Sopa de ainda-não-já
"Os nomes penetram-nos até aos ossos"
Ernest Hemingway, in The Garden of Eden
* Histeron Proteron – Expressão grega composta por duas palavras que significam «posterior» e «anterior», servindo isso precisamente para designar, numa figura de linguagem em que se diz primeiro aquilo que, logicamente, se deveria dizer de depois (p.e. criado e nascido, o trovão e o relâmpago), que vai a carreta à frente dos bois, que é forma proverbial que o povo português encontrou de dizer que anda ao contrário quem não sabe para onde quer ir.
Ernest Hemingway, in The Garden of Eden
Histeron Proteron*
Disse, salvo erro, Claudio Magris, no seu Um Outro Mar, que "quem palreia de direitos são os escravos, [pois] quem é livre tem deveres", e embora já me não lembre a propósito do quê ele terá proferido tal boutade, com que finalidade e acerca de que assunto, o que é certo é que o lamiré, ao caso, traz à baila os desmandos e convulsões consignados à atitude social de determinados grupos profissionais e económicos, reivindicativos se acrescentará, tão característicos do período que ora atravessamos, deste caldo pós-eleitoral em que engrossa a nossa democracia e a torna numa espécie de sopa de ainda-não-já que é o conduto típico de quem não sabe muito bem o que quer, como e porque o quer, além de desconhecer absolutamente que fazer para o conseguir. Ou seja, se antes das eleições estávamos mal, não melhorámos nada depois delas, mas pelo contrário, a crise agudizou-se e ficámos com menos meios para a combater, agravámos a senilidade do modelo político e económico, porquanto se tornou também mais incomportável e frágil a capacidade de resposta neoliberal perante as adversidades do quotidiano de um país já por si atreito a um sem-número de handicaps inerentes ao seu processo de desenvolvimento.
Disse, salvo erro, Claudio Magris, no seu Um Outro Mar, que "quem palreia de direitos são os escravos, [pois] quem é livre tem deveres", e embora já me não lembre a propósito do quê ele terá proferido tal boutade, com que finalidade e acerca de que assunto, o que é certo é que o lamiré, ao caso, traz à baila os desmandos e convulsões consignados à atitude social de determinados grupos profissionais e económicos, reivindicativos se acrescentará, tão característicos do período que ora atravessamos, deste caldo pós-eleitoral em que engrossa a nossa democracia e a torna numa espécie de sopa de ainda-não-já que é o conduto típico de quem não sabe muito bem o que quer, como e porque o quer, além de desconhecer absolutamente que fazer para o conseguir. Ou seja, se antes das eleições estávamos mal, não melhorámos nada depois delas, mas pelo contrário, a crise agudizou-se e ficámos com menos meios para a combater, agravámos a senilidade do modelo político e económico, porquanto se tornou também mais incomportável e frágil a capacidade de resposta neoliberal perante as adversidades do quotidiano de um país já por si atreito a um sem-número de handicaps inerentes ao seu processo de desenvolvimento.
Se inicialmente não havia qualquer oposição ao governo, agora é o governo que faz oposição à oposição, isto é, há um partido por cujo programa foi votado nas últimas legislativas, que não pode executar esse programa porque precisa do voto favorável de grande parte da dita oposição, que foi precisamente votada (mandatada) para cumprir os seus programas, e não o do partido a quem cabe formar governo, pondo o devido ênfase no debate negocial do "ora agora mandas tu, ora agora mando eu, ora agora mandas tu mais eu" que era uma modinha que se ouvia no tempo da outra senhora, e se depurou mais tarde com "o vira das cadeiras", provando sobremaneira que Portugal mantém a tradição de ser ingovernável desde os tempos do hermínio Viriato, que deu água pela barba aos romanos quando quiseram governar este quadradinho de terra à beira-mar plantado, e os levou a garantir que somos "um punhado de gente que não se governa, nem se deixa governar", logo, sem remédio nem conserto para as (in)congruências do Tratado (também ele eivado desta peculiar deformidade) de Lisboa. Bem-feita: Arranjassem-lhe outro nome!
* Histeron Proteron – Expressão grega composta por duas palavras que significam «posterior» e «anterior», servindo isso precisamente para designar, numa figura de linguagem em que se diz primeiro aquilo que, logicamente, se deveria dizer de depois (p.e. criado e nascido, o trovão e o relâmpago), que vai a carreta à frente dos bois, que é forma proverbial que o povo português encontrou de dizer que anda ao contrário quem não sabe para onde quer ir.
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