Crónicas (In)divisas

Coisas de somenos

Faz-me espécie, como diria o Ti Joaquim Gafanhoto, companheiro de antigas cigarradas de enrolar à beira da fonte, sob a sombra da nespereira viçosa, graças à água que perto despencava da bica, toda essa problemática do segredo de justiça e sigilo profissional. E de duas peculiares maneiras: a primeira, porque não se percebe bem o busilis do segredo de justiça, sabendo nós de antemão que onde há segredo não justiça, ou onde há justiça não se escondem as misérias, se as há mostram-se com clareza, põem-se ao léu, nada-mão-nada-na-manga, e quem é justo e se propõe executá-la, aplicá-la, o faz com transparência, segurança e galhardia, sem afectações doutorescas, visto que ela (se tem alma) não é nenhum negócio, ou sendo-o não devia ser, que a verdade não se compra, não se vende, nem é apanágio de mais-valias burlescas, mas tem antes pelo contrário a alma de um povo que sempre afiançou à boca cheia que quem não deve, não teme; e a segunda, porque não há como confundir fontes com chafarizes, posto que dumas bebem as almas de bem baptizadas com o credo da razão, e das outras as bestas ou demais alimálias do nosso quotidiano (e uso), que tendo mente raramente o demonstram, ou quando o fazem é pelo lado avesso dela, quase invariavelmente pelo crime ou pelo melindre narcísico, com alguma descompensação alfabética com dr. na rectaguarda.
Mas sejamos claros, já que clarividentes nunca o poderemos ser, pois a ninguém é dada a clarividência sem charlatanismo nem basófias. Há jornalismo fácil e jornalismo difícil, como há justiça que se pode fazer de caretas e outra que, como no discernimento entre factos e opiniões, exige a aptidão de diferençar entre percepção real e percepção motivada, coisa que muito requer da lucidez, objectividade, rigor, esforço, imparcialidade, conhecimento da lei, trabalho e sabedoria humanas, para não se ficar enredado, como pinto em estopa, entre aquilo que parece e o que em verdade é.
Sobretudo porque fica mal à soberanidade dos poderes vigentes, quer se encontrem no exercício duma profissão de magistério como de comunicação, o andar a lusa gente de acagachas ou reagirem às vicissitudes e diatribes profissionais como quem foi apanhado com as calças na mão. Estamos no século XXI – o que é obra! –, e já devia ser tempo de entabularmos conversas assisadas, de homenzinhos democratas, veteranos do antropocentrismo, e não nos comportarmos como arruaceiros ou "meninas" finas que se sentem de honra ultrajada mal sonhem terem sido nomeadas em redutos menos do seu agrado.
Quem anda na vidinha e carregos dos cântaros, não lhe caem os parentes na lama se asada se parte. Nem guincha "aqui d'el Rei" logo que lhe debicam na fralda: sacode-se. Ou compõe-se – e age como o sapiens que é. (Ou podia ser!)
Certo?

Neste Como Naquele Tempo...


Todos sabemos que as vacas são sagradas – mas é na Índia. Aqui dão leite, couro, carne e esterco. Ou cornos, se houver quem lhe avezado esteja!
Por conseguinte, não há tarimba ou mister que se deleite investido do sacrossanto estatuto e beneplácito alvarás. A saúde não é uma vaca sagrada. A educação também não. A justiça muito menos. A política igualmente. A religião idem-aspas. Os islamitas podem ter toda a razão do mundo mas nem todo o mundo é obrigado a comungá-la e agir em conformidade com ela. Cada um manda na sua casa (se tiver moral para isso). Os árabes no magrebe. Os dinamarqueses na Dinamarca. E frei Roque na confraria. O colonialismo teve o seu bem-haja – paz à sua memória – nos meandros do século passado, e é lá que deve ficar, enquanto facto histórico e não como anexo de boas práticas para o presente e futuro. Tal e qual como aconteceu com os muradores de Berlim.
Daí que não me reconheça adepto do chinfrim e banzé sobre as caricaturas, quaisquer que sejam ou a quem quer que se reportem. São bonecos e, se em pequeno nunca brinquei com bonecas, também não é agora que vou virar menino de me divertir com soldadinhos de chumbo nem generalíssimas barbies.
Desde as eras pré-bíblicas que os grafitados rupestres são conhecidos pela sua edição nos calcários e granitos das gutemberguianas cavernas. Todas as culturas as fizeram, as fazem e farão, segundo os mais diversos propósitos e anseios. Sonoras, gestuais, plásticas, gravadas, de suporte multimédia ou tablóides. E sob todos os motivos: guerra, paz, Céu, inferno, sexo, personagens, duquesas, presidentes, atletas, magnatas, militares, prostitutas, tipos populares, triunviratos, artistas e fantasmagorias. Mesmo o homem invisível, que foi caricaturado pelo Edgar Allan Poe! E depois? Onde está a desgraça ou a falta de respeito? Querem fazer o quê? Vamos pintar o bico ao melro só porque não gostamos do amarelo? É caricato (pelo ridículo) o fundamentalismo anti-caricatura, como é o escudarmo-nos nos nossos medos para dar razão aqueles a quem acontece aquilo que receamos. É altura de despirmos a pele de lobos ao cordeiro que há em nós. Se achamos que se deve bater a bola baixinho porque o guarda-redes é anão, também não devemos agitar-nos como gigantes assustados!...
Sua Excelência Competentíssima, vingando-se dos apupos que lhe desenharam em alturas próprias e oportunas, saiu a terreiro defendendo o nome e as honras feudais do islamitismo governativo. O corpo ministerial rabiscou sob o punho do seu primeiro bento e pio ámen na lavradura do preceito. Mas nós "auguentámos" firmes e hirtos a apoquentação, revelando quanto de estóico e abnegado é o cimento lusitano no engolir das afrontas à democraticidade universal, preservando um passado que se tornou tradição, e como tal até tarda no morrer. Em nome de quê? Do futuro que aborta diariamente com as pílulas do anteontem medieval? Ou com o flashback das regressões à escolástica d'o pão é qu'ingorda, a porrada é qu'induca?!...
É hora de sacudir a carga. A democracia não é nenhuma mula de antigamente nem se lhe deve dar igual tratamento quando dá desacordo de si: manta pra cima e fricção na cabeçada. Há que pô-la a girar sobre os bites do tempo, e respeitá-la com honestidade e transparência à luz dos valores que a geraram (liberdade, solidariedade e igualdade), porque se eles ainda se não implantaram em definitivo sobre o mundo, é por haver quem considere ser ideal para o governo alheio mas restrita na nossa casa. O resto, é coreografia de encantador de serpentes para lhe evitar a mordidela!
Portanto, agora que já vimos que a maioria dos antídotos são feitos com o próprio veneno, deixemos de debitar os nossos receios na conta-corrente da salvação. A modernidade está aí, e não somos nós que a temos de modificar com o nosso obscurantismo; ela é que veio para no-lo apagar. Como sempre, e era comum in illo tempore!

Brincadeira tem hora

E dizem os cágados aviadores, que as galinhas são estúpidas! …
Estão tão eivados de pedinchismo criancista os políticos da nossa praça, que à mínima acção governamental, diploma ou reforma, desatam a arengar lamentosos e a pedir mama. A Rede Natura está aí, é um óptimo instrumento de trabalho para facilitar a sustentabilidade da ecosfera, a conservação da natureza, a valorização dos solos, ambiente e biodiversidade, o combate à desertificação e estímulo na criação de mais-valias, quer da imagem pública das regiões, quer nos sectores económico, turístico e da inovação tecnológica e empresarial. E que fazem os nossos politiquinhos caseiros? Em vez de aproveitar a questão em favor do futuro e imagem de marca dos seus produtos (agrários, pecuários, recursos naturais), paisagens, património natural e edificado, reforçando a tónica na qualidade disponibilizada, além do seu peculiar e regionalíssimo valor comercial ou modos tradicionais de confecção, incluindo neles a garantia de serem oriundos de zonas sem “contaminação/convívio” de OGM’s – Organismos Geneticamente Motificados --, tentando fazer aprovar no seu município a designação de área protegida livre dessas sementeiras e culturas antinaturais, eis que rezingam e entorpecem o desenvolvimento regional pela diminuição de área anárquica; esbracejam, põem-se de cócoras para Meca, choramingam a sua desgraça mai-la da sua santa terrinha e imploram chucha. Mas lá fazer alguma coisinha, ‘tá quieto!...
Portanto, não é de estranhar que se não preocupem com os 6,8% do défice, nem com as nossas desastrosas classificações no ranking das nações, nomeadamente nos capítulos do desenvolvimento humano, crescimento económico, cumprimento do Protocolo de Quioto, emissão de GEE’s (Gases de Efeito de Estufa), insuficiência energética, corrupção, criminalidade, insucesso escolar, assimetrias sociais e regionais, nível de vida, desemprego e condições de sustentatibilidade da segurança social, entre demais vicissitudes político-gregárias que nos assolam. Principalmente porque foram eles que o implantaram e instituíram como condição crónica de tratamento inviável.
Ou seja, é deveras surpreendente a apetência para reivindicar subsídios até acerca daquilo que beneficia os concelhos cuja Rede Natura mais favorece pela área que por ela têm circunscrita. Se é grande, isso é uma enorme vantagem competitiva para a região, pois pode facilmente promover os seus produtos certificados como biologicamente concebidos, desde que também seja salvaguardada a questão de nas redondezas não existirem culturas geneticamente alteradas e os modos de cultivo estejam conforme as normas avaliativas da biodiversidade e originalidade.
Daí que se ponha a questão: não seria mais razoável, em lugar de nos lamentarmos por ter no nosso concelho elevada área protegida, garantir a imagem típica e característica dos nossos produtos agrícolas, vinícolas, pecuários, lacticínios, hortícolas, oleaginosos, frutícolas e florestais? Não teriam maior fundamento e qualidade, logo melhor aceitação da parte do mercado europeu, os nossos produtos regionais se usufruíssem da autenticidade ecológica que dispomos? Bom… Talvez esteja na altura de deixar de brincar com a terminologia que nos favorece para a usarmos em favor do obscurantismo provinciano. Nunca é tarde para contabilizar pela positiva uma periferia irremediável, indissolúvel e dificilmente suportada.
Durante anos e anos debatemo-nos com a peculiar insularidade interior sem jamais invertermos esta a nosso favor, não obstante todas as verbas subsidiárias que por tal nos contemplaram. Fomos uma zona que diminuiu de densidade populacional, de elevado envelhecimento e com grande número de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza e sem formação adequada às exigências da modernidade. Mas queremos realmente continuar nessa condição ou estamos dispostos a reagir com maturidade às adversidades globais? Eis a questão que melhor podia desafectar-nos do terceiromundismo evidente!...

Bichanando as dichas dos bichanos...

O avis raras do Ruffino está em risco de ser abandonado por mor da gripe dos passarinhos. Já devia estar habituado à tradição do "sempre que o vento bate na confraria, quem se lixa é o rabugento", mas, como sofre de esperança crónica, crê a unhas ferradas na mudança e depois só lhe vêm alterações climáticas e outras menopausas terrestres. Superiormente desapegado das quezílias mundanas, que não lhe pagam na mesma moeda, ao mínimo sintoma de constipação é-lhe vaticinado vestígio de gripe, e no primeiro atchim com ranho põem-no na alheta.
Sem mais nem aquelas, as senhoras finas pegam-lhe com a ponta das unhas pelo lombo, colocam-no no patim, fecham-lhe a porta nos bigodes, e dão ordens expressas aos comensais e servidores para que jamais o deixem penetrar no T5 do seu reinado; os papás obreiros, desportistas de aparelho e flores de estufa suada, de fato de treino domingueiro com chavinha dependurada do bolso, ajeitam-nos de penalty à porta entreaberta do apartamento e marcam preceituado golo nos quadris do bichano que mia borda fora; o gorducho choramigas, mais ou menos fungadela, treina lançamento do peso e atira-o pela janela do topo de gama na pisga, que reluz e treluz no asfalto da IC em direcção à quintinha das couves da vó-vó saloia; e a moçoila atlética e desempenada de umbigo ao léu, toda febra de ginásio e yogurte, assume sorumbático semblante e circunspecta feição, mas esquece-se dele no parque da cidade onde o levou a arejar para respirar mais saudavelmente. Enfim, cada qual ao seu jeito lá vão desruffinando a caverna dos ócios e temperos conforme podem, para evitarem a pandemia!...
Como resultado os tarecos vêem-se obrigados a caçar o sustento. Destreinados do mister e pouco ágeis na arremetida, em virtude do sedentário aconchego na formatura doméstica de xixi em tupperware com areia de hipermercado, o seu êxito não é grande e apenas conseguem catrafilar as passarinhas debilitadas. Sobretudo as que com moléstia nas vias (respiratórias) têm dificuldade em bater a asa. E que não as batendo com ligeireza batem a bota, cuja alma mais lesta entra assim no céu dos pardais. Repastam-se. O vírus que não é parvo, e embora de recente estadia no seio – está cá há pouco tempo, mas também só já quer mama e colo!... – da humanidade, sabe que a vida são três dias (nascer, crescer e morrer), mas faz apogeu no carnaval da procriação, consumando o seu anseio de eternidade e salvação.
Ora, bactéria que é bactéria age como tal e o vírus não lhe fica atrás, aproveitando o caldo favorável das alterações climáticas e aquecimento global, vacinado naturalmente por eles ganha foros lusitanos de dar novos mundos ao seu mundo, e em cruzada vem por essa Europa fora até ao mar. Inaugura os Descobrimentos e Colonização imitando os fenícios, os celtas, os romanos e os portugas num milquinhetos de negócio com capitanias avançadas. Se instalarem uma na Apartadadura, podem estar em porto seguro... Que de lá à cidade é um salto em bom caminho e aqui, todos sabemos, como igualmente todos nos estamos nas tintas uns para os outros na rambóia do safe-se quem puder, e não cumprimos o mínimo preceito que venha da ONU ou CE em termos de sustentabilidade. Nos transportes públicos, nas acessibilidades, na estratégia energética, no ordenamento territorial, no tratamento de resíduos, na reciclagem, na valorização e compostagem, na cultura, na gestão e acautelamento da água, na cidadania, na Inovação & Desenvolvimento (I&D), no combate ao desemprego e à miséria. Com idem e mãos postas para a desertificação e planeamento!...
O que é caso para dizer, somos um Portus Alacer para tudo o que vier... Além do fazer bonitinho, do jogo do parece bem, do espectáculo para inglês ver e dos palácios do nosso palacianismo jesuítico bacoco, banquetagem turística, festas, copos, papas e bolos com que se enganam os tolos. Que esses já cá cantam, e não é só de agora!...

Confundir para reinar

Metade das arengarias e dissabores (contenciosos) políticos nacionais, acabariam definitivamente, sem precisão dos placebos género pacto de regime, se Portugal, encabeçado pelos órgãos de soberania e restantes instituições civis ou do Estado, cumprisse minimamente as Convenções e Tratados Internacionais que subscreveu, assinou ou ratificou, a Constituição da República e o Direitos do Homem. Ao fim e ao cabo, tornar-se-ia desnecessária a complexa panóplia de decretozinhos estapafúrdios que formam a teia de armar aos tordos onde a maioria cai que nem patos bravos, esse universo de leis e leizinhas inúteis que nem os juizes sabem de cor, que o mesmo é dizer não cumprem, porquanto ninguém consegue operar com uma tabuada que lhe é desmemoriada, quais pataquis-patacolás que embasbacam e embaçam os desafortunados e desprotegidos da cidadania.
Bastava ajoelhar onde a prece nasceu, para desbastar a inutilidade do funcionalismo, o atraso nos critérios de convergência, o incumprimento dos Quiotos, a grandiloquência do défice, a sensaboria da qualidade de vida, a desumanidade do sistema e a estuporice ou mistério do regimento. E o abuso de poder, a injustiça social, a corrupção maiúscula.
Todavia, não se cansa o sapateiro de tocar rabecão! Não obstante termos ao dispor diversos instrumentos cuja operacionalidade está em consonância directa – ou quase! – com esses "Acordos Mundiais", como sem dúvida são a Estratégia de Lisboa, o Plano de Acção para o Crescimento e Emprego, a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentado (em revisão!...), as Agendas 21 Locais, as diversas embora que maioritariamente obsoletas Leis de Bases (educação, saúde, ordenamento do território, ambiente, etc., etc.), eis que os nossos políticos locais, distritais e regionais, continuam montados na albarda do estatuto, por reciclar, e desinformados insistem em fazer-se desentendidos quanto à problemática de ser-se português com direito a figurar no mundo (no de hoje como no de amanhã) com a equidade e sem vergonha ou complexos sentimentos de inferioridade que o mapa dos rankings nos obriga actualmente a ter.
Oriundos da pasmacenta e antiquíssima fatia do universo da broa com unto, onde o primado da esperteza saloia assenta na carambola do dr. para abrir portas (são engenheiros no curso mas exercem administração, tiram medicina mas exercem magistratura nas assembleias municipais, são economistas mas dão aulas de humanísticas ou administram complexos educativos, e por aí adiante, carago!...), vêem-se e desejam-se para se adaptarem à premência da actualidade planetária onde a planificação é um preceito de trabalho, e não um handicap corrosivo com que os municípios têm de aprender a viver, qual moléstia de contornar e só cumprir se a isso obrigado se for com cenoura e pau.
Desconhecem como agir, que conteúdos observar, que estratégias adoptar, mas, à semelhança da criança que diz que não gosta da sopa sem que nunca a tenha provado, resistem e cospem a mudança – de conceitos, de atitude, de instrumentos de trabalho, de modos de produção, de visão económica, de conjuntura, de motivações, de sociedade e postulados sócio-culturais –, e entrincheirando-se no ontem fogem do hoje como o diabo da cruz.
E contrariam teimosamente as indicações da sociedade do conhecimento, que continua a observar o primado da qualidade sobre o da quantidade, e obriga a resolver as necessidades da cidadania com coerência e sensatez em vez de com sistemática avaliação estatística. Talvez insistindo em edificar um mundo onde até os seus próprios filhos rejeitam viver... como, aliás, têm feito neste jardinzito, onde ainda se continua a confundir pluralismo com corporativismo e democracia com o quero-posso-e-mando dos idos tempos salazaristas!

O Coveiro Que o Diga...

Como o gelo da Gronelândia e da Antárctida está suportado em terra firme, se derreter, entrará para os oceanos uma infindável quantidade de água, pelo que o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas, estimou que o nível das águas do mar irá subir 88 centímetros até 2010. É longe e pouco nos comove. Parece ficção e nem sequer nos perspectiva a praia para a Barragem das Coitadas num futuro assaz próximo. No entanto, conforme o LIVRO VERDE: Estratégia Europeia para uma Energia Sustentável, Competitiva e Segura (EEE - Bruxelas, 08.03.2006), o universo energético entrou numa nova era, cuja paisagem se caracteriza fundamentalmente pelo facto de as regiões económicas dependerem cada vez mais umas das outras para garantirem condições de desenvolvimento, que torna obsoletas as políticas energéticas individuais dos 25 estados membros da CE. Sobretudo porque a Europa ainda não criou mercados energéticos plenamente competitivos, os preços do petróleo e do gás estão a subir, a nossa dependência das importações está a aumentar, há uma maior procura global de energia (por exemplo, China e Índia, cujos industrialização e consumo estão em franco crescimento), as reservas estão concentradas num pequeno número de países, o clima está a aquecer e o nosso investimento no sector tem sido irrelevante.
Assim, "a Europa deve actuar com urgência: são precisos muitos anos para pôr em marcha a inovação no sector energético. Deve também continuar a promover a diversidade – em termos de fontes de energia, de países de origem e de países de trânsito. Ao fazê-lo, criará as condições para o crescimento, o emprego, o aumento da segurança e a melhoria do ambiente. Os trabalhos têm avançado nestas questões desde o Livro Verde da Comissão de 2000 sobre a segurança do aprovisionamento energético, mas devido a recentes desenvolvimentos nos mercados de energia, torna-se necessário um novo ímpeto europeu", como sublinha a citada EEE.
De importância crescente, o sector energético tornar-se-á a breve prazo o determinador correlativo do qual depende a qualidade ambiental, o progresso científico e tecnológico, o crescimento económico, desenvolvimento humano e nível de vida das nações. Na corrida ao futuro, a maioria dos europeus sabe-o. Muitas Assembleias Municipais e Executivos Camarários já estão a tomar medidas quanto à descarbonização do seus concelhos, nomeadamente na vertente dos transportes públicos, na beneficiação de alguns edifícios com painéis solares, no reaproveitamento e valorização de embalagens ou resíduos, na produção de energia limpa (biomassa, eólica, hidroeléctrica) que utilizam nos seus serviços, descarregando na rede geral quanta lhes sobre. Não só não pagam a sua luz, como ainda ganham uma substancial renda com ela. Preocupadas não somente com o colapso planetário dos recursos, mas principalmente com as suas dificuldades orçamentais, sabem que o tempo das oligarquias corporativistas e gastos supérfluos já deu o traque mestre. Abastecem-se de meios de produção de energia em vez de combustíveis. Adaptam-se. Insurgem-se contra a "sorte azarenta" da globalização. Preparam-se. Desunham-se em garantir o seu crescimento populacional, cultural, comercial, agrícola, civilizacional, industrial, natural, turístico, histórico, património construído e paisagístico. Nós...
Nós ficamos a assistir; a vermo-nos sendo cada vez menos, mais velhos, pobres e doentes. E num ambiente a descaracterizar-se contínua e proficuamente. De poucas matas, mas prolíferas mortes! Indubitavelmente. Quem sabe se garantindo que, à semelhança do que fizemos (e dissemos) acerca da ida do homem à Lua, o degelo das zonas polares nunca acontecerá e, se acontecer, jamais a sua água chegará às Coitadas ou… ao Pisão. Sobretudo ao Pisão – cuja construção demora, não sendo despropositado pensar que mais fácil está o derreter do gelo lá na longínqua Gronelândia, do que liquefazer-se aqui o acondicionamento de alguma água, na dita barragem, por tão perto!... Isso.

Não, não creio. E você?

Instados a reagir ao Livro Verde da energia, no Conselho Europeu de Bruxelas de 23 e 24 de Março de 2006, os órgãos colegiais da EU, reafirmaram a necessidade de uma estratégia comum para o sector energético, que ponha definitivamente um rotundo e peremptório fim ao desaguisado dos 25, a tocarem os seus interesses cada um para seu lado e ao sabor das flutuações do mercado global. Nesta perspectiva é pois assumida uma responsabilidade colectiva que terá consequências inevitáveis (supondo-se que positivas) para o ambiente, o desenvolvimento sustentável, a solidariedade entre Estados membros, a inovação tecnológica, a política externa comunitária, crescimento e emprego, industrialização, cultura, racionalização de recursos, conservação da natureza, transportes, mercado e consumidores, competitividade europeia e segurança de aprovisionamento.
Em resposta a questões tão pertinentes como fazer para "assegurar que todos os europeus tenham acesso à energia a preços razoáveis e que o mercado interno comunitário desta contribua para manter elevados os níveis de emprego", "que fazer para se assegurar na EU a promoção da diversidade e produção e aprovisionamento energético respeitadores do clima", "que medidas tomar para prever e gerir as hipotéticas crises do sector energético", "como oferecer um quadro seguro e previsível a longo prazo de investimento para o desenvolvimento futuro das fontes de energia limpas e renováveis na CE", "que acções adoptar, tanto a nível comunitário como nacionais, para assegurar que a Europa mantenha a sua posição de vanguarda mundial em tecnologias energéticas", "quais os melhores instrumentos para implementar a inovação, quer nos equipamentos como nas técnicas e materiais" ou se "deverá a EU desenvolver parcerias com os seus vizinhos, incluindo a Rússia, e com outros grandes países produtores (e consumidores) do mundo", a ênfase foi toda para urgência em estabelecer políticas concertadas com pronunciada anuência estratégica para o sector, no sentido de favorecer opções com uma boa relação custo-eficácia, sobretudo porque no mercado energético europeu qualquer ruptura de aprovisionamento exige uma resposta igualmente europeia.
Disse-o Josep Borrell, Presidente do Parlamento Europeu; afirmo-o Jean-Claude Trichet, Presidente do Banco Central Europeu; sublinhou-o Ernest-Antoine Seillière, Presidente da UNICE; confirmou-o Cândido Márdez Rodriguez, Presidente do Comité Económico e Social Europeu; reforçou-o Andris Piebalgs, Comissário Europeu da Energia; não se importou Durão Barroso; aplaudiu-o Zapatero; e assumiu-o o nosso primeiro-ministro – que esteve à altura do que dele esperávamos. Resta agora saber se aquilo a que se compromete lá fora também é válido cá por dentro… Enfim, que se possa saborear o interior de um fruto que à vista da casca parece saboroso e suculento. Mas não acredito… Conheço Portugal e os seus políticos desde que nasci, e já cá ando há um ror de anos!
Daí que saiba que nunca aqui se fará uma análise estratégica da energia, que proporcione a tomada de decisões que carece tomar acerca do cabaz energético, onde sejam avaliadas as vantagens e inconvenientes das diversas fontes de energia, desde as renováveis autóctones como a eólica, biomassa, térmica, biocombustível, hidroeléctrica, até ao carvão ou energia nuclear, o que umas e outras significam no campo da sustentabilidade, das tecnologias e sequestro de carbono ou alterações climáticas. Porque sei muito bem como foi (e está a ser) feito noutros casos, de que são típicos os exemplos do Tratado para a Constituição Europeia, as Agendas 21 Locais, a Rede Natura, o Livro Branco dos Incêndios, o Plano Nacional de Defesa Contra os Incêndios, em que o medo de serem contrariados pelo argumento, inversamente ao debate transparente, objectivo e aberto, se incubam e tecem maquiavélicos embróglios apenas em algumas capelinhas de interesses enformadas pelo burro-coça-o-burro costumeiro e usual aos caciquismos provincianos. Como sei que sempre que se diz algo que a alguns desagrada (ou não convém) eles tentam convencer os demais de que é asneira, bem assim de fomentar a linchação pública do mensageiro. Exactamente.

Quando se quer, pode-se

É do conhecimento público que o QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional, que congrega os fundos comunitários e contrapartidas nacionais, e vem substituir o Quadro Comunitário de Apoio III), irá privilegiar os projectos intermunicipais e regionais face aos avulsos concelhios. Portanto, que tal se agíssemos em conformidade com o próximo ciclo de fundos europeus (2007-2013) e atempássemos o processo de aprovação construção de um canil/hospederaia/hospital intermunicipal que venha resolver a evidente falta de estruturas e respeito pela vida de todos os animais, incluindo os nossos "amores" domésticos que abandonamos e aviltamos assim que deixam de ter gracinha. Era uma hipótese de os políticos da região provarem que só são adversários durante o período eleitoral, que no mandato pugnam sim pelo bem público, e que cairia que nem ginjas no seio dos adeptos da coexistência possível. Porque nem só de estradas vive o homem!

E o "Porto" aqui tão perto

Às vezes, nem é necessário ir muito longe na busca de boas práticas e condutas de harmonização social, no sentido de se edificarem as unidades urbanas de forma sustentável e para todos. O exemplo disso é a Câmara Municipal de Estremoz que anunciou no dia 4 pp um projecto de intervenção nos espaços públicos com vista a facilitar a acessibilidade e mobilidade para peões e veículos, intitulado Mais Mobilidade, Mais Cidade que prevê a eliminação das principais barreiras arquitectónicas e urbanísticas que encavalitam a cidadania nos socalcos da parvoíce.
De salientar igualmente que a nomeada edilidade prepara a sua adesão à Rede das Cidades e Vilas com Mobilidade para Todos e apresentará candidatura ao projecto Mobilidade Sustentável, de autoria e responsabilidade assente no Instituto do Ambiente, com apoio da Associação Nacional de Municípios. (O que, em abono da verdade, nem se percebe lá muitíssimo bem... Então, se ninguém pagou às câmaras e demais organismos públicos para ali porem esses obstáculos à circulação e mobilidade de pessoas e transportes, por que é que agora temos de ser nós todos a financiar, pagar, ser explorados, com a sua remoção? Esta coisa de plantar monos à porta de cada um e depois pedir-se-lhes dinheiro para de lá os removerem, é uma intrujice das antigas, não haja dúvida! Mas que continua a render verbas em projectos e programas especiais... Realmente, o crime compensa... Irra!, que é de asininos!...)

Regabofe e Grande Farra, filmes de outrora

A ignorância não se perdoa. Sobretudo porque nos tempos de hoje só o é quem quer. Ninguém precisa de ser doutorado para raciocinar com lógica e sensatez. (O conhecimento está à distância de um clique.) Como também não é líquido que o facto de se possuir um canudo se fique directamente habilitado para fazer ou pensar seja o que for. Um curso, um diploma, é um instrumento de trabalho, não um salvo-conduto de direito à preguiça (mental). Entendidos?
Daí – ou daqui –, que não perceba bem por que é que os partidos e seus partidários nos querem convencer que um indivíduo formado é melhor cabeça de lista do que qualquer indiferenciado... Acaso o médico vai exercer medicina na autarquia se for eleito para ela? Ou um engenheiro engenharia, se entrar para deputado na Assembleia da República? Ou o trolha construir paredes se for para ministro da Obras Públicas?
Afinal, o que é que tem a ver o cu com as calças? Paridade, sim; igualdade, igualmente; caganeirice, não.

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