FLORES, por MARILU FAGUNDES
FLORES
Nascer, crescer, procriar e morrer, são as quatro linhas de contínuo para o entrançado DNA da vida, cuja trajetória mais lhe pertence do que a cada espécie de seres vivos que, grosso modo, mais não são do que outras tantas estratégias que ela, a vida, gizou para se tornar eterna, ainda que simples e natural. Cada espécie tem o seu tempo e modo próprio de o fazer, de o transmitir, de o cultivar. No reino vegetal, a flor, é o engalanado que todos os espécimens adotaram para ser os seus não despiciendos dramaturgos, os intérpretes essenciais à polinização desejável, ansiada e não raras vezes apoteótica. São a sua ode triunfal... E, exatamente por isso, em todas as épocas e socorrendo-se de uma infinidade de estilos e formatos possíveis, tão plausíveis como quaisquer outros, os poetas e poetisas desde os tempos sumérios e imemoriais, têm encontrado nelas motivos de inspiração, recursos de persuasão, oferendas preciosas, símbolos de beleza e de poder, atentos ouvintes e confidentes, espelhos de sentimentos e emoções, adereços de estilo, floreados da mecânica do verso, metáforas, sinédoques, animismos, prosopopeias, confluências cromáticas e exemplo de perfeição. Têm-se servido delas para demonstrarem a sua humanidade, umas vezes sublimando-as, outras racionalizando-as, imitando-as, projetando-as e transferindo para elas quanto de imortal a sua pena foi, é e será capaz. Como afirma a poetisa Marilu Gonçalves Fagundes, elas são "sonhos" livres, versos que falam e, simultaneamente, calam os doloridos "sons da cotovia", essa rara ave que é capaz de se atirar em voo picado, de peito aberto contra os espinhos, cravando-os no coração, e assim amputar a dor que nele lhe vai pela saudade de seu companheiro/companheira. São detalhes, são sussurros, são suspense, são celebração, são segredos, são versos, são gritos, são poesia.
Mas dizê-lo já não basta... É preciso vivê-lo. É preciso ser a própria poesia para que não soe remake duma toada já gasta. É preciso ter as pétalas a diluírem-se pelas veias e vasos até ao purpúreo aveludado e carmesim da sensualidade. É preciso ser mulher – e Marilu conseguiu-o: Parabéns, minha amiga!
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