Óculos Escuros

Óculos escuros

É quase verdade andar invariavelmente a angústia
Separada dos corpos que a habitam, a bebem
Crestam(-se) como pequenas gotícolas em volta
Envoltas pelas crisálidas das expectativas
Pois naturalmente cada um quer ser outro
Este ideal de si mesmo que sempre ideal também será.

Ninguém discute tal propósito embora
Muito embora porém como já desconfiais
Hajam alguns doidivanas que se interrogam
A cidade até tem diversos bares que frequentam
Raros fazem mais que isso pela noite fora
Outros perdem-se diariamente nos corredores das escolas
E se depois das aulas dadas alguém os interroga simplesmente
Sobre coisas simples não sabem que responder
Por exemplo "estás bom? Como te chamas? És de cá?"

Então fingem que sim e dão um nome qualquer
Provavelmente desconhecem o efeito da memória
Sobre as angústias comuns há diversas variedades
Convenhamos que algumas bastante profícuas
Exigentes, perfeccionistas, apenas permitem o complexo
O imbricado enredo da confusão e mágoa até às franjas
Incluindo aquelas raras e ralas de ser como redes pesqueiras...

Mas, surpresa das surpresas, ontem me disse uma, afirmou
Enquanto procurava no bolso uma caneta sem tinta
Que o calor do sol está a ficar cada vez mais quente
Porque os homens deixaram de se sentir ofuscados
Não se cuidam em fechar os olhos ou franzir o cenho
Assim, quanto insistentemente o desafiam, o fitam!

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