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Mostrando postagens de março, 2016

VOO ININTERRUPTO, a propósito de poema de MARILU FAGUNDES

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VOO ININTERRUPTO  Com a frugalidade estoica dos momentos heroicos, Marilu Gonçalves Fagundes (MF) compartilhou connosco um poema completo, de apenas dois versos, é certo, mas que nunca poderá ser considerado um epitáfio, que seria um fragmento hiperbolizado de qualquer existência que atingira o definitivo termo, numa sinédoque em trânsito, ou pleno voo, de quem dá voz a uma pena, não a da dor, não a do fado, não a do lamento, não a do naufrágio, não a da compaixão, não a da culpa e do remorso, não a do choro carpideiro, mas a pluma branca e imaculada da escrita, e que, despegada, solta, exilada e carecendo de vida e significados próprios, visíveis, efetivos, eficazes, determinados e suficientes, é, todavia, além de parte elementar de um todo, seja ele corpo, ave, organismo, instituição, clã, tribo, grémio, sociedade, povo, estandarte, símbolo, voz, de gente mas, também, quiçá de rua, bairro, clube, distrito, cidade, município, região, geração, arquipélago, nação, continente

O FIO DE MARILU, acerca de um poema de Marilu Fagundes

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O FIO DE MARILU  As pessoas pensam para encontrar soluções – seguem o fio do pensamento, como soe dizer-se... – plausíveis, de resolução satisfatória e propiciadora de estabilidade para a agitação (expetativa) ou tédio (ausência de expetativa) das águas em que navegam, desde que seja líquido e racional (transparente e objetivo) o meio filosófico-social a que foram acomodadas, pelo que lançam âncoras que as escorem ao presente, as abasteçam de passado e lhe incutam esperança no futuro, mas, principalmente, lhe preencham o imaginário, que é um tempo ao mesmo tempo dentro e fora do tempo, sem princípio nem fim, ainda que recheado de fins e princípios (valores), participante e interessado por quota-parte, ações e juros no presente, passado e futuro de cada vivente, irremediavelmente alicerçado por absurdos e abstrações, possuindo todavia direito de manipulação justificado pela teoria de vida do indivíduo, das linhas de comando existencial dos seres humanos, suportadas nos ideai

MÍSTICA, de MARILU FAGUNDES

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MÍSTICA  Olhar para cima, sobretudo de noite, que é quando se vê melhor nessa direção do que em qualquer outra, sempre foi um acelerador da vontade de conhecimento em homens e mulheres, desde os primórdios da humanidade – senão antes. E desse aspirar mais alto, nesse buscar infinitos, vimo-la...  E "ela", a que ora contemplamos, é precisamente a mesma lua que há dez milénios atrás, pelo menos!, outros homens e mulheres em simultâneo com outros milhares de homens e mulheres, espalhados pelas mais diferentes regiões do globo, quiçá do interior de suas cavernas, o que faz dela o mais antigo monumento da Terra e indesmentível peça do património cultural do mundo, tal como se nos depara atualmente e a História do ocidente advoga, a do oriente corrobora, a do norte não enjeita e a do sul subscreve. Gerações e impérios tiveram-na como princípio fundamental. E da sua observação nasceu o primeiro calendário credível, consensual e estatuído para além das esferas microssoc

CULTIVAR A VISÃO, a propósito de um poema de MARILU FAGUNDES

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CULTIVAR A VISÃO...   "Amo tudo o que vejo" enuncia (e decreta fundamentalmente) a poetisa, logo à partida, de forma inequívoca. Marilu Fagundes (MF) diz-nos que ama tudo o que vê, e não que vê tudo o que ama, que, por sinal, até pode ser visto "mesmo [que] distante e imprevisto". Ela não tolera, não integra; ela inclui o que vê no seu universo de afetos. Ver é compreender, é amar. É entender por que uma coisa é uma coisa e não outra coisa qualquer. Compreender os filhos porque se amam, reconhecer algo porque se aprecia, identificar na multidão alguém de quem se gosta, é circunstância viável para os demais seres vivos, e temos exemplos ilustrativos disso em todos os reinos e espécies, havendo até animais que são capazes de matar ou de morrer para defender os que amam, nomeadamente os seus pares ou crias, justificando-lhes assim a existência e a importância (material ou imaterial) que lhe concedem. Assimilar, "transformar-se o amador na cousa amada&q

FLORES, por MARILU FAGUNDES

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FLORES  Nascer, crescer, procriar e morrer, são as quatro linhas de contínuo para o entrançado DNA da vida, cuja trajetória mais lhe pertence do que a cada espécie de seres vivos que, grosso modo, mais não são do que outras tantas estratégias que ela, a vida, gizou para se tornar eterna, ainda que simples e natural. Cada espécie tem o seu tempo e modo próprio de o fazer, de o transmitir, de o cultivar. No reino vegetal, a flor, é o engalanado que todos os espécimens adotaram para ser os seus não despiciendos dramaturgos, os intérpretes essenciais à polinização desejável, ansiada e não raras vezes apoteótica. São a sua ode triunfal... E, exatamente por isso, em todas as épocas e socorrendo-se de uma infinidade de estilos e formatos possíveis, tão plausíveis como quaisquer outros, os poetas e poetisas desde os tempos sumérios e imemoriais, têm encontrado nelas motivos de inspiração, recursos de persuasão, oferendas preciosas, símbolos de beleza e de poder, atentos ouvintes e

SE NÃO CHOVER VAI ESTAR UM LINDO DIA

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SE NÃO CHOVER VAI ESTAR UM LINDO DIA  Me decorrem do sangue as veias Em marés de estro e luas cheias,  Da raiz à sombra com que devora Toda a luz – fulgor intransigente... É o inverno que parte se o verão  – Truz-truz – lhe bate à porta Perguntando se há gente.  Mas na casa do tempo nasceu Senão Para quem a esperança é letra morta E que, embora não desejado,  Escancar'as folhas descuidado Para o anfitrião que nunca esgota.  – Truz-truz – é o verão a bater;  Mas Senão não vai responder.   Que o tempo ora perdido ora Preenchido se ora também pede;  E mesmo se o atiramos fora  É sempre um Zenão que nos mede.  Joaquim Castanho  

ÍNTIMA REPÚBLICA

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ÍNTIMA REPÚBLICA  Pronta mas liberta a ordem vigente Se amplifica original e certa,  Quando à franja especial atente Por correta, e de justo alerta,  Tão de repente, que por si aperta,  E limita o sentido do realmente.  Tanto se estende como contrai.  Tanto se preenche como s'esvai. Tanto alicia pra sentidos novos Como actualiza o ser dos povos.  Que a ordem se orienta pla razão E vontade de justiça no Direito,  Plo que é vinculativa prà nação E é república em nosso peito.  Mas a lacuna oculta subsequente Que a nosso criar on line abarca,  Nem restringe se mau uso faz a parca Gente do que é nobre e pertinente,  Pondo em vão vida, feitos, esp'rança De quem partilha e aos mais alcança.  Joaquim Castanho  

PINGA A PIPA, PIA O PINTO

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PINGA A PIPA, PIA O PINTO Lengalenga ajuizada Tem pandeireta, bandolim,  Tambor, violão, e a passada De quem passeia plo jardim.  E às vezes um violino A fazer de bom cometa,  Qu'arranha nosso destino Onde nenhuma flor é certa.  Serpenteia pla tradição Que nem espiral, remoinho Para moer mas sem pilão  Nossas pedras do caminho.  Lengalenga se dançada Em correria pelo sertão,  Traz alvoroço à criançada Ou traz chuva prà criação;  Nuns sítios parece nada,  Noutros, brota vida do chão.  Joaquim Castanho 

TRATAR IGUAL O IGUAL / TRATAR DIFERENTE O DIFERENTE

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TRATAR IGUAL O IGUAL TRATAR DIFERENTE O DIFERENTE Meia volta, volta e meia O destino indica ao ser A lei por que se enleia Somente porque quis viver.  Faz suas preces à lenda,  Alinha deuses por poder,  Abre sulcos numa senda Pra dificultar percorrer.  Acoita vis predicados,  Admoesta o inocente,  E sem olhar par'os lados Fita passados de frente...  Que é equidade assente Tratar com modo vário Tudo o que é diferente  – E mente, e mente, e mente  Quem disser o contrário.  Joaquim Castanho

PROPOSIÇÃO «LEGAL!»

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A PROPOSIÇÃO «LEGAL!»  Do pleito a lei remissiva tem Numa ficção onde o prevê,  Aquele olhar que é também  Aquela descrença que o crê.  É distinta mas não acaba.  É um mas qu'outro mesmo vale.  E sendo núcleo serve de aba Prò dito restrito que o cale. Entrementes finge outro ser Sendo o exato clone de si,  Que a palavra lei pode ter Outra ca prenda agora aqui. Joaquim Castanho  PROPOSIÇÃO – acto ou efeito de propor, expressão do juízo, primeira parte de um discurso ou de um poema onde se expõe o assunto que se vai tratar, asserção, princípio, máxima, expressão de um ou mais pensamentos por meio de palavras, oração (gramatical ou não).  

OBTUSO RADICAL

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OBTUSO RADICAL  Alojado no cerne da derme O verme discerne a cor,  Pra que concerne aquele supor Com que alterque e alterne  (Uniforme e extreme)  Seja com quem for!  Joaquim Castanho