Operação Caneta Dourada


"Quem tem roupa na mochila, não fala do que é refece"
Ditado popular português

Portalegre ficou fora do roteiro dos investimentos orçamentais (PIDAC/QREN) e a culpa disso é toda, mas toda e em superlativo grau, do actual executivo camarário, seus "cúmplices colaboradores" nas freguesias e comunicação social, porquanto em vez de agirem em benefício do desenvolvimento efectivo do concelho, têm cometido uma gestão falaciosa, centrada em satisfazer, directa ou indirectamente, mais os interesses pessoais e partidários, de cunho eleitoralista, do que em promover a sustentabilidade económica, ambiental, cultural e territorial, desde o primeiro dia deste mandato, sob a definida determinação cujo objectivo principal é vencer as próximas eleições, na tentativa de esgotar em pleno, numa espécie de jogo narcisista de realização individual, o número de mandatos atribuíveis por lei a um presidente de câmara municipal: três, o antropocêntrico 3 do receituário católico, apostólico, romano, onde o catecismo se pauta pelos primados da vitória a todo o custo, em que os fins são sempre supremos e justificam qualquer meio, em detrimento da lógica e da sensatez, da racionalidade dos meios, bem como do imperativo da sustentabilidade, rigor contabilístico, sentido democrático e transparência de gestão, que obriga a discernir entre o que se pode ou deve fazer, quais são as prioridades entre os recursos, cada vez mais escassos, esclarecidas no "quer sim, quer não, duas coisas são". E na repetição de mais do mesmo, quando o primeiro (mandato) não passou de jogo branco na popularice balofa, tipo passadeiras a desembocar para centros de rua e bancos públicos de exorbitados preços, entre o serrar presunto de um "polis" que prometia e uma execução que defraudou, nos prazos como nos embelezamentos, onde o slogan quanto mais feio e caro melhor se cumpriu exemplarmente; ou o segundo, que tentou acabar o começado no primeiro, vincando o traço e o desperdício como marca de qualidade, no que levou muitas pessoas a sentirem saudades do Jardim do Tarro antigo, da Rua 1º de Maio anterior, de alcatroado desempenho e fluência/largueza expedita no trânsito, do rapar frio no Crisfal para assistir ao jazz de excelência, em vez de caprichos cacofónicos bem instalados e quentinhos no CAEP. Todavia, como se isso não nos bastasse, ainda nos resta ter que ouvir os comentários dos voluntariosos progressistas do speed lento, que acham ser uns incompreendidos, sofridos e esforçados, a que ninguém dá valor pelo tanto que fizeram, tanto que investiram nesse relacionamento, à semelhança das vítimas do negócio do casamento, quando o divórcio é o único desfecho plausível. 'Tadinhos!...
Por outro lado, temos que reconhecer que a culpa pode não ser só deles, uma vez que o jornalismo praticável na região, é o jornalismo característico do de beneficiação do infractor, ou seja, aquele que usa o 5WH para beneficiar o agente em detrimento dos factos, actos, notícias e conteúdos, tornando o Quem no pomo central da redacção, como fim de camuflar a natureza do acontecimento e seus comos ou porquês, em que se espelham inconfundivelmente as consequências e resultados dele, dando dos eventos uma visão motivada na tentativa de influenciar a opinião pública acerca, num truque assaz falacioso que é do ilustrar a notícia com fotografias dos protagonistas, da mesa ou do palco, se a sala teve parca afluência, e da sala se teve alguma, escolhendo meticulosamente da zona o local onde os espectadores estão mais concentrados, satisfazendo assim as necessidades de propaganda dos agentes em notório prejuízo do direito democrático dos leitores à verdade, imparcial e objectiva, visto que quem paga os anúncios são os agentes e não o público, comprando com eles a qualidade de informação veiculada. Criando, dir-se-á, um patamar de entendimento e promiscuidade, apenas comparável ao que, no desporto, detonou a operação Apito Dourado, onde se veio a provar o poderio de alguns clubes sobre circunstâncias da arbitragem, pondo a nu este casamento entre imprensa regional e organismos autárquicos, demonstrando bem quanto em democracia a vida dos cidadãos, as condições ambientais e a qualidade cultural, são algo bem mais merecedor de levar a sério do que as maquinações maquiavélicas entre as empresas de dar chutos.
Isto é, há que discernir porque é que um jornal afirma que um presidente de junta de freguesia é amigo do ambiente quando promove provas de BTT, a que os concorrentes e seus familiares se deslocam numa viagem de 600 km, ida e volta, por exemplo, para pedalar durante 50 km, poluindo-os invariavelmente com garrafas, plásticos, latas e embrulhos vários, numa freguesia onde não há ciclovias que liguem a cidade aos bairros populosos, como os Assentos, e estes à Zona Industrial e Escolas Superiores, para facilitar a deslocação dos fregueses no seu quotidiano, poupando dinheiro e CO2, como fazendo exercício, sem correr o risco de ser abalroados por camiões e tunings despropositados. Há que esclarecer como é que se chegam a títulos tão (in)formativos, tão politicamente empenhados, como tão eficazes na adulteração da realidade, pondo definitivamente a propaganda no lugar da propaganda e o jornalismo sob a ética jornalística, mas desconfio que tal nunca acontecerá, pois isso exigiria uma Operação Caneta Dourada que espanejasse o jornalismo nas águas correntes da democracia, coisa impossível é claro, sobretudo se considerarmos que até a televisão nacional, a RTP1, no capítulo da opinião, pratica a beneficiação do infractor dando programas de autor a dois indentificáveis e inconfundíveis partidários(PSD, Marcelo Rebelo de Sousa; PS, António Vitorino), mas não dando igual oportunidade a outros autores, ou comentaristas, das restantes forças políticas nacionais. Como podia e devia. Ou será que também aqui o povo tem razão e em termos de justiça o ditado quem tem roupa na mochila, não fala do que é refece, e se apetrecha do vale mais prevenir que remediar quando se suspeita de algo que pode vir a virar o bico ao prego? Bem capaz... Mas, aliás, e a propósito: essa tentativa de privilegiar, através da propaganda encapotada ou publicidade personalista os autarcas, dizendo deles, em título de capa de suplemento, mais precisamente de um, que é "desportista e amigo do ambiente", não abona absolutamente nada em seu favor, antes pelo contrário, é que outro cabo houve que também o foi, Hitler de carreira política, todavia essa apaniguada amizade não o impediu de chacinar milhões de judeus, de destruir gratuitamente florestas e cidades, nem de saquear, dos museus das civilizações ocupadas, milhares de obras de arte, muitas das quais, jamais vieram a ser recuperadas. E quanto ao desportivismo, também ninguém esquece os Jogos Olímpicos de Berlim, que no nesse capítulo foram exemplares... Será esse o significado do título?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Herbert Read - A Filosofia da Arte Moderna

Cantata de Dido

Álvaro de Campos: apenas mais um heterónimo de Fernando Pessoa?