OS BONS MOMENTOS DAS MÁS COISAS




OS BONS MOMENTOS DAS MÁS COISAS

"«Se uma nação conta ser ignorante e livre», disse Jefferson, «espera o que nunca foi e nunca será... As pessoas nunca podem estar em segurança sem informação. Onde a Imprensa é livre, e cada homem capaz de ler, tudo está salvo.»"

In ALDOUS HUXLEY
Regresso ao Admirável Mundo Novo
Trad. Rogério Fernandes
(Pág. 78)

Portalegre, enquanto cidade e enquanto capital de distrito, não pode prescindir de um órgão de comunicação social confiável e de qualidade, e que traduza os seus anseios de desenvolvimento e aspirações de progresso, assim como promova e gere a discussão ou debate público acerca deles, uma vez que "ó rama, ó que linda rama" costumeiro dos atuais (e anteriores), pode fomentar o bailarico (das vaidades e narcisismos avulsos – é certo), ou divulgar as romarias das confrarias do pacóvio para entreter mentes doídas e com soletração custosa e esforçada, por algum tempo, mas não muito, pois, mais tarde ou mais cedo, estes e estas morrem, ou acordam, acabando por reconhecer como estavam a ser enganados e enganadas, pelas pílulas dos "sonhos felizes" que os obrigaram a engolir, manipulando-lhes o gosto com ninharias e bagatelas, que são, indubitavelmente, na sua matriz, outros palimpsestos de outras tantas nascidas, ainda na Idade Média, do obscurantismo inquisitorial que grassou nesta região, implementado na modalidade do troca-por-troca pelo foral com D. João III.  

Até porque ninguém já desconhece que um relógio parado também pode estar certo, ainda que só duas vezes ao dia, e, se o ocultarmos da vista, daqueles e daquelas a quem queremos convencer da sua exatidão, nas restantes, mostrando-lho apenas nas horas referidas dois ou três dias seguidos, fazem-nos o merecido manguito pela marosca, com o típico «pois sim» para nos calar, mas ficando a murmurar entre si, o não menos tradicional «vai lá, vai... escolhe outro!», como epílogo generalizado que concedem aos grandes e espectaculares dramas houdinianos, ou dos clássicos sobretudos azuis com forros de seda vermelha, que, por tão recentes e tão triste memória, ainda se espanejam vivazes no nosso (in)consciente coletivo.

Ou seja, acabaram-se finalmente os tempos da justificação dos meios pela bondade dos fins, tanto em política como na engenharia social, pelo que não será a convicção de precisarmos de órgãos de informação regional, que vamos engolir qualquer um que ande a monte dos princípios éticos, deontológicos e constitucionais, ou nos trate pela bitola do "pra quem é bacalhau basta", porquanto a diversidade de meios disponíveis (televisões, rádios, Internet) com que o poderemos vir a comparar é múltipla e variada, e a escolha de cada um e cada uma, por isso mesmo, se vai tornando também cada vez mais apurada e fundamentada, exigente e rigorosa, sustentada na exatidão do doa a quem doer, se é verdade tem que se dizer.   

O que nos obriga a concluir, parafraseando Thomas Jefferson (13.01.1743 – 04.07.1826, presidente norte-americano, natural da Virgínia e redator principal da Declaração de Independência dos EUA, em 04.07.1776), que se pretendem que uma cidade seja livre e emancipada dentro da atual conjuntura europeia e mundial, não podem esperar que ela seja ignorante e ignorada, porque isso é impossível, por mais que as forças do obscurantismo medievo o intente, porquanto quase todas e todos sabem ler suficientemente bem, fazendo-o com frequente galhardia e assertivamente, e já ninguém se entretém com os "bonecos polaroide" de atirar poeira para cima dos factos, com ou sem c atrás do T que, de santíssimo nada tem, nem serve de ferro para trindade nenhuma, a não ser a do atraso, miséria e desertificação (crescentes). Ser ignorante, malformado e perverso já não garante diploma de herói, nem nas tascas mais pícaras, quer dizer, típicas. Desculpar as más coisas por algum momento menos mau ou bom que (hipoteticamente) proporcionaram, enfim, já não cola... E ainda bem!

Joaquim Castanho           
  

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