Sinais de Figos

Radical, eu... Pois sim, mas nunca corrompi nem estraguei o presente ou o futuro a ninguém!
A capacidade de reacção e o grau de resiliência sócio-económica da Madeira, após a catástrofe natural que a vitimou, foi um «auguentem-se» de se lhe tirar o chapéu, que irá dar água pela barba aos políticos e demais gestores da coisa pública do «contenente», porquanto em menos de uma semana, depois dos efeitos devastadores das avalanches de terra e água, que soterraram, destruíram, atolaram, afogaram e entupiram centros nevrálgicos da urbanidade e quotidiano dos madeirenses, ei-los recuperados e lavados de fresco, a que nem o impiedosamente lamentável número de mortes, conseguiu abstrair-nos da ideia que a Ilha foi apenas sujeita a mais uma barrela para lhe arear os brios, limpeza assaz necessária se considerarmos o muito encardidas que andavam algumas línguas a dar ao trapo da lobística nacional-beneditina e arquipélagos adjacentes, sobretudo se atendermos a que aqui bem perto, no Litoral Oeste, sucedeu o que sucedeu, já lá vai um tempão, e só ontem a campanha de recuperação das (infra)estruturas agrícolas/hortícolas começou (financeiramente) a ser feita, com a devida pompa e circunstância do foguetório media propagandístico costumeiro em tais caridades ou eventos.
É, portanto, caso para rever a atitude parlamentar perante a aprovação do Orçamento de Estado, renegociando as verbas a atribuir ao arquipélago, duplicando no montante se possível for, mas exigindo como contrapartida a vinda para o continente de um terço da sua população, e em correspondência com todos os sectores de actividade, que seriam distribuídos equitativamente pelas nossas regiões, de norte a sul, para impulsionarem com a sua presença e exemplo, os níveis de participação e cidadania, e contabilizar essa verba, não como um acréscimo da despesa, mas como um investimento de retorno garantido em curto prazo, uma vez que ela nos iria facilitar poupar rios de dinheiro no futuro imediato, esse mesmo que actualmente é esbanjado em engonhices politiqueiras do quero-posso-e-mando do status quo «imperial» da bipolaridade moderada, que é uma espécie de moléstia na partidarite feudal dos barões da marialvice actual.
Para a minha avó, que versada era nestas coisas da usança que se torna provérbio, quando alguém caía no caminho, se se referia depois a essa queda, ou ao local onde ela acontecera, dizia que aí plantara uma figueira, indo ainda além, caso dela resultassem algumas consequências visíveis, por colher os figos da figueira que plantara. Em Sinais de Fogo, de Jorge de Sena, que é uma intensa e extensa metáfora do ditado assinalado por minha avó, a Figueira (da Foz) foi a maior queda e a que mais marcou o percurso (caminho) do protagonista, personagem principal então a braços com os designos iniciais da sua formação, quer humana, como académica. E até aqui nada de novo, que a bondade de uma história não está no que ela é, mas (deveras) no modo como pode igualmente ser contada, parafraseando o nomeado autor. Agora, a elipse fundamental, o inaudito acordo de si perante o total apagamento, o desmemoriável reconhecimento de como a essa situação se chegou, é que já me parece um tanto mais rebuscada nas coreografias da nossa ocidentalidade, portuguesmente falando...
Das duas, uma: ou quem assim intitulou o programa nunca leu o livro mas gostou da semiótica (bélica) que encerra, e nesse caso, é apenas mais um entre dez milhões de portugueses que avaliam os conteúdos pelos rótulos, os contenidos pelos continentes, que continua a acreditar que o amor entre os burros começa aos coices e acaba (sempre) em cacos, o que não obstante já não haverem caravanas de oleiros a deslocarem-se para as feiras e mercados, não deixa de ser observável pelos números veiculados sobre violência doméstica, divórcios e discriminação genérica; ou, por outra, quem de tal o intitulou sabia muito bem o que estava a fazer, quiçá tenha lido a obra, ao direito como em ziguezague, quis fazer bonito, porém malhou, plantou figueira de cujos frutos terá que se alimentar futuramente, esquecendo que a particularidade de eles antecederem as suas flores, e de se passarem para assim evitar o indesejável apodrecimento. E nesse caso, se o que pretendia era branquear o decrescente prestígio do actual primeiro ministro português, para efeitos de governabilidade, então a coisinha não resultou minimamente, pois toda a gente viu – e ouviu – como se faz isso de serem duas pessoas a amanteigarem a mesma fatia, ora um, de um lado, ora o outro, do outro, em ameno e paulatino piquenique no parque de merendas das tágides suas, do que logicamente se conclui que nem um ficou mais branco ou preto, conforme timbrou no cinzento da gravata, nem outro menos desbotado no azul do nó com a mesma.
Ou seja, temos que admitir que naquela curva da estrada, foram dois a plantar a mesma árvore. Porém, saber ao certo, qual deles é que vai comer os figos, e qual aquele a quem vai arregoar a boca, isso é que é um mistério e tanto, que somente o futuro escreverá neste romance intempestivo que é a legitimidade democrática em navegações turbulentas nos acidentados oceanos da nossa portugalidade, em que nunca se sabe o que é que uma lei quer dizer, por virtude da fraca competência literária de quem legislou. O que são outras das passinhas, que além das do Algarve, também o restante Portugal passou!



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