Da Coragem de Enfrentar a Verdade e o Erro



Surpreende-me, acerca das imagens das reacções dos populares no Haiti, como é que seres supostamente humanos, precisamente dois milénios depois de Cristo ter andado a (pregar) deambular pela moral e ética judaico-cristã como quem anda aos cogumelos silvestres, exactamente essa moral que impede qualquer mulher de subir aos púlpitos e altares, ministrar sacramentos e rituais religiosos, por ser menstruável, logo nojenta e indigna do contacto com as divindades, à vista e nas barbas de toda a gente, incluindo os intelectuais do politicamente correcto e do não me comprometas – que amanhã vou precisar de quem corrobore a minha vocação para este ou aquele tacho –, com radicalismos que as eleições estão à porta, nomeadamente das objectivas dos repórteres estrangeiros e das televisões mundiais, alguns, bastantes!, sobreviventes das derrocadas do sismo, e seguintes réplicas, não só saqueavam as casas abaladas e destruídas, como igualmente roubavam aos mais fracos a ajuda de sobrevivência que as organizações de ajuda internacional lhes forneciam. Pensei que isso seria impossível num país civilizado, mesmo entre gente remota edificado, qual quê!, é mas é uma prática comum, institucionalizada, disseminada aqui e ali, contagiando até os vacinados e sofridos, incluindo aqueles que são a elite de um país plantado entre o deixa arder que eu sou bombeiro e o politicamente correcto, os seus deputados e deputadas, governantes e quadros, oficiais, professores e funcionários, havendo mesmo aqueles que se indignam com a verdade que faz uma publicidade negativa do nosso país, e preferem a mentira que edificaram, construíram, publicitaram e elegeram, mesmo que essa mentira esconda os PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) europeus no lodeiro da sua consciência individual e colectiva, importando-se, não com a sustentabilidade económica e cidadania, aprofundamento da democracia e combate à pobreza e exclusão social, de Portugal, mas sim com a possibilidade de ainda virmos a descer mais, empenhando-nos mais e contraindo mais dívida e défice, pois que assim, embora a crise se agrave, os seus partidos poderão colher vantagens políticas, não só ganhando mais votos, logo representação parlamentar, mas igualmente mais pobrezinhos a quem possam estender a sua caridadezinha e, por continuidade dialéctica, lhe venham a invejar o êxito nas lides da alma e frutos de abastança, de vida fidalga, na desenvoltura do corpo.
Isto é, estranhei eu que lá longe houvesse quem assaltava as vítimas do mesmo infortúnio que tivera, e não sei porquê, já que entre nós a coisa é igual, havendo quem acuse aqueles que querem mudar para melhor, corrigir os seus erros, tornar Portugal um país sustentável e consolidar o seu desenvolvimento económico e humano, de fazer publicidade negativa, apenas por não bater palminhas ao manancial de baboseiras que vocifera dos púlpitos que frequenta, confundindo conhecimento com fé e vontade política com demagogia político-partidária, biodiversidade com especismo e igualdade de género com sexismo, somente porque isso lhe trará mais proveitos e contas no estrangeiro, fama nos mass media e colagem ao superior interesse da nação, por conseguinte, passe de mágica ilusionista, do que garantia de sobrevivência actual, crescimento sustentado no futuro e maturidade histórica na memória da espécie e enciclopédia do universo. Estranhei, é certo, mas por frescura com certeza, pois cá é bem pior, já que o que fizeram no Haiti foi por fome, insegurança e falta de cultura, contudo aqui é precisamente por egoísmo, ganância e cultura marialva, onde o que importa é atingir o poder, cavalgue-se o que se cavalgar, seja pileca de estrebaria ou lusitano de real coudelaria: o que importa é ganhar muito do orçamento, venha ele de onde vier, e seja ganho com o sacrifício ou à custa seja de quem for, operário, sem-abrigo, cigano, aluno, professor, transmontano, ilhéu, alentejano, seminarista, empresário, estudante ou doutor. Vai lá, vai... Até a pocilga abana!

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