Vento Sem Tempo

Embora as pinturas rupestres sejam pensamentos, valores, ideias e ideais fossilizados, as vozes não deixam quaisquer fósseis, nem mesmo aquelas que se fizeram acompanhar com melodias (ideologias) várias, que nunca o suporte musical durou mais que o "vento" que transporta a palavra, como aliás já estava muito bem enunciado pelo famoso ditado popular que aventa aos quatro cantos do globo que palavras, leva-as o vento. Todavia, convém salientar que este ano de 2010 não é apenas mais um ano que medeia entre a crise que eclodiu em 2008/9 e a que (previsivelmente) surgirá em 2011/12, uma vez que a comunidade humana internacional, para se prevenir, única e exclusivamente para se prevenir, o elegeu como o Ano Mundial da Biodiversidade e a União Europeia lhe instituiu para preocupação fundamental e prioritária o combate à pobreza e exclusão social, determinando involuntariamente quanto uma temática e outra estão intimamente ligadas, considerando que a biodiversidade terrena sem a sua vertente social e humanitária é apenas mais um Quasimodo nesta ópera quotidiana (tragédia da sobrevivência da espécie), em que a Bela está particularmente adormecida, havendo também quem legitimamente diga que não só está adormecida, como igualmente dopada, narcotizada, anestesiada e iludida.
Ora, se a biodiversidade é transversal à vida terrena, ela exige porém que se garanta a sua sustentabilidade e resulte exactamente nela, já o mesmo não podemos afirmar sobre o combate à pobreza e exclusão social, uma vez que esse “combate” só será possível se houver recursos financeiros e humanos disponíveis, logo uma segurança social tão robusta quão sustentável, o que por si é um monstro difícil de alimentar, perante a ineficácia placebetária dessa invenção do chicoespertismo nacional, que apenas serve para ir ao bolso dos trabalhadores, surripiando-lhe dois ou três meses nas reformas, a que enganosamente se deu o faceiro nome de factor de sustentabilidade, visto que de factor somente ter aquele sinistro e canhestro sintoma de como os políticos e gestores da coisa pública vêem os portugueses, uns trouxas que gostam de ser comidos, e não vem resolver minimamente a insustentabilidade da segurança social, porque ela só se resolve com o constante e progressivo e contínuo aumento de trabalhadores, de inegável sustentabilidade laboral, efectivo desconto sobre o rendimento do trabalho sustentado, ou seja, só é possível fazer face a despesas e compromissos crescentes com receitas crescentes e duradouras, o que unicamente se consegue com mais emprego, pondo necessariamente fim aos despedimentos e erros de gestão, quer pública como privada, que opta invariavelmente por corrigir as diferenças de balanço desembaraçando-se dos recursos que sustentam os seus organismos e empresas, os recursos humanos, que são, enfim, a única garantia de sobrevivência das economias, incluindo as de mercado, como é a nossa, ou a europeia, em que estamos envolvidos, casados para o bem e para o mal, com assento registado pelo Tratado e pela Estratégia de Lisboa.
Em resumo, escusam de criar moda de bem pensantes, elegendo bandeiras temáticas, como o Ano Mundial da Biodiversidade ou prioridade fundamental europeia de combate à pobreza e exclusão social, porque de palavras estamos nós fartos, são coisas que o vento leva, intenções das tais de que o inferno está cheio, pois o que precisamos, a comunidade internacional, os europeus e os portugueses, é de actos e factos que corroborem esse querer, e isso só se consegue se for observada a sustentabilidade laboral efectiva, sobretudo redobrando o esforço no combate ao desemprego, pondo imperativa e determinantemente fim aos despedimentos, despedimentos que desperdiçam e atiram fora a força-trabalho de um povo, como qualquer pré-histórico faria ao computador que achasse, por desconhecer que mais-valias produz, ou como funciona
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