OS TANTO FAZ, FAZEM-NOS MAL


 

OS TANTO-FAZ FAZEM-NOS MAL

 

A opção entre ditaduras e democracias é uma questão de dignidade e reconhecimento do ser humano e de como essa se expressa nos domínios do conhecimento e da cultura. Mário Soares, em 7 de outubro de 1977, no prefácio do livro VENCER A CRISE: PREPARAR O FUTURO, publicação elaborada pelo gabinete do Secretário de Estado adjunto do Primeiro-Ministro Para os Assuntos Políticos, sob a coordenação do jornalista Nuno Vasco, a fim de assinalar um ano de governo constitucional em Portugal, salienta-o exemplarmente, afirmando ser “certo que, em democracia, quem governa expõe-se abertamente à crítica. Mas aí, também, reside a grandeza e a força do sistema democrático. As ditaduras amordaçam a crítica – porque não podem viver com ela. As democracias dão-lhe livre curso, porque, sem ela, não poderiam viver.”

 

Portanto, não é legítimo afirmar que tanto faz viver em democracia como em ditadura, porque essa é a diferença fundamental entre sermos cidadãos e cidadãs e sermos servas ou servos de um regime político. Podermos pensar acerca de todas as coisas e afirmá-lo sem ser condenado ou julgado por isso, não é somente uma questão de liberdade de expressão, mas inclusive de respeito e consideração pela dignidade humana. Pela dignidade de cada pessoa, seja ela criança, idosa ou adulta, rica ou pobre, diplomada ou sem habilitações académicas, feia ou bonita, nacional ou estrangeira, religiosa ou não, branca ou de cor, masculina ou feminina.

 

Sim, a crítica, e devíamos praticá-la mais vezes, não só acerca das políticas e posições de governação do Estado, mas também sobre nós mesmos, e de como às vezes agimos de maneira a apagar a dignidade do nosso semelhante, porque é coisa que ninguém merece.

 

Joaquim Maria Castanho  

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