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Mostrando postagens de fevereiro, 2007
Lição de biologia A vida é rosa de lava Pétala incandescente. Mas é a ternura quem a incandesce Nela sobe e desce Gemina e cresce Como nas veias da gente. Porquanto nunca esquece Que quem se merece Além de flor E fruto do amor, É também semente! Álgebra sentimental Qual o peso do beijo na ternura?... Se as tuas mãos tocassem as minhas E sentissem meus lábios nesta altura, Teriam colinas em vez de linhas E nelas minas… de lava pura!

adivinha

Se ao lusco-fusco foi encontrada, Então, como se chama a moura encantada? Conta-se que noutros tempos, em que ainda o sal era a moeda de troca corrente, com o qual se pagavam todos os bens comprados ou serviços prestados, de onde derivou o termo salário, tão em voga hoje pela sua escassez, quando estas terras hermínias e interiores da foz do Rio Guadiana até ao Cabo Finisterra, actual La Coruña, eram governadas por iberos, frígios e hititas, comummente conhecidos por celtiberos e mais tarde denominados lusitanos, seria senhor e rei da Aramenha o pai de uma linda rapariga, a princesa Amahya, ditosa e afamada mil léguas em redor tanto pela ímpar beleza como pela sua generosa bondade, afabilidade no trato e nobreza de carácter, aliás facilmente testemunhados por quantos, súbditos, estrangeiros e escravos, consigo tiveram a honra de privar e conviver. Ora, atribuíra-lhe seu pai como dote, no dia em que fizera dezasseis anos, o senhorio e posse de todas as terras e povoados sitos entre a na

A SARDANISCA

No granítico muro que delimita o canteiro Das rosas mais mal afamadas da minha aldeia Costuma estender-se ao comprido do dia soalheiro Uma lagartixa sarapintada, por sinal nada feia. Dá-me até a entender, pela sua atitude pensativa Que medita em êxtase profundo Sobre os pecados do mundo. Ou então que me escuta sem cerimónia restritiva Enquanto declamo por supetão Alguma estrofe mais exclamativa. Sendo como é, infiel aos suplícios da estética, Da rima com rima em forma atlética, Sucede-lhe por vezes, porém, inclinar a cabeça Logo que no recital tropece ou a voz da emoção Me estremeça. Atenta, arisca, feminil Esta réptil figura tem ainda Aquele retoque especial e primaveril Que São Martinho ao Outono ensina. Tem trejeitos inteligentes de gente animada E, se se coça por mor de alguma areia Palhiço ou delével teia, Como quem se enfeita ensimesmada Mirando-se provavelmente em imaginários vitrais, Quase parece uma tal outra qu’eu conheço Cujo nomear tão-pouco mereço E que mora noutros quinta

As Pequenas Memórias e Vinte Quatro Horas na Vida de uma Mulher

As Pequenas Memórias José Saramago Quaisquer memórias que sejam, minúsculas ou enormes, claras ou obscuras, espontâneas ou intencionais, realistas ou mágicas e fantasiosas, serão sempre pergaminhos, uns bem conservados, outros menos, mas sem dúvida registos ambos duma existência, posto que remota, podendo embora o não ser, por recém-nascida como tida, e actualizadas em diferente suporte; primeiro, o seu tempo dentro do tempo todo, depois apenas deste, enquanto olhar que se debruça sobre o outro, o inicial enfim. E nisso o título de José Saramago em nada nos espanta, nem impõe valores acrescentados pela escolha. Agora, que elas sejam pequenas é que já é mais suspeitoso, pois algo só pode ser grande ou pequeno em relação a outro algo, que não pode comparar-se o quer que seja relativamente a si próprio, sobretudo no tamanho e importância, sem espelho especialmente, visto uma coisa ser o si em si mesmo e outra, ainda que imagem fidedigna nunca será a própria coisa, mas a sua (in)confundíve

Oh, que bezana!

( Memórias de um alcoólico arrependido ) Sempre que me embebedo a valer, daquelas de caixão à cova, fico dois ou três dias a remoer sobre os destroços em que restei. Além dos remorsos pelo dinheiro que gastei, acrescento-lhe invariavelmente as “vergonhosas” figuras (de estilo) que hipoteticamente terei cometido, contado com as “fabulosas” quedas dadas. Sou, assim de caída em recaída, massacrado sem contemplações por mim mesmo, precisamente na altura em que eu próprio menos necessitava de críticas. Quer dos outros, quanto mais das auto-infligidas! É, portanto, este o principal defeito que encontro à fragilização alcoólica; a fragilidade natural acrescentada pela fraqueza tida. Eis o ponto consequente duma redundância permitida. E, mais ainda, a constatação objectiva duma autodestruição gradual, em crescendo acelerado, cujo fim em clímax é a morte, primeiro de todas as capacidades intelectuais, ao que se lhe seguem as físicas, para que nos quedemos finalmente com um corpo sem alma e no q