MÍSTICA, de MARILU FAGUNDES




MÍSTICA 

Olhar para cima, sobretudo de noite, que é quando se vê melhor nessa direção do que em qualquer outra, sempre foi um acelerador da vontade de conhecimento em homens e mulheres, desde os primórdios da humanidade – senão antes. E desse aspirar mais alto, nesse buscar infinitos, vimo-la... 

E "ela", a que ora contemplamos, é precisamente a mesma lua que há dez milénios atrás, pelo menos!, outros homens e mulheres em simultâneo com outros milhares de homens e mulheres, espalhados pelas mais diferentes regiões do globo, quiçá do interior de suas cavernas, o que faz dela o mais antigo monumento da Terra e indesmentível peça do património cultural do mundo, tal como se nos depara atualmente e a História do ocidente advoga, a do oriente corrobora, a do norte não enjeita e a do sul subscreve. Gerações e impérios tiveram-na como princípio fundamental. E da sua observação nasceu o primeiro calendário credível, consensual e estatuído para além das esferas microssociais – de que ainda restam os dias da semana, o sistema de contagem hexagonal, os 13 meses lunares de 28 dias, exceto um que era de 29, o sistema do zodíaco, que tinha 13 signos, e do qual só um se perdeu atualmente, o signo de Ofiúcio. O seu esplendor iluminou travessias, caçadas, conquistas, orgias, celebrações, rituais, fugas, florestas, mares e amantes. Inspirou artes, ciências, religiões, economias, golpes de Estado, eventos desportivos, festivais (de música, folclore, dionisíacos, gastronómicos e panegíricos). Sofreu eclipses, desconfianças, excomunhões, invasões e maledicências. Deliciou homens e mulheres, velhos e velhas, adolescentes e crianças. E arrebatou, aprisionou, enfeitiçou alquimistas, poetas e poetisas. 

Talvez por isso, quando ontem "ela" desfilou na passerelle celestial destilando poesia e luz platinada de seus adereços, qualquer intenção de descrevê-la, desvendá-la, desnudá-la, fosse um gesto demasiado pecaminoso, até para quem de olhar inocente e sagrada reserva a contemplasse. Lhe assistisse passo a passo à sua iluminada dança sobre as águas da feminilidade eterna. E, sem dúvida, que o seria... Portanto, Marilu Gonçalves Fagundes (MF), tal como uma borboleta faz ao aflorar cada flor para depois a abandonar deixando-a tão intocada, tão imaculada e tão maravilhosa quanto antes era, ou o sábio passeia pela aldeia, apenas lhe respirou os detalhes. Posto que um só, por mais ínfimo e sútil que seja, já é ousadia indescritível e indizível capaz de fazer corar o aedo menos ingénuo. E foi essa compunção, essa reverência, respeito, devoção, que MF partilhou connosco... E fê-lo magistralmente!              

Obrigado _/|\_ 

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