O FIO DE MARILU, acerca de um poema de Marilu Fagundes




O FIO DE MARILU 

As pessoas pensam para encontrar soluções – seguem o fio do pensamento, como soe dizer-se... – plausíveis, de resolução satisfatória e propiciadora de estabilidade para a agitação (expetativa) ou tédio (ausência de expetativa) das águas em que navegam, desde que seja líquido e racional (transparente e objetivo) o meio filosófico-social a que foram acomodadas, pelo que lançam âncoras que as escorem ao presente, as abasteçam de passado e lhe incutam esperança no futuro, mas, principalmente, lhe preencham o imaginário, que é um tempo ao mesmo tempo dentro e fora do tempo, sem princípio nem fim, ainda que recheado de fins e princípios (valores), participante e interessado por quota-parte, ações e juros no presente, passado e futuro de cada vivente, irremediavelmente alicerçado por absurdos e abstrações, possuindo todavia direito de manipulação justificado pela teoria de vida do indivíduo, das linhas de comando existencial dos seres humanos, suportadas nos ideais que estes últimos teceram – e com os quais entreteceram – a primeira, isto é, a sua teoria de vida, que, felizmente ou infelizmente, quem sabe!, é a única coisa mais importante que a própria vida para cada ser vivo, independentemente do grau de qualidade e duração que desse todo eterno lhe caiba como parcela. E fazem-no com alma toda e inteira, uma vez que há coisas que não dá para fazermos pela metade, que ou fazemos em entrega total ou é o mesmo que se não as fizéssemos, pois que se intentamos de outro modo nunca observaremos qualquer resultado ou satisfação, conhecimento ou vivência e, ainda que empenhadamente, com afinco e abnegação o façamos, as mais das vezes nada alcançamos do almejado ou tão-só atingimos coisas adversas e diversas daquelas que foram o escopo de nosso pensamento.

Escrever é falar, é pensar por imagens (gráficas). Grafemas (unidades mínimas, não suscetíveis de divisão, de um sistema de signos ou alfabeto) e fonemas (unidades mínimas de som articulável) unem-se formando noemas (ideias, figuras que dão a entender serem outra coisa para além daquela que na realidade são) com sentido (sememas, ou compostos de semas, que por sua vez são elementos conceituais mínimos, microestruturas de conteúdo decifrável, em semântica, com traços distintivos comparáveis aos fonemas) literário, ou seja, que se desviam da sua compreensão habitual e corrente, literal e ordinária, ingressando assim em classes genéricas mais latas como a literatura (o teatro, o ensaio, a prosa e a poesia), ou a ciência, a filosofia, a arte, a religião, a comunicação, etc. 

Portanto, Marilu Gonçalves Fagundes (MF), ao leme deste barco escrito, embora não descrito, é mais do que ela. É um coração pulsante, o da língua lusobrasileira, teimoso e que nunca aprendeu com as experiências por que passou, sobretudo as falhadas, as tropelias, os trambolhões, as desventuras, as desilusões, vagueações sem rumo, a ficar quedo e sossegado, mas insiste em voltar a sofrer, a bater, a viajar nos poemas elegendo-os tanto seu mal (perdição) como supremo bem, batendo as asas freneticamente como um minúsculo beija-flor (colibri) ante a sua beleza, animando, ativando e impondo seu ritmo de dicção na fertilização da alma, cuja morada humana é justamente – mas não só – o peito. 

E para quê? Para atravessar a tempestade e o sol a pino, rumo à imensidão do alto mar, à intensa plenitude das águas e da vida, onde se possa abastecer desse fio sútil e delicado, sensível e mágico, que lhe permita sair de todos os labirintos e inspirações, máquinas de percurso, armadilhas existenciais, exercícios de libertação, buracos negros, eclipses de alma, assim como oferecê-lo àqueles que ama e se encontrem perante difíceis, senão impossíveis empreitadas, como se encontrava Teseu quando Ariadne lhe deu o novelo de fio com o qual pôde, depois de matar o Minotauro, buscar com êxito a saída do labirinto em que se metera. Obrigado, minha amiga, por ter feito e partilhado este poema no alto mar do universo webiano, porquanto também eu, depois de o ter lido e apreciado, fiquei mais apto a regressar dos enleados silvados da interpretação em que me vou metendo de quando em quando... _/|\_ Namastê _/|\_                  
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