Que Novos Crimes Lava o Colarinho Branco?


Até há bem pouco tempo os crimes do colarinho branco eram os crimes vulgares que toda a gente cometia (roubo, desvio, assalto, abuso de poder, especulação, violação, sabotagem, incumprimentos de contrato, falta de pagamento de dívidas, fraude fiscal, tráfico de influências, etc.), delitos condicionados pela ocasião que, como é do conhecimento geral, é propícia ao embusteiro como ao ladrão, todavia este tipo de prevaricar contra a lei e sensatez, especificou-se, apurou-se, sofisticou-se, apetrechou-se de novos saberes e hoje, serve-se deles conforme lhe apraz e melhor funciona aos propósitos da elite do funesto, nomeadamente as estatísticas, contabilidade e psicologia, forjando o status quo a tecer-se como caldo onde essa cultura do crime se possa desenvolver e torná-lo apetecível, rentável, senão estratégico. Por exemplo, há empresas e organismos de Estado, desde autarquias a ministérios, que se servem das estatísticas para regularizar os seus financiamentos, que depois desbaratam fenomenalmente, para demonstrar serviço e utilidade social, pondo a recolha e selecção dos lixos em escores de tonelagem per capita, o que origina percentagens que não espelham a realidade: segundo os dados oficiais a reciclagem e tratamento dos lixos ocupa um lugar de vulto, no entanto, isso é autêntico bluff, pois no concurso Jogo Duplo, da RTP 1, onde estão incluídos, por pré-selecção, um grupo bem informado da malha social, depois de todo o dinheiro gasto na divulgação dos ecopontos, quando depararam com a pergunta de qual é a cor do recipiente prò papel, dos cinco concorrentes, só dois responderam acertadamente, logo 40%, e se atendermos às constatações de facto, de entre os organismos públicos que conheço só as escolas seleccionam o lixo e por cada dez pessoas que vão despejar o lixo, nas chamadas ilhas ecológicas, junto às quais está invariavelmente também um ecoponto, só uma o traz separado, principalmente as garrafas, despejando a eito os demais restos no depósito do lixo geral.
Ora, quando os quadros de um país, incluindo os seus políticos, torcem e distorcem a realidade para colmatar a sua incompetência num sector, displicência e mandriice, eles estão a cometer um crime contra todos, porque com o mal dos seus semelhantes e do futuros deles, vão beneficiar em termos financeiros, de marketing e de carreira profissional. O que é deveras um colarinho sujo, mas que ninguém ousa sanar, porquanto a sua lavagem em detergentes e lixívias de propaganda, o gasto cultural é muito menor ao ganho que daí advirá.
Por conseguinte, é caso de fundamento prático, afirmar que a quantidade se calculada a preceito, dá galhardias de uso ao defeito, e lavagem ao colarinho democrático!

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