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Mostrando postagens de julho, 2008

Culpas Velhas

Velhas São as Culpadas Culpas Foi há intermináveis páginas, tantas e quantas, que já mal me lembravam... Contudo, assim que constatei pelas notícias, que andavam a circular e cirandar por algumas bibliotecas públicas da nossa interioridade diversos contadores de histórias, espalhando, difundindo e contaminando bastas dezenas de criancinhas deste torrão caprichoso com o vírus da palavra lúdica, espevitei e espetei as orelhas, pus-me de atalaia e não pude conter-me de sábia indignação: «Olha, lá andam outra vez os adultos a lixar a vida aos mais pequenos! E para seu bem, formação e prazer, dizem eles», como me disseram a mim, sempre que se dispunham a enfiar-me o barrete, pensei eu. A razão é firme, forte, experimentada e poderosa. É que foi precisamente por aí, pelo continuado ouvir de histórias e lendas que a minha avó me contava à noitinha, quase diariamente, à lareira, se de Inverno, no pátio do Monte, em caso de Verão, sentados ambos à fresca do serão, ela na cadeira de bunho, eu no

Olho Neles, de Margarida Oliveira

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Olho Neles Margarida Oliveira 134 Páginas Embora exista uma enorme diferença entre pessoas e personagens, porquanto as pessoas sejam reais e vivam concretamente, com dignidade e integridade respeitáveis, em liberdade e livre-arbítrio, mas as personagens se vejam apenas confinadas ao universo estético, no caso da literatura ao condomínio da artificialidade criativa, em que o enredo, o conteúdo e estrutura narrativa as justifica, o que é certo, é que há formas tão legítimas das pessoas viverem as personagens como das personagens reviverem as pessoas, pelo que se umas saíram das outras, estas só serão totalmente compreendidas e respeitadas se criadas elas mesmas a partir delas próprias. É aqui que reside, portanto, o núcleo fulcral, da literatura viva... Dito isto, o livro que ora aqui vai, cuja autora não é famosa nem tem nome reconhecido nos anais do palimpsesto nacional ou universal, não é filha do Jet Set intelectual nem pivot de proa em qualquer canal televisivo, não é nenhum exemp

Aprenda a Viver Com os Seus Genes

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Aprenda a Viver Com os Seus Genes Dean Hamer e Peter Copeland Trad. J. Santos Tavares O assunto principal deste livro é o temperamento, entendido ele como parte fixa da personalidade, da qual à faceta adquirida se chamará carácter, e que aqui se exclui sobremaneira, porquanto os genes não se compram nem se vendem, não se alugam nem por diploma, e somente se alteram, ou mudam, para ser mais preciso, sobretudo e através do erro – e por repetição. Composição temática fundamentada nas "descobertas" da genética e da psicofisiologia dos finais do século passado, pretende apetrechar-nos com as bases sólidas que nos facilitem entender a genética actual, bem como o chegarmos ao conhecimento de nós mesmos pela via mais segura, a multidisciplinar, onde a nossa entidade é revelada não só em termos biológicos, mas contemplando igualmente as vertentes do relacionamento com os outros, o ambiente, a química e o tempo. Os homens, por desconhecerem quem deveras são, passam normalmente a sua e

NA FRONTEIRA DO UNIVERSO: EM BUSCA DO FIM DA IDADE DAS TREVAS

O Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian, em colaboração com a Ciência Viva, realiza no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian (Av. de Berna, 45 A) a conferência – NA FRONTEIRA DO UNIVERSO: EM BUSCA DO FIM DA IDADE DAS TREVAS – que terá lugar no dia 16 de Julho (quarta-feira), às 18h00, e será proferida pelo Prof. Doutor José Manuel Afonso, do Observatório Astronómico de Lisboa. Teria muito gosto em que estivesse presente nesta iniciativa. Após milhares de anos a estudar o céu, numa história que é tão velha como o próprio Homem, encontramo-nos hoje prestes a assistir a uma revolução no conhecimento. Pela primeira vez, o Homem prepara-se para observar o nascimento da primeira luz do Universo, e finalmente compreender como se deu a formação das primeiras estruturas do Cosmos. Sabemos que pouco após o Big Bang, uma escuridão fundamental se terá instalado. Sabemos também que hoje o Universo é rico em luz, sendo as estrelas uma das suas origens. Como se deu a transição da &

Tempestades Épicas

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Tempestades Épicas Vergílio, Ovídio, Homero, Camões e Ariosto Organização, introdução e elaboração de fichas de Fernando Lemos 140 Páginas A antologia ora apresentada nasce da actividade didascálica – e perdoe-se o palavrão pelo bem que sabe!... –, assim como pretende responder às necessidades de estudo, ou cognitivas, que circunstanciam as unidades curriculares de Cultura Clássica e Latim. A didascália, conforme todos sabeis e eu também (não), era, além da instrução que os actores gregos recebiam dos poetas, também o comentário, a anotação ou a crítica de peça teatral, nos meandros da latinidade. E, porque as tempestades já não são aquilo que eram, pode mesmo esta colectânea ser considerada um instrumento de trabalho, para quem se queira aperceber dos efeitos que elas tiveram, ou produziram, nas narrativas da ancestralidade. Além de facilitar a compreensão da catástrofe e da perseguição como patamares incontornáveis da escrita imaginativa, sobretudo aquela que apela para a natureza ép

O Poeta, de Michael Connelly

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O Poeta Michael Connelly Trad. Eduardo Saló 480 Páginas " A escrita exerce em mim o mesmo efeito que o conteúdo desse copo em ti. Se conseguir escrever sobre o caso, é porque o compreendo. Nada mais me interessa. " " Queria ser escritor e afinal tornei-me jornalista. " " Uma pessoa tenta reconstruir um puzzle em conformidade com o que tem na mente. " " – Vou escrever sobre o meu irmão – anunciei. (...) Depois disso tudo se alterou na minha vida. " " A morte é o meu negócio. É dela que vivo. Baseia-se nela a minha reputação profissional. Trato-a com a precisa paixão de um agente funerário – grave e consolador perante os enlutados e artesão eficiente com ela, quando estou só. Sempre achei que o segredo para me ocupar da morte consistia em a manter a uma distância prudente. É a regra de ouro. Não permitir que o seu alento me atinja a cara. " Sob o modelo narrativo das "bonecas russas", matrioscas , ou das caixinhas que têm uma ca

Para as Minhas Filhas Com Amor, de Pearl S. Buck

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Para as Minhas Filhas Com Amor Pearl S. Buck Trad. Virgínia Mota 248 Páginas Embora tenham sido as mulheres quem, quer por motivo inspirador, quer como utilizador final do produto literário, quer por a ela, à arte literária, como às línguas que a veiculam terem dedicado grande parte da sua vida, como ao dever-se-lhes as maiores modificações dentro do discurso narrativo, e aqui estou a lembrar-me, por exemplo, de uma Carson McCullers, que neste capítulo é incontornável, o que é certo, é que se contam pelos dedos quantas foram laureadas com o Nobel da Literatura. Algumas delas, foram de tal forma importantes, que conseguiram arrebatá-lo, ao prémio, digo eu, de um universo literário fortemente sexista, no século mais masculinizado da história humana, o século passado, como Selma Lagerlöf, Gabriela Mistral ou Peral S. Buck. To My Daughters With Love é, queiram ou não, os apaniguados defensores da cozinha de autor, ou aqueles que ainda sublinham que não obstante serem as mulheres quem mais

Mefisto, de Klaus Mann

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Mefisto Klaus Mann Trad. Maria Assunção Pinto Correia 400 Páginas "Obra maldita, romance incómodo, Mefisto é sem sombra de dúvida um dos títulos mais importantes da literatura alemã" do século passado, cujo autor, filho de outro jurássico e consagrado escritor, Thomas Mann, se suicidou em Cannes, a 21 de Maio de 1949, em resultado de várias "causas" e factores misteriosos, embora por demais estudados, conhecidos e vulgares no nosso tempo, por alguns "ainda" considerados estritamente pessoais, como a dependência das drogas duras e da homossexualidade, mas para outros de cariz vincadamente social, ideológico e político, como a crescente desilusão e pessimismo perante os rumos da Alemanha do pós-guerra e a Europa do Futuro. Nascido em Munique, a 18 de Novembro de 1906, é na sequência da tomada do poder pelos nacional socialistas empurrado para o exílio, em 1933, pelo que sofreu destes, em retaliação, o retirarem-lhe a cidadania alemã em 1934. Atrás de si dei