Ágora, filme de Amenábar
A Régua de Lesbos:
Hipatia de Alexandria já é filme de Alexandro!
"Se o Direito não pode ser maniqueu, pintando o mundo a preto e
branco sem qualquer matiz intermédio, também não pode ser meias-
-tintas, baralhando o bem e o mal lavando as mãos do sangue dos justos,
vítimas dos bandidos ou vítimas de uma justiça injusta. Se o Direito não
pode ser mole e céptico, também não pode esquecer a clemência, a suavidade, a inteligência. (...) ora, como nada é rigorosamente igual, há
sempre que adaptar a justiça, que torná-la como a régua de Lesbos, afeiçoável ao objecto a medir. Nada repugna mais à justiça que o metro-
-padrão de Sèvres, rígido, de platina, feito pelo totalitarismo do Terror
para impor ao mundo a sua medida – ainda por cima geometricamente
errada –," como disse Paulo Ferreira da Cunha, in Princípios de Direito.
Hipatia, filósofa grega (370-415), ensinou, depois de aí se ter "formado", na Escola Neoplatónica de Alexandria, que está aqui ortografada com maiúsculas iniciais não por ter sido um estabelecimento de ensino mas sim uma modalidade de ensinança, onde teve também os seus discípulos, de entre os quais Sinésio de Cirene (370-413) foi o mais popular e reconhecido, enquanto ela morreu lapidada (apedrejada publicamente, coisa que Jesus Cristo impediu de ser feito a Maria Madalena por razões de conduta indesejável, nomeadamente a de exercício da prostituição, melhor referido no actual dialecto do politicamente correcto, no desempenho obreiro e profissional da indústria do sexo) por cristãos fanáticos que, não contentes e satisfeitos como o seu gesto hediondo, lhe queimaram igualmente, de seguida, toda a obra. Deste seu contemporâneo, Sinésio de Cirene (n. em Cirene – 370; f. em Ptolemaida – 413), e que foram colegas na "Escola Neoplatónicade Alexandria", oriundo de uma família pagã mas que se terá convertido ao cristianismo em 410, do que beneficiou consequentemente ter sido nomeado bispo de Ptolemaida, precisamente nesse ano, restam porém inúmeros textos e obras (hinos religiosos-filosóficos, epístolas, prédicas,etc.) que estão eivadas das suas ideias e tomadas de posição, incluindo diversas citações e incontáveis, embora que subtis, nomeios, ou referências, que não foram destruídos porquanto constituem uma reconhecida síntese do neoplatonismo cristão perdurantes na medieva e secular vaticanidade vigente desde as catacumbas romanas até aos nossos dias nos underground do poder cultural com alicerces fundados no totalitarismo e na tirania histórica.
Hipatia simboliza, de forma inequívoca e cristalina, a razão e a tolerância, e inevitavelmente o seu martírio, significará o contrário delas, o fenecido perecer destes valores, ou o que de mais desprezível podemos constatar no antropocentrismo monoteísta, enquanto expoentes máximos da loucura que sempre se abrigou no seio da "bem-intencionada e Santa Madre Igreja": o fanatismo e ignorância – o que, aliás, encontra o seu apogeu e supremo exemplo na destruição (queima das tabuinhas, pedras e fitas de papiro ou pergaminho?) da Biblioteca de Alexandria, essa mesma e acercada qual Carl Sagan terá afirmado se ela, a Biblioteca de Alexandria, "tivesse sobrevivido já teríamos [agora]colónias em Marte".
Hipatia de Alexandria já é filme de Alexandro!
"Se o Direito não pode ser maniqueu, pintando o mundo a preto e
branco sem qualquer matiz intermédio, também não pode ser meias-
-tintas, baralhando o bem e o mal lavando as mãos do sangue dos justos,
vítimas dos bandidos ou vítimas de uma justiça injusta. Se o Direito não
pode ser mole e céptico, também não pode esquecer a clemência, a suavidade, a inteligência. (...) ora, como nada é rigorosamente igual, há
sempre que adaptar a justiça, que torná-la como a régua de Lesbos, afeiçoável ao objecto a medir. Nada repugna mais à justiça que o metro-
-padrão de Sèvres, rígido, de platina, feito pelo totalitarismo do Terror
para impor ao mundo a sua medida – ainda por cima geometricamente
errada –," como disse Paulo Ferreira da Cunha, in Princípios de Direito.
Hipatia, filósofa grega (370-415), ensinou, depois de aí se ter "formado", na Escola Neoplatónica de Alexandria, que está aqui ortografada com maiúsculas iniciais não por ter sido um estabelecimento de ensino mas sim uma modalidade de ensinança, onde teve também os seus discípulos, de entre os quais Sinésio de Cirene (370-413) foi o mais popular e reconhecido, enquanto ela morreu lapidada (apedrejada publicamente, coisa que Jesus Cristo impediu de ser feito a Maria Madalena por razões de conduta indesejável, nomeadamente a de exercício da prostituição, melhor referido no actual dialecto do politicamente correcto, no desempenho obreiro e profissional da indústria do sexo) por cristãos fanáticos que, não contentes e satisfeitos como o seu gesto hediondo, lhe queimaram igualmente, de seguida, toda a obra. Deste seu contemporâneo, Sinésio de Cirene (n. em Cirene – 370; f. em Ptolemaida – 413), e que foram colegas na "Escola Neoplatónicade Alexandria", oriundo de uma família pagã mas que se terá convertido ao cristianismo em 410, do que beneficiou consequentemente ter sido nomeado bispo de Ptolemaida, precisamente nesse ano, restam porém inúmeros textos e obras (hinos religiosos-filosóficos, epístolas, prédicas,etc.) que estão eivadas das suas ideias e tomadas de posição, incluindo diversas citações e incontáveis, embora que subtis, nomeios, ou referências, que não foram destruídos porquanto constituem uma reconhecida síntese do neoplatonismo cristão perdurantes na medieva e secular vaticanidade vigente desde as catacumbas romanas até aos nossos dias nos underground do poder cultural com alicerces fundados no totalitarismo e na tirania histórica.
Hipatia simboliza, de forma inequívoca e cristalina, a razão e a tolerância, e inevitavelmente o seu martírio, significará o contrário delas, o fenecido perecer destes valores, ou o que de mais desprezível podemos constatar no antropocentrismo monoteísta, enquanto expoentes máximos da loucura que sempre se abrigou no seio da "bem-intencionada e Santa Madre Igreja": o fanatismo e ignorância – o que, aliás, encontra o seu apogeu e supremo exemplo na destruição (queima das tabuinhas, pedras e fitas de papiro ou pergaminho?) da Biblioteca de Alexandria, essa mesma e acercada qual Carl Sagan terá afirmado se ela, a Biblioteca de Alexandria, "tivesse sobrevivido já teríamos [agora]colónias em Marte".
Ora, no filme Ágora (cujo trailer e demais informações estão disponíveis em http://www.elcultural.es/ ),de Alejandro Amenábar, que sem sombra de dúvida será outro Mar Adentro, enquanto filme de tese com vocação didáctica, traz a lume a pedagogia da sociabilidade harmoniosa, coisa tão grata a António Sérgio e à sua Educação Democrática como a João dos Santos na sua anti-hiperdirectividade, e institui, mais uma vez, depois de Popper, a sociedade aberta como item incontornável para a democratização do mundo, onde a sua governação tem que ser imperativamente feita pelos mais inteligentes e capazes, independentemente do seu credo, língua, género, cor ou aparência física, e enfim se denuncia como é fácil destruir algo que levou esforços e empenho milenares a construir, como se pode consumir e derreter pelo fogo, qualquer que ele seja, de artilharia como energia comburente, quer da paixão ardente e delirante dos antípodas, como da opressão preventiva a maiores males, e na evitação destes, apagando assim da face da Terra o trabalho de séculos e séculos, numa fracção de horas, e como na suposição de tentar o bem, pela parte de uns quantos, se acoitam os maiores crimes e criminosos, permitindo-lhes a prática do maior mal possível, que indubitavelmente é o de decepar-lhes a vida.
Astrónoma, geómetra, matemática, melómena, cientista, pensadora, poetae pedagoga, cuja cerne de sua essencialidade reside na miscegenação ontológica, que tem «en su escuela a personas de todas las religiones», e fez da vida, curta mas intensa, se dirá, uma constante e incansável busca intelectual, não obstante os seus dotes físicos, beleza, sensualidade e capacidade de sedução, e da sua riqueza pessoal, não viu porém que ao semear o seu brilho estava igualmente a incendiar as invejas, os sentimentos recalcados que se transmudariam em ressentimentos agressivos, e sofreu, por estar mais à mão da (in)justiça humana sob tutela da apropriação do divino, tudo aquilo que almejaram infligir à divindade pagã Vénus, a Arina solar (do feminismo heliocêntrico), com quem os talibans de outrora ainda não tinham saldado as contas nem satisfeito todas as vinganças obscurantistas, tal e qual como hoje em dia grande parte dos papistas mais papistas que o próprio Papa ainda não satisfizeram, e por se entretêm a infernizar e desdenhar quantos não lhe devotem culto, nem propagandeiem a ignorância e mediocridade como supra-sumo da cultura em que exercem seus misteres.
Pelo que dele digo, não só que é um filme a não perder, mas também que é um tema que nos faltava há muito revelar, embora já estivesse de há muito referenciado no meu discurso, conforme o testemunha o poema constante em http://escribalista.blogspot.com/ intitulado Ângulos de Soprar as Areias Raras
Comentários
e esta opinião/sinopse.
bjs.
deixou um comentário.
bjs.