As Tentações do Je Ne Sais Quoi
As Tentações do Je ne sais quoi!
Esse escorreito e rudimentar, senão atalho malévolo, esse não-sei-quê com que se pretende reduzir (na qualidade) as obras de arte à banalidade de um mistério, ou (in)definição de (in)suspeitável gosto, espécie de "se não percebo então é porque deve ser bom", que muitos exibem como pedra-de-toque para avaliar as demais por essas, atirando para o redil do surrealismo quantas se imbriquem na associação livre da imagética e da sinestesia, pondo de um lado as que têm esse não-sei-quê que nos arrebata pela incompreensão delas, e do outro, as estruturadas mas simples, por acaso consideradas menores, uma vez que explicam ao contrário das primeiras, que confundem, complicam, expressando fusões inconcebíveis entre parafraseados inconfundíveis, que desde o jazz ao Kusturica foram expulsos pela ecolália Dada, dos paraísos dos direitos de autor, bem como do das parangonas multimédias e escaparates maiores, como quem assenta os alfabetos com o tijolo e cimento da moda (de opinião), tem provocado quase tantas baixas de vulto na criação literária como o maneirismo teológico provocou na pintura (arte) europeia e/ou mundial de séculos recuados, tenebrosos, escuros e medievos com certeza, pondo o ver com os paninhos quentes do quero-posso-e-mando sob a tutelar batuta de Deus, e Este, a servir os mais instintivos e encarniçados desígnios dos papistas poderosos, que chegaram mesmo a exigir – e conseguir! – que os artistas fossem apenas os executantes das suas ideias de beleza, ditando-lhes o que deviam pintar (fotografar ou escrever, filmar ou esculpir, musicar ou coreografar, à semelhança do que hoje fazem...), posto que se a composição seria sempre deles embora a interpretação/execução, enfim a técnica (a arte), fosse de quem possuía o dom, a mestria, o talento, a habilidade para criar, produzir com génio, pintar ou escrever, vulgarmente conhecido por artista (ou artífice), pintor, poeta, músico, etc., contorcionista mesmo, pois que muita manobra e jogo de cintura tem que fazer para viver quem apenas souber fazer seja o que seja, mas não tiver bons padrinhos na confraria dos ai-não-me-toques-que-me-desmanchas e demais paróquias censórias (e congéneres).
Pois bem, se é certo que esse não-sei-quê que assenta como uma luva no ar enigmático das Giocondas desta urbe, o copy-past perfeito no equívoco soslaio da Rapariga com Brinco de Pérola de Vermeer, ou da multiplicação de pontos de vista em As Meninas, de Velasquez, ou ainda essa perseguição ao coelhinho branco pela toca do inconsciente (fantástico) segurando a mão (escrita) de Lewis Carrol, na Alice no País das Maravilhas, e se manifesta impróprio para consumo à luz de qualquer cassandre (acrónimo da expressão francesa "language pour la conception aidée et la simulation des systèmes logiques, leur analyse, description et réalisation" – que é como quem diz, linguagem para o projecto assistido e para a simulação de sistemas lógicos, sua análise, descrição e implementação, descrição lógica, estrutural e funcional de sistemas semânticos com vista a detectarem-se erros de alcance significativo, incongruências internas e anacronismos vários, incluindo as (inter)ligações (conexões) entre componentes dos constructos frásicos, e destes no discurso), pode muito exemplarmente ser aquele atestado de burrice e deslumbramento perante os palácios da complexidade, mas não é, de forma alguma, e por mais torções que apliquem ao bom gosto e bom senso tão apaniguados nas lides e inventivas da retórica (escolástica), sinónimo de qualidade estética e exímia técnica. Porque esse não-sei-quê é um calhou que assistiu em sorte àquele que querendo desenhar um periquito lhe saiu um melro, todavia assume o produto final como intenção inicial, logo, objectivo definido do seu gesto criativo. É um tanto foi o cântaro à fonte até que se partiu, e finalmente, assim viu recriado como um vitral, depois de coladas todas as suas partes (cacos), com a cola translúcida que apenas o pensamento empresta à análise que jorra, sem receio nem inibição castrativa, da interpretação sagaz e objectiva de cada um dos seus componentes.
Ou seja, se aplicarmos o zoom da eficácia significativa sobre esse não-sei-quê que tanto reclama a atenção do observador (leitor) da obra de arte, vemos que o resultado excedeu a competência técnica, normalmente porque algo lhe falta, formando elipse, metáfora, hipérbole, alegoria, eco, refrão, metonímia, sinédoque, sinestesia, hiato, provocando o salto no vazio ou vertigem de constatação que, além de arrebatar significativamente, também nos transportou para o ver claramente visto que os olhos nunca alcançarão, pois não estão apetrechados dos cones e bastonetes virtuais e suficientes para discernir os pormenores da alma.
Porém, digam aquilo que disserem, sejam tão fundamentalistas quão obtusos, o constante ar enigmático que o Papa denunciou/apresentou durante os actos públicos da sua estadia em Portugal, se a alguns pareceu sintoma de santidade e acutilância de espírito, isso foi porque viram mal, uma vez que era mais adequado interpretar a sua reserva, outros dirão timidez, e desconfiança perante o que via, como um ora-a-porra-onde-eu-me-vim-meter que estes gajos são malucos, tão malucos que até são capazes de andar a pé centenas de quilómetros – em peregrinação –, mas vão de pó-pó para ir beber café à tasca do fundo da rua onde moram, além de nem sequer separarem/seleccionarem o lixo doméstico porque isso lhes exigirá depois metê-lo em recipientes distintos de difícil avaliação e escolha. Enfim, um sorriso com aquele não-sei-quê que costuma acompanhar as grandes dúvidas e suspeições, tão conhecido das mulheres no Verão das poucas roupas, e se afastam, quando ao olhar por cimo do ombro, reconhecem que o amigo de fé, e familiar, lhe aprecia outros atributos traseiros, que não a simplicidade do andar, que as põe a pensar na necessidade de rever os conceitos, os suportes, os significados e os coloridos da amizade que os une... esse não-sei-quê que estremece, tanto quanto tenta e arrepia: não, não foi ele – o homem vestido de branco – que nos surpreendeu: nós é que não evoluímos nada, e continuamos os mesmos Viriatos a correr atrás das cabras, capazes de ter visões sob efeito de qualquer zurrapa.
Que dura pouco, mas que marca, capaz de traduzir toda a vida num momento, essa precipitação do tempo que (es)corre, em catadupa, à procura da sua própria cristalização, o instante, e se fixa num fotograma (frame) sem precedentes, sem studium, história ou preâmbulo, e contudo se torna síntese, punctum, sinal, luz, insight nos modos de ver peculiares com que cada um se diluirá na eternidade. Todavia, como todos os pormenores e adereços, importa saber que eles apenas são vistos porque alguém os colocou lá, precisamente para que os notássemos. Em arte, em coreografias, sejam elas quaisquer que sejam, os não-sei-quês funcionam sempre de acordo com os porquês para que foram criados. E alguns deles, deixam muito a desejar... Ou não!
Esse escorreito e rudimentar, senão atalho malévolo, esse não-sei-quê com que se pretende reduzir (na qualidade) as obras de arte à banalidade de um mistério, ou (in)definição de (in)suspeitável gosto, espécie de "se não percebo então é porque deve ser bom", que muitos exibem como pedra-de-toque para avaliar as demais por essas, atirando para o redil do surrealismo quantas se imbriquem na associação livre da imagética e da sinestesia, pondo de um lado as que têm esse não-sei-quê que nos arrebata pela incompreensão delas, e do outro, as estruturadas mas simples, por acaso consideradas menores, uma vez que explicam ao contrário das primeiras, que confundem, complicam, expressando fusões inconcebíveis entre parafraseados inconfundíveis, que desde o jazz ao Kusturica foram expulsos pela ecolália Dada, dos paraísos dos direitos de autor, bem como do das parangonas multimédias e escaparates maiores, como quem assenta os alfabetos com o tijolo e cimento da moda (de opinião), tem provocado quase tantas baixas de vulto na criação literária como o maneirismo teológico provocou na pintura (arte) europeia e/ou mundial de séculos recuados, tenebrosos, escuros e medievos com certeza, pondo o ver com os paninhos quentes do quero-posso-e-mando sob a tutelar batuta de Deus, e Este, a servir os mais instintivos e encarniçados desígnios dos papistas poderosos, que chegaram mesmo a exigir – e conseguir! – que os artistas fossem apenas os executantes das suas ideias de beleza, ditando-lhes o que deviam pintar (fotografar ou escrever, filmar ou esculpir, musicar ou coreografar, à semelhança do que hoje fazem...), posto que se a composição seria sempre deles embora a interpretação/execução, enfim a técnica (a arte), fosse de quem possuía o dom, a mestria, o talento, a habilidade para criar, produzir com génio, pintar ou escrever, vulgarmente conhecido por artista (ou artífice), pintor, poeta, músico, etc., contorcionista mesmo, pois que muita manobra e jogo de cintura tem que fazer para viver quem apenas souber fazer seja o que seja, mas não tiver bons padrinhos na confraria dos ai-não-me-toques-que-me-desmanchas e demais paróquias censórias (e congéneres).
Pois bem, se é certo que esse não-sei-quê que assenta como uma luva no ar enigmático das Giocondas desta urbe, o copy-past perfeito no equívoco soslaio da Rapariga com Brinco de Pérola de Vermeer, ou da multiplicação de pontos de vista em As Meninas, de Velasquez, ou ainda essa perseguição ao coelhinho branco pela toca do inconsciente (fantástico) segurando a mão (escrita) de Lewis Carrol, na Alice no País das Maravilhas, e se manifesta impróprio para consumo à luz de qualquer cassandre (acrónimo da expressão francesa "language pour la conception aidée et la simulation des systèmes logiques, leur analyse, description et réalisation" – que é como quem diz, linguagem para o projecto assistido e para a simulação de sistemas lógicos, sua análise, descrição e implementação, descrição lógica, estrutural e funcional de sistemas semânticos com vista a detectarem-se erros de alcance significativo, incongruências internas e anacronismos vários, incluindo as (inter)ligações (conexões) entre componentes dos constructos frásicos, e destes no discurso), pode muito exemplarmente ser aquele atestado de burrice e deslumbramento perante os palácios da complexidade, mas não é, de forma alguma, e por mais torções que apliquem ao bom gosto e bom senso tão apaniguados nas lides e inventivas da retórica (escolástica), sinónimo de qualidade estética e exímia técnica. Porque esse não-sei-quê é um calhou que assistiu em sorte àquele que querendo desenhar um periquito lhe saiu um melro, todavia assume o produto final como intenção inicial, logo, objectivo definido do seu gesto criativo. É um tanto foi o cântaro à fonte até que se partiu, e finalmente, assim viu recriado como um vitral, depois de coladas todas as suas partes (cacos), com a cola translúcida que apenas o pensamento empresta à análise que jorra, sem receio nem inibição castrativa, da interpretação sagaz e objectiva de cada um dos seus componentes.
Ou seja, se aplicarmos o zoom da eficácia significativa sobre esse não-sei-quê que tanto reclama a atenção do observador (leitor) da obra de arte, vemos que o resultado excedeu a competência técnica, normalmente porque algo lhe falta, formando elipse, metáfora, hipérbole, alegoria, eco, refrão, metonímia, sinédoque, sinestesia, hiato, provocando o salto no vazio ou vertigem de constatação que, além de arrebatar significativamente, também nos transportou para o ver claramente visto que os olhos nunca alcançarão, pois não estão apetrechados dos cones e bastonetes virtuais e suficientes para discernir os pormenores da alma.
Porém, digam aquilo que disserem, sejam tão fundamentalistas quão obtusos, o constante ar enigmático que o Papa denunciou/apresentou durante os actos públicos da sua estadia em Portugal, se a alguns pareceu sintoma de santidade e acutilância de espírito, isso foi porque viram mal, uma vez que era mais adequado interpretar a sua reserva, outros dirão timidez, e desconfiança perante o que via, como um ora-a-porra-onde-eu-me-vim-meter que estes gajos são malucos, tão malucos que até são capazes de andar a pé centenas de quilómetros – em peregrinação –, mas vão de pó-pó para ir beber café à tasca do fundo da rua onde moram, além de nem sequer separarem/seleccionarem o lixo doméstico porque isso lhes exigirá depois metê-lo em recipientes distintos de difícil avaliação e escolha. Enfim, um sorriso com aquele não-sei-quê que costuma acompanhar as grandes dúvidas e suspeições, tão conhecido das mulheres no Verão das poucas roupas, e se afastam, quando ao olhar por cimo do ombro, reconhecem que o amigo de fé, e familiar, lhe aprecia outros atributos traseiros, que não a simplicidade do andar, que as põe a pensar na necessidade de rever os conceitos, os suportes, os significados e os coloridos da amizade que os une... esse não-sei-quê que estremece, tanto quanto tenta e arrepia: não, não foi ele – o homem vestido de branco – que nos surpreendeu: nós é que não evoluímos nada, e continuamos os mesmos Viriatos a correr atrás das cabras, capazes de ter visões sob efeito de qualquer zurrapa.
Que dura pouco, mas que marca, capaz de traduzir toda a vida num momento, essa precipitação do tempo que (es)corre, em catadupa, à procura da sua própria cristalização, o instante, e se fixa num fotograma (frame) sem precedentes, sem studium, história ou preâmbulo, e contudo se torna síntese, punctum, sinal, luz, insight nos modos de ver peculiares com que cada um se diluirá na eternidade. Todavia, como todos os pormenores e adereços, importa saber que eles apenas são vistos porque alguém os colocou lá, precisamente para que os notássemos. Em arte, em coreografias, sejam elas quaisquer que sejam, os não-sei-quês funcionam sempre de acordo com os porquês para que foram criados. E alguns deles, deixam muito a desejar... Ou não!
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