Feijão Padre

"Quando um homem tem a liberdade de proceder como quer,
em geral, imita os outros."

E. Hoffer

Porém, se cinquenta milhões de pessoas disserem uma tolice, não há-de ser por isso que ela vai deixar de ser tolice (como Bertrand Russel disse). Aliás, eu nunca me repito; e, contudo, digo sempre a mesma coisa... É que, de onde moro, alcanço Alentejo até à linha do horizonte; e tudo quanto existe no mundo é um retrato do mundo: a poesia, a prosa, o cinema, a pintura, a fotografia, a arquitectura, a Lei, a religião, os sonhos, a ciência, o símbolo, o mito, o simples e pequeno escaravelho, a preciosa e requintada esmeralda fluorescente, a verdade da vontade ou mesmo a mentira por bem e sem querer. Tudo. Agora, o que resta definir, é se ele é a corpo inteiro ou apenas de uma fracção dele, bem como se sobre o retratado o zoom aplicado é de aumentar ou para diminuir... para esclarecer as sombras, ou obscurecer as luminosidades, os brilhos reflexos ou as concavidades brumosas sob o acumulado dos vértices.
Em resumo: parece óbvio que promoveram o Carnaval à custa do Magalhães, mas não igualmente o Magalhães a expensas do Carnaval, como seria respeitável à luz das relações de troca (directa) em que subsiste o mercado das ideias e iniciativas no quorum social, com efeito prático na edificação identitária de um povo, a quem os cincos dias de Entrudo não chegaram para aporrinhar o parceiro nem parodiar as bazófias da actualidade, ou sequer para exercer o seu mister inquisitório de missionário moderno excomungando à direita e à esquerda, como quem vai dando milho aos pombos, pataca-a-ti, pataca-a-mim, coisa sobejamente pura e cristã, no combate aos pecadores do santíssimo sacramento que querem casar não para procriar mas para fornicar, coitados, porquanto acham merecerem autorização de o fazer às escancaras, às claras, não na escuridão carmelita da unidade do facto, mas na iluminação imaculada do registo civil, sabendo-se, como se sabe, que se lhe tirarem esse pendor proibido ao fruto ele deixará de ser o mais apetecido, logo fugaz e de somenos, até nos confessionários da meia luz ou nas sacristias de branco caiadas sob o beato pincel, que isso do casados de fresco não para todos e todas, a não ser que tenham tabuleta para assentar no cui-dado da santa madre, tal e qual como aconteceu ao Charlin Chaplim quando ganhou um andar novo na Rua dos Dez Pràs Duas.
Ora o identi-kit, método de construção dos traços fisionómicos de um indivíduo, mediante fontes díspares, usualmente empregue pela polícia criminal, aponta as responsabilidades da acção obscura de "denegrição" do Magalhães para os industriais da Farinha 33, número também conhecido na esotérica linguagem tipográfica por KK, não só por serem eles os principais Anteros lesados com a evolução das TIC, mas também por verem nele, no Magalhães, o princípio do fim do seu império (e monopólio) na exploração dos manuais didácticos em suporte-papel, que tem sido a sua galinha dos ovos de ouro nos últimos cem anos em Portugal, e na Europa desde Pedro Ramus o que, no mínimo, é tosse, arre-pio de Bastilha, traque de quem comeu banana podre sobre a mesa dos paramentos. Catarro de carroceiro, que duas voltas ao mundo dadas e bastos diplomas no cu-rrículo vital, continua a beber a mesma aguardente JB e a escarrar no passeio dos caminhos de casa!... A impor a sua ignorância como supra-sumo do conhecimento dos demais, a fazer clones dos blogues de sucesso para ter alguma audiência, a abordar infantilmente a realidade na esperança de que ninguém note o seu envelhecimento, a sua caducidade e o seu narcisismo murcho, aviagrado para vingancinhas de mafioso desempregado ou empresário à beira de um ataque de servos. Vai daí, vejam bem, bate com o punho na palma do bem-feita a dizer asneiras entredentes, esconjuro antigo que ajudou muitos a prender o burro, e ainda ajuda, é claro, na argola dos arcos e portas, sobretudo se ele se põe à solta na torna baldia, a mostrar a doença nas manhãs de sol, para se especar melhor ante a brisa nos outeiros, semear a inveja nos homens e colher o suspiro das mulheres, aquele "ai" que vem do fundo que só ele alcançaria, caso o pecado não acarretasse também o bocado maior. Todavia, das duas caras que já não tem, apenas lhe ficou a mais negra da batina, nas surrobecas das Tunas, quando estendidas no chão da memória para os gloriosos passarem, somente servem de esfregão para limpar a calçada portuguesa do vomitado etílico dos pobres de espírito, numa feijoada demente, e pela qual rezamos, para que dela não fique semente... Quer dizer: sujidade, restos da peste emocional e rigidez caracterial que empestam a humanidade!

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