RETALHOS DE OUTRAS OUTRAS ÉPOCAS, OUTROS MOTIVOS
ÉCLOGA DE JANO E
FRANCO
(extrato)
Dizem que havia um
pastor
Entre Tejo e Odiana,
Que era perdido de
amor
Per ûa moça Joana.
Joana patas guardava
Pela ribeira do
Tejo,
Seu pai acerca
morava,
E o pastor, de
Alentejo
Era e Jano se
chamava.
Quando as fomes
grandes foram,
Que Alentejo foi
perdido,
Da aldeia que chamam
o Torrão
Foi esse pastor
fugido.
Levava um pouco de
gado,
Que lhe ficou doutro
muito
Que lhe morreu de
cansado:
Que Alentejo era
enxuito
D’água e mui seco de
prado.
Toda a terra foi
perdida;
No campo do Tejo só
Achava o gado
guarida:
Ver Alentejo era um
dó!
E jano, para salvar
O gado que lhe ficou
Foi esta terra
buscar;
E um cuidado levou,
Outro foi além
achar.
BERNARDIM RIBEIRO
(Bernardim Ribeiro,
considerado por muitos o patriarca da ficção portuguesa, nasceu na vila do Torrão,
em 1482. Passou a infância em Castela, onde o seu pai se exilara devido à
perseguição política que D. João II lhe fez, e que aí o mandou assassinar, mas
a debalde. Mais tarde, porém, depois de regressar de Itália, que percorreu na
companhia de seu amigo Sá de Miranda, D. João III concedeu-lhe diversas distinções,
tal como ao seu patrício Cristóvão Falcão, de Portalegre. Publicou o célebre
romance Menina e Moça, uma obra que foi excomungada pela Inquisição em 1581, mas
que Carolina Michaelis disse ser «tão expressiva da alma nacional que os
primeiros capítulos equivalem a uma elegia soluçada, que, mesmo traduzida em língua
germânica, produz o efeito de desoladora melancolia.»)
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