SINAL DE VIDA, de JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS




UMA CONVERSA UNIVERSAL 

SINAL DE VIDA
José Rodrigues dos Santos
Gradiva

"Pela minha noiva, recusarei o que for preciso recusar." - Página 114

Um sinal é um indício. Um indício de (água, de vida, por exemplo). Viver é comunicar. E comunicar é emitir sinais. Mas o que é que isso significa? Que só reconhecemos a vida quando ela é suficiente para emitir o sinal passível de ser descodificável. Que possa ser compreensível para nós, entre nós, entre os demais, e entre nós e os demais. Num romance, se for de ficção emancipada, ou seja, cuja narrativa se alinha e subscreve nos pressupostos cientificamente fundamentados, é possível estender o conceito de comunicação ao de viagem, uma vez que a primeira pode ser um convite à compreensão, e a segunda, é o entendimento do conteúdo (enunciados) propriamente dito, através do qual nos abstraímos de nós mesmos para integrar (ou participar) outra dimensão, outro registo, onde a trama/enredo se verificam. 

Portanto, acerca deste romance podemos afirmar que se a literatura gera conhecimento à ciência o deve, assim como se o conhecimento ganha valor é arte que lho concede, uma vez que depois de traduzido e demonstrado matematicamente, importa reconhecê-lo (útil) no plano ético e humanista, o que seria de todo em todo pouco evidente se a literatura não lhe advogasse a serventia, e lhe emprestasse a validade intrínseca e social com que possa percorrer as veredas da subjetividade humana, sentimental, afetiva, em que se baseia o principal laço que nos une, a família, a língua materna, que consequentemente produzirá a semente do grupo, do clã, da sociedade a que pertencemos, pela sua multiplicação, expansão e partilha, na procura duma universalidade que a justifique. 

Porém, nem todas as viagens (demonstrações) são de ida, porquanto outras há que são (também) de volta. E esta aventura relatada, este romance de ficção científica, como é classificado na generalidade, é-o sem dúvida. É o regresso do significado ao seu signo, do sentido ao seu sinal, do entendimento à sua espécie, do afeto ao seu berço, do compromisso ao seu cumprimento – à inteligência, seja ela cibernética, biológica ou espiritual –, no respeito e pela dignidade entre dois seres, balizados entre dois limites inconfundíveis, o do verosímil e o do plausível, nessa linha equidistante a eles em que desenrola e evolui a ficção científica. Porque ela é o demonstrável. Ela não inventa, mas exemplifica, servindo-nos uma perspetiva viável, observável desse conhecimento, tese ou teoria, sem a qual ela nos seria muito dificilmente entendível. Não só nos conta o que podia ter sucedido, mas também nos elucida de como aconteceu para que o víssemos ao ponto de "nisso" acreditar, pondo-nos a par dos antecedentes que teve como no que veio a resultar. 

Explica-nos porque não estamos sós no universo. Dá notícia de que pode haver e "há filhos de Deus noutros planetas", como doutras galáxias, e que eles entraram em contato connosco, tornando possível manter e pôr em dia essa conversa que a vida é, ao revelar-se continuamente, não em termos unicamente competitivos, mas também cooperativos. Porque embora Darwin tenha dado "o primeiro passo para a compreensão do maquinismo que conduz à evolução das espécies", depois dele foram feitas muitas outras descobertas que completaram e, até, corrigiram a tese original, como a "cooperação. A evolução e a sobrevivência", como se afirma na página 96, "assentam muito na cooperação, uma realidade que tendemos a esquecer, mas que os estudos vão sucessivamente confirmando. Vemos isso não só nos seres humanos e nos mamíferos, mas também nas aves, nos répteis, nos insetos, nos peixes, nas plantas… até nas células e nos genomas! Há cooperação em tudo o que é biologia. Os seres vivos sobrevivem e evoluem graças à cooperação que são capazes de gerar a múltiplos níveis." Incluindo entre diversas formas de expressão inteligível, nomeadamente entre o discurso científico e o discurso literário. 

Foi assim que eu o vi. Que eu o li, e continuo a lê-lo… Experimentem também, e logo me dirão quão longe (ou perto) andarei da verdade… 

Joaquim Maria Castanho

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