CADA ROCA COM SEU FUSO, CADA TERRA COM SEU USO




CADA ROCA COM SEU FUSO, CADA TERRA COM SEU USO

Tudo tem uma razão de ser... 

Portalegre é uma cidade tão inha e coitada, que às vezes nos parece que a sua insignificância nem sequer é notada. A não ser, é claro, que um jornal ou outro dê notícias dela, e então toda a gente fica a saber que existe. Que existe, sim, mas nunca pelas boas e melhores razões; antes pelo contrário. Há pouco tempo atrás, foi por causa da escravatura que se lhe praticava dentro de portas. Foi no jornal i. Hoje foi no jornal PÚBLICO, onde se dá conta de que os mortos para irem para a terra tinham que largar uns dinheirinhos por fora, senão ficavam a apodrecer até o horário de expediente camarário lhe proporcionar as duas ou três pazadas que não se negam a ninguém ... Pagavam, não recebiam recibo por isso, e ainda ficavam em favor. E, como de costume, quem tutela os sectores em causa nada sabia sobre o assunto, promete abrir inquérito e, como habitualmente, em vez de lesar os prevaricadores lesa os defuntos e seu familiares cortando-lhes a entrada no outro mundo fora de horas. Os cidadãos e as cidadãs portalegrenses podem ficar descansadas e descansados, portanto, que jamais serão explorados se morrerem. Mas que o façam nos dias úteis e a horas decentes, entre as nove as cinco e meia, ou arriscam-se a ficar na arca até ao(s) dia(s) seguinte(s)... 

Pelo que agora fica esclarecido, porque é que tratam tão mal quem está vivo: é para quando morrer já não estranhar. Costumes das terras e suas gentes! 

Joaquim Castanho


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