Para as Minhas Filhas Com Amor, de Pearl S. Buck


Para as Minhas Filhas Com Amor
Pearl S. Buck
Trad. Virgínia Mota
248 Páginas

Embora tenham sido as mulheres quem, quer por motivo inspirador, quer como utilizador final do produto literário, quer por a ela, à arte literária, como às línguas que a veiculam terem dedicado grande parte da sua vida, como ao dever-se-lhes as maiores modificações dentro do discurso narrativo, e aqui estou a lembrar-me, por exemplo, de uma Carson McCullers, que neste capítulo é incontornável, o que é certo, é que se contam pelos dedos quantas foram laureadas com o Nobel da Literatura. Algumas delas, foram de tal forma importantes, que conseguiram arrebatá-lo, ao prémio, digo eu, de um universo literário fortemente sexista, no século mais masculinizado da história humana, o século passado, como Selma Lagerlöf, Gabriela Mistral ou Peral S. Buck.
To My Daughters With Love é, queiram ou não, os apaniguados defensores da cozinha de autor, ou aqueles que ainda sublinham que não obstante serem as mulheres quem mais tempo passa à volta dos tachos, os melhores e mais famosos mestres da culinária são cozinheiros, portanto homens, e não cozinheiras, ou mulheres, um manual de sobrevivência para todos quantos não queiram enfileirar nos exércitos intelectuais do econimicismo patriarcal, independentemente do grau de inspiração divina (logo, fundamental) que os suportem e sustentem.
Dele, aqui se transcreve parte do Prefácio da autora, já que nunca existirá outra maneira tão eficaz para revelar o que uma coisa é, do que dizer aquilo que dela pensa quem a fez:
"Abençoada eu, que possuo sete filhas. A mais velha conta mais dezoito anos do que a mais nova, e todas juntas perfazem o total de umas quatro décadas. Nenhuma se parece com qualquer das outras, e todas elas me proporcionaram uma experiência nova, me conduziram as estudar novos padrões de educação e dotaram a minha vida de sucessivos enriquecimentos. A mais velha, a única afinal que dei à luz, sofre de fenilcetunúria, deficiência essa que me lançou no mundo dos bioquímicos, dos pais e dos professores de crianças mentalmente atrasadas, e me deu a conhecer a coragem confrangedora dessas mesmas crianças diminuídas. A minha segunda filha, alta e bonita, trabalha com êxito no campo da terapêutica das doenças profissionais. Alargou-me os horizontes do espírito, orientando a minha atenção para os doentes mentais e para os velhos. A terceira, com seus cabelos pretos e olhos cor de violeta, conduziu-me ao delicioso mundo da maternidade, não só por meio dos seus cinco filhos, como igualmente por ensinar num infantário e num jardim-escola. As quatro mais novas são as minhas filhas da Terra: a mais velha, actualmente de vinte anos, alia, na sua ancestralidade, a Alemanha à América, e as três restantes, respectivamente de 16, 18 e 19 anos, enlaçam a Ásia e a América numa indissolúvel união. Todas elas encantam os olhos e tornam deliciosa a vida em comum no nosso lar. Até um problema que eventualmente surja pode constituir fonte de interesse e de entusiasmo."
Por conseguinte, nada haverá a acrescentar, da minha parte, que melhor explane o significado desta obra, pelo que outra coisa me não resta, além de finalizar com as frases da autora, no término do dito Prefácio: "Este livro é vosso, queridas filhas. Partilhem-no à vossa vontade com quantos o vierem a ler" – nos quais gostava que me incluíssem como irmão, e não como mais um contabilista que sabe fazer somas tão perfeitas cujo resultado, óbvio e certo, se traduz sempre num total errado (1+1=1); e sim como alguém que caminha lado a lado, mesmo quando não pode, ou não é capaz, e nas exigências do corridinho da vida, o vão deixando para trás.

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