da roupa da cama. Há uma outra frase: "praticar um pouco de fotografia", alusão ao desaparecimento da cabeça do operador debaixo do pano escuro da máquina. [Mas] a expressão mais recente utilizada pelos jovens parisienses é a de "descer à loja dos gelados." (Página 177) Etimologias à parte, interroguemo-nos agora, se será, ou não, possível, a um burguês ter memórias eróticas sem que lhe acrescente o travo da perversidade, do incesto e do pecado... D