ALVA LUZ, AMENO CLIMA



  ALVA LUZ, AMENO CLIMA


Mergulho em recordações…
Abro a voz pra respirar-te.
Redesenho-te por secções
Onde as partes são ambiente
Unidas até serem arte,
Sentidas até serem gente.


Não há mar que te desconheça
Não há céu que te não cante,
Nem sentir que te desmereça
Mesmo se estás distante.


Esse ora assim destilado
Serenidade (e exatidão),
Quase afeto amassado
Com o cuidado de tua mão
Que assina por bem, no final
O teu olhar, meigo e plural,


Que traz o céu salpicado
De azul só entre as nuvens
Cinza e branco prateado
Entre as folhas e as vagens
Entre verde o casario
Quase suspenso dum fio...
Jardim pra que não há margens,
Nascente pra mais que um rio.

E que, por que assim, sendo
A vida aí não esgota
Ainda que ocasos tendo,
Vai subindo, vai descendo
Balanceado na rota.

Como por laivos de prata,
Como um céu de platina,
Onde, se ao azul tapa,
Também descanso ensina.
Porém se o azul destapa
É alva luz, ameno clima.

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Mia Teixeira

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