ENQUANTO SE COME NÃO SE ASSOBIA
ENQUANTO SE COME NÃO SE ASSOBIA
Descobrir até que ponto os portugueses estão disponíveis para alinhar com as artimanhas e manhosas patranhas partidárias, e as suas coligações, fusões, agregações, plataformas e demais desenformadas formas, é a tarefa primordial para qualquer político que se preze, seja minimamente honesto, frontal, consciente, responsável e emancipado. Arrisca-se depois, é claro, a que não tenha onde votar, e muito menos qualquer "bandeirinha" para espanejar e ao abrigo da qual concorrer, seja prò que for, nomeadamente a deputado ou autarca – mas isso são outros quinhentos.
A primeira, e a mais notória, é que todos e todas são a favor da conservação da natureza, da qualidade de vida e do ambiente. Mas logo de seguida vemos que esbanjam papel a torto e a direito, conspurcam paredes, caixas de correio, paragens de autocarros, os chãos das ruas e pavilhões, com panfletos, postais, autocolantes, cartazes, jornais de campanha, programas e gracinhas de marketingtesas destronadas, estando-se absolutamente nas tintas para as arvoresinhas abatidas para tanto ou para a limpeza dos locais; fazem caravanas intimativas do eleitorado deixando grosso rasto de monóxido de carbono nas passagens e repassagens pelos lugares onde se verificam ajuntamentos, com buzinões por dá cá aquele comício ou sessão de intoxicação mental e propaganda, celebração de resultados ou deslocações em massa, acompanhando as suas vedetas principais nas visitas de campanha aos mais pacatos e sossegados algures da nossa portugalidade. Incendeiam as hostes que, eufóricas e heroicas, depois vão incendiar as matas e florestas, para se manifestarem contra os governos e governâncias, contra adversários e em manifestações de protesto (indefinidas e por conta própria).
A segunda é a inequívoca anuência à igualdade, principalmente à igualdade de oportunidades e igualdade de género. Acerca da igualdade de oportunidades que professam, mas em que depois falham redondamente no cumprimento, mesmo se ainda não foram eleitos para nada, pondo a feitura material de propaganda e do marketing, sem concurso público, a cargo das empresas dos amigos e patrocinadores dos partidos/movimentos, e a distribuição ou colagens na mão da mão de obra juvenil ao preço da uva mijona, explorando os mais desgraçados; se eleitos, chamam só os partidários da sua facção para os jobs, independentemente das qualificações e sem concurso público, prejudicando os mais competentes e habilitados descaradamente. Em relação à igualdade de género cumprem a lei que obriga a uma determinada percentagem de mulheres nas listas, mas em posições de muito difícil eleição, e ainda assim sob critérios sexistas e feministas, para consolação de grupos e nichos sociais ou associativistas bem demarcados, mas depois disso no material de propaganda e nos programas mantêm o discurso antropocêntrico em que a cidadania fica restringida ao cidadão, omitindo a parte feminina da mesma. E, curiosamente, em partido/movimento nenhum a concurso eleitoral se vê no seu programa a iniciativa de intentar uma revisão constitucional para alterar a redação do Artigo 4 º que dita a cidadania portuguesa, considerando "que são cidadãos portugueses todos aqueles que como tal sejam considerados pela lei ou por convenção internacional", que o mesmo é declarar que as cidadãs portuguesas consideradas pela lei ou por convenção internacional não fazem parte da cidadania portuguesa, o que diminui para menos de metade o número de pessoas com tal estatuto, uma vez que em Portugal o número das mulheres é superior ao dos homens.
A terceira, é a de basear os seus programas em pressupostos inconcretizáveis, ou promessas/princípios (inadiáveis segundo alguns) para as/os quais não têm conhecimento de causa nesses assuntos, ou não têm know-how nem pessoal qualificado disponível nos seus quadros para os abordar e/ou resolver, e muito menos dinheiro suficiente para os contratar. Recentemente foi aprovado um projeto de diploma que proíbe as práticas de publicidade enganosa a atos e serviços de saúde, mas para a publicidade de práticas políticas impossíveis, como foram as promessas em que o Syriza baseou a sua campanha e que os levou ao poder, tendo agora que fazer tudo ao contrário do que prometeram, não foi feito nada, pelo que continuam impunes no nosso país. Esquisito... Prejudicar alguém na saúde é crime, mas prejudicar todos e todas na vida dá condecoração presidencial, nomeadamente para implicados no caso BES... Hum!
Todavia a prédica já vai longa, e o pessoal tem mais que fazer. Portanto, pedir a pessoas honestas e cumpridoras dos seus deveres, que votem, ou deleguem responsabilidades em alguém que comprovadamente o não é, devia ser proibido por lei em qualquer sociedade livre, justa e solidária, como é a nossa República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular, mesmo que essa dignidade seja amputada nela pela sua lei fundamental às pessoas humanas do género feminino, ou cidadãs. Devia ser proibido e punido severamente. E estranho deveras porque ainda o não foram... Estamos à espera de quê? Do quatro de outubro? Francamente!
Joaquim Castanho
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