Exígua Mandorla

Exígua Mandorla


Sei que desces a rua quando te pressinto a descê-la
Há uma auréola que desce a par contigo também
O odor deslaça ondulante por entre a multidão
Em brisa de silêncio expectante, majestade única.

As brancas flores das amendoeiras estremecem
As rendas dos cortinados dançam novos contornos
Outras formas nunca antes imaginadas sequer.
As salvas de prata expelem vítreos reflexos, cintilam
A ideia outrora vaga capricha agora, torna-se sólida
Geométrica, ovo de prosperidade em mágica criação
Onde germina sempre, quase no imediato das vozes
Uma parábola de esgar, soslaio de tradicional inovação
Na crosta breve das crenças extintas mas eruptivas.

Então assomo do nicho azul onde fetal me aninho
E desço atrás de ti a liberdade até à porta da casa dez
A que, entretanto, no jardim junto ao lago octogonal
Alimentamos peixes de jade com migalhas de luar
Que baloiçam entre os lótus até ao fundo cristalino.

São esses os momentos preciosos que me foram incrustados
No anel do peito em que a mão direita me bate sem culpa.

Precisavas de sabê-lo. Antes que nevasse, quero, por assim dizer!...


Abril tornou-se "deveras" verdade:
CHICOESPERTISMO E TRADIÇÃO VENCIDOS PELA RAZÃO


As espertezas, ratices e antecipações para aparecer no boneco são chãos que já não dão uvas. Conforme noticiou a Lusa (PMC – 14 de Fevereiro), os defensores do "não" no referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, usufruíram de maior espaço e tempo de emissão noticiosa que os do "Sim", e nem por isso obtiveram melhores resultados. Na RTP e na SIC tiveram 51% desse agenciamento, foram alvo de 371 notícias contra 361 do "Sim", mas desceram consideravelmente em todo lado, quer em termos de sufrágio nacional como regional. Tendo, dos movimentos cívicos, a "Plataforma não Obrigado" sido registado em 75 notícias, que é simplesmente mais do dobro daquelas em que figurou o "Médicos Pela Escolha", com apenas 35 notícias, a que mesmo que somemos os 22 registos do movimento "Cidadania e Responsabilidade pelo Sim" não vai além das 57 totais, o que, bem é de ver, divididos pelos três canais televisivos, sem contar com os tempos de antena, evidencia quanto é factualmente comprovado que maior protagonismo pode resultar em menor eleitorado, desde que a esse aumento da quantidade não corresponda também um acrescento de qualidade, de melhoria de projecto bem como de elevação dos argumentos. Sobretudo porque este referendo revelou e enuncia igualmente um gradual aumento da participação em actos políticos do género, descida da abstenção portanto, embora os movimentos cívicos apenas tenham estado em um terço da informação sobre as campanhas, ficando os partidos e seus lideres com a parte de leão, onde José Sócrates tirou substancial vantagem sobre os restantes (44 notícias), dos quais Ribeiro e Castro (36), Marques Mendes (36), Bagão Felix (25), Paulo Portas (15) e Marcelo Rebelo de Sousa (19), num total de 131 notícias, contra as 119 referências da liderança esquerdista, repartidas, além das já citadas 44 do primeiro-ministro, também nas 36 de Francisco Louçã, 27 de Jerónimo Sousa e 12 de Maria de Belém.
Mas pior ainda: que a pressão das sondagens foram pelo mesmo caminho. Aliás a empresa de análise Memorandum pertence ao Observer, o maior grupo mundial de empresas de monitorização de meios, tendo à sua responsabilidade a selecção, tratamento e análise da informação portuguesa, espanhola e da América latina, provando assim que o cariz de neutralidade internacional e grau de isenção observativa, é mais importante na formação da consciência cívica do que as previsões e prognósticos costumeiros e tradicionais do comezinho paroquiano, pejado de jesuitismo beneditino e pseudo-universitário de todo o arraial que acompanha a mediatização da charlatanice denunciada com as sondagens, estabelecendo definitivamente que há que desacreditar as intenções dessa estirpe de gente que, embora faça o mesmo que os adeptos dos fundamentalismos islamitas, como comuns janízaros, exige ser considerada melhor que estes. O que nos atira para outras conjecturas como a de questionar porque é que havendo pessoas tão ignorantes, imorais e vadias como a maior parte dos sem-abrigo, se outorgam estas o direito de exigir que as vejamos como pessoas finas...
Isto é, não restam as mínimas dúvidas que o esforço desenvolvido para dotar o maior número possível de pessoas com formação superior, apetrechando a nação de uma competente massa crítica que preza a lucidez e objectividade, geradas pelos inúmeros institutos politécnicos e universidades espalhados pelo país, está finalmente a produzir efeitos positivos na democratização da sociedade e elevação da qualidade da vida, pública como privada, estabelecendo patamares de credibilidade e consciência política jamais propiciados pelo chicoespertismo corporativista que entupiu, manietou e vingou na nossa portugalidade durante séculos. Que o eleitorado português ultrapassou determinadamente a lógica divinatória do branco é galinha o põe e que está disposto a pagar na mesma moeda a quem o considera diminuído mental, o trata com avulsa imbecilidade e consigna à menoridade.
E estipulou que bonecos por bonecos, os melhores eram os cromos da bola, e até esses já deixaram de vender pirêtes, caramelos e balões. Ou que a calda, por caldo, está cada vez mais difícil de fazer engolir!

Averigúe-se!

Parece que, em matéria de política, continua a haver uma enorme diferença entre trabalhar, viajar e bater carimbos: o primeiro, evita quebrantamentos; os segundos, só os oficializam e confirmam. Primeiro foram os voos da CIA, depois as afirmações chinesas… e agora isto.
Razões de sobra para que não haja como não desconfiar quando a esmola seja grande. José Sócrates, no debate mensal do parlamento, anunciou que subiria a fasquia obrigatória portuguesa de incorporar, para consumo e até 2010, 10% de biocombustíveis tradicionais quando a Comissão Europeia decidira que deveríamos ter apenas, até à nomeada data, 5,75%, embora mais recentemente esse patamar tenha subido para 20% alcançáveis em 2020. À distância de catorze aninhos, como se de uma adolescência ambiental completa se tratasse, o que, enquanto etapa de crescimento sustentado e maturidade social, seria óptimo.
Contudo, não obstante se reconheça que face ao elevado custo de produção de biocombustíveis comparativamente com os de origem fóssil (gasolina e gasóleo, gás e carvão), se devem atenuar os custos destes com o aumento de graus de isenção fiscal, pelo que não se considera, de modo algum, suficiente para atingir as metas propostas apenas, e tão só, os avaros incentivos de 280 euros por cada mil litros produzidos, posto que nos produtores dedicados, ou os que produzem exclusivamente uma categoria ou variedade, essa isenção seja total por mais três anos, o que capitosamente atrofia a diversidade em favor da unificação, beneficia a quantidade em desprimor da qualidade, uma vez que está garantido que o significativo valor dos biocombustíveis não reside unicamente na sua capacidade de substituição dos combustíveis fósseis, mas sim em combater a dependência energética e quasemodismo económico do sector, reforçando a diversidade e aumentando o leque de combustíveis alternativos, pretendendo-se o evoluir sempre para os mais amigos do ambiente, independentemente das suas vantagens na competitividade. Pois é, por assim dizer, ir inclusive para além dos conceitos de economia doméstica e de consumo, das condicionantes de produção, gestão e transporte, e inscrever a diversidade, tanto de oferta como de procura, nos hábitos e procedimentos de mercado, estimulando-a através de múltiplas marcas e valorizando todos os mecanismos de publicidade positiva. A divulgação das empresas que concorrem com o seu esforço de qualificação e inovação alternativa, como a Iberol, Torrejana, Biovegetal, Tagol, Biomart, por exemplo, cujos pedidos de isenção respeitantes a 244 500 de toneladas foram aprovadas pela Comissão de Avaliação da Direcção-Geral de Geologia e Energia, para que possam avolumar-se em termos produtivos mas também consolidar-se nas preferências do consumidor e retalhistas com preocupações ambientais, instituindo pujante élan motivacional com resultados desejáveis no desenvolvimento do sector, contributo de inegável valor na descarbonização da nossa economia.
Mas do que nos admiramos nós, não é?... Acaso não estamos já mais do que cientes que qualquer governo nacional tem sempre preocupações superiores às decorrentes, e consequentes, da simples exigência de sustentabilidade energética ou ambiental?
Por isso, terminada que foi a Conferência de Paris do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), de cujo relatório se infere que o sul de Portugal vai sofrer uma redução drástica da precipitação, não estranhámos minimamente que o governo português não tenha enviado ninguém à dita reunião, embora o ministro do ambiente se encontrasse à altura na capital francesa, e muito menos da sua admiração pelo facto, visto estar essa falta em consonância directa com a política nacional para as condicionantes ecológicas, suas causas e consequências, que apenas se manifesta com indignações do género de “depois da casa arrombada trancas na porta”, que se resumem invariavelmente no típico procedimento do poderio: verdade? Vamos já averiguar o que é que se passou. E que se calhar se repetirá, quando viermos a saber pelos americanos, ou pelos europeus, que a nossa orla costeira sofreu um generoso encurtamento derivado aos sete metros de subida do nível do mar, se o gelo da Gronelândia vier a derreter; ou se porventura, desaparecermos do mapa das nações... E então, as averiguações para saber o que se passa nos hão-de servir de tanto para a nossa escassez de água presente como a chuva que caiu há cem anos. De nada.
Isto é, pode a fome virar fartura, tal como os risos dos deputados ecologistas a quem faltavam motivos mas presentemente lhes sobram, e as metas de 5,75% subirem para 10% em 2010 à vontade, que de nada nos valerão, se quando precisamos de estar nuns sítios estamos noutros e em vez de governar andamos a ver o que nos aconteceu em resultado, ou faltas, disso. Podemos ir ao Brasil, à China e à Índia, redescobrir o mundo que nem Gamas e Cabrais, instituir missões e capitanias, postos e interpostos comerciais, quanto nos aprouver, que de muito pouco nos valerão amanhã, se sucumbirmos às dificuldades actuais. Até por que, isto das averiguações está bem simplex de ver e ninguém esconde que foi um prace que lhe deu!

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