PELO CÉU É QUE VOAMOS





PELO CÉU É QUE VAMOS


Só um enorme desconforto nos impede de desejar o que está certo preterindo o seu contrário, o errado. Ou porque nos sentimos mal connosco e indispostos com os demais, ou, então, porque sabendo que algo está mal, nos mantemos na secreta solidão dos eleitos, mas temos medo de enveredar por ela consecutivamente, com consciência e responsabilidade, levando-a às últimas consequências, que é pensar para agir, e agindo de forma a resolver esse erro, falta, incoerência, inexatidão, etc. Alguns e algumas atiram para Deus, outros e outras esperam que o tempo faça por eles e elas, havendo também quem sacuda a água do capote, justificando-se com o tradicional “quem vier atrás que feche a porta”. Enfim, vivemos em constante desassossego, reclamando que isto não é vida, preferindo a cómoda inquietude à desinquietação da mudança. Seremos preguiçosos? Não, claro que não! Seremos desleixados? Nunca! Seremos vingativos? Se no passado ninguém nos acautelou o presente, porque é que no presente nos havemos de preocupar com o futuro? Se o futuro é dos nossos filhos e dos nossos netos, das nossas filhas e das nossas netas, então que sejam eles e elas a acautelarem-no...

Há muita gente para quem a interioridade foi – e é – uma bênção. Mesmo tendo pouco, sobra-lhes, e possuem ainda muitíssimo mais do que a maioria (planetária), que não tem nada. Estão saciados de realidade, que lhes basta, e o sonho assusta-os e assusta-as. Pois a mim, essa prisão – a fria e seca árvore do real, que até dava patacas antigamente –, não obstante seja dourada, não serve absolutamente para nada. Prefiro sentir-me disponível para ajudar a concretizar uma Europa que abrace todas as regiões e seja una na sua pluralidade. O aeroporto internacional de Beja seria mais um elo, o elo que falta nesse abraço, uma vez que os elos do norte (Porto) e do centro (Lisboa) já foram forjados, e são concretos. Principalmente, porque o maior sonho da humanidade, o de voar, foi realizado com sucesso há muito-muito tempo, e sem precisar das asas de Ícaro. Que caiu ao mar, mas se fosse hoje estava era sujeito a que o mar lhe caísse em cima...


JOAQUIM MARIA CASTANHO

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Herbert Read - A Filosofia da Arte Moderna

Cantata de Dido

Álvaro de Campos: apenas mais um heterónimo de Fernando Pessoa?