ETERNA, poema de MARILU FAGUNDES




A ETERNA VIA

A poesia é eterna; porém, composta. Múltipla. Versátil. Plural e reincidente. Trajeto radical entre a infelicidade suprema e a máxima perfeição.  

Por conseguinte, e por isso mesmo, só sobreviverá em plena autenticidade e evidência incontestável, não raras vezes recorrendo a parcerias com as demais artes para conseguir a visibilidade que lhe é essencial – a música, o teatro, a pintura, a prosa, a fotografia, o cinema, a paisagística, a arquitetura, a decoração urbana, o design, etc. –, para existir continuamente no agora, pelo que os poetas e poetisas e seus respetivos poemas (concretos, materiais), tendem a reconhecer-lhe a soberania e, humildes e dedicados, se resumem a meros acompanhantes, veículos, discípulos, de sua ordenada magistralidade, competência e estatuto. Simples partes elementares de um todo, relativamente essenciais, é claro, e que dele comungam com idêntica relatividade, estabelecendo essa cumplicidade relativa que assiste aos namoros de longa data, e em que os membros do par apenas parecem espontâneos quando vão de mãos dadas, posto que se separados ninguém os reconhece por si, ou só como «namorado de fulana» ou «namorada de fulano», pelo função e objeto ou vice-versa, idílio irrevogável em que nem sempre as famílias de ambas as partes estão de acordo, quais "capuletos e montesquios", seja pelos credos e correntes que professam, seja pelos pergaminhos ancestrais sob que advogam. Principalmente porque nela nunca houve, não há, nem haverá qualquer neutralidade; somente conexão – ou dos sentidos, ideias, ideais, sentimentos, emoções, formas, formatos e técnicas que se ligam a outros (diferentemente ou similarmente) que por sua vez a outros se vão ligar, e estes aos seguintes, numa cadeia de sucessivas uniões onde fortalecem os traços distintivos, rumo à conjugação infinita (e perfeita), ou de espécimes que se enfileiram numa determinada linha e atravessam tempos diversos servindo de elos dum enredo (encadeado) de susbstancial importância história e estética.

O seu teor diz o verbo, mas também o faz; no que se concretiza tão revolucionária como normalizadora, tão legisladora quanto julgadora, tão agente e operadora, como disseminadora e propagandista, conforme se socorre de versos ou de slogans. Construtos ou fragmentos. Se nessa trajetória ou percurso existencial, caminha de mãos dadas com o poeta/a poetisa congeminando construtos, em pura abstração, cavaqueira, confidência, má-língua motivacional (profetismo), bisbilhotice íntima, assiste ao fenecer (expirar de validade, prazo de duração) de sua companhia sem a mínima comoção ou objeção e contrariedade; mas se, pelo contrário, preenchem o espaço-quando do percurso comum com detalhados reparos para diante como para trás, como para os lado, para cima ou para baixo, notando e anotando preciosidades, pedrinhas, perfumes, borboletas (almas), partículas processuais e discursivas, floreados e acessórios (de cosmética) para teorias e projetos (globais, sociais, ideais, empresariais, familiares, individuais), então não passam de fragmentos, painéis, peças de um puzzle maior. Marilu Gonçalves Fagundes (MF), porém tem a subtileza de servir a poesia exatamente entre os dois modelos semânticos, e equidistante caminha sem atender ao "tempo ou hora", "flores, céu e sol" "de mãos dadas" com a poesia, confidenciando-lhe suas "dores" e "pensamentos", "tempestades" e "sonhos", num sublime choro de adeus, despedindo-se da magia do presente em pequenas missivas, bilhetes, lembranças de mútua aventura e caminhada, que lhe oferece, como pedaços de si própria. Neles irá sempre (e factualmente) também ela... Não são rosas nem milagres o que oferece, mas poemas... E assim, quando um dia já não puder caminhar a seu lado, e a poesia prosseguir seu rumo via à eternidade absoluta, se Ela, A Poesia, conceder o palimpsesto de renovar-se noutros agoras, aí a poetisa, juntamente com a pessoa e arte que cultiva e cultivou continuará a viver. Mas não para prazer próprio, tal como hoje o já faz, mas para deleite de todas e todos nós que a lemos e apreciamos, em consequência de suas partilhas. Obrigado, minha amiga _/|\_ Namastê _/|\_                         
https://www.facebook.com/PoesiasDaNaturezaDeMariluGoncalvesFagundes/photos/a.440340856010035.113052.440202506023870/1130365767007537/?type=3&theater

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Herbert Read - A Filosofia da Arte Moderna

Cantata de Dido

Álvaro de Campos: apenas mais um heterónimo de Fernando Pessoa?