KISS, KISS


"Os deuses atraem com promessas aqueles que querem destruir."
C. Connoly

É preciso ter descaramento e ser muito cínico – para não lhe chamar outra coisa mais apropriada e consentânea ao momento histórico que atravessamos –, para esbanjar mais de 300 mil € numa missa, por sinal bem menos atractiva do que as do padre Borga e sem qualquer perspectiva de milagre em vista, ou sem este estar claramente agendado (e garantido) no programa do evento, a não ser daqueles que logicamente derivam da dança da chuva, que já os pré-históricos peles-vermelhas praticavam, exactamente num momento em que a chuva é de todas as coisas a que nos sobra e não nos faz falta absolutamente para nada, nem para encher o Alqueva que já está a transbordar pròs Guadianas da nossa secura, mas pelo contrário, apenas nos vai fazer apodrecer mais os nabos, sujeitos esses que se encontram presentemente aboborados e adormecidos no lodo dos dias, graças, se calhar, à modorra orçamental sob o anticiclone do PEC nacional, coisa que promete para os próximos quatro anos, embora tenhamos que resignar-nos a tê-lo como a Alcina Lameiro tem o plano astrológico, cujos vaticínios dos seus signos orientam mas não determinam, isto é, não servem, nem têm préstimo absolutamente para nada, ou ao negócio das visitas presidenciais típicas e sintomáticas de uma campanha eleitoral, não só evidente como exagerada por essas Andorras fora da nossa portugalidade, dando uma amostra internacional daquilo que por cá se passa, fazendo batota de campanha eleitoral, dando já os primeiros passos com fotografias de família à mocidade portuguesa, com meninos e meninas a abanar a bandeirinha, inda'ssim não venha algum pateta alegre disposto a abichar o voto dos portugas que andam lá por fora a disseminar a lusitanidade.
Ora, se atentarmos nos últimos acontecimentos da política patriótica, este PEC, independentemente do diálogo – agora chamam isto à discussão! – que possa suscitar aos partidos e parceiros sociais, sob o fito de o pôr em prática, é tão bom, mas tão bom, que até o PSD é metade a favor, metade contra: pelo lado da estabilidade, acha um exagero, e pelo do crescimento, nem lho nota – o que é caso para dizer, que com PEC's deste quilate o Sócrates não precisa de inimigos para coisa nenhuma, porquanto as linhas mestras kamikaze, não só cortarão 11 milhões de € na despesa, como rebentarão com a economia nacional, incluindo a hipótese de descolarmos do fundo da tabela no campeonato do desenvolvimento europeu, de tal forma, que no relatório/plano da saúde nacional, se na física ainda estamos dentro da validade, na saúde mental estamos pior que em 2005, em que consoante a taxa de suicídio, depressão, morbilidade e estuporice, já estávamos com os pés prà cova há muito tempo, cujas origens remontam ao D. Fernando de tão triste e vã memória.
Enfim, a única certeza de recuperação das contas do Estado, em termos de combate ao défice, é aquela que qualquer velhote com as calças na mão e à rasca com contabilidade doméstica faria: venderia/privatizava os amarelos para pagar/reduzir os Juros/encargos com a dívida– isto é, os seguros da CGD, a REN, a EDP, a GALP, a TAP, etc., e tudo o mais que alguém quisesse comprar, e só não meteria no pacote a própria esposa, porque enviuvara há muito. Para mais, ao novo Aeroporto, precisamente na altura em que o tráfego aéreo está a dar o peido-mestre, não só pelas questões dos combustíveis e catástrofes ambientais, derivadas do aquecimento global versus alterações climáticas, mas também porque é um risco de lesa nacionalidade ter aeroportos intercontinentais tão próximos de uma capital de país macrocéfalo, como é o nosso, é dada luz verde – salvo seja, que na realidade é mesmo anti-verde –, para a sua construção. O que, se houvesse um Instituto da Sustentabilidade em Portugal, por si só, eram duas razões mais que suficientes para chumbar o PEC; mas não há, sobretudo, porque os portugueses continuam a existir à margem das responsabilidades sociais e cognitivas, em alegres carnavalidades do depois de nós o dilúvio, cumprindo, e dando continuidade, cada partido no poder, à política da terra queimada que o anterior começara, para evitar que a subida das águas oceânicas nos submirjam, pois deixaremos de existir muito antes desse colapso natural.
O que é pena, visto haver até portugueses que vão tendo e criando filhos, como se eles tivessem acesa a esperança de vir a fazer o mesmo, dando futuro a outras tantas gerações, como as que sucederam dos berçários de Guimarães, que os afonsinos amamentaram e embalaram tão corajosamente contra guerras e perigos esforçados. Nenhum PEC devia dar passos maiores que as pernas, coisa que este não reconhece, estando muito aquém da simplicidade aconselhada neste tipo de documentos fundamentais à governação (e à legislatura). Se apresenta linhas, estão difusas e enleadas; se pretende soluções, apenas agrava problemas. Logo, em vez de esperança, entoa o Adeus, até depois do apaniguado e nacional cancionetismo de sempre, das despedidas com muitos e babosos beijinhos... num KISS, KISS, bastante católico, de dar missas e ministrar cultos por 300 mil €, como se todos estivéssemos a nadar em fartura, apenas porque o Papa resolveu fazer turismo pelo Mar da Palha. Ou, se calhar, a congregação católica já conhecia desde há muito o PEC que saiu só ontem, e quis antecipá-lo ilustrando-o com os seus eventos... é um ideia!
Portanto, KISS, KISS, para ambos... (De Keep it simple, stupid!, não confundam.)

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