Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2009

O Escriba e seus escribalismos

Imagem
Além de O Escriba e as Bonecas , são igualmente da autoria de Joaquim Castanho, natural de Portalegre, Alentejo, Euclasia (poemas), A Carta Esquecida (contos, editado pela www.editonweb.com ), Capas Pretas (poemas), Qui Pro Quo (novela policial), Fait-Divers (poemas), A Sinistra (romance), Oh Que Bezana (romance), A Virtude Assassina (rom­­ance), O Escribalista (poemas resultantes do blogue http://escribalista.blogspot.com ), Crónicas ao Desbarato (reunião de crónicas dispersas por alguns órgãos de comunicação social regional) e, ainda!, algumas brochuras de ensaios, críticas literárias, recensões, conforme serão contactáveis nos blogues http://escribalistas.blogspot.com e http://viverliteraturaviva.blogspot.com que funcionam como moleskine oficial do autor, qual oficina virtual de escrita com efeitos directos na confraternização entre criadores do mesmo ofício. Assim, desempenhadamente como um despropósito e sintoma da época, não vá a língua portuguesa cair em desuso nas c

O Escriba e as Bonecas - Primeiro Andamento

Imagem
O ESCRIBA E AS BONECAS A) UM ESCRIBA ( Piafé ) Às vezes precisamos de escrever sem dizer nada. Sem mensagem. Nenhum objectivo. Pelo simples exercício dos dedos segurando a esferográfica sobre o papel. O escorrer da tinta; a mancha que cresce com o fluir da respiração. E ao ritmo dela. Mais que tudo, escrever é precisamente isto – um exercício físico e material para surpresa do espírito. Do gozo, da ideia, do pensamento; enfim, da tinta. Alguns há convencidos da utilidade social da escrita; outros, da sua funcionalidade enquanto terapia. A comunhão catártica (orgástica) entre quem escreve e quem lê. Mas, convenhamos, isso é pura fantasia de viciados em racionalização. Ao escrever apenas executo o ritual do escriba. Reinsiro-me na ancestralidade do rito e da partilha, na elaborada feitura dos enigmas. É plena satisfação o que consigo. Sento-me no chão, à índio. A prancheta sobre os joelhos. E eis se não quando a esferográfica preferida à distância exacta dos olhos, o braço em ângulo lig

O Escriba e as Bonecas - Primeiro Caderno

B) BONECAS RUSSAS ( ou a importância do calçado ) Primeiro Caderno ( Passo ) Palmira tem a voz (in)sinuante e sugestiva duma hipnotizadora. Lenta, sussurrante, cava, implora ao sonho e à desdita. Sofre-se por prazer mais facilmente do que se imagina! E obedece-se mesmo às mais indignas, criminosos e humilhantes determinações. Conheci-a há um ano. Em Casal Parado. À hora da bica no café “O Bombeiro”, cujo nome deve à sua proximidade com o quartel dos voluntários desta vila. Bar que exibe uma pequena esplanada durante o Verão. Ou desde que o tempo o facilite, em qualquer outra estação. A avenida é inclinada, com passeios ajardinados a arbustos e flores díspares; ao fundo, o largo principal do burgo. Tem-se a sensação de estar em outro lugar quando nela. Noutro sítio. As pessoas, numa ocupação pouco empenhada, sobem-na e descem-na com acentuada frequência. O Cinema, o Registo Civil e Predial, o Notário, a Casa do Povo, o Tribunal, as Finanças, tudo num equilíbrio paralelo, ficam nela.

O Escriba e as Bonecas - Segundo Caderno

Segundo Caderno ( Trote ) esperando que todos os outros se fossem embora, e de cujas artimanhas uma era o refugiar-me na casa de banho. Num dia frio-friíssimo, daqueles dias de Janeiro em que o ar corta que nem gelo, contava eu, os demais saíram debandando em correria e eu deixei-me atrasar, aproveitando o reboliço da saída para passar despercebida e entrei na casa de banho, a fim de prolongar o atraso para reforçar a confiança... Até aí a estratégia tinha sortido efeito! Só que naquele dia, em desespero, o fiasco deu-se: ao trancar a porta por dentro fiquei à mercê de quem quer que estivesse por fora! Alguém, que a porta abre-se para fora dado o espaço exíguo da casa de banho, um quadrículo onde malmente cabia a sanita, após ter colocado um pedaço de madeira em cunha por baixo da porta, sem que me tivesse apercebido da marosca na fisga, e porque a empregada

O Escriba e as Bonecas - Terceiro Caderno

Terceiro Caderno ( Galope ) «Não compreendes porque te esforças em não o querer, nem o conseguir. Pois é bem claro: os pais, ao notarem que o seu bebezinho único logo que deixava de estar sob a minha alçada e tutela directa, coisa que subtilmente me empenhei em demonstrar-lhes, fazia burrada da grossa, desaparecia de casa durante dois ou três dias, pedia dinheiro emprestado a comerciantes conhecidos sem autorização do pai, e para este pagar!, drogava-se até ao descontrolado comportamento e demais tristes figuras, optaram por convencer-me de que o mais cristão e menos pecaminoso seria consentir casar com ele. Por dois ângulos ou pontos de vista: porque desconfiavam da existência de relações sexuais pré-matrimoniais; e segundo, que ele viesse a assentar à custa dos desígnios da novel responsabilidade de vir a ser chefe de família. Casamento em que mui modestamente consenti, deixando imediatamente de tomar a pílula para lhes facilitar a sempre nobre esperança de virem a ser avós, com