POUSO, de MARILU FAGUNDES
POUSO
"Entranhas da terra mãe / Abraçadas às filhas com afinco", as palavras/os signos e os seus referentes, concorrem para a preterição final: dizer através da negação do dito, revelando-lhe o avesso, as costuras. Não é fragilidade alguma, não é uma confidência ou lamento, não é uma carência de inspiração, não é um faz de conta, não é um truque de prestidigitação, não é uma afetação de estilo, não é um maneirismo palimpsestuoso: é a exposição (assumida) do timbre lúdico e mágico da poesia, essa pretensa coisa abstrata que apenas acontece quando a condição material sine qua non se concretiza, se mostra nas suas múltiplas facetas, particularidades que preenchem o vazio que lhes está reservado no cantinho estético-ético pluriforme e polissémico, que é apanágio instaurado e instituído no topo da pauta de valores, caraterísticas e potencialidades da espécie humana (a espiritualidade), da qual cada, uma ou um de nós, é humilde exemplar, sobretudo por que sensíveis ao reconhecimento do espanto, da dúvida e da comoção (JASPERS).
A preterição (figura de retórica pela qual se declara não dizer, não fazer, não demonstrar/mostrar algo, mas que a própria declaração já encerra em si mesma), é uma arma que nunca é vã ou abusiva; é um anseio feito conquista. É um silêncio que se nota só quando é quebrado, por algo que estala, por exemplo, que cai, que pintalga, que eclode, que ecoa. É o traço meigo de cada passo a sublinhar o movimento no estático e parado espaço.
Portanto, Marilu Gonçalves Fagundes (MF), entra na casa da poesia pela porta dos fundos (a folha branca), perante o espanto ao testemunhar o pouso das folhas e pétalas que sucumbiram aos elementos da natureza, microcosmos e reduções moleculares das estações do ano que buscam o abrigo do chão, a quietude, o refúgio final que as há de transformar pelo abraço maternal da fertilidade em partes íntimas (entranhas) da terra mãe, da qual se ergueram uma vez já à procura dos sublimes e etéreos cumes. Entra com muitas reticências, com estrofes pejadas de dúvidas, experiências que não se acomodaram às afirmadas e perentórias certezas, ou que não se satisfazem com a pré-interpretação do constado, do constatado, seja cheiro ou sabor, tato ou emoção. Porquê? Porque entra comovida com o que vê, com o arrastar do dia (ou da vida), com a compreensão (sorriso de mãe-terra quando repara nas ações dos filhos e filhas) das peripécias das estações nele, e de como o vão colorindo conforme a apetência elementar da ecosfera. E fá-lo por nós, para nos dizer que não é insensato ou indecoroso frequentar a beleza suprema (da poesia, do sublime, do ideal, do mágico arrebatamento, do êxtase) pela porta da experiência, da perceção, do material, da constatação pura e dura, do factual e reconhecido (fora de nós). Além de nós. Enfim, da metáfora... palavra, folha, flor, que nos atira para fora e a nós regressa depois num valor acrescentado insofismável, ilógico, que inebria (embriaga) inevitavelmente. Obrigado, minha amiga, pela compartilha dessa emoção e sentimento superior a que maeuticamente me conduziu (também). Ou por me ter feito perder o pé... Cair... Pousar... E ainda que não tenha feito sido declaradamente essa a sua intenção... _/|\_ Namastê _/|\_
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