Crónicas (In)divisas
Já ninguém duvida por método mas por necessidade e sobrevivência...
A César o que é de César. A Deus o que é de Deus. Ao Estado o que é de todos.
Não obstante o Ministério da Ciência ter garantido recentemente que o Reactor (Nuclear) Português de Investigação, a funcionar em Sacavém, estar devidamente licenciado, o que é certo, é que de acordo com informações veiculadas pelo Ministério/Instituto do Ambiente, este reactor continua como estava há décadas: sem licenciamento.
Os factos são o que são; são factos – e nada pode ser uma coisa e simultaneamente a sua contrária. Em filosofia diz-se que o que é, é. Em política, se é de sensatez, persegue-se esta lógica para incentivar à descoberta da verdade, a fim de que a democracia possa surgir à tona das problemáticas, livre de transgénicos sentidos, limpa de dogmatismos, escanhoada de propagandas falaciosas.
Portanto, além da dúvida e da controvérsia, do diálogo que superintende as negociações, outras interrogações nos acometem de não menos pertinácia: Como é? Que sucedeu, ou que sucede, para que o não licenciamento do reactor nuclear se tenha escondido durante tanto tempo? Porque estamos nós, portugueses, a fazer aquilo que combatemos noutras pátrias? É receio de sermos invadidos como o Irão?...
Houve algum aconselhamento nesse sentido da parte dos Institutos do Ambiente e dos Resíduos? Que resíduos radioactivos produziu até hoje e o que tem feito o Instituto Tecnológico Nuclear para os acondicionar ou eliminar? Se não sabemos sequer que destino lhe tem sido dado, como aliás sucede com os resíduos hospitalares nucleares, como podemos estar confiantes acerca das condições do seu acondicionamento ou uso para que foram reencaminhados? Quem o faz e como se faz, com que regularidade, quantas amostras foram recolhidas e analisadas, no capítulo da monitorização ambiental de grau de radioactividade, conforme o regulado no DL 138/2005? Estamos bem em Portugal ou convém emigrar para o algures patagónico a fim de salvarmos a estirpe dos Viriatos? Este era o único segredo que nos reservavam sob a perspicácia do interesse de Estado e bem público ou têm mais alguns na manga? Se sim, quantos, e com que nível de gravidade para o nosso futuro e dos nossos descendentes? Pr quanto tempo mais vão continuar a brincar com a segurança dos contribuintes que lhe pagam os salários para lhe defenderem a vida mas a quem têm sonegado informações essenciais sobre matérias tão perigosas como os resíduos nucleares, que podem afectar directa e indirectamente o seu bem-estar, qualidade de vida, saúde e ambiente? É precisamente a isso que se referem quando nomeiam a necessidade de aprofundar a democracia e implementar a cidadania, aumentar a participação democrática, melhorar os níveis de envolvimento e responsabilidade cívica do povo português?
É?... Então, obrigado pelo exemplo!
Ou, se calhar, perdeu-se o dicionário que tínhamos e já nenhum dos sinónimos tidos para palavras tão simples como civismo, pluralidade, igualdade, solidariedade, fraternidade, frontalidade, é o mesmo que descobrimos nos bancos da escola... Se calhar!
Vale mais tarde do que nunca: Finalmente a mudança de clima tem conferência na Assembleia da República
Decorrerá, durante o dia dez deste mês, a partir das 10 horas e até mais ou menos à hora de jantar, no Auditório do Edifício Novo da Assembleia da República, sob proposta da Comissão de Poder Local, Ambiente e Ordenamento do Território, com o aval de Sua Excelência o presidente da Assembleia da República, Dr. Jaime Gama, a Conferência Internacional Sobre "Alterações Climáticas", com vista à análise dos dados e das perspectivas e da alterações climáticas, questão fundamental para a vida de todos nós bem como para o futuro do mundo, iniciativa que demonstra o quanto esta problemática deixou de ser, no actual universo das ideias políticas e condutas colectivas cientificamente baseadas, uma simples atitude e preocupação cívica dos carolas da actualidade e modernização do país, mas também fulcro de consciência e ponderação dos órgãos de soberania portugueses. Aliás, sinal evidente de como a mudança de clima rompeu a barreira de indiferença que há anos lhe era concedida por vasta estirpe política usurpadora da realidade, qual camada de cataratas sócio-cognitivas na visão obsoleta do quorum político nacional.
E é a prova cabal de quanto nos preocupa o rápido aquecimento da Terra. Porquanto esta alteração no clima constitui séria ameaça, senão mesmo catastrófica, à estabilidade das nossas economias, sociedade, relacionamento entre países, ou povos, e meio ambiente. Sobretudo porque ele é provocado por gases de "efeito de estufa" que são produzidos pelas actividades humanas, em especial a queima de combustíveis fósseis, tais como o carvão, petróleo e gás natural. Já que uma vez na atmosfera estes gases retêm o calor libertado pelo sol, à semelhança do que acontece numa estufa industrial de secagem, propositadamente criada para o efeito e com esses fins específicos. Preocupação assaz evidente e que é significativa na delineação dos quatro painéis que lhe preenchem o programa.
Painel 1 – Os Sinais e as Previsões de Alterações Climáticas, que conta com as intervenções de Filipe Duarte Santos (Director do Centro de Sistemas, Instrumentação e Modelação nas Ciências e Tecnologias do Ambiente e do Espaço e Coordenador do Projecto SIAM), Miguel Araújo (do Museu de Ciências Naturais de Madrid, professor associado da Universidade de Copenhaga, e Senior Research Associate da Universidade de Oxford) e Mathias Duwe (Director da CAN – Climate Action Network), sob a moderação do deputado Renato Sampaio (PS), e com os itens de abordagem de metas de médio e longo prazo, previsões SIAM, previsões ICCP e sinais. Painel 2 – As Políticas Públicas de Mitigação das Alterações Climática, com a participação de Arturo Gonzalo Aizpiri (Secretário Geral para a Prevenção da Contaminação e das Alterações Climáticas, do Ministério do Ambiente espanhol), Álvaro Martins (Director do Centro de Estudos em Economia da Energia, dos Transportes e do Ambiente, do Instituto Superior de Gestão da Univesidade Técnica de Lisboa), e Isabel Guerra (Auditora de Ambiente, do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações), tendo por moderador o deputado José Eduardo Martins (PSD), com um leque temático que vai desde o Protocolo de Quioto e Convenção-quadro das Nações Unidas, passando pelas políticas comunitárias e nacionais, até ao Regime pós-2012. Painel 3 – A Necessidade de adaptação às Alterações Climáticas, onde intervêm Calos Sousa Reis (do Departamento de Biologia Animal, Faculdade de Ciências de Lisboa – FCL, e Coordenador da área das Pescas e Litoral do Projecto SIAM), Luís Veiga da Cunha (Professor Catedrático Jubilado do departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente, FCL, e Coordenador da área dos Recursos Hídricos do Projecto SIAM), Nuno Lacasta (Director do Gabinete de Relações Internacionais do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional) e Abdekader Allali (Vice-Presidente do Grupo de Trabalho II – Marrocos, do IPCC – Intergovernamental Panel on Climate Change), cuja moderação estará tutelada pelo deputado Miguel Tiago (PCP), e subordinada aos temas acções preventivas de adaptação às alterações climáticas no Sul da Europa e bacia mediterrânea, bem como avaliação dos impactes das alterações identificadas no âmbito do ICC e do SIAM. Painel 4 – O Protocolo de Quioto como Factor de Desenvolvimento, participado por Christian Eggenhofer (Sénior Researcher no CEPS – Centre of European Policy Studies), Eduardo Oliveira Fernandes (responsável da Unidade de Estudos Avançados de Energia no Ambiente Construído, Instituto de Engenharia Mecânica, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), António Sá da Costa (Presidente da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis) e Carlos Pimenta (Director do CEEETA – Centro de Estudos em Economia da Energia), tendo por moderador o deputado António Carlos Monteiro (PP) e por temas a abordar as oportunidades de desenvolvimento das energias renováveis e das tecnologias e processos de eficiência energética no consumo, além da importância do 7º Programa-quadro I&D.
O que, em resumo, nos faz pensar que embora a comunidade político-partidária nacional tenha andado arredia dos compromissos e procedimentos conjunturais em torno das causas e condições ecológicas do clima, ausentados assim duma consciência planetária, está contudo disposta a redimir-se apresentando iniciativas de vulto e significativas da quase totalidade do quórum legislativo e constituinte, empenhadamente, o que vem de encontro às expectativas que criaram durante os períodos eleitorais, e apenas nos renova a esperança de mudança de atitudes perante o aquecimento global e suas origens. A ver vamos!...
Sustentabilidade também é sinónimo de consciência cívica
Este é o reino dos que tudo podem, tudo sabem, tudo conseguem (em silêncio), ninguém os demove de ser contra, se preciso for contra o contra, mas por nada mexem uma palha desde que o motivo seja a favor de algo racional, sobretudo da vida, dos demais, da natureza, do ambiente, dos valores de cidadania, ou da república – senão lhes pagarem principescamente para tal, pelo menos. Deram novos mundos ao mundo só para fazer ver, e viram; ao deslumbramento, sucedeu-lhes o descrédito (ou pouco mais). Derrubaram a monarquia por temor à perda de soberania, e perderam-na. Muitos morreram pela pátria… No entanto, contam-se pelos dedos os que viveram por ela.
Foram significativamente claras as palavras de Sua Excelência, o Presidente da República Portuguesa, aquando da celebração do 5 de Outubro, dia da implantação desta no nosso país. E do seu discurso, importa agora não deixar cair no esquecimento que 1) urge combater a corrupção, 2) fazer transparecer e moralizar as condutas dos decisores políticos e quorum institucional do poder, 3) reforçar a justiça e a participação democrática e 4) que a comunicação social deve assumir as suas responsabilidade sociais.
É, neste momento que atravessamos, embora algo que já venho dizendo há anos, o princípio de um caminhar que se avizinha contundente face aos beneficiários do corporativismo pós-salazar bem como aos diversos clientelismos instalados em torno da república. Todos os portugueses precisam de viver em consonância com os interesses da sua pátria, e não só os detentores de capital suficiente para mexer os cordelinhos conforme os seus pessoalíssimos interesses.
Ao que parece, na cerimónia apenas um republicano esteve presente para as celebrações do 5 de Outubro, porquanto foi o único "viva a república" que se fez ouvir. Dos que resistiram após 1910 pouca descendência há agora. Ou, havendo-a, provavelmente consideram que aquilo que a pátria por eles fez, não merece sequer uma saudação de manifesto. Talvez se não importem de ser espanhóis ou viver em realeza, desde que possam alcantilar-se num nível de vida superior aos seus merecimentos legais, laborais, culturais e cognitivos.
Todavia, insisto em crer que não deve ser bem assim... Muitos haverá ainda que consideram Portugal um país de passado, apto para resolver as dificuldades do presente e com sublinhadas potencialidades para construir o futuro, com dignidade, galhardia, liberdade e democracia.
É na barricada deles que eu estou. Não para excluir nem apontar handicaps, não para criticar pessoas mas comportamentos, não para sonegar direitos nem usurpar patrimónios, não para subtrair cidadanias mas para as reforçar, não para me apropriar do poder mas para incentivar à participação democrática. Dos que um dia cantaram "não, não sou o único a olhar o céu", sou dos que baixaram o olhar e resistem em querer ver a Terra. Torná-la ideal para quem supõe não ter outra casa possível. E habitá-la, conservando-a para que outros também o possam fazer.
Porque não é no "céu" que residem as nossas limitações, potencialidades e desejo de felicidade. É aqui – e agora.
Política não é jogo, não
É comum ouvir-se, da parte de qualquer político acerca de outro que defende posição contrária à sua, independentemente de saber-se a qual dos lados assistem a lógica, a sensatez, a lei e a razão, sobretudo se essas estiverem ausentes da questão e ser quase líquido não patrocinarem nenhuma da facções em "litígio de retórica", que aquele defende determinado conteúdo porque está a desempenhar o seu papel, assegurar os interesses do seu gang e a masturbar o cerebelo da sua claque. Repito: está a desempenhar o seu papel.
Ora, só por si, esta justificação é sintomática da esquizofrenia que graça no quorum político nacional, sobejamente evidenciado na discussão acerca da lei das finanças locais que o Prós e Contras da RTP1 nos ofereceu, onde a maioria dos enunciados, atitudes, posições, enquadramentos e discursos, ainda reportam à conjuntura da guerra fria. O desempenhar papéis é característico da visão de quem se mantém quotidianamente num palco de operações, exerce um destino bélico e responde perante uma disciplina que lhe é distinta da essencialidade, além de não corresponder minimamente à sua condição biológica. O desempenhar papéis é típico de quem actua, de quem representa, não de quem vive a problemática com autenticidade espontânea e empenhada, de quem estudou afincadamente o assunto, mas sim de quem faz de conta que é, quem pretende iludir e ludibriar; de quem está ou é profissional de teatro, de cinema, de moda, de espionagem, e anda de alguma forma ligado às artes histriónicas da loucura como do espectáculo, ou de quem apenas entende o bem nacional quando este lhe acrescenta avultado pecúlio narcísico e de numerário.
Mas a vida política não é nenhum palco. A política, se levada a sério, é uma estratégia humana de qualificar e tornar possíveis a optimização dos recursos e o reconhecimento das soberanias individuais em conjunção simbiótica com as soberanias nacionais, regionais, locais, continentais e globais. É a intercepção da Lei com o quadro de interesses gregários dum povo. É ciência e conjunção de ciências. Não é brincadeira de carnaval com mais ou menos reuniãozinha, mais ou menos jantareco que os media propagandeiam. Nem ao político é pedido que actue, que represente seja que papel for. É-lhe sim oferecida a possibilidade de assumir e edificar a objectiva sustentabilidade da comunidade que o mandatou, não por ser um louco egocêntrico, tal como foi delineado por Erasmo de Roterdão no seu Elogio da Loucura, obra em que explanou a tese de que a vida é o palco onde representam os loucos, mas sim antes o fiel depositário do poder e confiança colectiva. E os que votam como quem aposta numa corrida de galgos ou mete o boletim de voto como quem joga no totoloto, faz mau serviço à nação e dá péssimo contributo para a democracia, liberdade e bem-estar, quer seu, como dos seus familiares e concidadãos. Adultera o passado, atrofia o presente e inquina o futuro. Ou põe em risco aquilo que levámos séculos (desde Platão, pelo menos...) a conquistar: a racionalidade da república.
Daqui que ache que não devemos excluir-nos de qualquer debate da actualidade, principalmente se a propósito de temas que dizem respeito e têm influência directa com a nossa qualidade de vida, nomeadamente nos relacionados com a saúde, segurança social, educação, urbanismo, ordenamento do território, ambiente, reforma administrativa, identidade ibérica, inclusão e cidadania, aborto e regionalização. Porque, embora as convicções alternem, importa que a sensata razão fique e se mantenha...
Está presentemente aberta, até ao final do mês, a discussão pública sobre a Proposta de Rede de Urgências, elaborada pela Comissão Técnica de Apoio no Processo de Requalificação de Urgências, para a qual serão expressamente solicitadas a emitir parecer a Associação Nacional de Municípios, as câmaras municipais com pontos de rede, as Ordens dos Médicos e dos Enfermeiros, algumas associações de doentes e utilizadores, enfim, tudo corporações com justificado interesse no mercado/negócio da saúde. E embora o Ministério da Saúde prometa realizar reuniões de trabalho em todos os municípios e instituições que o solicitem, o que é certo é que a opinião de qualquer cidadão, mesmo daqueles que o ex-presidente da república acusa de pouco participativos na democratização do país, valerá ou contribuirá tanto para a colheita de melhorias da rede de urgências, acções complementares de acessibilidade e requalificação de recursos humano, técnicos ou materiais, como a água que choveu há 100 anos.
Em resumo: continuo sem perceber bem quais são deveras as intenções governamentais em pôr a debate um diploma sobre a reestruturação dos níveis de urgência (polivalente, médico-cirúgico e básico), se qualquer proposta que lhe aumente eficácia, qualificação e rentabilidade, desde que não advenha das corporações solicitadas, mais não será do que motivo de gargalhada para os gangs da soberania nacional, detentores dos mais variados poderes, incluindo do poder sobre o poder do Estado, uma vez que qualquer acção desenvolvida em termos de debate no tempo que resta nunca será significativa, como dificilmente estará concluída e pronta em Novembro, mês em que a Comissão Técnica a avaliará, a fim de ser introduzida no diploma a aprovar em Dezembro, provavelmente ainda na primeira quinzena, para não estragar o sossego das famílias que celebram o menino. Ou seja, tudo indica que no capítulo sanitário é mais fácil e proveitoso aos portugueses do interior irem socorrer-se e ao médico a Espanha, como já fazem significativamente em clínica geral ou especialidades, do que empenharem-se e discutir a alterações previstas para o sector, a não ser que pertençam aos grupos e bandos que sempre controlaram este negócio. Mesmo naquilo que é demasiado sério para depender simplesmente dum golpe de sorte, e faz com que o futuro se pareça com a taluda de Natal: sai sempre aos outros. Se, é claro, tiverem dinheiro para jogar e... saúde!
Aliás, quem conseguiria melhorar em 15 dias relatórios que levaram meses a elaborar por equipas técnicas vastas e conceituadas? Experimentadas? Parece que nisto das democracias também abundam as suas desigualdades ditatoriais: há sempre umas menos democratas que outras… E razões que até o coração desconhece!
Europa configura Agenda Verde
Não é de grande honestidade intelectual nem ética, invocar as promessas eleitorais como evidência e prova indesmentível de má governação, já que elas – as promessas – nunca deveriam ter sido feitas, muito menos acreditadas, ou se o foram não poderiam ser entendidas além de meros anexos de intenção, típicos exemplares cujo Céu é o inferno, que deles está cheio, faitdivers ilustrativos do discurso político sob o designo da propaganda, da trogalhice e da minagem do chão adversário com bombinhas de mau cheiro, que jamais foram sustentação para qualquer compromisso, por irrealistas como primárias, e estão fora do âmbito da política, sobretudo da responsável, séria, empenhada e consciente, sendo antes pertença do registo religioso da salvação talibanesca, fundamental, que graça tanto no universo islamita como no seu congénere católico, neste caso tão semelhantes na prática como nos resultados, nas causas como nos efeitos, uma vez que aos políticos não cabem os aleluias de salvar o mundo por milagre, nem serem os encobertos que hão-de surgir da treva do nevoeiro obscurantista, montados em equinas nuvens, mas sim elaborar planos, definir estratégias, apresentar projectos, realizar modelos de sociedade.
Aliás, servir-se a oposição das promessas que não deviam ter sido feitas em campanha para condenar (ou justificar) atitudes e decisões que têm de ser tomadas por um governo, independentemente do seu custo de (im)popularidade, é tão baixo e medíocre e impolítico quanto o governo utilizar os erros governativos do passado, desse ou doutro partido que esteve no poder, para se desculpar da sua ineficácia, incompetência, inaptidão e falta de jeito para lidar com as dificuldades do presente, escorando-se nos condionalismos de desarmadilhar heranças que lhe foram legadas por concurso voluntário, e se bateu por conquistar. Pelo que, não me atenho sem dar razão ao Ti Joaquim Gafanhoto, que nunca cursou academias nem frequentou os salões da libertinagem partidária, mas não se escusou de legendar um comício a que assistiu, usando a língua como habituado estava a fazer com a enxada, cavando a terra ou mondado nas culturas as ervas daninhas: "há que fazer mais política e menos botiço!!..."
Convinha, portanto, que se pusesse definitivamente cobro a essa maneira de estar na política pela imitação macaqueadora, como a da fazer sistematicamente daquilo que a outra facção defende, com que os partidos justificam o fazer de promessas incomportáveis porque os adversários também as fazem, temendo que estas lhe subtraiam os votos, audiência, fanáticos e bajuladores. Precisamente porque é essa a atitude que legitima a corrupção, no sentido mais lato dela, com que inúmeros justificam o aceitar dinheiro por fora, visto outros também o aceitarem, ou sendo nós, o aceitamos, pois se o não fizermos outros o aproveitarão por nós. O tempo não vai para tergiversões de chico-espertismos saloios de quem se quer dar bem com o mal dos demais! É necessário, por conseguinte, não só tomar tento na língua mas igualmente naquilo que se faz ou prol do quê e de quem. Mais de 80% das decisões governativas de qualquer país europeu, sobretudo daquelas que lhe tecem o enquadramento legal e normativo, que dizem respeito ao universo económico, estrutura social e vectores fiscal, segurança, ambiente e defesa, são tomadas em Bruxelas – e muito bem, que caso contrário, aqui jamais chegariam a ser contempladas, dado que os politiquinhos da arruaça e da capelinha lhe inverteriam os propósitos de forma a beneficiarem unicamente dos fundos, das esmolas, os seus egrégios, com a exclusividade costumeira, masturbando de tal forma as vírgulas e interpretações das leis, que por melhores que as medidas de facto fossem longe estariam de dar sainete. Como sucede actualmente com a legislação acerca das contas e financiamentos políticos, em que chegam ao cúmulo de justificar as irregularidades cometidas por falta de instruções e manuais de interpretação da lei, quando lhes foram desnecessários para o seu incumprimento... Ou será que o tiveram? Compraram-no no mercado negro a alguma editora das tríades mafiosas que publicitam o crime, os códigos deontológicos e de boas práticas para os cometerem, darem cobertura e gizarem as artes de contornar toda a lei sem ser apanhado? Leis que esses mesmos carenciados de manual fizeram e aprovaram? Até parece que se não acabarmos com isso, não irão ser esses(ss) isso que acabarão por acabar connosco!...
A eficácia energética, a determinação dos seus níveis e medidas, conforme foi decidido por Bruxelas, em 19 de Outubro deste ano, onde a Comissão Europeia (CE) apresentou o plano de acção com vista a fazer frente aos desafios sem precedentes colocados à UE no domínio da energia, no qual se inclui vasta gama iniciativas rentáveis em matéria de eficiência energética, designadamente acções destinadas a diminuir o desperdício nos electrodomésticos, edifícios, transportes e produção de energia, é igualmente uma das preocupações portuguesas da actualidade, não porque a oposição ou o governo se tenham debruçado sobre o assunto, não porque os economistas e decisores da coisa pública se comovam com as nossas dificuldades e carestia da energia, não porque estejam compungidos pela gestão do sector e consequente aquisição de licenças de emissão de CO2, o consumidor confronte com aumentos progressivos de 8 para 16% da electricidade, mas sim porque na Europa se sabe os efeitos dos 20% de energia desperdiçada, e de como a economia da energia pode contribuir na evitação das alterações climáticas, do crescente consumo e elevada dependência dos combustíveis fósseis importados de países terceiros, ou de fora do espaço continental. Andris Piebalgs, responsável pelo sector energético da CE, não dúvida que a "eficiência energética é essencial para a Europa: se agirmos já, o custo directo do nosso consumo poderá ser reduzido em mais de 100 mil milhões de euros até 2020 e evitaremos também produzir cerca 780 milhões de toneladas de CO2 anualmente." Este plano de acção por-se-á em prática durante a próxima década. Convinha, portanto, que o botiço partidário fizesse intervalo no jogo retórico de baixo ventre, e se preparasse sim, para concretizar a Agenda Verde que nos há-de "iluminar" o futuro em ca(u)sa comum.
É que nesta agenda pode muito bem não figurar o calendário das eleições vindouras, nem as fórmulas mágicas de cozinhar os seus resultados, mas configura-nos o devir e sua qualidade, com inúmeras normas mínimas de rendimento energético que nos ajudarão a reforçar a competitividade, melhorar o nível de vida, dinamizar o emprego, aumentar a exportação de tecnologia e harmonizar o ambiente e estabilizar a ecosfera!
Viv'ò tinto e a sardinha assada!
Afinal, a revolução ainda nos reserva algumas surpresas...
Conforme brevemente noticiou o jornal Público, de 01.11.2006, «um em cada quatro jovens em todo o mundo, cerca de 300 milhões de pessoas, vive abaixo do limiar de pobreza, segundo um Relatório da Organização Internacional do Trabalho». Não é grave, dirão alguns – provavelmente a maioria. Bem pior seria se fossem um em cada três, cada dois ou cada um. E melhor fora, sem dúvida, para se não constatar a vileza de em cada quatro jovens estarem-se três sumariamente rindo do outro que não tem emprego, felicíssimos da vida, escarnecendo e nas tintas prò que sobra. Mas diz mais a referida notícia: acrescenta que a população juvenil cresceu 13,2%, posto que a percentagem de desempregados nessa faixa etária terá aumentado em 14,8%. Ou seja, a continuar assim, que perspectivas se nos põem num futuro não muito distante? Que só devem ultrapassar a adolescência os indivíduos que tiverem pais ricos, a quem saia o totoloto ou queira ir prò BES (Bando de Excluídos da Sociedade)?...
É, portanto, de supor, que pelo menos na miséria e/ou desemprego a almejada Igualdade da trindade da Revolução Francesa, esteja prestes a concretizar-se. O TODOS FAMINTOS, TODOS IGUAIS pode muito bem passar a servir de slogan para novas reivindicações humanitárias – com ou sem ó-NU. (Salvo seja!...) O que, obviamente, retira um terço de razão aos que dizem, quiçá mal-intencionados e pessimistas, que os ideais revolucionários da francofonia nunca nos atingiram, nem por tabela, sequer, foram minimamente conseguidos!
O facto seria apenas globalmente absurdo, não tivéssemos nós, os portugueses, o característico apêndice de raramente aquilo que é bom, no plano global, nos calhar, e o mau, impreterivelmente, nos atingir multiplicado pelo factor da crise crónica que padecemos – aí ò ai, 1385 à vista!... –, sem qualquer almofadado para aparar os choques, visto que tivemos o desplante de implantar a República sem jamais termos implementado a cultura republicana, assim como instaurámos a democracia sem nunca fomentar activamente a cultura cívica e democrática, que nos socorressem e agregassem colectivamente para o superar das dificuldades sócio-económicas e conjunturais. Preferimos sempre o milagre para nos compensar das surpresas, quando não é Fátima é o mundial de futebol, quando não a Europa o sol e praias, a pensar nos problemas e agir em conformidade, cuidando mais ou menos para que as orgias corporativistas se mantenham, com seus aleluias evangelistas e romarias ao obscurantismo folclórico, entre deuses e álases de espremer o fado severino.
E destes, sobretudo nós, alentejanos à beira-Alqueva plantados, atirando para as calendas gregas planos e projectos desde que não tragam dinheiro imediato para distribuir pelas sempre mesmas corporações, que o gastam invariavelmente em coboiadas, adiando Agendas 21 Locais com igual galhardia com que nos lamentamos sobre o fecho de unidades fabris, por sinal aqui instaladas quando o cluster automóvel já agonizava em mais férteis pastagens. Com surpresa, é claro. Que para isso, para nos deixarmos deslumbrar e surpreender, estamos sempre prontos – e de sardinha assada!
Surpresa essa, aliás, que se renova com As Grandes Opções do Plano para 2007 que, no ponto 2 (Promover a Eficiência do Investimento e da Dinâmica Empresarial), da 1ª Opção (Assegurar uma Trajectória de Crescimento Sustentável, Assente no Conhecimento, na Inovação e na Qualificação dos Recursos Humanos), do Capítulo II, elege o reforço do cluster automóvel, numa hitleriana promoção do Wolkswagen, bem como na criação de mais um mono administrativo de adensamento do défice: o Centro de Engenharia do CEIIA – Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel. Outro petisco que nem já os EUA engolem. Mas com a mesma promessa de pão, tinto e sardinha assada, que assistem a todos os casamentos sem projecto comum definido e que, normalmente, após terminarem em litígio, leva ambas as partes e reconhecer como recompensa e acto de contrição: ah, até que foi bom enquanto durou!
Visto que é de surpresa em surpresa
Que ainda se descobre o surpresar,
Ao estender as velas sobre a mesa
De novos rumos, mas em antigo remar!
Ela por elas ou, língua por língua, a melhor é a estufada
Há quem pense, ou diga que pensa, visto estarmos prestes a tornarmo-nos mais um povo de ventríloquos mentais que pensam num idioma mas se expressam noutro, a quem só dão crédito as crianças, masoquistas e tontos, autênticos bonecos de macaqueação das variedades e espectáculos do mundo, que isto de termos nascido portugueses foi uma grande sorte. Depois, vai-se a ver, não há mal que não nos chegue, e todo o azar, má fortuna, dor ardente que a vida nos reserva e consagra, foi desse facto que adveio e, essencialmente, nos transformou nuns estrangeirodependentes sempre à espera das palminhas, amendoins e bolachinhas dos camones e seus capangas. Principalmente porque ninguém desconhece que língua, por língua, a melhor é a de vaca (e estufada, se possível for). Porquanto tanto faz virem-nos com programas televisivos e planos nacionais de leitura, o resultado é sempre invariavelmente o mesmo, já que de cuidados e intenções andam os miseráveis cheios, e das boas nem se fala, que no inferno são aos pontapés e na gramática nos batem pelo joelho – ou mais acima um bocadinho, com'à maré dos mexilhões. Que isto é um ela por elas que aí vai, trocando-a por duas ou três das alheias, galardoadas e autorais, como de comum são as galinhas dos demais e vizinhas, que além de porem farto e darem "pão", enfim igualmente nos darão, melhor sorte e visão, assim como lente de aumentar, tipo pensar global agir global, mais um comprimido da família do Melhoral, que se à economia não fizer bem, às empresas também não fará mal.
Ora, se por cá, no torrãozinho lusitano, o ensino das línguas estrangeiras vai de vento em popa, sobretudo do inglês, cuja oficialidade foi recentemente reforçada pela sua inclusão curricular no 1º Ciclo, o que é certo, é constar que o ensino do português no estrangeiro, se pode apelidar daquilo que a geração do botas chamava normalmente de uma cagada em três actos: é a fingir, sem condições e mal paga (ou a desoras). À semelhança das famílias de bestas, espécie de animais afidalgados, com nome a defender e honra feita, coisas que não valem absolutamente nada e as mais das vezes foram inventadas sem substracto verídico, mas pelas quais são capazes de matar os próprios filhos para fazer ver aos bacocos, que apaparicam, como são impolutas e esforçadas, género família sempre óptima, fantástica, porreiríssima, maravilhosa e generosérrima para os filhos das alheias, mas vis, brutais e selvagens quanto aos seus, os professores de português em França, Inglaterra, Luxemburgo, etc., – quais fitipaldis da modernidade, com mais e melhor experiência em condução automóvel do que de leccionação e pedagogia –, são obrigados a deslocar-se centenas de quilómetros entre uma aula e outra, dentro dum universo educativo onde há inúmeras turmas sem professor e elevado número de professores sem horários completos, atrasos nos pagamentos dos salários, docentes esses que se endividaram para se poderem deslocar aos países onde exercem os seus misteres, nomeadamente o de servirem de explicadores para as matérias científicas dos currículos aos filhos dos emigrados nacionais, sob recomendação da escola em que leccionam, no sentido de lhes explicarem em português os conteúdos dessas disciplinas, em vez de lhe darem o programa estipulado, as noções fundamentais e básicas relacionadas com a língua portuguesa, sua especificidade linguística, gramatical, literatura, história desta e seus autores.
Ou seja, creio haver uma explícita intenção da parte da oficialidade nacional em extinguir o português do globo terrestre, exterminar os portugueses ou demais pessoas que o falem e escrevam, diluir a identidade portuguesa na Península Ibérica a ponto de sermos confundidos com qualquer outra província espanhola – mais do que já somos!... –, bem como fazer mudar para o estrangeiro (exilar) todos quantos se oponham a tais intenções e propósitos, como sucedeu com José Saramago, que saltou para as Canárias onde as cinzas vulcânicas são pouco férteis, mas não fazem tanto mal à cultura como as nossas pardas sapiências ministeriais. Não obstante haja quem se pergunte com acuidada insistência «então, para que é isso dos Institutos Camões e CLPs, dos folclores desportivos da lusofonia e prémios Camões, campanhas de marketing e certames de dar a conhecer os calhaus amuralhados e as nevadas escarpas viriatas?» Bom... Todos sabemos como são lestos a acreditar e lerdos de espírito, os ingénuos, que insistem em confundir realidade com manipulação, fé e convicção com pensamento, propaganda com projectos, estratégias com viagens, conhecimento com ter ido à escola durante 17 anos!... Acima de tudo, porque a resposta é simples, tão simples que cabe em quatro sílabas: para nada. (Além de oportuna justificação para a malta da galhofa orçamental se juntar a beber uns copos, atestar a tripa com iguarias regionais, deslumbrar-se com as maravilhas das moçoilas de torna-viagem e servir de boneco (papagueante) para reportagens de campo e peças de telejornais, claro está. Ou tinto... Que para acompanhar a língua, ainda não há pai!)
Cá por coisas e ... Vai buscar!!
Cá por coisas que me fazem espécie, ninguém me tira da ideia, embora existam outras mais complexas e engenhosas – logo, exponencialmente suspeitas e na razão directa do seu crescente grau de complexidade –, que a única maneira de todos ganharmos melhor é consequência imediata do também todos contribuirmos mais para o bolo colectivo, se este acrescento implicar igualmente uma distribuição da riqueza nacional mais justa, justificada pela responsabilidade e consciência sociais, compatível com os diferentes níveis de emancipação institucional ou individual, bem como administrada com competência profissional, observância legal, transparência política e processual, clareza de objectivos e prioridades, rigor financeiro e contabilístico. Quer no domínio da coisa pública, como no da privada. Aliás, a receita é conhecida, o resultado desejável, a variação necessária, a apresentação conveniente, o serviço espontâneo e confiante, para que se não percam aqueles gostinhos e aromas peculiarmente europeus e mediterrânicos, nem o molho da globalização azede (ou deteore) o prato. O acompanhamento é o costumeiro "haja moral" e o q. b. advém da frugalidade dos tempos, que requerem o sal da sensatez, sem descurar os condimentos da qualidade de vida, etiqueta ambiental e pertinaz sustentabilidade. Os ingredientes devem ser genuínos, livres de OGM's, nem cultivados na sua proximidade, cumprindo escrupulosamente as normas de comercialização, dentro das exigências de segurança alimentar, acondicionamento, higiene e qualidade, e os modos de preparar ou recomendações de uso, embora sendo as habituais dentro da psologia gregária da época, devem ser sempre formatadas pelas bulas legislativas, económicas, conjunturais, ecológicas e culturais na interpretação do real, e elaboração dos diagnósticos conforme as ordens cognitivas instituídas ou segundo os preceitos enunciados nos manuais de ensinança credenciados. Para evitar dissabores (e tergiversões). Ponto. Taxativamente.
No entanto, e por outro lado, diz quem sabe, em notícia corrente, que os EUA não planeiam subscrever o Protocolo de Quioto tão depressa, precisamente porque, como elucidou Harlan Watson, na abertura da conferência anual da ONU, em Nairóbi, a decorrer até dia 17, não tem qualquer indicação que haja mudança de posição durante o actual mandato presidencial – que é o de G.W. Bush e só termina em Janeiro de 2009, como bem nos recordamos.
E daí? Onde está a admiração? Aquilo que a observação nos dita, é que, com ratificação ou sem ela, nenhum país conhecido, que poucos serão é óbvio, pois pelo que ganho nem ao dos caramelos me afoito, será isso de somenos, porquanto aqueles que se prontificaram em ratificá-lo mais ligeiros ainda foram em fintá-lo, tentando contorná-lo pela compra de licenças de emissão de CO2 aos que lhe sobrassem, como na criação de meios complementares e fundos "mágicos" adicionais, para elucubração de poções hipotéticas, preferindo pagar mais para poluir menos, em vez de poluir menos para receber mais e pagar melhor, que ainda é a única fórmula existente, até hoje conhecida por catedráticos e plebeus, deputados e gentios, de garantir a coesão social e a sustentabilidade das nações, mesmo das que não valem sequer dois mil réis de mel coado enquanto tais, ou estejam circunscritas, integradas, comprometidas e federadas em unidades territoriais, militares, estruturais e económicas de ordem superior, como é o caso de Portugal com a União Europeia.
Pelo que importa não esquecer que, como foi recentemente alvitrado por responsáveis governamentais para a área do Ambiente, o nosso governo está abalizado para entender as questões ambientais europeias e agir em sua consonância, quando estivermos na presidência da UE, visto que cumprirá Quioto e para tal já tomou algumas importantes medidas, nomeadamente o reforço do quantitativo – cuja dotação inicial é de 6 000 000 de euros... – do Fundo Português de Carbono (Decreto-Lei nº 71/2006, de 24 de Março), tipo aumento de mesada quando o puto começa a portar-se mal e nós não sabemos porquê, que no dia 9 deste mês foi complementado com o Regulamento de Gestão do Fundo Português de Carbono (Portaria nº1202/2006). O que, dito assim, até parece coisa séria, compreensível, honesta, competente e eficaz...
Todavia, muito ficou por dizer e o dobro por provar, considerando que este fundo, concebido e previsto pela Resolução do Conselho de Ministro nº 53/2005, de 3 de Março, que aprovou o Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão (PNALE), não tem por objectivos únicos cumprir e contribuir para o cumprimento das metas estipulados no Protocolo de Quioto, mas sim, e fundamentalmente, influenciar o investimento futuro de forma a ser contemplado pelas verbas europeias, além e propiciar contorná-lo da maneira mais onerosa que se conhece para o efeito – pagando. E pagando-o às ordens da Comissão para as Alterações Climáticas (CAC) a quem compete identificar projectos de investimento que se traduzam na obtenção de créditos de emissão, ou em redução de emissões quantificáveis de gases com efeito de estufa (GEE), sob critérios de racionalidade económica e de articulação com as políticas sectoriais nos capítulos do ambiente, energia, agro-florestal, transportes e cooperação internacional; estabelecendo relações institucionais e garantindo a concretização potencial de redução de GEE, consequência dos investimentos do Fundo, efectuando os devidos registos. Sem que se saiba como. Nem com que regras, conceitos, prioridades, tabelas de avaliação, instrumentos e métodos. Apenas fé.
Ou seja, o dinheiro continuará a escoar-se-nos das mãos como água, entre os dedos, instituições e organismos do poder, sem nada aparecer concretamente feito, para que tudo fique na mesma, os problemas locais, regionais, nacionais e globais se mantenham, as soluções propositadamente sonegadas, embora que por outras vias. À semelhança dos prédios velhos com problemas nas fundações e estruturas, a quem pintam de novo a fachada para parecerem restaurados e recém-edificados... Que depois exibirão nos media. E nós abocanhamos, quais perdigueiros bem treinados após ouvir o tiro sobre a perdiz que já vinha a cair, ferida de morte, acreditando e obedecendo à ordem de «vai buscar!!», iludidos e desconhecendo que o chumbo espalhado no ar, não acertara em ave nenhuma.
Da agulha e do dedal: alinhavos, pontos, bainhas, pospontos e remendos
Se, quanto ao Orçamento de Estado (OE), a esquerda – radical, segundo alguns, ou revolucionária, na perspectiva de outros –, como para a sua congénere de direita – católica, conforme alguém diz na praça, ou nazista, como a classificam aqueloutros –, é mais ou menos líquido, tanto pela parte protagonista, interveniente, como pela opositora, que é necessário assegurar significativamente o crescimento económico por volta dos 3%, definir prioridades perante a escassez de recursos, quer humanos, técnicos ou naturais, incluindo os que reportam aos da massa crítica e do conhecimento, bem como concretizar políticas sociais que reduzam as desigualdades, fomentem a participação democrática, subam os níveis de produtividade, estabeleçam patamares de satisfação e de cidadania continuamente crescentes, em todos os sectores, nomeadamente nos serviços, saúde, educação e indústria, o que é certo é que ninguém está de acordo quanto à maneira de conseguir, calculando-se que haja maior unidade sobre os malefícios do tabaco do que sobre os benefícios deste OE, que prima no em tudo cortar sem em nada acrescentar.
Os Cavaleiros da Prosa
Dizem que há mundos em vez de mundo – coisa que desconhecia em absoluto, que é como quem diz, se bem os conheci, melhor os esqueci, aos mundos e às coisas, como é bom de ver e entender, como provam aqueles para quem meia palavra basta (e sobeja) – e, pior ainda, que guerras há entre eles, umas grandes e outras pequenas, umas espectaculares e outras ocultas, umas frias e outras virtuais, além das alucinadas e paranóicas, que tidas e havidas trouxeram os seus vitoriosos para o limbo dos afamados e daqueles que se foram da lei da morte libertando, como quem se impõe teimando em ficar quando tudo e todos lhe indicam que se vá, indiferente à lógica e fazendo orelhas moucas pràs evidências, torcendo as ventas ao destino e porfiando das ordens, tanto das divinas como médicas, quer das espirituais como das materiais, das financeiras como científicas, económicas ou filosóficas, de caturrice como de falta de imaginação, de desinteligência como de mandriice cerebral, mas principalmente das químicas e farmacêuticas, desfeiteando os diagnósticos com o mesmo descaramento com que o fazem aos efeitos, destacando das posologias apenas os sintomas que mais lhe convenham, condicionando os resultados das terapias conforme as necessidades da propaganda, estabelecendo patamares de negociação com a morte que a fragilizam, a desacreditam aos olhos da vida, a desdizem, a obrigam a reconhecer que já não é o fim da linha, que para lá dela há outras vidas, outras naturezas, outras posturas, demais visões do universo e, essencialmente, tantas teorias da vida quanto os universos em que ela se revela. A novidade chegou-me via H. G. Wells, facto que o Orson aproveitou para se celebrizar, fazendo engarrafar o trânsito americano, cujos provincianos transidos de medo no supra-sumo da sociedade de produção andavam sequiosos de consumir tudo que os consumisse, sobretudo o terror, o pânico, a fome, a esperança, o sonho, a ilusão, a xenofobia, o racismo, o especismo, o sexismo, a desenfreada competição por tudo e por nada, mas acima de tudo para ficar por cima de todos a qualquer preço, nem que para isso se tenha que matar, omitir, mentir, ultrajar, humilhar, enganar, sodomizar, violar, corromper, galardoar, enaltecer, elogiar, provar, desenvolver teses inauditas quanto insuspeitas, pejadas dos argumentos e sofismas que ainda hoje terçam as armas da razão vitoriana afidalgada pelos rococós do jesuítismo, que protelam a sanidade gregária em favor do expedicionarismo corporativista, exibindo as vestes como armas num cruzadismo insolente, hospitalar, templário, subscrito pela moralidade saqueadora e justificada pelos índices inquisitatoriais e códigos secretos dos malteses e arruaceiros, blasfemos e difamadores, como hereges que se abrigaram no seio das religiões para melhor exercer a sua heresia e sem perigar na denúncia, eis que se preparam uns para dizer que SIM e outros dizendo que NÂO, pondo Hipócrates à cabeça, esquecendo que não pode haver leis superiores à lei, ou que dentro dela a contornem, a não ser que queiram Estados dentro do Estado, nem práticas de defesa da vida que a ultrajem e usurpem, em nome de um código deontológico que apenas a actualidade contempla na exacta medida daquilo em que a legalidade se ausenta. Embora nenhum deles engravide ou assine com as dores de parto um compromisso de sobrevivência, educação e qualidade de vida do ser nascente. Simplesmente porque são guerreiros e precisam de uma cruzada, uma peleja, um torneio, em que possam exercer o seu mister de matar em nome de algo, seja do que for, não importa se racional, se legítimo, se os seus contrários, mas porque dizer não dá direito a julgar, quando sim apenas o de compreender. E as mulheres, o que querem? Compreensão ou julgamento?
Dizem que há mais mundos... Seja. Mas não tenhamos ilusões: assim que este acabar, dificilmente encontraremos um cocheiro disposto a transportar-nos para outro sob a tabela de preços deste. São uma classe estóica e sensata, mas duros e intransigentes no preçário das corridas. Além de eficazes, aliás de muito eficazes, nas cobranças.
Prenda de Natal ao cantar do galo: Central Nuclear em Nisa (com anúncio e missa)
Todos sabemos que vozes de burro não chegam ao céu, assim como a verdade não atinge quem vive na mentira, não lhe toca nem afecta, não comove nem modifica, coisa a que nem sequer aspiram, pois asno que é asno vive muito bem com aquilo que tem, ou não tendo rouba, principalmente o que de todos é, já que quanto da generalidade for seu também será, considerando que o inclui, dela é parte, nela se integra e adapta, sobretudo numa Terra em que muito bem vive, onde tem honrarias múltiplas, ração da melhor, óptimos tratos, reconhecimento público, oração e crentes, cómodos principescos e, ao contrário do puxar da carroça que lhe caracterizou a alma e o ser, é ela que o transporta agora da inutilidade que habita para o supérfluo que anseia, conforme os designos do seu vazio interior e quotidiano que lhe entretecem a teia de complexos em que se alcantila. Além de não precisar de se importar com nada, absolutamente nada que fora do ponto esteja, sobretudo com o cumprimento da lei, de que escarnece aplicando-a aos demais mas nunca si, ou não lhe servindo os particulares interesses a reforma, a revoga, modifica, altera, adapta à modernidade, que é uma – outra!... – palavra que inventaram para definir a sua preguiça mental e falta de tacto, incapacidade de compreensão e respeito pela vida, dos outros como do planeta, do espírito (logos) como da "casa" (do grego oikos), a que se acomodaram parasitariamente.
Do que resultou estarmos mais ricos mas não estarmos menos pobres. Dos 17 pontos fundamentais da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, adoptada na Assembleia Nacional Francesa, em 26 de Agosto de 1789, afirmavam o II (o objectivo de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem; estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão) e III (o princípio de toda a soberania reside essencialmente na nação; nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer que dela não emane expressamente), que o poder só pode ser poder enquanto estiver ao abrigo dos interesses particulares no exercício associado da liberdade, especificada mais adiante, em consonância com a lei, que é a expressão da vontade geral, posto que esta nunca se poderá – nem deverá – confundir com a vontade da maioria, independentemente da sua circunscrição aos partidos políticos e movimentos de opinião. A Europa, o continente amadurecido e determinado que evoluiu a partir de então, expandiu-se e iluminou o mundo como um facho na noite escura, tornou novos os velhos sonhos, abriu as almas à claridade da ciência, da civilização e da cultura, garantindo ser a maior fortuna da humanidade.
Mais tarde, em 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia-Geral da Nações Unidas aprovou esta declaração de princípios como apontamento de governo do mundo, fazendo notar como do seu cumprimento dependeria grandemente a sobrevivência da humanidade, reafirmando que para os homens livres a liberdade consiste em poder fazer tudo excepto o que prejudica outrem, coisa provavelmente desconhecida para os promotores da construção duma central nuclear em Portugal, nomeadamente Patrick Monteiro de Barros e Pedro Sampaio Nunes, que insistem em considerar a sua viabilidade em Janeiro próximo, não obstante o governo português ter recusado esta opção energética, conforme divulgou o Diário de Notícias, de 27 de Novembro, numa peça de Ana Suspiro, e em que se adiantava que uma das localizações possíveis da dita central seria no concelho de Nisa, resvés à nossa porta, pondo-nos um Chernobyl dentro de casa sem nos perguntar se o queremos, à nossa revelia, contra nós e contra a região, em observância exclusiva dos seus interesses corporativistas, necessidade e ganância, egoísmo e fortunas particulares, fazendo letra morta do documento basilar da nossa ocidentalidade europeia, tentando apagar o compromisso social que a sustenta, violando-lhe os princípios essenciais, empobrecendo-nos terrivelmente para que assim possam ficar, raros e poucos, bastante mais ricos.
E o que vem realçar a verdade incontestável, desde 1789, pelo menos, que a humanidade não tem falta de leis, o que vão é sendo cada vez menos aqueles que as cumprem. Quem lucra com uma central nuclear em Nisa? Nós? A Humanidade? A Europa? Só se for a dos animais dos presépios, que se empanturram com a palha onde queríamos deitar os nossos meninos – e do mundo, que mesmo aos que de si exclui, lhes entra continuamente pela porta adentro. Com lacinho e papel lustroso. Porque é Natal.
Ou faz com que nos não surpreendamos com os jornalistas quando, ao fechar da peça de apresentação do I Plano de Acção para a Integração de Pessoas com Deficiência ou Incapacidade, no telejornal, referem que este I PAIDI "foi apresentado. Veremos agora como vai se concretizado", numa rima de quem está já tão habituado à poesia planetária que até verseja sem querer. Outra riqueza das grandes, pois a quem perdeu há muito de vista as coisas, os valores, os princípios e as ideias, andam-lhe de sobejo as palavras que apenas valem pelo som. Os plins, tilts, clics dos materiais sonantes, dirão alguns!... (Para não destoar.)
Nuclear: Bhhrrraaa!!...
Além de comunicar, entender, saudar, apresentar, esclarecer, em democracia é preciso falar. Falar de tudo e de coisa nenhuma, falar por falar, quer para escutar como para desabafar, para se fazer notar, chamar a atenção, pedir colo ou afastar inconvenientes, estipular directivas como alinhavar sonhos, definir palavras ou intenções, gizar planos e agendas, entabular estratégias e avaliar resultados, condimentar oportunidades e alterar percursos, formar opiniões e conceitos, desmontar tabus ou preconcebidos, analisar factos como criá-los, inventar a realidade ou subscrevê-la, tomar posições como desacomodar instituições, pôr em relevo os porquês, os quandos, os ondes e os por ou para quem, das coisas como das ideias, das leis como das necessidades, dos privilégios como das ousadias. Porque é legítimo discordar até acordar. Assim como em 50 milhões de anos da espécie, ainda se não descobriu melhor medida profiláctica para o amuado ressentimento, nem para o macaquear primata das acções-reacções com que nos entopem o cérebro. Pois é principalmente por isso que a democracia não é nenhuma ditadura, independentemente do trabalho, inteligência e abertura que esse diálogo acarrete, dos dissabores e contratempos que a negociação acrescente ao dia-a-dia, substituindo as resoluções corporativistas por autênticas soluções dos problemas (e das sociedades, se conflituosas forem).
Desde a Tomada da Bastilha, cujo significado foi eleito como o segredo do progresso e alma de todas as revoluções, mas sobretudo génese ou bases fundamentais que balizaram a Europa contemporânea, tal e qual como dela nos apercebemos actualmente, com ou sem Tratado Constitucional que a consubstancie num todo homogéneo, uma vez que as nações que a compõem subscrevem A Declaração Universal dos Direitos do Homem, que em si mesma é a essência dos superiores interesses continentais, no que à cultura da liberdade, do desenvolvimento, da ciência e do conhecimento, da tecnologia, da civilização e da cidadania dizem respeito, não só instituiu o sistema democrático, a liberdade de expressão, a tolerância e o direito à diferença, o Estado social e o reconhecimento pela dignidade humana a nível planetário, mas também consolidou as línguas como impérios existenciais que colmatam a estrita significação individual e regional da consciência humana. O referendo, de âmbito alargado, é assim, grosso modo, o principal instrumento da fala colectiva e a maior revolução gerada e amamentada por Marianne (Delacroix), imagem corpórea do espírito republicano derivado da Liberdade greco-romana, cuja figura feminina de seios (tão sensuais como resolutos, férteis como maternais) descobertos empunhava na mão direita o ceptro da justiça e do poder, na esquerda o barrete dos escravos frígios e a seus pés tinha um gato, animal felino que tem tanto de dócil quanto de assanhado, se aprisionado for. De poético como prosaico. Ícone do idílio como do pesadelo, da ode como do vitupério. E que para mim é a suprema encarnação da fala...
Portanto, importa dizer agora que nunca verei a energia nuclear como agradecimento de SIM ou de NÃO, se este não resultar de um referendo que equacione os superiores interesses nacionais e europeus, porquanto Portugal não está preparado nem professa a cultura da competência suficiente para viabilizar a construção de qualquer central nuclear no nosso território, sem que esta não seja uma autentica bomba atómica que ao mínimo deslize nos expluda dentro de casa. Quer a localizem em Vila de Rei como nas Berlengas, nas Selvagens como em Freixo de Espada à Cinta, em Coimbra como no Porto, em Lisboa como na Cova de Santa Iria, no Algarve como na Ilha Terceira. Porque o país não está capacitado para tal sem fazer perigar o mundo com a sua existência; não está suficientemente desenvolvido em termos civilizacionais, de recursos técnicos e humanos, de cidadania, culturais, republicanos e éticos; não se encontra democraticamente amadurecido, nem emancipado dos sectores económicos, corporativistas e religiosos; além de deixar muito a desejar nos capítulos da responsabilidade social, quer quanto à suas franjas e faixas etárias, como em termos globais, cognitivos e gerontológicos. Nem legislativos. Além de se encontrar nele instituída e generalizada a corrupção.
Se não, vejamos. Em que vertente, em que sector, é que o país, actualmente, funciona bem, e não tenha dado bronca no passado próximo? Urbanismo e Ordenamento do Território? Bhhrrraaa!!... Ambiente e Obras Públicas? Bhhrrraaa!!... Indústria e Tecnologias da Informação? Bhhrrraaa!!... Transportes e Comunicação? Bhhrrraaa!!... Desporto? Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Educação e Ensino Superior? Bhhrrraaa!!... Artes e Cultura? Bhhrrraaa!!... Emprego e Segurança Social? Bhhrrraaa!!... Sinistralidade Rodoviária, Alcoolismo e Droga? Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Segurança e Administração Pública? Bhhrrraaa!!... Autarquias? Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... E é melhor ficar por aqui, para não aborrecer os ingénuos!
Ou seja, permitir que um país onde mais de um terço da população não sabe separar o lixo, não se limpa nem cuidam das florestas, viola e esbofeteia os seus filhos, não conseguem impedir que as crianças fujam das instituições e abrigo de acolhimento, encarcera e espanca deficientes, desconhece as vantagens dos transportes públicos, é preciso escreverem-se livros sobre ilegalidades para que elas sejam averiguadas, não cumpre Quioto, nem alcançará os seus objectivos em 2010, disponha de equipamentos nucleares e centrais dessa energia, é não só um crime como uma inequívoca certidão de óbito a grande parte da Península Ibérica, com respectivo alastramento à Europa e ao Mundo.
Porque num país onde graça o criancismo não pode haver armas letais, porquanto é certo e sabido, que com estas não se brinca. Nem com a vida dos outros. É que morrer por morrer, a cada um pouco monta; mas o pior, é quando isso sucede àqueles que amamos... Bhhhrrrrrraaaaaaa!!!!!!...
E é, ou não, a falar que a gente se entende?
Do sentimento dos bichos: em acto, espírito, credo e tradição
(Conto de Natal)
Ao amor, não dá grande espaço de manobra, quem afugenta cão que não morde, asperge gato que se enrola a seus pés, rasoira com chumbo os pedrouços onde trina a cotovia, que vertical se erguerá cabriolando o voo, repicado de piruetas, pipilando desafios aos verbos celestiais, infringindo o sossego e quietude ronceira da vegetação anainha, que resguarda e acolhe a vida miúda como fornece alimento às sagacidades maiores, ou enfeita de flores os montículos, mouchões e tufos da pradaria.
Lembro agora, que quando saía de casa, manhãzinha cedo, as giestas gotejantes ainda de orvalho, as folhas das oliveiras tremeluzindo no azul do céu, como peixes de prata, imitando seu ondular sob as brisas espertinas, o canivete no bolso e a sachola ao ombro, para recolher neste ou naquele morouço, desta ou daquela marrada, daqueloutro outeiro ou recanto de linda, os espargos tenros e noviços das espargueiras bravas, que mais tarde minha avó me confeccionaria com azeite, miolo de pão e ovos, das galinhas espavoridas que corriam diante respigando insectos estremunhados, debicando gramíneas ou esgaravatando canteiros, confesso que eu, chamando pela Carriça que me acompanharia na expedição às cercanias do Monte, não desconfiava sequer que esse jeito de crescer daria qualquer resultado, ou futuro, além do que convinha de imediato para me baldar aos TPC, que a professora marcara para as férias, tudo à dúzia e meia, dezoito cópias, dezoito redacções, dezoito verbos, dezoito problemas, dezoito desenhos, como vingança pelos igualmente dezoito dias de gazeta que o Natal concedia, como descanso dessa teima que era ensinarem-nos coisas a que não percebíamos a mínima utilidade ou préstimo.
Devia ser tão viciada na caça, a Carriça, quanto eu, na miolada de espargos. Daí o entendimento entre os dois, a simbiose, a sub-reptícia aliança que nos ligava, na devoração de vegetais, pela minha parte, e no acossar de felinos, pela dela. Porque se dentre coelhos e gatos, para acometer, tivesse que optar, eram os segundos que lhe levaria à palma, expectativa e luta, bem como satisfação... E nunca tive dúvidas, que mesmo coelho perto e gato longe, um passarinho na mão ou dois a voar, ela partiria sim, à desfilada, perseguindo o distante último. Tipo arrebatamento de paixão. Logo, que não há como explicá-lo, por mais que se tente e adiante.
A sachola servia-me, quase exclusivamente, para cortar as espargueiras, que prestes rebentariam com multiplicado vigor e incontáveis, quão preciosos, espargos. A cadela, essa finória das tradicionais caçadas, que curiosamente não ladrava nunca, se no encalço de presa, perseguindo a peça, ligeira corria, pois antes latia com gemida verve, e se esganiçava numa espécie de grito orgástico, intermitente e impulsivo, como quem usufrui de enorme prazer, cirandava normalmente em redor de mim, batendo matos, inspeccionando rumas pedregosas, fisgas entre rochedos, escarafunchando silvados, espiolhando covis e covas, farejando rastos recentes, na endiabrada retouça de quem faz o que gosta e é valorizada por tal. Além de consciente, sobretudo, do quanto me deliciavam as suas incursões e escapadelas ao código venatório, refrega rústica de entretecer a actividade física com a pesquisa, procura e descoberta, esforçada busca aliás, de levantar viventes ocultos dos bárbaros matagais, não raro ficava parado e quedo, absorto, esquecido de mim, a observá-la.
Pois foi num desses momentos, no eis se não quando que interrompe a deambulação sonhadora, com aquela imperiosidade do presente que empresta aos sentidos, todos eles, a atenção redobrada das ocasiões imprevistas e excepcionais, que desembestou em correria ladrando, de um cabeço fronteiro, o rafeiro alentejano dos vizinhos novos, rastolhando na vegetação em aguerrida azáfama, sob o intento de abocanhar a vítima da sua predilecção, no encalço de um gato preto, ainda não adulto embora, pelo tamanho e genica, próximo disso me parecera, porém absolutamente desconhecido, não obstante, à altura, andar eu inteirado do inventário da felinidade local. Ora, o que é certo, é que o Neru da vizinha – creio que era esse verdadeiramente o nome do animal... –, tanto se empenhou, que êxito teve na operação, conseguindo encurralar o bichano num canto formado pelo encontro de duas paredes de linda, de retirada impossível nem escapatória provável.
Defendia-se com valentia e determinação, atacando à unhada o focinho do algoz, mas cuja resistência pouco mais duraria, adivinhando-se-lhe fim a vista, com morte e feérico esfacelamento. Constatação reforçada assim vi a Carriça, correndo lesta e enfurecida, para o sítio da escaramuça, e me levou a murmurar com os meus botões «gatito, estás tramado: que dois contra um, metem-lhe uma palha no cu». Todavia, ao contrário do que antevira ou seria lógico concluir, dada a apetência caçadora e preferências da cadela, esta ferrou, com esmerada gana, os dentes no pescoço do rafeiro, até quase o esganar, permitindo assim ao acossado tareco saltar o muro e sumir-se no outro lado.
Fiquei parvo – e estupefacto. Um'assim?!?... Então não seria mais natural que dois predadores da mesma espécie se unissem, a fim de melhor aniquilar o outro e mais eficazmente executarem o seu mister? Há imponderáveis por desvendar que só o absurdo reconhece... Ou, como era Natal, algum milagre ali acontecera: é que se a Carriça ajudasse a matar o bicho, abrisse o presente, desatasse a lógica da efeméride natalícia, celebrasse o colectivo e tradicional sentir, perderiam o pobre para os restantes dias do ano, diminuindo a esperança nas caçadas futuras, o que acabaria definitivamente com a precisão do advento. Porque este acontece sempre que o indivíduo quiser, se motivos e causas nesse sentido houver. Pelo que, mais uma vez, entre cão e gato, fora ao dono que a cadela protegera, porquanto é essa a magia celeste, que os cometas anunciam, e assiste à sua repetida renovação anual, tornando recém-nascido o que de mais antigo há: o rito do hábito. E que nos desabitua de pensar, pois se repete em sendo o que uma vez foi.
E à cadela... Levaríamos nós a mal, se ela a partir da data, celebrasse todos os anos o dia em que salvou da morte quem atacou e tentou matar todos os dias? Se calhar, não; se calhar, sim... Quem pode afiançar o peso da medida na economia do mundo? (Hou-hou-hou-hou-hou!!...)
Por mim, regressei de seguida a casa, pois já escurecia acentuadamente. É que, como todos sabeis, os dias em férias, são bastante mais pequenos!
A Parábola dos Cegos
Quem se defende sem motivo, alguma motivação tem. Porque três vezes nove, são vinte e sete, e quem matou o cão foi o Baeta. Ora, as coisas que a gente desconfia que sabe!
Normalmente, quando as pessoas estão a cometer crimes de lesa contribuinte, a servirem-se pessoalmente de serviços que deveriam servir o público, ou aqueles que lhe pagam os salários pela inutilidade que executam, cuja é, sem a menor dúvida uma das grandes responsáveis pelo nosso atraso em comparação com os demais países europeus, mesmo daqueles que não receberam as avultadas quantias dos Fundos Estruturais e Sociais que nós recebemos, é típico delas reagirem taurinamente, aventando de chifres ao ar em colhida os que se lhe aproximem, independentemente de haverem estes quaisquer intenções de saber o que se está a passar, se se está a passar algo que não deveria estar, ou, ainda, em caso de tal ocorrência, tomar conhecimento dela bem como divulgá-la. Aí, montam-se no corporativismo, e hierarquia deste, estabelecem a sua faixa de gaza para combater os bárbaros intrusos, infiéis à panelinha do "ora agora usas tu, ora agora abuso eu" e exibem os galões da indignação, assolapados no direito de julgarem os outros pela bitola da sua conduta e maculada consciência. Desconfiando. Aviltando. Projectando. Condenando por julgarem que o semelhante é tão falho de escrúpulos quanto os próprios. O que, conforme a prova dos noves, dá nada!
E o 77 é igualzinho. Cepa do mesmo garfo. Transformer histórico da classe pernóstica, pseudónimo que se auto-intitula herdeiro de Júpiter, senhor dos princípios celeste (3) e terrestre maternal (2), também conversível ao hinduísmo sexista, significado do feminino (2) e do masculino (3), aliás número de dias para a criação das aves e dos peixes, das sextas-feiras da traição e vingança tribal, intencionalmente denunciada na escolha do nome, já que sete mais sete catorze são, de resto cinco, cifra dos sentidos e casamento, ou do bom agoiro islâmico. Cinco dedinhos – alô, alô, Fátima atende. Stop. Escuto – do mesmo 10 de tipos de pessoas que percebem o código binário, posto que uns são os que sabem, e outros os que não. Sai o ano, entra o ano, e a mudança é nenhuma! Cego de nascença, considera-se predestinado guia dos que não vêem, mas acreditam; dos que não compreendem, mas julgam; dos que espalham o terror e a excomunhão do homem em nome da humanidade, mas acusam de terrorismo quem pensa o contrário de si; dos que precisam de vítimas porque querem praticar a sua salvação, mas desconhecem que por cada uma que salvam, criam cinco ou seis novas, imbuídos que estão na feitura do milagre da multiplicação dos pais.
Pieter Brueghel I, o Velho, quando transpôs para tela, no século XVI, a sua interpretação dos versículos de S. Mateus (:15,14 – "Deixai-os, são cegos a guiar outros cegos! Ora, se um cego guia outro cego, ambos cairão na cova"), se é que foi essa a sua intenção, não específica que o quarto cego, guiador dos três anteriores, e que olha a catedral em fundo, como se a pudesse ver!, cairá na mesmíssima cova onde caíram os dois que o antecederam, mas da imagem, ou metáfora que dali nasce, não nos restam as mínimas dúvidas, que a continuar nesse passo assim seja, porquanto o seu ver longe não lhe permite atentear melhor o que perto está, adivinhar a vala onde porá os pés, arrastando consigo os guiados, consequentemente. Logo, sendo parábola, o que ninguém poderá desdizer, visto que foi esse o título dado, como história destinada a revelar uma lição de moral ou princípio religioso, mediante comparação com acontecimentos reais, tal como a do filho pródigo ou do bom samaritano, dita-nos que o acontecido pode voltar a acontecer, se se mantiverem os traços característicos anteriores, determinantes podemos nós adiantar, repetindo-os e às suas consequências, uma vez que defender a vida com a não-vida, o ver com o não-ver, é um apelo de fé para o número, que mais número é quanto maior for, multiplicando os restos para depois os reduzir à perfeição, ou virtude, que está sempre no meio. E é sinónimo comercial de negociação em que todos podem sair a ganhar, pois sete e sete são catorze, que noves fora dá cinco, no que especifica simplesmente, que a Espanha, se quer continuar a ganhar com o aborto das portuguesas deve incentivar e financiar o não da interrupção voluntária da gravidez em Portugal.
Ou seja, a Igreja política espanhola, quer continuar a governar o nosso país pela inquisição referendária ao aborto, a fim de manter avultada fonte de receita, sangria contínua do nosso PIB, considerando que não se antevê um serviço nacional de saúde com capacidade para a resolução de todos os compromissos a que o sim obriga. Portanto, convém estar atento às filípicas inventivas de quem tenta manipular a opinião pública sob a argumentação de estarem a defender a vida, porque não é essa a sua intenção, mas antes a de manter a mulher sob o terror da culpa e do pecado, utilizando a sua propensão maternal para novamente esmagar e omitir Lilith, que foi a primeira mulher, anterior a Eva, criada por Deus, mas que o cunho machista bíblico erradicou dos testemunhos, substituindo-a por alguém que melhor servisse os interesses misóginos do sacerdócio, mais submissa, invejosa, pueril, vingativa e mentirosa, a quem facilmente amaldiçoar tornando-a culpada da nossa desgraça e expulsão do Paraíso.
Isto é, guiada. Guiada por quem não a vê nem lhe reconhece direito ao prazer, à liberdade, individualidade biológica e moral, intelectual e económica. Quem quer continuar a servir-se dela como objecto sexual e mão-de-obra, dando-lhe apenas como paga a culpa, o pecado, o sacrifício, e a responsabilidade de ser o sustentáculo da humanidade. Sem contar com um porém... É que a mulher cresceu, em Portugal e no mundo, e não vai continuar a deixar-se ludibriar como nos últimos dois mil anos lhe aconteceu. Acrescentará a sua voz a 2007, metendo outro sete na conta, elegendo este século XXI como o ano zero da nova era: a digital. Porque deixou de ser a esposa no império do i, i de ignorante, de influenciável, de ingrata, de intriguista, de infiel, de impulsiva, de imoral, imatura e insaciável, para se tornar a rainha do universo do e-, e- de empreendedora, de esclarecida, de emancipada, de educadora, de exuberante, de europeia, equilibrada, epicrítica, enodável e entusiasta. Porque foi isto que as Tecnologias da Informação e Comunicação lhe trouxeram, ao contrário do quarto cego de Brueghel que quis olhar o longe descurando a casa que habitava... Pois agora, pode-se olhar o perto para ver nas vinte e sete nações que compõem a nossa Europa!
E diz-se assim: três vezes nove, vinte e sete; quem matou o cão foi a Bi.
(Não há nada como complicar para tornar o simples ainda mais natural... Pois é por estas e por outras, que à força de tanto desconfiarem, a conta bateu certo!)
A LENDA DAS MAÇÃS ASSADAS
Diz-se que a lenda é um cerzir popular na manta de retalhos da cultura nacional... Será?
Numa vivenda da Rua 64, do Bairro Novo, limítrofe à Grande Cidade, habitavam cinco pessoas, três homens e duas mulheres, sendo quatro da mesma família, pai, mãe, filho e filha, e o outro, o hóspede, oriundo de uma aldeia distante, estudante trabalhador, que para ela se deslocara por motivos de concurso ao ensino superior, mas com a licenciatura à porta e sabendo as dificuldades dos progenitores, resolvera aí fixar-se, arranjando alguns part-times, aliviando-lhes a despesa com a sua formação. O patriarca, André de seu nome, tinha quarenta e dois anos, casado com Palmira, de quarenta, ambos empregados, ele funcionário de repartição do Estado e a esposa balconista de loja, no principal Centro Comercial da urbe. Viviam desafogados, é claro, mas com o crescimento dos filhos, Benedita a terminar o ensino secundário, de dezasseis anos e óptima aluna, e Henrique de doze, prestações da casa e carro, juntaram o útil ao agradável, visto terem mais dois quartos disponíveis, admitiram Emanuel, de vinte e um anos, conhecido da mulher, por serem quase colegas, pois exerciam profissões diferentes em empresas similares.
Certo dia, antes do Carnaval, depois de Emanuel ter ido de fim-de-semana à sua terra, durante o jantar sobretudo, que era a única refeição coincidente com a presença generalizada, já que ora uns, ora outros, almoçavam fora, nas escolas ou snacks circundantes ao ofício, notaram que este regressara diferente, hipersensível, estranho, circunspecto, ensimesmado, sorumbático, aparentemente apoquentado, deveras abstracto e ausente, falho da prazenteira convivência que sempre lhe reconheceram, a tonalidade moderada da voz, o jeito simples mas aprumado, que o caracterizavam e lhe era habitual. Principalmente a Benedita, cuja empatia entre ambos raiava o enamoramento, e a quem a presença dele na casa, viera aguçar a sensibilidade e gosto pela atenção que despertava nos indivíduos do sexo oposto. Além de ter deixado de ouvir música, aquela arengaria meio barroca, meio esganiçada, que constantemente lhe saía do quarto, e lhe era sinal evidente da estadia dele no lar, que tanto a irritava como a seduzia enquanto no seu, a estudar, a dormir, na net ou a cogitar na vidinha diária e correspondentes alegrias ou desafortúnios.
E tudo seria nada se a filha não saísse ao "quatro e duzentos" do pai, nem aos "sete e quinhentos" da mãe, educada em liberdade, abertura, franqueza, dignidade e participação activa na vida familiar!... Mas, vai lá vai, que mulher livre é curiosa e desunhada, a quem as papas não enrolam a língua! Então, se notada fora a diferença à segunda colher de sopa, ainda não haviam chegado à raineta tostada da sobremesa, e já a pergunta estava feita:
«Qu'é quessse passa, Emanuel? Adoeceste na ida que te trouxe de volta?»
Os restantes entreolharam-se, acabrunhados pelo descaramento da donzela metediça, embora reconhecidos, visto ter ela questionado sobre uma inquietação que era comum. E o silêncio tornou-se plano sobre a mesa redonda, durando até pesar, entorpecer os gestos, pôr a respiração em negrito, sublinhar em caixa alta o pentágono dos comensais.
Portanto, não havendo como fugir-lhe, Emanuel respondeu «é que, em Casal Parado, a minha terra, entaiparam os seis poços que lá havia, de onde saía a água para uso doméstico, como para regar jardins e hortejos, dar de beber às ovelhas, cabras, burros e vacas, além de encher o tanque das lavadeiras, só porque o Bentinho, rapaz de oito anos, aprendiz de sacristão, filho da costureira Madalena, vizinha dos meus pais, se suicidou num deles, depois de ter apanhado a mãe e o Paco, pastor comunitário, filho da Mercedes espanhola e do feitor da Herdade do Cortiço, com quem casou mal chegara fugida à Guerra Civil, quando retornava da taberna, a que diariamente peregrinava para ver, e aprender, a jogar à bisca de três ou ao truco, um pouco mais cedo que o costume, a fazer aquilo de que nascera, quando a mãe tirara medidas a um cliente mais demoradamente, para melhor lhe assentar a bainha e vinco nas calças, e agora o povo, maioritariamente envelhecido, excepto dois ou três netos, filhos de emigrantes, alguns sem queda prà escola que andam nas obras, lavoura ou pastorícia, tem que carregar bilhas e bilhas todos os dias, da fonte do Largo da Igreja, ao lado da tasca e mercearia, centro da extinta caldeira vulcânica onde está situada a aldeia, e de onde se vem sempre a subir, pois as moradias em redor, estão todas nas encostas...», numa arrancada, sem demoras de fôlego nem derrapagens indecisas, mostrando bem como também ele estava deserto de desabafar, como qualquer pessoa que se angustia e atormenta, se alguma moléstia aos seus acontece.
É óbvio, que André, fora o único, avezado que estava às medidas oficiais, que ripostara com desempenada desenvoltura prática, naqueles básicos e políticos senões do «a sério?? Porque não recorrem à rede? Não há abastecimento?», mas o rapaz pesaroso, fixando o caramelo frio e endurecido das maçãs, bateu com a colher na sua, esclarecendo o viril patriarca, que «apenas prometido, nas últimas eleições da junta, e que deve ser novamente promessa das próximas, como vem sendo praxe. Principalmente agora, que o euro anda escasso e a nova lei aperta!»
Todavia, o que é certo, é que a justificação de Emanuel, pelo inesperado surpreendente, fez com que nenhum tocasse na sobremesa antes de finda a prédica, a que o caramelo esfriara, o odor sumira e dificultara a colherada. Pelo que afastaram o pratinho, desistindo de a ingerir, ficando-lhe o jantar quebrado.
Não sei se foi daí, mas suponho que sim, que nasceu o ditado, que ainda hoje se repete, de quando em vez na Grande Cidade, que "ao doce e ao pequeno, na mesa dá-se com presteza, se não cresta-se-lhe o veneno", é que a fruta por grada que seja mingua no assar, e o açúcar derretido cristaliza e endurece, desde que não se morda a tempo, empastando peganhento na boca, embora formando lindas decorações, de laivos vidrados coloridos à refeição das gentes. Mas por tal o conto e aqui fica o registo, para que aos turistas seja dada uma razão, para que não fiquem enganosamente a pensar que é do bicho, quando nos restaurantes da Rua 64 estranhem o facto de nas ementas vir sempre referido que por sobremesa toda a fruta têm, excepto maçãs assadas.
Enfim!... Que cada roca com seu fuso, cada terra com seu uso, convém acrescentar, e só para terminar com outro ditado que aí se teceu, não obstante desse eu desconheça com que linhas se cerziu!
Ó QREN pra te quero!
Afamados entre apregoadores e prestamistas, os Sete-Sckóvias (SS), são uma seita de dromedários esclavagistas com assento privilegiado na meseta dos talibans do ocidente, instalada na Península Ibérica desde a doneação da senhora, assim que os romanos descobriram que faziam melhor efeito a ameaça divina de ir bater com os costados no inferno depois da morte e a excomunhão, sobretudo da benzedura do toutiço contra maleitas, corneações diversas e maus-olhados, do que a aplicação das sanções previstas na lei, para o escrupuloso cumprimento dela e efectivo pagamento dos impostos imperiais, demais pirolitos e tremoços, tendo por exclusivo mister o infernizar a vida aos celtiberos, ou lusitanos, a fim destes percorrem lestos e lampeiros, depressa, depenados, sem defesa e esquentadamente, a via sacra da crise crónica e continuada, ou o purgatório da portugalidade.
Pelo bom desempenho da missão, demonstrada que terá sido ao longo dos tempos e dos esgotos, corrimentos vários e esportulos desaguares, da sua inutilidade vária, e persecutória, foram autorizados pela monarquia da república a implantar-se nos patíbulos da forca e pelourinhos da sentença escatológica, típica do «se não dizes e pensas aquilo que eu quero que digas e penses, então já não gosto de ti » com que entopem as trompas dos ofícios oficiais, dos casamentos com dote e das cerimónias fúnebres, para preencherem as lacunas do Estado, que deixara de estar onde já lhe não dava lucro, prestígio nem votos estar, catapultando o seu ódio ao amor, prazer, trabalho, alegria e sabedoria dignificantes da condição humana, e para das suas canhoeiras da comunicação, com que disparam miríades de anões mentais para abrilhantar espectacularmente as escolásticas retóricas dos púlpitos, vendendo a costumeira banha de cobra da moral e da peste emocional pelo preço a que nunca compraríamos autênticos remédios para a saúde, educação, formação, segurança e coesão social, aliás explanados generalizadamente como vectores do Potencial Humano, Factores de Competitividade e Valorização do Território, bastos e ricos e vitaminados em responsabilidade e consciência cívica, respeito pela vida nossa e alheia, qualidade delas e do seu desígnio estratégico na qualificação dos portugueses e portuguesas, valorizando o conhecimento, a tecnologia, a ciência e inovação, bem como a promoção de elevados e sustentados níveis de desenvolvimento económico, sócio-cultural e de qualificação territorial, num quadro de registo da igualdade nas oportunidades e aumento da eficiência ou qualidade operacional das instituições públicas.
Porque certo e sabido é que sem interrupção voluntária da gravidez em todos os países da União, a acreditar na inequívoca mensagem que nos ditaram os franceses e holandeses pela referendária ocasião, não há Tratado para a Constituição Europeia para ninguém, se a referendo for, e obrigatoriamente terá de ir, e que sem esse Tratado a união política da Europa económica não passa de uma brincadeirinha do faz-de-conta, tipo lenda ou fantasia distante, conto do vigário e anedota de cavalaria, piada pornográfica e escatológica da caserna templária, onde mancebos e veteranos tecem loas a Onãn, jogam à bisca de três e ingerem licores estaminais brindando à eternização dos bidonvilles, das arruadas e buzinões, dos viagras para estabilidade e crescimento, corrupção preservativa da antiga ordem, e negócio da mentira por grosso e a retalho, avulso e atacado.
Ou seja, se continuarmos a dar ouvidos aos SS da actualidade, terroristas da excomunhão e intolerância, não só estaremos a repetir o desperdício praticado em fontinhas de repuxo e lixeiras urbanas camarárias a céu aberto, comuns na nossa cidade, hinos monumentais aos QCA (Quadros Comunitários de Apoio), onde se estabeleciam os montantes do Fundo de Coesão, Fundo Estrutural, Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e Fundo Social Europeu, como a consagrar o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) em igual destino, reforçando financeiramente não a Qualificação dos Recursos Humanos, não a promoção do Crescimento Sustentado da Economia Portuguesa, não os Programas Operacionais Regionais do Continente e Ilhas, mas sim a corrigir os erros e assimetrias do presente com as cavalgadas, as cavalgaduras e insanas bestialidades do passado.
Que é como quem diz, bem-vindo o QREN e seus 21.5 mil milhões de Euros, mas se é para com eles fazerem precisamente o mesmo que fizeram com os dos QCA até hoje, podem limpar as mãos à parede, grafitar nela a qualidade do nosso futuro, pois se o quisermos antever e garantir, não nos resta outro destino senão escrevê-lo com o «ó pernas para que vos quero» de só parar no Samouco, para meter água se ainda a houver, posto que este já não se localizará junto às pontes de Lisboa, mas sim para lá dos Urais ou dos Picos açoreanos, conforme é registo dos mapas se procurarmos itinerários de saída para uma vida melhor ou exemplares rotas para a aeronáutica do futuro.
Exacto. E quem tiver dúvidas… Que o experimente!
EH, PÁ!!...
A consciência social portuguesa tem tanto de bairrista quanto lhe falta em consciência.
Tomemos por acaso, providência dos aventureiros, como dizia Napoleão, ou a causa ignorada de um efeito conhecido conforme é comummente entendido, a constatação, aliás aflorada "diplomaticamente" diversas vezes por altos signatários europeus, como Durão Barroso v.g., quando deixou recado à nossa justiça que nos casos difíceis para os quais não tenha meios ou disponibilidade pode socorrer-se das instâncias judiciais comunitárias, que a mentalidade marialvista dos fadunchismos simiescos e medievais do nosso quorum institucional está a emperrar o processo de democratização e desenvolvimento do país de nós todos, que assim é tido e achado no bem, como para o mal, em certos casos de forma irreversível, como nos procedimentos ligados ao sector energético e emissão de gases com efeito de estufa, conforme o atestado no relatório do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), grupo científico criado pelas Nações Unidas em 1988, sob o objectivo de avaliar a responsabilidade humana nas mudanças climatéricas, e que tendo reunido as suas conclusões num documento científico com mais de mil páginas, se propôs juntar-se em Paris para o sintetizar em termos práticos, a fim de as suas previsões sobre o fenómeno, consequências e impactos regionais, possam servir eficazmente a governação dos povos e apontar pistas para os decisores políticos, uma vez que «o tempo pressiona», reforçando o generalizado sentimento de urgência sobre a matéria em causa, sobretudo ao nível do consumo de combustíveis fósseis como o petróleo, gás natural e carvão, conforme declarou Yvo Boer, secretário-geral da Convenção, no mês passado à agência Lusa (RCR – 25 e 29 de Janeiro).
E até aqui, suponho, não se antevêem desmandos de maior... A coisa é complexa e carece de simplificação, ponto. Agora o busílis, é que se tornou rotina traduzir sempre a falta de meios e urgência de medidas em avultados acréscimos de verbas, ou subsídios para agir correctamente em termos de sustentabilidade e cidadania, quando para proceder incorrectamente bastaram os vencimentos dos decisores políticos e montantes esclarecidos em orçamentos de Estado ou programas de implementação de políticas sectoriais, como aliás sucedeu com A Carta para a Igualdade de Direitos das Mulheres, subscrita pelas instâncias autárquicas (ANM e ANAFRE), a que o QREN contempla presentemente 76 milhões de euros porque, os anteriores 13 milhões previstos no III QCA não suscitaram suficiente empenho na promoção da igualdade de género nem medidas correctivas da discriminação da mulher que "enfeitem" o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, cujo encerramento no segundo semestre de 2007, coincide com a presidência portuguesa da União Europeia.
Ou seja, normalmente, à semelhança do que acontece com algumas variedades de escaravelhos que enrolam numa bola enorme quantidade de detritos para nela depositarem os seus ovos, garantirem a perenidade da sua espécie, a raça branca, independentemente do simbolismo que os Antigos Egípcios lhe atribuíram, rolou para a porta da actualidade uma quantidade de procedimentos, condutas, usos, hábitos, reformas, projectos, organismos, desportos, actividades económicas, voluntariamente, de borla e de moto próprio, mas agora para o remover de lá precisa que lhe paguem principescamente, a subsidiem pelo acréscimo de esforço, pela formação suplementar dos seus quadros, e para cumprirem um compromisso que eles mesmos ratificaram e subscreveram, de que é exemplificativo o Protocolo de Quioto, As Cartas dos Direitos Humanos, das Crianças, da Igualdade de Género, etc., etc., invertendo e subvertendo o princípio universal do poluidor pagador, tentando lucrar tanto ou mais com as práticas e procedimentos correctos do que aquilo que lucraram com os seus contrários ou incorrectos. Obrigando cada um e todos os seres actuais a pagarem com carências e assimetrias múltiplas o erradicar das desigualdades, injustiças, alterações climáticas, fundamentalismos, insustentabilidades, misérias, ilegalidades e guerras que eles próprios produziram e promoveram.
Enfim, demonstrando, que se o crime não compensa, visto que os resultados e consequências do aquecimento global abrange invariavelmente todos os povos e países, continentes, latitudes e sectores de actividade humana, pelo menos rende bambúrrios a muita gente, incluindo a quem o comete, mas nunca àqueles que apenas lhe sofrem os efeitos como suas únicas vítimas: os discriminados, empobrecidos, aviltados e inocentes. Nós, a arraia miúda!...
A que diz sim e quer participar, mas sistemática e incondicionalmente lhe respondem (e pagam) com o não da prepotência, intolerância e confusão, que os diminuiu secularmente. E a propósito... Outra coisa que me faz espécie: se o rendimento per capita (2003) dos alentejanos, incluindo os cidadãos das Lezírias do Tejo, a acreditar na caracterização do QREN-Alentejo é de 8 479 euros, e eu só recebo 2 638.30, alguém me sabe dizer para onde foram, ou vão, os 5 840.70 que tanta falta e jeito me faziam hoje em dia? O per capita, de 2003 para cá, desceu assim tanto? Eh, pá!!!
(Bom… Ou, se calhar também é maledicência minha, e meteram-no foi a render, para evitar que o gaste mal gasto. Foi. É. Pode ser… Será? )
Avia-te, que se faz tarde!
Desconheço se a este sentimento, sentença, ideia, assiste alguma razão científica, mas sempre me pareceu que a educação não se dá, não se ministra, não se vende, não se aplica como um antídoto social, antes se tem. Simplificando, diremos como afiançou J. Cristo ao demónio do alto da montanha, quando o dito cujo lhe prometeu dar tudo o que ambos viam se este o adorasse e lhe obedecesse: “mentira, não podes dar-me o que é meu”. Porque a educação é de cada um, direito de todos como a habitação e a saúde, mas é intransmissível, excepto pelo exemplo. Logo, se respeitarmos os nossos filhos como pessoas de plenos direitos, os alunos como cidadãos totais, não como menores que dependem de nós para sobreviver, nem como ignaros indolentes e insurrectos e indisciplinados que nos aborrecem, então sim estaremos a contribuir para a sua formação e aprendizagem, a cimentar e estruturar as suas capacidades criadoras e de cidadania, a reforçar o seu grau de habilidades e competências, com o mais simples e justo e eficaz método pedagógico até hoje descoberto pelos homens de bem das sociedades livres: o exemplo. Independentemente de serem, ou não, filhos de mãe à força e por decreto, que foram encontrados junto aos caixotes do lixo, em matagais à beira da estrada ou simples utentes da cidadania dos internatos e da caridadezinha, ou de jovens mães solteiras de que os seus patrões, aios, senhores, donos, se serviram parcimoniosamente para espalhar a missionária semente.
A educação e o conhecimento não se ministram como se fossem xaropes para a tosse e outras convulsões sócio-culturais, nem são poções ou mesinhas de podar os maus seres: são ilustrações daquilo que podemos observar, ser, modos de estar, conceitos seguros e universais, demonstrativos da qualidade de quantos nos rodeiam, seus graus de responsabilidade, lucidez, emancipação e capacidades de síntese, análise, permeabilidade, adaptação e sentido prático, bem como medidas do seu esforço e empenhamento na edificação do real actual, intenção de futuro e resguardar do passado. Que podemos ou devemos seguir, ou contrariar, imitar ou rejeitar, conforme os resultados visíveis e concludentes, e em linha de conta com o respeito que nos devotam, o quanto nos apreciam, se preocupam connosco, e nos impelem, ou motivam, a retribuir respeitando, apreciando, reverenciando, e sentido igualmente orgulhosos do seu convívio e conhecimentos, qualidade e profundidade de excelência das suas escolhas e discurso, notório sentido de justiça e avaliação de quem melhor pretende, e intenta, compreender-nos do que julgar-nos. Porque as escolas servem para aprender não para exibir as gracinhas de que somos capazes, a magnificência das nossas aptidões e genes, famílias e talentos, nem o excelso glamour do nosso verbo, aspecto e enquadramento social. E muito menos a perfeição ou apetência para a competitividade e domínio sobre os semelhantes, estejam eles abaixo ou acima de nós, conforme o alinhamento de estatutos e papéis sociais que imperam na sociedade a que pertencemos, esquecendo que nela não existimos apenas nós, mas também essas pessoas sobre as quais exercemos o nosso poder, ou das quais sofremos a influência de seu poder.
Pois o ideal de perfeição é algo que apenas condiz com quem o cria, inventa, estabelece tábua de conduta, e bastas vezes nem isso, que milhentos são os freis Tomás de quem se deve fazer o que ele diz e nunca o que ele faz, pelo que ninguém estranha, ou leva a mal, haver tantos ideais quantos os indivíduos que os congeminam, aleatórias tábuas de predicados com que se medem, e avaliam, os outros mas nunca os próprios, determinam as condutas dos demais mas impróprias para uso e benefício dos seus mentores, sabujos e pitonisas, autênticos espartilhos de torcer as personalidades, faixas de apertar os pés para que lhe não cresçam a vontade dos caminhos e desvendação do mundo, sob o fito de aperfeiçoar as suas potencialidades, afiná-las conforme o grau de exigência genética com que lhe fora carregada a pilha (de nervos), transmitido o código cibernético a que equivalerá a barra magnética da sua classificação social, número de identificação bancária, registo e título de propriedade, certificado de garantia e regras de livre trânsito entre Estados, regiões ou províncias. Daí que uns se outorguem o direito de julgar os demais, fazer da lei, educação e das regras de socialização uma espécie de camisas de forças com que transformar a cidadania livre e responsável e consciente em cidadania obrigatória de maternidade/paternidade à força, e outros a tenham como instrumento de estabelecer a harmonia social, a equidade e justiça entre pares e semelhantes. Mas todos – repito: todos – livres.
Enfim, quem dá o que desconhece, é porque tem mais do que merece, ou como diz o povo, quem cabritos vende e cabras não tem, de algum rebanho lhe vêm. Que à educação não basta nomeá-la para tê-la, nem legislá-la para transmiti-la: é preciso praticá-la, conforme o designo que é respeitando que se ganha o ser-se respeitado. Pois o tempo dos educadores de classe já esgotou, está fora de prazo, incluindo na China. E quem se não avia no povoado, servirá de repasto aos lobos do serrado. (Que o mesmo é dizer que cabritos argumentos são, que de cabeços em cabeças saltam, e como vêm assim vão, embora desconheça se isto, venha a ser um dia verdade... ou ditado!)
Nós aqui, e o futuro tão perto!...
Segundo o relatório da Agência Europeia do Ambiente, divulgado no dia 26 de Fevereiro, o número de viagens e passageiros cresce em continuado, principalmente nos sectores rodoviário e aéreo, que são aqueles em que devia haver significativa diminuição de uso, pois são os mais poluentes e prejudiciais ao planeta, comprometendo seriamente os ganhos ambientais com tecnologias e combustíveis limpos, o que, mais ou menos, explica sumariamente como depois de dois anos (16.02.2005 – 16.02.2007) da entrada em vigor do Protocolo de Quioto os compromissos assumidos continuam por cumprir, sobretudo em Portugal onde o escasso investimento – embora bastante propalado e grosseiramente exibido – nos sectores das energias renováveis, dos transpores públicos, gestão do património natural, ordenamento do território e aprovisionamento de água, agrava contundentemente a nossa participação e contributo para o aquecimento global e respectivas alterações climáticas. O acidente na linha do Tua, os dessoramentos costeiros e invasões oceânicas no Algarve, Caparica e Esmoriz não deixam quaisquer dúvidas sobre isso. O aquecimento global, o aumento dos gases com efeito de estufa (GEE), o degelo do Árctico e Antárctico, o aumento das catástrofes naturais e as alterações climatéricas atestam bem como os portugueses, e demais países que preferem atender aos superiores desígnios umbilicais do orgulhosamente burros, mas centro do mundo, do que às determinações da sustentabilidade e sobrevivência da espécie, na multiplicidade étnica e cultural e histórica e económica e política e religiosa que a caracteriza, se têm esforçado em agravar, piorar, fragilizar, conforme podem e menos trabalho dê, menos desgaste lhes exija aos neurónios, melhor os aliene e infantilize perante o universo dos países civilizados, sejam eles europeus ou não, fazendo jus ao bucolismo remansoso em que apurámos o caldo patriótico e na mansidão salazarista dos brandos costumes, e brandos miolos sempre prontos a revelarem-se na brandura da imutabilidade, tão branda e apagada como o cinzentismo pensador que, aliás, nos cozeu tão brandamente no passado, mas tão brandamente, ao ponto de mantermos as mesmas brandas linhas na cosedura do presente.
Daí que ninguém estranhe, nem se interrogue, sobre a acanhada morosidade de aderência (e subscrição) do Estado português ao Tratado da Antártida, a não presença portuguesa no IPCC em Paris, o insignificante empenho autárquico em melhorar as frotas, redes, horários e serviço dos transportes públicos, e batea eufóricas palminhas à confusão democrática entre o poder central e o poder local, que em vez de governarem a bem do país e das suas gentes, acham que devem perpetuar-se como oposição, contrariar na prática a aplicação das determinações do outro, provavelmente saudosos da guerra fria e conceitos familiares de viver de Abel e Caim, em que governar significava e equivalia a matar mais para dividir por menos.
Bruxelas adoptou novas metas de redução e emissão de GEE, sobretudo de dióxido de carbono (CO2), para 20% até 2020, mas dispondo-se a ir até 30%, desde que os países mais industrializados façam o mesmo, fomenta encontros de meteorologistas e apresentadores europeus de programas de televisão sobre as previsões do tempo, no âmbito de uma campanha de sensibilização para o contributo que cada um de nós pode dar no combate às alterações climáticas; não obstante, os nossos gestores da coisa pública continuam a ganhar os seus chorudos cobres sem seleccionar o lixo, manter computadores e televisores ligados em casa como no serviço, e a deslocarem-se no pó-pó para ir beber o seu cafézinho de má-língua, quando o podiam fazer na tasca ao lado ou ir a pé.
E Stavros Dimas, comissário europeu responsável pelo ambiente, instou a comunidade internacional a iniciar urgentemente negociações respeitantes a um tratado geral sobre as alterações climáticas globais, que substitua o Protocolo de Quioto, cujos objectivos se esgotam em 2012; e o Comité Científico para a Investigação na Antártida (SCAR) promove o 3º Ano Polar Internacional – tendo sido os dois anteriores em 1882-83 e 1932-33 –, iniciando este mês, em Portugal, as suas comemorações; todavia, a barragem do Pisão continua a adiar-se, as Agendas 21 Locais inexistentes ou sem saírem do papel, a igualdade genérica esquecida nas actas das assembleias municipais, e as autarquias a entenderem por política a discussão do quanto lhes cabe do QREN para estender alcatrão, fazer banquetes de promoção de papas, enchidos e bolos, normalmente produzidos à base de organismos geneticamente modificados.
Isto é, o mundo pode desabar, que nós aqui, continuaremos impávidos e serenos, a insistir em manter-nos os insurrectos lusitanos, que não podendo usufruir egoistamente de algo preferimos destruí-lo a pensar, a permitir, a facilitar que outrem o desfrute: os nossos filhos e netos. Ou as nossas testemunhas abonatórias no julgamento da história do futuro. Esquecendo que se Deus não dorme, a Terra também não, embora as insónias não tenham nada a ver com isso!...
A César o que é de César. A Deus o que é de Deus. Ao Estado o que é de todos.
Não obstante o Ministério da Ciência ter garantido recentemente que o Reactor (Nuclear) Português de Investigação, a funcionar em Sacavém, estar devidamente licenciado, o que é certo, é que de acordo com informações veiculadas pelo Ministério/Instituto do Ambiente, este reactor continua como estava há décadas: sem licenciamento.
Os factos são o que são; são factos – e nada pode ser uma coisa e simultaneamente a sua contrária. Em filosofia diz-se que o que é, é. Em política, se é de sensatez, persegue-se esta lógica para incentivar à descoberta da verdade, a fim de que a democracia possa surgir à tona das problemáticas, livre de transgénicos sentidos, limpa de dogmatismos, escanhoada de propagandas falaciosas.
Portanto, além da dúvida e da controvérsia, do diálogo que superintende as negociações, outras interrogações nos acometem de não menos pertinácia: Como é? Que sucedeu, ou que sucede, para que o não licenciamento do reactor nuclear se tenha escondido durante tanto tempo? Porque estamos nós, portugueses, a fazer aquilo que combatemos noutras pátrias? É receio de sermos invadidos como o Irão?...
Houve algum aconselhamento nesse sentido da parte dos Institutos do Ambiente e dos Resíduos? Que resíduos radioactivos produziu até hoje e o que tem feito o Instituto Tecnológico Nuclear para os acondicionar ou eliminar? Se não sabemos sequer que destino lhe tem sido dado, como aliás sucede com os resíduos hospitalares nucleares, como podemos estar confiantes acerca das condições do seu acondicionamento ou uso para que foram reencaminhados? Quem o faz e como se faz, com que regularidade, quantas amostras foram recolhidas e analisadas, no capítulo da monitorização ambiental de grau de radioactividade, conforme o regulado no DL 138/2005? Estamos bem em Portugal ou convém emigrar para o algures patagónico a fim de salvarmos a estirpe dos Viriatos? Este era o único segredo que nos reservavam sob a perspicácia do interesse de Estado e bem público ou têm mais alguns na manga? Se sim, quantos, e com que nível de gravidade para o nosso futuro e dos nossos descendentes? Pr quanto tempo mais vão continuar a brincar com a segurança dos contribuintes que lhe pagam os salários para lhe defenderem a vida mas a quem têm sonegado informações essenciais sobre matérias tão perigosas como os resíduos nucleares, que podem afectar directa e indirectamente o seu bem-estar, qualidade de vida, saúde e ambiente? É precisamente a isso que se referem quando nomeiam a necessidade de aprofundar a democracia e implementar a cidadania, aumentar a participação democrática, melhorar os níveis de envolvimento e responsabilidade cívica do povo português?
É?... Então, obrigado pelo exemplo!
Ou, se calhar, perdeu-se o dicionário que tínhamos e já nenhum dos sinónimos tidos para palavras tão simples como civismo, pluralidade, igualdade, solidariedade, fraternidade, frontalidade, é o mesmo que descobrimos nos bancos da escola... Se calhar!
Vale mais tarde do que nunca: Finalmente a mudança de clima tem conferência na Assembleia da República
Decorrerá, durante o dia dez deste mês, a partir das 10 horas e até mais ou menos à hora de jantar, no Auditório do Edifício Novo da Assembleia da República, sob proposta da Comissão de Poder Local, Ambiente e Ordenamento do Território, com o aval de Sua Excelência o presidente da Assembleia da República, Dr. Jaime Gama, a Conferência Internacional Sobre "Alterações Climáticas", com vista à análise dos dados e das perspectivas e da alterações climáticas, questão fundamental para a vida de todos nós bem como para o futuro do mundo, iniciativa que demonstra o quanto esta problemática deixou de ser, no actual universo das ideias políticas e condutas colectivas cientificamente baseadas, uma simples atitude e preocupação cívica dos carolas da actualidade e modernização do país, mas também fulcro de consciência e ponderação dos órgãos de soberania portugueses. Aliás, sinal evidente de como a mudança de clima rompeu a barreira de indiferença que há anos lhe era concedida por vasta estirpe política usurpadora da realidade, qual camada de cataratas sócio-cognitivas na visão obsoleta do quorum político nacional.
E é a prova cabal de quanto nos preocupa o rápido aquecimento da Terra. Porquanto esta alteração no clima constitui séria ameaça, senão mesmo catastrófica, à estabilidade das nossas economias, sociedade, relacionamento entre países, ou povos, e meio ambiente. Sobretudo porque ele é provocado por gases de "efeito de estufa" que são produzidos pelas actividades humanas, em especial a queima de combustíveis fósseis, tais como o carvão, petróleo e gás natural. Já que uma vez na atmosfera estes gases retêm o calor libertado pelo sol, à semelhança do que acontece numa estufa industrial de secagem, propositadamente criada para o efeito e com esses fins específicos. Preocupação assaz evidente e que é significativa na delineação dos quatro painéis que lhe preenchem o programa.
Painel 1 – Os Sinais e as Previsões de Alterações Climáticas, que conta com as intervenções de Filipe Duarte Santos (Director do Centro de Sistemas, Instrumentação e Modelação nas Ciências e Tecnologias do Ambiente e do Espaço e Coordenador do Projecto SIAM), Miguel Araújo (do Museu de Ciências Naturais de Madrid, professor associado da Universidade de Copenhaga, e Senior Research Associate da Universidade de Oxford) e Mathias Duwe (Director da CAN – Climate Action Network), sob a moderação do deputado Renato Sampaio (PS), e com os itens de abordagem de metas de médio e longo prazo, previsões SIAM, previsões ICCP e sinais. Painel 2 – As Políticas Públicas de Mitigação das Alterações Climática, com a participação de Arturo Gonzalo Aizpiri (Secretário Geral para a Prevenção da Contaminação e das Alterações Climáticas, do Ministério do Ambiente espanhol), Álvaro Martins (Director do Centro de Estudos em Economia da Energia, dos Transportes e do Ambiente, do Instituto Superior de Gestão da Univesidade Técnica de Lisboa), e Isabel Guerra (Auditora de Ambiente, do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações), tendo por moderador o deputado José Eduardo Martins (PSD), com um leque temático que vai desde o Protocolo de Quioto e Convenção-quadro das Nações Unidas, passando pelas políticas comunitárias e nacionais, até ao Regime pós-2012. Painel 3 – A Necessidade de adaptação às Alterações Climáticas, onde intervêm Calos Sousa Reis (do Departamento de Biologia Animal, Faculdade de Ciências de Lisboa – FCL, e Coordenador da área das Pescas e Litoral do Projecto SIAM), Luís Veiga da Cunha (Professor Catedrático Jubilado do departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente, FCL, e Coordenador da área dos Recursos Hídricos do Projecto SIAM), Nuno Lacasta (Director do Gabinete de Relações Internacionais do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional) e Abdekader Allali (Vice-Presidente do Grupo de Trabalho II – Marrocos, do IPCC – Intergovernamental Panel on Climate Change), cuja moderação estará tutelada pelo deputado Miguel Tiago (PCP), e subordinada aos temas acções preventivas de adaptação às alterações climáticas no Sul da Europa e bacia mediterrânea, bem como avaliação dos impactes das alterações identificadas no âmbito do ICC e do SIAM. Painel 4 – O Protocolo de Quioto como Factor de Desenvolvimento, participado por Christian Eggenhofer (Sénior Researcher no CEPS – Centre of European Policy Studies), Eduardo Oliveira Fernandes (responsável da Unidade de Estudos Avançados de Energia no Ambiente Construído, Instituto de Engenharia Mecânica, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), António Sá da Costa (Presidente da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis) e Carlos Pimenta (Director do CEEETA – Centro de Estudos em Economia da Energia), tendo por moderador o deputado António Carlos Monteiro (PP) e por temas a abordar as oportunidades de desenvolvimento das energias renováveis e das tecnologias e processos de eficiência energética no consumo, além da importância do 7º Programa-quadro I&D.
O que, em resumo, nos faz pensar que embora a comunidade político-partidária nacional tenha andado arredia dos compromissos e procedimentos conjunturais em torno das causas e condições ecológicas do clima, ausentados assim duma consciência planetária, está contudo disposta a redimir-se apresentando iniciativas de vulto e significativas da quase totalidade do quórum legislativo e constituinte, empenhadamente, o que vem de encontro às expectativas que criaram durante os períodos eleitorais, e apenas nos renova a esperança de mudança de atitudes perante o aquecimento global e suas origens. A ver vamos!...
Sustentabilidade também é sinónimo de consciência cívica
Este é o reino dos que tudo podem, tudo sabem, tudo conseguem (em silêncio), ninguém os demove de ser contra, se preciso for contra o contra, mas por nada mexem uma palha desde que o motivo seja a favor de algo racional, sobretudo da vida, dos demais, da natureza, do ambiente, dos valores de cidadania, ou da república – senão lhes pagarem principescamente para tal, pelo menos. Deram novos mundos ao mundo só para fazer ver, e viram; ao deslumbramento, sucedeu-lhes o descrédito (ou pouco mais). Derrubaram a monarquia por temor à perda de soberania, e perderam-na. Muitos morreram pela pátria… No entanto, contam-se pelos dedos os que viveram por ela.
Foram significativamente claras as palavras de Sua Excelência, o Presidente da República Portuguesa, aquando da celebração do 5 de Outubro, dia da implantação desta no nosso país. E do seu discurso, importa agora não deixar cair no esquecimento que 1) urge combater a corrupção, 2) fazer transparecer e moralizar as condutas dos decisores políticos e quorum institucional do poder, 3) reforçar a justiça e a participação democrática e 4) que a comunicação social deve assumir as suas responsabilidade sociais.
É, neste momento que atravessamos, embora algo que já venho dizendo há anos, o princípio de um caminhar que se avizinha contundente face aos beneficiários do corporativismo pós-salazar bem como aos diversos clientelismos instalados em torno da república. Todos os portugueses precisam de viver em consonância com os interesses da sua pátria, e não só os detentores de capital suficiente para mexer os cordelinhos conforme os seus pessoalíssimos interesses.
Ao que parece, na cerimónia apenas um republicano esteve presente para as celebrações do 5 de Outubro, porquanto foi o único "viva a república" que se fez ouvir. Dos que resistiram após 1910 pouca descendência há agora. Ou, havendo-a, provavelmente consideram que aquilo que a pátria por eles fez, não merece sequer uma saudação de manifesto. Talvez se não importem de ser espanhóis ou viver em realeza, desde que possam alcantilar-se num nível de vida superior aos seus merecimentos legais, laborais, culturais e cognitivos.
Todavia, insisto em crer que não deve ser bem assim... Muitos haverá ainda que consideram Portugal um país de passado, apto para resolver as dificuldades do presente e com sublinhadas potencialidades para construir o futuro, com dignidade, galhardia, liberdade e democracia.
É na barricada deles que eu estou. Não para excluir nem apontar handicaps, não para criticar pessoas mas comportamentos, não para sonegar direitos nem usurpar patrimónios, não para subtrair cidadanias mas para as reforçar, não para me apropriar do poder mas para incentivar à participação democrática. Dos que um dia cantaram "não, não sou o único a olhar o céu", sou dos que baixaram o olhar e resistem em querer ver a Terra. Torná-la ideal para quem supõe não ter outra casa possível. E habitá-la, conservando-a para que outros também o possam fazer.
Porque não é no "céu" que residem as nossas limitações, potencialidades e desejo de felicidade. É aqui – e agora.
Política não é jogo, não
É comum ouvir-se, da parte de qualquer político acerca de outro que defende posição contrária à sua, independentemente de saber-se a qual dos lados assistem a lógica, a sensatez, a lei e a razão, sobretudo se essas estiverem ausentes da questão e ser quase líquido não patrocinarem nenhuma da facções em "litígio de retórica", que aquele defende determinado conteúdo porque está a desempenhar o seu papel, assegurar os interesses do seu gang e a masturbar o cerebelo da sua claque. Repito: está a desempenhar o seu papel.
Ora, só por si, esta justificação é sintomática da esquizofrenia que graça no quorum político nacional, sobejamente evidenciado na discussão acerca da lei das finanças locais que o Prós e Contras da RTP1 nos ofereceu, onde a maioria dos enunciados, atitudes, posições, enquadramentos e discursos, ainda reportam à conjuntura da guerra fria. O desempenhar papéis é característico da visão de quem se mantém quotidianamente num palco de operações, exerce um destino bélico e responde perante uma disciplina que lhe é distinta da essencialidade, além de não corresponder minimamente à sua condição biológica. O desempenhar papéis é típico de quem actua, de quem representa, não de quem vive a problemática com autenticidade espontânea e empenhada, de quem estudou afincadamente o assunto, mas sim de quem faz de conta que é, quem pretende iludir e ludibriar; de quem está ou é profissional de teatro, de cinema, de moda, de espionagem, e anda de alguma forma ligado às artes histriónicas da loucura como do espectáculo, ou de quem apenas entende o bem nacional quando este lhe acrescenta avultado pecúlio narcísico e de numerário.
Mas a vida política não é nenhum palco. A política, se levada a sério, é uma estratégia humana de qualificar e tornar possíveis a optimização dos recursos e o reconhecimento das soberanias individuais em conjunção simbiótica com as soberanias nacionais, regionais, locais, continentais e globais. É a intercepção da Lei com o quadro de interesses gregários dum povo. É ciência e conjunção de ciências. Não é brincadeira de carnaval com mais ou menos reuniãozinha, mais ou menos jantareco que os media propagandeiam. Nem ao político é pedido que actue, que represente seja que papel for. É-lhe sim oferecida a possibilidade de assumir e edificar a objectiva sustentabilidade da comunidade que o mandatou, não por ser um louco egocêntrico, tal como foi delineado por Erasmo de Roterdão no seu Elogio da Loucura, obra em que explanou a tese de que a vida é o palco onde representam os loucos, mas sim antes o fiel depositário do poder e confiança colectiva. E os que votam como quem aposta numa corrida de galgos ou mete o boletim de voto como quem joga no totoloto, faz mau serviço à nação e dá péssimo contributo para a democracia, liberdade e bem-estar, quer seu, como dos seus familiares e concidadãos. Adultera o passado, atrofia o presente e inquina o futuro. Ou põe em risco aquilo que levámos séculos (desde Platão, pelo menos...) a conquistar: a racionalidade da república.
Daqui que ache que não devemos excluir-nos de qualquer debate da actualidade, principalmente se a propósito de temas que dizem respeito e têm influência directa com a nossa qualidade de vida, nomeadamente nos relacionados com a saúde, segurança social, educação, urbanismo, ordenamento do território, ambiente, reforma administrativa, identidade ibérica, inclusão e cidadania, aborto e regionalização. Porque, embora as convicções alternem, importa que a sensata razão fique e se mantenha...
Está presentemente aberta, até ao final do mês, a discussão pública sobre a Proposta de Rede de Urgências, elaborada pela Comissão Técnica de Apoio no Processo de Requalificação de Urgências, para a qual serão expressamente solicitadas a emitir parecer a Associação Nacional de Municípios, as câmaras municipais com pontos de rede, as Ordens dos Médicos e dos Enfermeiros, algumas associações de doentes e utilizadores, enfim, tudo corporações com justificado interesse no mercado/negócio da saúde. E embora o Ministério da Saúde prometa realizar reuniões de trabalho em todos os municípios e instituições que o solicitem, o que é certo é que a opinião de qualquer cidadão, mesmo daqueles que o ex-presidente da república acusa de pouco participativos na democratização do país, valerá ou contribuirá tanto para a colheita de melhorias da rede de urgências, acções complementares de acessibilidade e requalificação de recursos humano, técnicos ou materiais, como a água que choveu há 100 anos.
Em resumo: continuo sem perceber bem quais são deveras as intenções governamentais em pôr a debate um diploma sobre a reestruturação dos níveis de urgência (polivalente, médico-cirúgico e básico), se qualquer proposta que lhe aumente eficácia, qualificação e rentabilidade, desde que não advenha das corporações solicitadas, mais não será do que motivo de gargalhada para os gangs da soberania nacional, detentores dos mais variados poderes, incluindo do poder sobre o poder do Estado, uma vez que qualquer acção desenvolvida em termos de debate no tempo que resta nunca será significativa, como dificilmente estará concluída e pronta em Novembro, mês em que a Comissão Técnica a avaliará, a fim de ser introduzida no diploma a aprovar em Dezembro, provavelmente ainda na primeira quinzena, para não estragar o sossego das famílias que celebram o menino. Ou seja, tudo indica que no capítulo sanitário é mais fácil e proveitoso aos portugueses do interior irem socorrer-se e ao médico a Espanha, como já fazem significativamente em clínica geral ou especialidades, do que empenharem-se e discutir a alterações previstas para o sector, a não ser que pertençam aos grupos e bandos que sempre controlaram este negócio. Mesmo naquilo que é demasiado sério para depender simplesmente dum golpe de sorte, e faz com que o futuro se pareça com a taluda de Natal: sai sempre aos outros. Se, é claro, tiverem dinheiro para jogar e... saúde!
Aliás, quem conseguiria melhorar em 15 dias relatórios que levaram meses a elaborar por equipas técnicas vastas e conceituadas? Experimentadas? Parece que nisto das democracias também abundam as suas desigualdades ditatoriais: há sempre umas menos democratas que outras… E razões que até o coração desconhece!
Europa configura Agenda Verde
Não é de grande honestidade intelectual nem ética, invocar as promessas eleitorais como evidência e prova indesmentível de má governação, já que elas – as promessas – nunca deveriam ter sido feitas, muito menos acreditadas, ou se o foram não poderiam ser entendidas além de meros anexos de intenção, típicos exemplares cujo Céu é o inferno, que deles está cheio, faitdivers ilustrativos do discurso político sob o designo da propaganda, da trogalhice e da minagem do chão adversário com bombinhas de mau cheiro, que jamais foram sustentação para qualquer compromisso, por irrealistas como primárias, e estão fora do âmbito da política, sobretudo da responsável, séria, empenhada e consciente, sendo antes pertença do registo religioso da salvação talibanesca, fundamental, que graça tanto no universo islamita como no seu congénere católico, neste caso tão semelhantes na prática como nos resultados, nas causas como nos efeitos, uma vez que aos políticos não cabem os aleluias de salvar o mundo por milagre, nem serem os encobertos que hão-de surgir da treva do nevoeiro obscurantista, montados em equinas nuvens, mas sim elaborar planos, definir estratégias, apresentar projectos, realizar modelos de sociedade.
Aliás, servir-se a oposição das promessas que não deviam ter sido feitas em campanha para condenar (ou justificar) atitudes e decisões que têm de ser tomadas por um governo, independentemente do seu custo de (im)popularidade, é tão baixo e medíocre e impolítico quanto o governo utilizar os erros governativos do passado, desse ou doutro partido que esteve no poder, para se desculpar da sua ineficácia, incompetência, inaptidão e falta de jeito para lidar com as dificuldades do presente, escorando-se nos condionalismos de desarmadilhar heranças que lhe foram legadas por concurso voluntário, e se bateu por conquistar. Pelo que, não me atenho sem dar razão ao Ti Joaquim Gafanhoto, que nunca cursou academias nem frequentou os salões da libertinagem partidária, mas não se escusou de legendar um comício a que assistiu, usando a língua como habituado estava a fazer com a enxada, cavando a terra ou mondado nas culturas as ervas daninhas: "há que fazer mais política e menos botiço!!..."
Convinha, portanto, que se pusesse definitivamente cobro a essa maneira de estar na política pela imitação macaqueadora, como a da fazer sistematicamente daquilo que a outra facção defende, com que os partidos justificam o fazer de promessas incomportáveis porque os adversários também as fazem, temendo que estas lhe subtraiam os votos, audiência, fanáticos e bajuladores. Precisamente porque é essa a atitude que legitima a corrupção, no sentido mais lato dela, com que inúmeros justificam o aceitar dinheiro por fora, visto outros também o aceitarem, ou sendo nós, o aceitamos, pois se o não fizermos outros o aproveitarão por nós. O tempo não vai para tergiversões de chico-espertismos saloios de quem se quer dar bem com o mal dos demais! É necessário, por conseguinte, não só tomar tento na língua mas igualmente naquilo que se faz ou prol do quê e de quem. Mais de 80% das decisões governativas de qualquer país europeu, sobretudo daquelas que lhe tecem o enquadramento legal e normativo, que dizem respeito ao universo económico, estrutura social e vectores fiscal, segurança, ambiente e defesa, são tomadas em Bruxelas – e muito bem, que caso contrário, aqui jamais chegariam a ser contempladas, dado que os politiquinhos da arruaça e da capelinha lhe inverteriam os propósitos de forma a beneficiarem unicamente dos fundos, das esmolas, os seus egrégios, com a exclusividade costumeira, masturbando de tal forma as vírgulas e interpretações das leis, que por melhores que as medidas de facto fossem longe estariam de dar sainete. Como sucede actualmente com a legislação acerca das contas e financiamentos políticos, em que chegam ao cúmulo de justificar as irregularidades cometidas por falta de instruções e manuais de interpretação da lei, quando lhes foram desnecessários para o seu incumprimento... Ou será que o tiveram? Compraram-no no mercado negro a alguma editora das tríades mafiosas que publicitam o crime, os códigos deontológicos e de boas práticas para os cometerem, darem cobertura e gizarem as artes de contornar toda a lei sem ser apanhado? Leis que esses mesmos carenciados de manual fizeram e aprovaram? Até parece que se não acabarmos com isso, não irão ser esses(ss) isso que acabarão por acabar connosco!...
A eficácia energética, a determinação dos seus níveis e medidas, conforme foi decidido por Bruxelas, em 19 de Outubro deste ano, onde a Comissão Europeia (CE) apresentou o plano de acção com vista a fazer frente aos desafios sem precedentes colocados à UE no domínio da energia, no qual se inclui vasta gama iniciativas rentáveis em matéria de eficiência energética, designadamente acções destinadas a diminuir o desperdício nos electrodomésticos, edifícios, transportes e produção de energia, é igualmente uma das preocupações portuguesas da actualidade, não porque a oposição ou o governo se tenham debruçado sobre o assunto, não porque os economistas e decisores da coisa pública se comovam com as nossas dificuldades e carestia da energia, não porque estejam compungidos pela gestão do sector e consequente aquisição de licenças de emissão de CO2, o consumidor confronte com aumentos progressivos de 8 para 16% da electricidade, mas sim porque na Europa se sabe os efeitos dos 20% de energia desperdiçada, e de como a economia da energia pode contribuir na evitação das alterações climáticas, do crescente consumo e elevada dependência dos combustíveis fósseis importados de países terceiros, ou de fora do espaço continental. Andris Piebalgs, responsável pelo sector energético da CE, não dúvida que a "eficiência energética é essencial para a Europa: se agirmos já, o custo directo do nosso consumo poderá ser reduzido em mais de 100 mil milhões de euros até 2020 e evitaremos também produzir cerca 780 milhões de toneladas de CO2 anualmente." Este plano de acção por-se-á em prática durante a próxima década. Convinha, portanto, que o botiço partidário fizesse intervalo no jogo retórico de baixo ventre, e se preparasse sim, para concretizar a Agenda Verde que nos há-de "iluminar" o futuro em ca(u)sa comum.
É que nesta agenda pode muito bem não figurar o calendário das eleições vindouras, nem as fórmulas mágicas de cozinhar os seus resultados, mas configura-nos o devir e sua qualidade, com inúmeras normas mínimas de rendimento energético que nos ajudarão a reforçar a competitividade, melhorar o nível de vida, dinamizar o emprego, aumentar a exportação de tecnologia e harmonizar o ambiente e estabilizar a ecosfera!
Viv'ò tinto e a sardinha assada!
Afinal, a revolução ainda nos reserva algumas surpresas...
Conforme brevemente noticiou o jornal Público, de 01.11.2006, «um em cada quatro jovens em todo o mundo, cerca de 300 milhões de pessoas, vive abaixo do limiar de pobreza, segundo um Relatório da Organização Internacional do Trabalho». Não é grave, dirão alguns – provavelmente a maioria. Bem pior seria se fossem um em cada três, cada dois ou cada um. E melhor fora, sem dúvida, para se não constatar a vileza de em cada quatro jovens estarem-se três sumariamente rindo do outro que não tem emprego, felicíssimos da vida, escarnecendo e nas tintas prò que sobra. Mas diz mais a referida notícia: acrescenta que a população juvenil cresceu 13,2%, posto que a percentagem de desempregados nessa faixa etária terá aumentado em 14,8%. Ou seja, a continuar assim, que perspectivas se nos põem num futuro não muito distante? Que só devem ultrapassar a adolescência os indivíduos que tiverem pais ricos, a quem saia o totoloto ou queira ir prò BES (Bando de Excluídos da Sociedade)?...
É, portanto, de supor, que pelo menos na miséria e/ou desemprego a almejada Igualdade da trindade da Revolução Francesa, esteja prestes a concretizar-se. O TODOS FAMINTOS, TODOS IGUAIS pode muito bem passar a servir de slogan para novas reivindicações humanitárias – com ou sem ó-NU. (Salvo seja!...) O que, obviamente, retira um terço de razão aos que dizem, quiçá mal-intencionados e pessimistas, que os ideais revolucionários da francofonia nunca nos atingiram, nem por tabela, sequer, foram minimamente conseguidos!
O facto seria apenas globalmente absurdo, não tivéssemos nós, os portugueses, o característico apêndice de raramente aquilo que é bom, no plano global, nos calhar, e o mau, impreterivelmente, nos atingir multiplicado pelo factor da crise crónica que padecemos – aí ò ai, 1385 à vista!... –, sem qualquer almofadado para aparar os choques, visto que tivemos o desplante de implantar a República sem jamais termos implementado a cultura republicana, assim como instaurámos a democracia sem nunca fomentar activamente a cultura cívica e democrática, que nos socorressem e agregassem colectivamente para o superar das dificuldades sócio-económicas e conjunturais. Preferimos sempre o milagre para nos compensar das surpresas, quando não é Fátima é o mundial de futebol, quando não a Europa o sol e praias, a pensar nos problemas e agir em conformidade, cuidando mais ou menos para que as orgias corporativistas se mantenham, com seus aleluias evangelistas e romarias ao obscurantismo folclórico, entre deuses e álases de espremer o fado severino.
E destes, sobretudo nós, alentejanos à beira-Alqueva plantados, atirando para as calendas gregas planos e projectos desde que não tragam dinheiro imediato para distribuir pelas sempre mesmas corporações, que o gastam invariavelmente em coboiadas, adiando Agendas 21 Locais com igual galhardia com que nos lamentamos sobre o fecho de unidades fabris, por sinal aqui instaladas quando o cluster automóvel já agonizava em mais férteis pastagens. Com surpresa, é claro. Que para isso, para nos deixarmos deslumbrar e surpreender, estamos sempre prontos – e de sardinha assada!
Surpresa essa, aliás, que se renova com As Grandes Opções do Plano para 2007 que, no ponto 2 (Promover a Eficiência do Investimento e da Dinâmica Empresarial), da 1ª Opção (Assegurar uma Trajectória de Crescimento Sustentável, Assente no Conhecimento, na Inovação e na Qualificação dos Recursos Humanos), do Capítulo II, elege o reforço do cluster automóvel, numa hitleriana promoção do Wolkswagen, bem como na criação de mais um mono administrativo de adensamento do défice: o Centro de Engenharia do CEIIA – Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel. Outro petisco que nem já os EUA engolem. Mas com a mesma promessa de pão, tinto e sardinha assada, que assistem a todos os casamentos sem projecto comum definido e que, normalmente, após terminarem em litígio, leva ambas as partes e reconhecer como recompensa e acto de contrição: ah, até que foi bom enquanto durou!
Visto que é de surpresa em surpresa
Que ainda se descobre o surpresar,
Ao estender as velas sobre a mesa
De novos rumos, mas em antigo remar!
Ela por elas ou, língua por língua, a melhor é a estufada
Há quem pense, ou diga que pensa, visto estarmos prestes a tornarmo-nos mais um povo de ventríloquos mentais que pensam num idioma mas se expressam noutro, a quem só dão crédito as crianças, masoquistas e tontos, autênticos bonecos de macaqueação das variedades e espectáculos do mundo, que isto de termos nascido portugueses foi uma grande sorte. Depois, vai-se a ver, não há mal que não nos chegue, e todo o azar, má fortuna, dor ardente que a vida nos reserva e consagra, foi desse facto que adveio e, essencialmente, nos transformou nuns estrangeirodependentes sempre à espera das palminhas, amendoins e bolachinhas dos camones e seus capangas. Principalmente porque ninguém desconhece que língua, por língua, a melhor é a de vaca (e estufada, se possível for). Porquanto tanto faz virem-nos com programas televisivos e planos nacionais de leitura, o resultado é sempre invariavelmente o mesmo, já que de cuidados e intenções andam os miseráveis cheios, e das boas nem se fala, que no inferno são aos pontapés e na gramática nos batem pelo joelho – ou mais acima um bocadinho, com'à maré dos mexilhões. Que isto é um ela por elas que aí vai, trocando-a por duas ou três das alheias, galardoadas e autorais, como de comum são as galinhas dos demais e vizinhas, que além de porem farto e darem "pão", enfim igualmente nos darão, melhor sorte e visão, assim como lente de aumentar, tipo pensar global agir global, mais um comprimido da família do Melhoral, que se à economia não fizer bem, às empresas também não fará mal.
Ora, se por cá, no torrãozinho lusitano, o ensino das línguas estrangeiras vai de vento em popa, sobretudo do inglês, cuja oficialidade foi recentemente reforçada pela sua inclusão curricular no 1º Ciclo, o que é certo, é constar que o ensino do português no estrangeiro, se pode apelidar daquilo que a geração do botas chamava normalmente de uma cagada em três actos: é a fingir, sem condições e mal paga (ou a desoras). À semelhança das famílias de bestas, espécie de animais afidalgados, com nome a defender e honra feita, coisas que não valem absolutamente nada e as mais das vezes foram inventadas sem substracto verídico, mas pelas quais são capazes de matar os próprios filhos para fazer ver aos bacocos, que apaparicam, como são impolutas e esforçadas, género família sempre óptima, fantástica, porreiríssima, maravilhosa e generosérrima para os filhos das alheias, mas vis, brutais e selvagens quanto aos seus, os professores de português em França, Inglaterra, Luxemburgo, etc., – quais fitipaldis da modernidade, com mais e melhor experiência em condução automóvel do que de leccionação e pedagogia –, são obrigados a deslocar-se centenas de quilómetros entre uma aula e outra, dentro dum universo educativo onde há inúmeras turmas sem professor e elevado número de professores sem horários completos, atrasos nos pagamentos dos salários, docentes esses que se endividaram para se poderem deslocar aos países onde exercem os seus misteres, nomeadamente o de servirem de explicadores para as matérias científicas dos currículos aos filhos dos emigrados nacionais, sob recomendação da escola em que leccionam, no sentido de lhes explicarem em português os conteúdos dessas disciplinas, em vez de lhe darem o programa estipulado, as noções fundamentais e básicas relacionadas com a língua portuguesa, sua especificidade linguística, gramatical, literatura, história desta e seus autores.
Ou seja, creio haver uma explícita intenção da parte da oficialidade nacional em extinguir o português do globo terrestre, exterminar os portugueses ou demais pessoas que o falem e escrevam, diluir a identidade portuguesa na Península Ibérica a ponto de sermos confundidos com qualquer outra província espanhola – mais do que já somos!... –, bem como fazer mudar para o estrangeiro (exilar) todos quantos se oponham a tais intenções e propósitos, como sucedeu com José Saramago, que saltou para as Canárias onde as cinzas vulcânicas são pouco férteis, mas não fazem tanto mal à cultura como as nossas pardas sapiências ministeriais. Não obstante haja quem se pergunte com acuidada insistência «então, para que é isso dos Institutos Camões e CLPs, dos folclores desportivos da lusofonia e prémios Camões, campanhas de marketing e certames de dar a conhecer os calhaus amuralhados e as nevadas escarpas viriatas?» Bom... Todos sabemos como são lestos a acreditar e lerdos de espírito, os ingénuos, que insistem em confundir realidade com manipulação, fé e convicção com pensamento, propaganda com projectos, estratégias com viagens, conhecimento com ter ido à escola durante 17 anos!... Acima de tudo, porque a resposta é simples, tão simples que cabe em quatro sílabas: para nada. (Além de oportuna justificação para a malta da galhofa orçamental se juntar a beber uns copos, atestar a tripa com iguarias regionais, deslumbrar-se com as maravilhas das moçoilas de torna-viagem e servir de boneco (papagueante) para reportagens de campo e peças de telejornais, claro está. Ou tinto... Que para acompanhar a língua, ainda não há pai!)
Cá por coisas e ... Vai buscar!!
Cá por coisas que me fazem espécie, ninguém me tira da ideia, embora existam outras mais complexas e engenhosas – logo, exponencialmente suspeitas e na razão directa do seu crescente grau de complexidade –, que a única maneira de todos ganharmos melhor é consequência imediata do também todos contribuirmos mais para o bolo colectivo, se este acrescento implicar igualmente uma distribuição da riqueza nacional mais justa, justificada pela responsabilidade e consciência sociais, compatível com os diferentes níveis de emancipação institucional ou individual, bem como administrada com competência profissional, observância legal, transparência política e processual, clareza de objectivos e prioridades, rigor financeiro e contabilístico. Quer no domínio da coisa pública, como no da privada. Aliás, a receita é conhecida, o resultado desejável, a variação necessária, a apresentação conveniente, o serviço espontâneo e confiante, para que se não percam aqueles gostinhos e aromas peculiarmente europeus e mediterrânicos, nem o molho da globalização azede (ou deteore) o prato. O acompanhamento é o costumeiro "haja moral" e o q. b. advém da frugalidade dos tempos, que requerem o sal da sensatez, sem descurar os condimentos da qualidade de vida, etiqueta ambiental e pertinaz sustentabilidade. Os ingredientes devem ser genuínos, livres de OGM's, nem cultivados na sua proximidade, cumprindo escrupulosamente as normas de comercialização, dentro das exigências de segurança alimentar, acondicionamento, higiene e qualidade, e os modos de preparar ou recomendações de uso, embora sendo as habituais dentro da psologia gregária da época, devem ser sempre formatadas pelas bulas legislativas, económicas, conjunturais, ecológicas e culturais na interpretação do real, e elaboração dos diagnósticos conforme as ordens cognitivas instituídas ou segundo os preceitos enunciados nos manuais de ensinança credenciados. Para evitar dissabores (e tergiversões). Ponto. Taxativamente.
No entanto, e por outro lado, diz quem sabe, em notícia corrente, que os EUA não planeiam subscrever o Protocolo de Quioto tão depressa, precisamente porque, como elucidou Harlan Watson, na abertura da conferência anual da ONU, em Nairóbi, a decorrer até dia 17, não tem qualquer indicação que haja mudança de posição durante o actual mandato presidencial – que é o de G.W. Bush e só termina em Janeiro de 2009, como bem nos recordamos.
E daí? Onde está a admiração? Aquilo que a observação nos dita, é que, com ratificação ou sem ela, nenhum país conhecido, que poucos serão é óbvio, pois pelo que ganho nem ao dos caramelos me afoito, será isso de somenos, porquanto aqueles que se prontificaram em ratificá-lo mais ligeiros ainda foram em fintá-lo, tentando contorná-lo pela compra de licenças de emissão de CO2 aos que lhe sobrassem, como na criação de meios complementares e fundos "mágicos" adicionais, para elucubração de poções hipotéticas, preferindo pagar mais para poluir menos, em vez de poluir menos para receber mais e pagar melhor, que ainda é a única fórmula existente, até hoje conhecida por catedráticos e plebeus, deputados e gentios, de garantir a coesão social e a sustentabilidade das nações, mesmo das que não valem sequer dois mil réis de mel coado enquanto tais, ou estejam circunscritas, integradas, comprometidas e federadas em unidades territoriais, militares, estruturais e económicas de ordem superior, como é o caso de Portugal com a União Europeia.
Pelo que importa não esquecer que, como foi recentemente alvitrado por responsáveis governamentais para a área do Ambiente, o nosso governo está abalizado para entender as questões ambientais europeias e agir em sua consonância, quando estivermos na presidência da UE, visto que cumprirá Quioto e para tal já tomou algumas importantes medidas, nomeadamente o reforço do quantitativo – cuja dotação inicial é de 6 000 000 de euros... – do Fundo Português de Carbono (Decreto-Lei nº 71/2006, de 24 de Março), tipo aumento de mesada quando o puto começa a portar-se mal e nós não sabemos porquê, que no dia 9 deste mês foi complementado com o Regulamento de Gestão do Fundo Português de Carbono (Portaria nº1202/2006). O que, dito assim, até parece coisa séria, compreensível, honesta, competente e eficaz...
Todavia, muito ficou por dizer e o dobro por provar, considerando que este fundo, concebido e previsto pela Resolução do Conselho de Ministro nº 53/2005, de 3 de Março, que aprovou o Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão (PNALE), não tem por objectivos únicos cumprir e contribuir para o cumprimento das metas estipulados no Protocolo de Quioto, mas sim, e fundamentalmente, influenciar o investimento futuro de forma a ser contemplado pelas verbas europeias, além e propiciar contorná-lo da maneira mais onerosa que se conhece para o efeito – pagando. E pagando-o às ordens da Comissão para as Alterações Climáticas (CAC) a quem compete identificar projectos de investimento que se traduzam na obtenção de créditos de emissão, ou em redução de emissões quantificáveis de gases com efeito de estufa (GEE), sob critérios de racionalidade económica e de articulação com as políticas sectoriais nos capítulos do ambiente, energia, agro-florestal, transportes e cooperação internacional; estabelecendo relações institucionais e garantindo a concretização potencial de redução de GEE, consequência dos investimentos do Fundo, efectuando os devidos registos. Sem que se saiba como. Nem com que regras, conceitos, prioridades, tabelas de avaliação, instrumentos e métodos. Apenas fé.
Ou seja, o dinheiro continuará a escoar-se-nos das mãos como água, entre os dedos, instituições e organismos do poder, sem nada aparecer concretamente feito, para que tudo fique na mesma, os problemas locais, regionais, nacionais e globais se mantenham, as soluções propositadamente sonegadas, embora que por outras vias. À semelhança dos prédios velhos com problemas nas fundações e estruturas, a quem pintam de novo a fachada para parecerem restaurados e recém-edificados... Que depois exibirão nos media. E nós abocanhamos, quais perdigueiros bem treinados após ouvir o tiro sobre a perdiz que já vinha a cair, ferida de morte, acreditando e obedecendo à ordem de «vai buscar!!», iludidos e desconhecendo que o chumbo espalhado no ar, não acertara em ave nenhuma.
Da agulha e do dedal: alinhavos, pontos, bainhas, pospontos e remendos
Se, quanto ao Orçamento de Estado (OE), a esquerda – radical, segundo alguns, ou revolucionária, na perspectiva de outros –, como para a sua congénere de direita – católica, conforme alguém diz na praça, ou nazista, como a classificam aqueloutros –, é mais ou menos líquido, tanto pela parte protagonista, interveniente, como pela opositora, que é necessário assegurar significativamente o crescimento económico por volta dos 3%, definir prioridades perante a escassez de recursos, quer humanos, técnicos ou naturais, incluindo os que reportam aos da massa crítica e do conhecimento, bem como concretizar políticas sociais que reduzam as desigualdades, fomentem a participação democrática, subam os níveis de produtividade, estabeleçam patamares de satisfação e de cidadania continuamente crescentes, em todos os sectores, nomeadamente nos serviços, saúde, educação e indústria, o que é certo é que ninguém está de acordo quanto à maneira de conseguir, calculando-se que haja maior unidade sobre os malefícios do tabaco do que sobre os benefícios deste OE, que prima no em tudo cortar sem em nada acrescentar.
Os Cavaleiros da Prosa
Dizem que há mundos em vez de mundo – coisa que desconhecia em absoluto, que é como quem diz, se bem os conheci, melhor os esqueci, aos mundos e às coisas, como é bom de ver e entender, como provam aqueles para quem meia palavra basta (e sobeja) – e, pior ainda, que guerras há entre eles, umas grandes e outras pequenas, umas espectaculares e outras ocultas, umas frias e outras virtuais, além das alucinadas e paranóicas, que tidas e havidas trouxeram os seus vitoriosos para o limbo dos afamados e daqueles que se foram da lei da morte libertando, como quem se impõe teimando em ficar quando tudo e todos lhe indicam que se vá, indiferente à lógica e fazendo orelhas moucas pràs evidências, torcendo as ventas ao destino e porfiando das ordens, tanto das divinas como médicas, quer das espirituais como das materiais, das financeiras como científicas, económicas ou filosóficas, de caturrice como de falta de imaginação, de desinteligência como de mandriice cerebral, mas principalmente das químicas e farmacêuticas, desfeiteando os diagnósticos com o mesmo descaramento com que o fazem aos efeitos, destacando das posologias apenas os sintomas que mais lhe convenham, condicionando os resultados das terapias conforme as necessidades da propaganda, estabelecendo patamares de negociação com a morte que a fragilizam, a desacreditam aos olhos da vida, a desdizem, a obrigam a reconhecer que já não é o fim da linha, que para lá dela há outras vidas, outras naturezas, outras posturas, demais visões do universo e, essencialmente, tantas teorias da vida quanto os universos em que ela se revela. A novidade chegou-me via H. G. Wells, facto que o Orson aproveitou para se celebrizar, fazendo engarrafar o trânsito americano, cujos provincianos transidos de medo no supra-sumo da sociedade de produção andavam sequiosos de consumir tudo que os consumisse, sobretudo o terror, o pânico, a fome, a esperança, o sonho, a ilusão, a xenofobia, o racismo, o especismo, o sexismo, a desenfreada competição por tudo e por nada, mas acima de tudo para ficar por cima de todos a qualquer preço, nem que para isso se tenha que matar, omitir, mentir, ultrajar, humilhar, enganar, sodomizar, violar, corromper, galardoar, enaltecer, elogiar, provar, desenvolver teses inauditas quanto insuspeitas, pejadas dos argumentos e sofismas que ainda hoje terçam as armas da razão vitoriana afidalgada pelos rococós do jesuítismo, que protelam a sanidade gregária em favor do expedicionarismo corporativista, exibindo as vestes como armas num cruzadismo insolente, hospitalar, templário, subscrito pela moralidade saqueadora e justificada pelos índices inquisitatoriais e códigos secretos dos malteses e arruaceiros, blasfemos e difamadores, como hereges que se abrigaram no seio das religiões para melhor exercer a sua heresia e sem perigar na denúncia, eis que se preparam uns para dizer que SIM e outros dizendo que NÂO, pondo Hipócrates à cabeça, esquecendo que não pode haver leis superiores à lei, ou que dentro dela a contornem, a não ser que queiram Estados dentro do Estado, nem práticas de defesa da vida que a ultrajem e usurpem, em nome de um código deontológico que apenas a actualidade contempla na exacta medida daquilo em que a legalidade se ausenta. Embora nenhum deles engravide ou assine com as dores de parto um compromisso de sobrevivência, educação e qualidade de vida do ser nascente. Simplesmente porque são guerreiros e precisam de uma cruzada, uma peleja, um torneio, em que possam exercer o seu mister de matar em nome de algo, seja do que for, não importa se racional, se legítimo, se os seus contrários, mas porque dizer não dá direito a julgar, quando sim apenas o de compreender. E as mulheres, o que querem? Compreensão ou julgamento?
Dizem que há mais mundos... Seja. Mas não tenhamos ilusões: assim que este acabar, dificilmente encontraremos um cocheiro disposto a transportar-nos para outro sob a tabela de preços deste. São uma classe estóica e sensata, mas duros e intransigentes no preçário das corridas. Além de eficazes, aliás de muito eficazes, nas cobranças.
Prenda de Natal ao cantar do galo: Central Nuclear em Nisa (com anúncio e missa)
Todos sabemos que vozes de burro não chegam ao céu, assim como a verdade não atinge quem vive na mentira, não lhe toca nem afecta, não comove nem modifica, coisa a que nem sequer aspiram, pois asno que é asno vive muito bem com aquilo que tem, ou não tendo rouba, principalmente o que de todos é, já que quanto da generalidade for seu também será, considerando que o inclui, dela é parte, nela se integra e adapta, sobretudo numa Terra em que muito bem vive, onde tem honrarias múltiplas, ração da melhor, óptimos tratos, reconhecimento público, oração e crentes, cómodos principescos e, ao contrário do puxar da carroça que lhe caracterizou a alma e o ser, é ela que o transporta agora da inutilidade que habita para o supérfluo que anseia, conforme os designos do seu vazio interior e quotidiano que lhe entretecem a teia de complexos em que se alcantila. Além de não precisar de se importar com nada, absolutamente nada que fora do ponto esteja, sobretudo com o cumprimento da lei, de que escarnece aplicando-a aos demais mas nunca si, ou não lhe servindo os particulares interesses a reforma, a revoga, modifica, altera, adapta à modernidade, que é uma – outra!... – palavra que inventaram para definir a sua preguiça mental e falta de tacto, incapacidade de compreensão e respeito pela vida, dos outros como do planeta, do espírito (logos) como da "casa" (do grego oikos), a que se acomodaram parasitariamente.
Do que resultou estarmos mais ricos mas não estarmos menos pobres. Dos 17 pontos fundamentais da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, adoptada na Assembleia Nacional Francesa, em 26 de Agosto de 1789, afirmavam o II (o objectivo de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem; estes direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão) e III (o princípio de toda a soberania reside essencialmente na nação; nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer que dela não emane expressamente), que o poder só pode ser poder enquanto estiver ao abrigo dos interesses particulares no exercício associado da liberdade, especificada mais adiante, em consonância com a lei, que é a expressão da vontade geral, posto que esta nunca se poderá – nem deverá – confundir com a vontade da maioria, independentemente da sua circunscrição aos partidos políticos e movimentos de opinião. A Europa, o continente amadurecido e determinado que evoluiu a partir de então, expandiu-se e iluminou o mundo como um facho na noite escura, tornou novos os velhos sonhos, abriu as almas à claridade da ciência, da civilização e da cultura, garantindo ser a maior fortuna da humanidade.
Mais tarde, em 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia-Geral da Nações Unidas aprovou esta declaração de princípios como apontamento de governo do mundo, fazendo notar como do seu cumprimento dependeria grandemente a sobrevivência da humanidade, reafirmando que para os homens livres a liberdade consiste em poder fazer tudo excepto o que prejudica outrem, coisa provavelmente desconhecida para os promotores da construção duma central nuclear em Portugal, nomeadamente Patrick Monteiro de Barros e Pedro Sampaio Nunes, que insistem em considerar a sua viabilidade em Janeiro próximo, não obstante o governo português ter recusado esta opção energética, conforme divulgou o Diário de Notícias, de 27 de Novembro, numa peça de Ana Suspiro, e em que se adiantava que uma das localizações possíveis da dita central seria no concelho de Nisa, resvés à nossa porta, pondo-nos um Chernobyl dentro de casa sem nos perguntar se o queremos, à nossa revelia, contra nós e contra a região, em observância exclusiva dos seus interesses corporativistas, necessidade e ganância, egoísmo e fortunas particulares, fazendo letra morta do documento basilar da nossa ocidentalidade europeia, tentando apagar o compromisso social que a sustenta, violando-lhe os princípios essenciais, empobrecendo-nos terrivelmente para que assim possam ficar, raros e poucos, bastante mais ricos.
E o que vem realçar a verdade incontestável, desde 1789, pelo menos, que a humanidade não tem falta de leis, o que vão é sendo cada vez menos aqueles que as cumprem. Quem lucra com uma central nuclear em Nisa? Nós? A Humanidade? A Europa? Só se for a dos animais dos presépios, que se empanturram com a palha onde queríamos deitar os nossos meninos – e do mundo, que mesmo aos que de si exclui, lhes entra continuamente pela porta adentro. Com lacinho e papel lustroso. Porque é Natal.
Ou faz com que nos não surpreendamos com os jornalistas quando, ao fechar da peça de apresentação do I Plano de Acção para a Integração de Pessoas com Deficiência ou Incapacidade, no telejornal, referem que este I PAIDI "foi apresentado. Veremos agora como vai se concretizado", numa rima de quem está já tão habituado à poesia planetária que até verseja sem querer. Outra riqueza das grandes, pois a quem perdeu há muito de vista as coisas, os valores, os princípios e as ideias, andam-lhe de sobejo as palavras que apenas valem pelo som. Os plins, tilts, clics dos materiais sonantes, dirão alguns!... (Para não destoar.)
Nuclear: Bhhrrraaa!!...
Além de comunicar, entender, saudar, apresentar, esclarecer, em democracia é preciso falar. Falar de tudo e de coisa nenhuma, falar por falar, quer para escutar como para desabafar, para se fazer notar, chamar a atenção, pedir colo ou afastar inconvenientes, estipular directivas como alinhavar sonhos, definir palavras ou intenções, gizar planos e agendas, entabular estratégias e avaliar resultados, condimentar oportunidades e alterar percursos, formar opiniões e conceitos, desmontar tabus ou preconcebidos, analisar factos como criá-los, inventar a realidade ou subscrevê-la, tomar posições como desacomodar instituições, pôr em relevo os porquês, os quandos, os ondes e os por ou para quem, das coisas como das ideias, das leis como das necessidades, dos privilégios como das ousadias. Porque é legítimo discordar até acordar. Assim como em 50 milhões de anos da espécie, ainda se não descobriu melhor medida profiláctica para o amuado ressentimento, nem para o macaquear primata das acções-reacções com que nos entopem o cérebro. Pois é principalmente por isso que a democracia não é nenhuma ditadura, independentemente do trabalho, inteligência e abertura que esse diálogo acarrete, dos dissabores e contratempos que a negociação acrescente ao dia-a-dia, substituindo as resoluções corporativistas por autênticas soluções dos problemas (e das sociedades, se conflituosas forem).
Desde a Tomada da Bastilha, cujo significado foi eleito como o segredo do progresso e alma de todas as revoluções, mas sobretudo génese ou bases fundamentais que balizaram a Europa contemporânea, tal e qual como dela nos apercebemos actualmente, com ou sem Tratado Constitucional que a consubstancie num todo homogéneo, uma vez que as nações que a compõem subscrevem A Declaração Universal dos Direitos do Homem, que em si mesma é a essência dos superiores interesses continentais, no que à cultura da liberdade, do desenvolvimento, da ciência e do conhecimento, da tecnologia, da civilização e da cidadania dizem respeito, não só instituiu o sistema democrático, a liberdade de expressão, a tolerância e o direito à diferença, o Estado social e o reconhecimento pela dignidade humana a nível planetário, mas também consolidou as línguas como impérios existenciais que colmatam a estrita significação individual e regional da consciência humana. O referendo, de âmbito alargado, é assim, grosso modo, o principal instrumento da fala colectiva e a maior revolução gerada e amamentada por Marianne (Delacroix), imagem corpórea do espírito republicano derivado da Liberdade greco-romana, cuja figura feminina de seios (tão sensuais como resolutos, férteis como maternais) descobertos empunhava na mão direita o ceptro da justiça e do poder, na esquerda o barrete dos escravos frígios e a seus pés tinha um gato, animal felino que tem tanto de dócil quanto de assanhado, se aprisionado for. De poético como prosaico. Ícone do idílio como do pesadelo, da ode como do vitupério. E que para mim é a suprema encarnação da fala...
Portanto, importa dizer agora que nunca verei a energia nuclear como agradecimento de SIM ou de NÃO, se este não resultar de um referendo que equacione os superiores interesses nacionais e europeus, porquanto Portugal não está preparado nem professa a cultura da competência suficiente para viabilizar a construção de qualquer central nuclear no nosso território, sem que esta não seja uma autentica bomba atómica que ao mínimo deslize nos expluda dentro de casa. Quer a localizem em Vila de Rei como nas Berlengas, nas Selvagens como em Freixo de Espada à Cinta, em Coimbra como no Porto, em Lisboa como na Cova de Santa Iria, no Algarve como na Ilha Terceira. Porque o país não está capacitado para tal sem fazer perigar o mundo com a sua existência; não está suficientemente desenvolvido em termos civilizacionais, de recursos técnicos e humanos, de cidadania, culturais, republicanos e éticos; não se encontra democraticamente amadurecido, nem emancipado dos sectores económicos, corporativistas e religiosos; além de deixar muito a desejar nos capítulos da responsabilidade social, quer quanto à suas franjas e faixas etárias, como em termos globais, cognitivos e gerontológicos. Nem legislativos. Além de se encontrar nele instituída e generalizada a corrupção.
Se não, vejamos. Em que vertente, em que sector, é que o país, actualmente, funciona bem, e não tenha dado bronca no passado próximo? Urbanismo e Ordenamento do Território? Bhhrrraaa!!... Ambiente e Obras Públicas? Bhhrrraaa!!... Indústria e Tecnologias da Informação? Bhhrrraaa!!... Transportes e Comunicação? Bhhrrraaa!!... Desporto? Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Educação e Ensino Superior? Bhhrrraaa!!... Artes e Cultura? Bhhrrraaa!!... Emprego e Segurança Social? Bhhrrraaa!!... Sinistralidade Rodoviária, Alcoolismo e Droga? Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Segurança e Administração Pública? Bhhrrraaa!!... Autarquias? Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... Bhhrrraaa!!... E é melhor ficar por aqui, para não aborrecer os ingénuos!
Ou seja, permitir que um país onde mais de um terço da população não sabe separar o lixo, não se limpa nem cuidam das florestas, viola e esbofeteia os seus filhos, não conseguem impedir que as crianças fujam das instituições e abrigo de acolhimento, encarcera e espanca deficientes, desconhece as vantagens dos transportes públicos, é preciso escreverem-se livros sobre ilegalidades para que elas sejam averiguadas, não cumpre Quioto, nem alcançará os seus objectivos em 2010, disponha de equipamentos nucleares e centrais dessa energia, é não só um crime como uma inequívoca certidão de óbito a grande parte da Península Ibérica, com respectivo alastramento à Europa e ao Mundo.
Porque num país onde graça o criancismo não pode haver armas letais, porquanto é certo e sabido, que com estas não se brinca. Nem com a vida dos outros. É que morrer por morrer, a cada um pouco monta; mas o pior, é quando isso sucede àqueles que amamos... Bhhhrrrrrraaaaaaa!!!!!!...
E é, ou não, a falar que a gente se entende?
Do sentimento dos bichos: em acto, espírito, credo e tradição
(Conto de Natal)
Ao amor, não dá grande espaço de manobra, quem afugenta cão que não morde, asperge gato que se enrola a seus pés, rasoira com chumbo os pedrouços onde trina a cotovia, que vertical se erguerá cabriolando o voo, repicado de piruetas, pipilando desafios aos verbos celestiais, infringindo o sossego e quietude ronceira da vegetação anainha, que resguarda e acolhe a vida miúda como fornece alimento às sagacidades maiores, ou enfeita de flores os montículos, mouchões e tufos da pradaria.
Lembro agora, que quando saía de casa, manhãzinha cedo, as giestas gotejantes ainda de orvalho, as folhas das oliveiras tremeluzindo no azul do céu, como peixes de prata, imitando seu ondular sob as brisas espertinas, o canivete no bolso e a sachola ao ombro, para recolher neste ou naquele morouço, desta ou daquela marrada, daqueloutro outeiro ou recanto de linda, os espargos tenros e noviços das espargueiras bravas, que mais tarde minha avó me confeccionaria com azeite, miolo de pão e ovos, das galinhas espavoridas que corriam diante respigando insectos estremunhados, debicando gramíneas ou esgaravatando canteiros, confesso que eu, chamando pela Carriça que me acompanharia na expedição às cercanias do Monte, não desconfiava sequer que esse jeito de crescer daria qualquer resultado, ou futuro, além do que convinha de imediato para me baldar aos TPC, que a professora marcara para as férias, tudo à dúzia e meia, dezoito cópias, dezoito redacções, dezoito verbos, dezoito problemas, dezoito desenhos, como vingança pelos igualmente dezoito dias de gazeta que o Natal concedia, como descanso dessa teima que era ensinarem-nos coisas a que não percebíamos a mínima utilidade ou préstimo.
Devia ser tão viciada na caça, a Carriça, quanto eu, na miolada de espargos. Daí o entendimento entre os dois, a simbiose, a sub-reptícia aliança que nos ligava, na devoração de vegetais, pela minha parte, e no acossar de felinos, pela dela. Porque se dentre coelhos e gatos, para acometer, tivesse que optar, eram os segundos que lhe levaria à palma, expectativa e luta, bem como satisfação... E nunca tive dúvidas, que mesmo coelho perto e gato longe, um passarinho na mão ou dois a voar, ela partiria sim, à desfilada, perseguindo o distante último. Tipo arrebatamento de paixão. Logo, que não há como explicá-lo, por mais que se tente e adiante.
A sachola servia-me, quase exclusivamente, para cortar as espargueiras, que prestes rebentariam com multiplicado vigor e incontáveis, quão preciosos, espargos. A cadela, essa finória das tradicionais caçadas, que curiosamente não ladrava nunca, se no encalço de presa, perseguindo a peça, ligeira corria, pois antes latia com gemida verve, e se esganiçava numa espécie de grito orgástico, intermitente e impulsivo, como quem usufrui de enorme prazer, cirandava normalmente em redor de mim, batendo matos, inspeccionando rumas pedregosas, fisgas entre rochedos, escarafunchando silvados, espiolhando covis e covas, farejando rastos recentes, na endiabrada retouça de quem faz o que gosta e é valorizada por tal. Além de consciente, sobretudo, do quanto me deliciavam as suas incursões e escapadelas ao código venatório, refrega rústica de entretecer a actividade física com a pesquisa, procura e descoberta, esforçada busca aliás, de levantar viventes ocultos dos bárbaros matagais, não raro ficava parado e quedo, absorto, esquecido de mim, a observá-la.
Pois foi num desses momentos, no eis se não quando que interrompe a deambulação sonhadora, com aquela imperiosidade do presente que empresta aos sentidos, todos eles, a atenção redobrada das ocasiões imprevistas e excepcionais, que desembestou em correria ladrando, de um cabeço fronteiro, o rafeiro alentejano dos vizinhos novos, rastolhando na vegetação em aguerrida azáfama, sob o intento de abocanhar a vítima da sua predilecção, no encalço de um gato preto, ainda não adulto embora, pelo tamanho e genica, próximo disso me parecera, porém absolutamente desconhecido, não obstante, à altura, andar eu inteirado do inventário da felinidade local. Ora, o que é certo, é que o Neru da vizinha – creio que era esse verdadeiramente o nome do animal... –, tanto se empenhou, que êxito teve na operação, conseguindo encurralar o bichano num canto formado pelo encontro de duas paredes de linda, de retirada impossível nem escapatória provável.
Defendia-se com valentia e determinação, atacando à unhada o focinho do algoz, mas cuja resistência pouco mais duraria, adivinhando-se-lhe fim a vista, com morte e feérico esfacelamento. Constatação reforçada assim vi a Carriça, correndo lesta e enfurecida, para o sítio da escaramuça, e me levou a murmurar com os meus botões «gatito, estás tramado: que dois contra um, metem-lhe uma palha no cu». Todavia, ao contrário do que antevira ou seria lógico concluir, dada a apetência caçadora e preferências da cadela, esta ferrou, com esmerada gana, os dentes no pescoço do rafeiro, até quase o esganar, permitindo assim ao acossado tareco saltar o muro e sumir-se no outro lado.
Fiquei parvo – e estupefacto. Um'assim?!?... Então não seria mais natural que dois predadores da mesma espécie se unissem, a fim de melhor aniquilar o outro e mais eficazmente executarem o seu mister? Há imponderáveis por desvendar que só o absurdo reconhece... Ou, como era Natal, algum milagre ali acontecera: é que se a Carriça ajudasse a matar o bicho, abrisse o presente, desatasse a lógica da efeméride natalícia, celebrasse o colectivo e tradicional sentir, perderiam o pobre para os restantes dias do ano, diminuindo a esperança nas caçadas futuras, o que acabaria definitivamente com a precisão do advento. Porque este acontece sempre que o indivíduo quiser, se motivos e causas nesse sentido houver. Pelo que, mais uma vez, entre cão e gato, fora ao dono que a cadela protegera, porquanto é essa a magia celeste, que os cometas anunciam, e assiste à sua repetida renovação anual, tornando recém-nascido o que de mais antigo há: o rito do hábito. E que nos desabitua de pensar, pois se repete em sendo o que uma vez foi.
E à cadela... Levaríamos nós a mal, se ela a partir da data, celebrasse todos os anos o dia em que salvou da morte quem atacou e tentou matar todos os dias? Se calhar, não; se calhar, sim... Quem pode afiançar o peso da medida na economia do mundo? (Hou-hou-hou-hou-hou!!...)
Por mim, regressei de seguida a casa, pois já escurecia acentuadamente. É que, como todos sabeis, os dias em férias, são bastante mais pequenos!
A Parábola dos Cegos
Quem se defende sem motivo, alguma motivação tem. Porque três vezes nove, são vinte e sete, e quem matou o cão foi o Baeta. Ora, as coisas que a gente desconfia que sabe!
Normalmente, quando as pessoas estão a cometer crimes de lesa contribuinte, a servirem-se pessoalmente de serviços que deveriam servir o público, ou aqueles que lhe pagam os salários pela inutilidade que executam, cuja é, sem a menor dúvida uma das grandes responsáveis pelo nosso atraso em comparação com os demais países europeus, mesmo daqueles que não receberam as avultadas quantias dos Fundos Estruturais e Sociais que nós recebemos, é típico delas reagirem taurinamente, aventando de chifres ao ar em colhida os que se lhe aproximem, independentemente de haverem estes quaisquer intenções de saber o que se está a passar, se se está a passar algo que não deveria estar, ou, ainda, em caso de tal ocorrência, tomar conhecimento dela bem como divulgá-la. Aí, montam-se no corporativismo, e hierarquia deste, estabelecem a sua faixa de gaza para combater os bárbaros intrusos, infiéis à panelinha do "ora agora usas tu, ora agora abuso eu" e exibem os galões da indignação, assolapados no direito de julgarem os outros pela bitola da sua conduta e maculada consciência. Desconfiando. Aviltando. Projectando. Condenando por julgarem que o semelhante é tão falho de escrúpulos quanto os próprios. O que, conforme a prova dos noves, dá nada!
E o 77 é igualzinho. Cepa do mesmo garfo. Transformer histórico da classe pernóstica, pseudónimo que se auto-intitula herdeiro de Júpiter, senhor dos princípios celeste (3) e terrestre maternal (2), também conversível ao hinduísmo sexista, significado do feminino (2) e do masculino (3), aliás número de dias para a criação das aves e dos peixes, das sextas-feiras da traição e vingança tribal, intencionalmente denunciada na escolha do nome, já que sete mais sete catorze são, de resto cinco, cifra dos sentidos e casamento, ou do bom agoiro islâmico. Cinco dedinhos – alô, alô, Fátima atende. Stop. Escuto – do mesmo 10 de tipos de pessoas que percebem o código binário, posto que uns são os que sabem, e outros os que não. Sai o ano, entra o ano, e a mudança é nenhuma! Cego de nascença, considera-se predestinado guia dos que não vêem, mas acreditam; dos que não compreendem, mas julgam; dos que espalham o terror e a excomunhão do homem em nome da humanidade, mas acusam de terrorismo quem pensa o contrário de si; dos que precisam de vítimas porque querem praticar a sua salvação, mas desconhecem que por cada uma que salvam, criam cinco ou seis novas, imbuídos que estão na feitura do milagre da multiplicação dos pais.
Pieter Brueghel I, o Velho, quando transpôs para tela, no século XVI, a sua interpretação dos versículos de S. Mateus (:15,14 – "Deixai-os, são cegos a guiar outros cegos! Ora, se um cego guia outro cego, ambos cairão na cova"), se é que foi essa a sua intenção, não específica que o quarto cego, guiador dos três anteriores, e que olha a catedral em fundo, como se a pudesse ver!, cairá na mesmíssima cova onde caíram os dois que o antecederam, mas da imagem, ou metáfora que dali nasce, não nos restam as mínimas dúvidas, que a continuar nesse passo assim seja, porquanto o seu ver longe não lhe permite atentear melhor o que perto está, adivinhar a vala onde porá os pés, arrastando consigo os guiados, consequentemente. Logo, sendo parábola, o que ninguém poderá desdizer, visto que foi esse o título dado, como história destinada a revelar uma lição de moral ou princípio religioso, mediante comparação com acontecimentos reais, tal como a do filho pródigo ou do bom samaritano, dita-nos que o acontecido pode voltar a acontecer, se se mantiverem os traços característicos anteriores, determinantes podemos nós adiantar, repetindo-os e às suas consequências, uma vez que defender a vida com a não-vida, o ver com o não-ver, é um apelo de fé para o número, que mais número é quanto maior for, multiplicando os restos para depois os reduzir à perfeição, ou virtude, que está sempre no meio. E é sinónimo comercial de negociação em que todos podem sair a ganhar, pois sete e sete são catorze, que noves fora dá cinco, no que especifica simplesmente, que a Espanha, se quer continuar a ganhar com o aborto das portuguesas deve incentivar e financiar o não da interrupção voluntária da gravidez em Portugal.
Ou seja, a Igreja política espanhola, quer continuar a governar o nosso país pela inquisição referendária ao aborto, a fim de manter avultada fonte de receita, sangria contínua do nosso PIB, considerando que não se antevê um serviço nacional de saúde com capacidade para a resolução de todos os compromissos a que o sim obriga. Portanto, convém estar atento às filípicas inventivas de quem tenta manipular a opinião pública sob a argumentação de estarem a defender a vida, porque não é essa a sua intenção, mas antes a de manter a mulher sob o terror da culpa e do pecado, utilizando a sua propensão maternal para novamente esmagar e omitir Lilith, que foi a primeira mulher, anterior a Eva, criada por Deus, mas que o cunho machista bíblico erradicou dos testemunhos, substituindo-a por alguém que melhor servisse os interesses misóginos do sacerdócio, mais submissa, invejosa, pueril, vingativa e mentirosa, a quem facilmente amaldiçoar tornando-a culpada da nossa desgraça e expulsão do Paraíso.
Isto é, guiada. Guiada por quem não a vê nem lhe reconhece direito ao prazer, à liberdade, individualidade biológica e moral, intelectual e económica. Quem quer continuar a servir-se dela como objecto sexual e mão-de-obra, dando-lhe apenas como paga a culpa, o pecado, o sacrifício, e a responsabilidade de ser o sustentáculo da humanidade. Sem contar com um porém... É que a mulher cresceu, em Portugal e no mundo, e não vai continuar a deixar-se ludibriar como nos últimos dois mil anos lhe aconteceu. Acrescentará a sua voz a 2007, metendo outro sete na conta, elegendo este século XXI como o ano zero da nova era: a digital. Porque deixou de ser a esposa no império do i, i de ignorante, de influenciável, de ingrata, de intriguista, de infiel, de impulsiva, de imoral, imatura e insaciável, para se tornar a rainha do universo do e-, e- de empreendedora, de esclarecida, de emancipada, de educadora, de exuberante, de europeia, equilibrada, epicrítica, enodável e entusiasta. Porque foi isto que as Tecnologias da Informação e Comunicação lhe trouxeram, ao contrário do quarto cego de Brueghel que quis olhar o longe descurando a casa que habitava... Pois agora, pode-se olhar o perto para ver nas vinte e sete nações que compõem a nossa Europa!
E diz-se assim: três vezes nove, vinte e sete; quem matou o cão foi a Bi.
(Não há nada como complicar para tornar o simples ainda mais natural... Pois é por estas e por outras, que à força de tanto desconfiarem, a conta bateu certo!)
A LENDA DAS MAÇÃS ASSADAS
Diz-se que a lenda é um cerzir popular na manta de retalhos da cultura nacional... Será?
Numa vivenda da Rua 64, do Bairro Novo, limítrofe à Grande Cidade, habitavam cinco pessoas, três homens e duas mulheres, sendo quatro da mesma família, pai, mãe, filho e filha, e o outro, o hóspede, oriundo de uma aldeia distante, estudante trabalhador, que para ela se deslocara por motivos de concurso ao ensino superior, mas com a licenciatura à porta e sabendo as dificuldades dos progenitores, resolvera aí fixar-se, arranjando alguns part-times, aliviando-lhes a despesa com a sua formação. O patriarca, André de seu nome, tinha quarenta e dois anos, casado com Palmira, de quarenta, ambos empregados, ele funcionário de repartição do Estado e a esposa balconista de loja, no principal Centro Comercial da urbe. Viviam desafogados, é claro, mas com o crescimento dos filhos, Benedita a terminar o ensino secundário, de dezasseis anos e óptima aluna, e Henrique de doze, prestações da casa e carro, juntaram o útil ao agradável, visto terem mais dois quartos disponíveis, admitiram Emanuel, de vinte e um anos, conhecido da mulher, por serem quase colegas, pois exerciam profissões diferentes em empresas similares.
Certo dia, antes do Carnaval, depois de Emanuel ter ido de fim-de-semana à sua terra, durante o jantar sobretudo, que era a única refeição coincidente com a presença generalizada, já que ora uns, ora outros, almoçavam fora, nas escolas ou snacks circundantes ao ofício, notaram que este regressara diferente, hipersensível, estranho, circunspecto, ensimesmado, sorumbático, aparentemente apoquentado, deveras abstracto e ausente, falho da prazenteira convivência que sempre lhe reconheceram, a tonalidade moderada da voz, o jeito simples mas aprumado, que o caracterizavam e lhe era habitual. Principalmente a Benedita, cuja empatia entre ambos raiava o enamoramento, e a quem a presença dele na casa, viera aguçar a sensibilidade e gosto pela atenção que despertava nos indivíduos do sexo oposto. Além de ter deixado de ouvir música, aquela arengaria meio barroca, meio esganiçada, que constantemente lhe saía do quarto, e lhe era sinal evidente da estadia dele no lar, que tanto a irritava como a seduzia enquanto no seu, a estudar, a dormir, na net ou a cogitar na vidinha diária e correspondentes alegrias ou desafortúnios.
E tudo seria nada se a filha não saísse ao "quatro e duzentos" do pai, nem aos "sete e quinhentos" da mãe, educada em liberdade, abertura, franqueza, dignidade e participação activa na vida familiar!... Mas, vai lá vai, que mulher livre é curiosa e desunhada, a quem as papas não enrolam a língua! Então, se notada fora a diferença à segunda colher de sopa, ainda não haviam chegado à raineta tostada da sobremesa, e já a pergunta estava feita:
«Qu'é quessse passa, Emanuel? Adoeceste na ida que te trouxe de volta?»
Os restantes entreolharam-se, acabrunhados pelo descaramento da donzela metediça, embora reconhecidos, visto ter ela questionado sobre uma inquietação que era comum. E o silêncio tornou-se plano sobre a mesa redonda, durando até pesar, entorpecer os gestos, pôr a respiração em negrito, sublinhar em caixa alta o pentágono dos comensais.
Portanto, não havendo como fugir-lhe, Emanuel respondeu «é que, em Casal Parado, a minha terra, entaiparam os seis poços que lá havia, de onde saía a água para uso doméstico, como para regar jardins e hortejos, dar de beber às ovelhas, cabras, burros e vacas, além de encher o tanque das lavadeiras, só porque o Bentinho, rapaz de oito anos, aprendiz de sacristão, filho da costureira Madalena, vizinha dos meus pais, se suicidou num deles, depois de ter apanhado a mãe e o Paco, pastor comunitário, filho da Mercedes espanhola e do feitor da Herdade do Cortiço, com quem casou mal chegara fugida à Guerra Civil, quando retornava da taberna, a que diariamente peregrinava para ver, e aprender, a jogar à bisca de três ou ao truco, um pouco mais cedo que o costume, a fazer aquilo de que nascera, quando a mãe tirara medidas a um cliente mais demoradamente, para melhor lhe assentar a bainha e vinco nas calças, e agora o povo, maioritariamente envelhecido, excepto dois ou três netos, filhos de emigrantes, alguns sem queda prà escola que andam nas obras, lavoura ou pastorícia, tem que carregar bilhas e bilhas todos os dias, da fonte do Largo da Igreja, ao lado da tasca e mercearia, centro da extinta caldeira vulcânica onde está situada a aldeia, e de onde se vem sempre a subir, pois as moradias em redor, estão todas nas encostas...», numa arrancada, sem demoras de fôlego nem derrapagens indecisas, mostrando bem como também ele estava deserto de desabafar, como qualquer pessoa que se angustia e atormenta, se alguma moléstia aos seus acontece.
É óbvio, que André, fora o único, avezado que estava às medidas oficiais, que ripostara com desempenada desenvoltura prática, naqueles básicos e políticos senões do «a sério?? Porque não recorrem à rede? Não há abastecimento?», mas o rapaz pesaroso, fixando o caramelo frio e endurecido das maçãs, bateu com a colher na sua, esclarecendo o viril patriarca, que «apenas prometido, nas últimas eleições da junta, e que deve ser novamente promessa das próximas, como vem sendo praxe. Principalmente agora, que o euro anda escasso e a nova lei aperta!»
Todavia, o que é certo, é que a justificação de Emanuel, pelo inesperado surpreendente, fez com que nenhum tocasse na sobremesa antes de finda a prédica, a que o caramelo esfriara, o odor sumira e dificultara a colherada. Pelo que afastaram o pratinho, desistindo de a ingerir, ficando-lhe o jantar quebrado.
Não sei se foi daí, mas suponho que sim, que nasceu o ditado, que ainda hoje se repete, de quando em vez na Grande Cidade, que "ao doce e ao pequeno, na mesa dá-se com presteza, se não cresta-se-lhe o veneno", é que a fruta por grada que seja mingua no assar, e o açúcar derretido cristaliza e endurece, desde que não se morda a tempo, empastando peganhento na boca, embora formando lindas decorações, de laivos vidrados coloridos à refeição das gentes. Mas por tal o conto e aqui fica o registo, para que aos turistas seja dada uma razão, para que não fiquem enganosamente a pensar que é do bicho, quando nos restaurantes da Rua 64 estranhem o facto de nas ementas vir sempre referido que por sobremesa toda a fruta têm, excepto maçãs assadas.
Enfim!... Que cada roca com seu fuso, cada terra com seu uso, convém acrescentar, e só para terminar com outro ditado que aí se teceu, não obstante desse eu desconheça com que linhas se cerziu!
Ó QREN pra te quero!
Afamados entre apregoadores e prestamistas, os Sete-Sckóvias (SS), são uma seita de dromedários esclavagistas com assento privilegiado na meseta dos talibans do ocidente, instalada na Península Ibérica desde a doneação da senhora, assim que os romanos descobriram que faziam melhor efeito a ameaça divina de ir bater com os costados no inferno depois da morte e a excomunhão, sobretudo da benzedura do toutiço contra maleitas, corneações diversas e maus-olhados, do que a aplicação das sanções previstas na lei, para o escrupuloso cumprimento dela e efectivo pagamento dos impostos imperiais, demais pirolitos e tremoços, tendo por exclusivo mister o infernizar a vida aos celtiberos, ou lusitanos, a fim destes percorrem lestos e lampeiros, depressa, depenados, sem defesa e esquentadamente, a via sacra da crise crónica e continuada, ou o purgatório da portugalidade.
Pelo bom desempenho da missão, demonstrada que terá sido ao longo dos tempos e dos esgotos, corrimentos vários e esportulos desaguares, da sua inutilidade vária, e persecutória, foram autorizados pela monarquia da república a implantar-se nos patíbulos da forca e pelourinhos da sentença escatológica, típica do «se não dizes e pensas aquilo que eu quero que digas e penses, então já não gosto de ti » com que entopem as trompas dos ofícios oficiais, dos casamentos com dote e das cerimónias fúnebres, para preencherem as lacunas do Estado, que deixara de estar onde já lhe não dava lucro, prestígio nem votos estar, catapultando o seu ódio ao amor, prazer, trabalho, alegria e sabedoria dignificantes da condição humana, e para das suas canhoeiras da comunicação, com que disparam miríades de anões mentais para abrilhantar espectacularmente as escolásticas retóricas dos púlpitos, vendendo a costumeira banha de cobra da moral e da peste emocional pelo preço a que nunca compraríamos autênticos remédios para a saúde, educação, formação, segurança e coesão social, aliás explanados generalizadamente como vectores do Potencial Humano, Factores de Competitividade e Valorização do Território, bastos e ricos e vitaminados em responsabilidade e consciência cívica, respeito pela vida nossa e alheia, qualidade delas e do seu desígnio estratégico na qualificação dos portugueses e portuguesas, valorizando o conhecimento, a tecnologia, a ciência e inovação, bem como a promoção de elevados e sustentados níveis de desenvolvimento económico, sócio-cultural e de qualificação territorial, num quadro de registo da igualdade nas oportunidades e aumento da eficiência ou qualidade operacional das instituições públicas.
Porque certo e sabido é que sem interrupção voluntária da gravidez em todos os países da União, a acreditar na inequívoca mensagem que nos ditaram os franceses e holandeses pela referendária ocasião, não há Tratado para a Constituição Europeia para ninguém, se a referendo for, e obrigatoriamente terá de ir, e que sem esse Tratado a união política da Europa económica não passa de uma brincadeirinha do faz-de-conta, tipo lenda ou fantasia distante, conto do vigário e anedota de cavalaria, piada pornográfica e escatológica da caserna templária, onde mancebos e veteranos tecem loas a Onãn, jogam à bisca de três e ingerem licores estaminais brindando à eternização dos bidonvilles, das arruadas e buzinões, dos viagras para estabilidade e crescimento, corrupção preservativa da antiga ordem, e negócio da mentira por grosso e a retalho, avulso e atacado.
Ou seja, se continuarmos a dar ouvidos aos SS da actualidade, terroristas da excomunhão e intolerância, não só estaremos a repetir o desperdício praticado em fontinhas de repuxo e lixeiras urbanas camarárias a céu aberto, comuns na nossa cidade, hinos monumentais aos QCA (Quadros Comunitários de Apoio), onde se estabeleciam os montantes do Fundo de Coesão, Fundo Estrutural, Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e Fundo Social Europeu, como a consagrar o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) em igual destino, reforçando financeiramente não a Qualificação dos Recursos Humanos, não a promoção do Crescimento Sustentado da Economia Portuguesa, não os Programas Operacionais Regionais do Continente e Ilhas, mas sim a corrigir os erros e assimetrias do presente com as cavalgadas, as cavalgaduras e insanas bestialidades do passado.
Que é como quem diz, bem-vindo o QREN e seus 21.5 mil milhões de Euros, mas se é para com eles fazerem precisamente o mesmo que fizeram com os dos QCA até hoje, podem limpar as mãos à parede, grafitar nela a qualidade do nosso futuro, pois se o quisermos antever e garantir, não nos resta outro destino senão escrevê-lo com o «ó pernas para que vos quero» de só parar no Samouco, para meter água se ainda a houver, posto que este já não se localizará junto às pontes de Lisboa, mas sim para lá dos Urais ou dos Picos açoreanos, conforme é registo dos mapas se procurarmos itinerários de saída para uma vida melhor ou exemplares rotas para a aeronáutica do futuro.
Exacto. E quem tiver dúvidas… Que o experimente!
EH, PÁ!!...
A consciência social portuguesa tem tanto de bairrista quanto lhe falta em consciência.
Tomemos por acaso, providência dos aventureiros, como dizia Napoleão, ou a causa ignorada de um efeito conhecido conforme é comummente entendido, a constatação, aliás aflorada "diplomaticamente" diversas vezes por altos signatários europeus, como Durão Barroso v.g., quando deixou recado à nossa justiça que nos casos difíceis para os quais não tenha meios ou disponibilidade pode socorrer-se das instâncias judiciais comunitárias, que a mentalidade marialvista dos fadunchismos simiescos e medievais do nosso quorum institucional está a emperrar o processo de democratização e desenvolvimento do país de nós todos, que assim é tido e achado no bem, como para o mal, em certos casos de forma irreversível, como nos procedimentos ligados ao sector energético e emissão de gases com efeito de estufa, conforme o atestado no relatório do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), grupo científico criado pelas Nações Unidas em 1988, sob o objectivo de avaliar a responsabilidade humana nas mudanças climatéricas, e que tendo reunido as suas conclusões num documento científico com mais de mil páginas, se propôs juntar-se em Paris para o sintetizar em termos práticos, a fim de as suas previsões sobre o fenómeno, consequências e impactos regionais, possam servir eficazmente a governação dos povos e apontar pistas para os decisores políticos, uma vez que «o tempo pressiona», reforçando o generalizado sentimento de urgência sobre a matéria em causa, sobretudo ao nível do consumo de combustíveis fósseis como o petróleo, gás natural e carvão, conforme declarou Yvo Boer, secretário-geral da Convenção, no mês passado à agência Lusa (RCR – 25 e 29 de Janeiro).
E até aqui, suponho, não se antevêem desmandos de maior... A coisa é complexa e carece de simplificação, ponto. Agora o busílis, é que se tornou rotina traduzir sempre a falta de meios e urgência de medidas em avultados acréscimos de verbas, ou subsídios para agir correctamente em termos de sustentabilidade e cidadania, quando para proceder incorrectamente bastaram os vencimentos dos decisores políticos e montantes esclarecidos em orçamentos de Estado ou programas de implementação de políticas sectoriais, como aliás sucedeu com A Carta para a Igualdade de Direitos das Mulheres, subscrita pelas instâncias autárquicas (ANM e ANAFRE), a que o QREN contempla presentemente 76 milhões de euros porque, os anteriores 13 milhões previstos no III QCA não suscitaram suficiente empenho na promoção da igualdade de género nem medidas correctivas da discriminação da mulher que "enfeitem" o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, cujo encerramento no segundo semestre de 2007, coincide com a presidência portuguesa da União Europeia.
Ou seja, normalmente, à semelhança do que acontece com algumas variedades de escaravelhos que enrolam numa bola enorme quantidade de detritos para nela depositarem os seus ovos, garantirem a perenidade da sua espécie, a raça branca, independentemente do simbolismo que os Antigos Egípcios lhe atribuíram, rolou para a porta da actualidade uma quantidade de procedimentos, condutas, usos, hábitos, reformas, projectos, organismos, desportos, actividades económicas, voluntariamente, de borla e de moto próprio, mas agora para o remover de lá precisa que lhe paguem principescamente, a subsidiem pelo acréscimo de esforço, pela formação suplementar dos seus quadros, e para cumprirem um compromisso que eles mesmos ratificaram e subscreveram, de que é exemplificativo o Protocolo de Quioto, As Cartas dos Direitos Humanos, das Crianças, da Igualdade de Género, etc., etc., invertendo e subvertendo o princípio universal do poluidor pagador, tentando lucrar tanto ou mais com as práticas e procedimentos correctos do que aquilo que lucraram com os seus contrários ou incorrectos. Obrigando cada um e todos os seres actuais a pagarem com carências e assimetrias múltiplas o erradicar das desigualdades, injustiças, alterações climáticas, fundamentalismos, insustentabilidades, misérias, ilegalidades e guerras que eles próprios produziram e promoveram.
Enfim, demonstrando, que se o crime não compensa, visto que os resultados e consequências do aquecimento global abrange invariavelmente todos os povos e países, continentes, latitudes e sectores de actividade humana, pelo menos rende bambúrrios a muita gente, incluindo a quem o comete, mas nunca àqueles que apenas lhe sofrem os efeitos como suas únicas vítimas: os discriminados, empobrecidos, aviltados e inocentes. Nós, a arraia miúda!...
A que diz sim e quer participar, mas sistemática e incondicionalmente lhe respondem (e pagam) com o não da prepotência, intolerância e confusão, que os diminuiu secularmente. E a propósito... Outra coisa que me faz espécie: se o rendimento per capita (2003) dos alentejanos, incluindo os cidadãos das Lezírias do Tejo, a acreditar na caracterização do QREN-Alentejo é de 8 479 euros, e eu só recebo 2 638.30, alguém me sabe dizer para onde foram, ou vão, os 5 840.70 que tanta falta e jeito me faziam hoje em dia? O per capita, de 2003 para cá, desceu assim tanto? Eh, pá!!!
(Bom… Ou, se calhar também é maledicência minha, e meteram-no foi a render, para evitar que o gaste mal gasto. Foi. É. Pode ser… Será? )
Avia-te, que se faz tarde!
Desconheço se a este sentimento, sentença, ideia, assiste alguma razão científica, mas sempre me pareceu que a educação não se dá, não se ministra, não se vende, não se aplica como um antídoto social, antes se tem. Simplificando, diremos como afiançou J. Cristo ao demónio do alto da montanha, quando o dito cujo lhe prometeu dar tudo o que ambos viam se este o adorasse e lhe obedecesse: “mentira, não podes dar-me o que é meu”. Porque a educação é de cada um, direito de todos como a habitação e a saúde, mas é intransmissível, excepto pelo exemplo. Logo, se respeitarmos os nossos filhos como pessoas de plenos direitos, os alunos como cidadãos totais, não como menores que dependem de nós para sobreviver, nem como ignaros indolentes e insurrectos e indisciplinados que nos aborrecem, então sim estaremos a contribuir para a sua formação e aprendizagem, a cimentar e estruturar as suas capacidades criadoras e de cidadania, a reforçar o seu grau de habilidades e competências, com o mais simples e justo e eficaz método pedagógico até hoje descoberto pelos homens de bem das sociedades livres: o exemplo. Independentemente de serem, ou não, filhos de mãe à força e por decreto, que foram encontrados junto aos caixotes do lixo, em matagais à beira da estrada ou simples utentes da cidadania dos internatos e da caridadezinha, ou de jovens mães solteiras de que os seus patrões, aios, senhores, donos, se serviram parcimoniosamente para espalhar a missionária semente.
A educação e o conhecimento não se ministram como se fossem xaropes para a tosse e outras convulsões sócio-culturais, nem são poções ou mesinhas de podar os maus seres: são ilustrações daquilo que podemos observar, ser, modos de estar, conceitos seguros e universais, demonstrativos da qualidade de quantos nos rodeiam, seus graus de responsabilidade, lucidez, emancipação e capacidades de síntese, análise, permeabilidade, adaptação e sentido prático, bem como medidas do seu esforço e empenhamento na edificação do real actual, intenção de futuro e resguardar do passado. Que podemos ou devemos seguir, ou contrariar, imitar ou rejeitar, conforme os resultados visíveis e concludentes, e em linha de conta com o respeito que nos devotam, o quanto nos apreciam, se preocupam connosco, e nos impelem, ou motivam, a retribuir respeitando, apreciando, reverenciando, e sentido igualmente orgulhosos do seu convívio e conhecimentos, qualidade e profundidade de excelência das suas escolhas e discurso, notório sentido de justiça e avaliação de quem melhor pretende, e intenta, compreender-nos do que julgar-nos. Porque as escolas servem para aprender não para exibir as gracinhas de que somos capazes, a magnificência das nossas aptidões e genes, famílias e talentos, nem o excelso glamour do nosso verbo, aspecto e enquadramento social. E muito menos a perfeição ou apetência para a competitividade e domínio sobre os semelhantes, estejam eles abaixo ou acima de nós, conforme o alinhamento de estatutos e papéis sociais que imperam na sociedade a que pertencemos, esquecendo que nela não existimos apenas nós, mas também essas pessoas sobre as quais exercemos o nosso poder, ou das quais sofremos a influência de seu poder.
Pois o ideal de perfeição é algo que apenas condiz com quem o cria, inventa, estabelece tábua de conduta, e bastas vezes nem isso, que milhentos são os freis Tomás de quem se deve fazer o que ele diz e nunca o que ele faz, pelo que ninguém estranha, ou leva a mal, haver tantos ideais quantos os indivíduos que os congeminam, aleatórias tábuas de predicados com que se medem, e avaliam, os outros mas nunca os próprios, determinam as condutas dos demais mas impróprias para uso e benefício dos seus mentores, sabujos e pitonisas, autênticos espartilhos de torcer as personalidades, faixas de apertar os pés para que lhe não cresçam a vontade dos caminhos e desvendação do mundo, sob o fito de aperfeiçoar as suas potencialidades, afiná-las conforme o grau de exigência genética com que lhe fora carregada a pilha (de nervos), transmitido o código cibernético a que equivalerá a barra magnética da sua classificação social, número de identificação bancária, registo e título de propriedade, certificado de garantia e regras de livre trânsito entre Estados, regiões ou províncias. Daí que uns se outorguem o direito de julgar os demais, fazer da lei, educação e das regras de socialização uma espécie de camisas de forças com que transformar a cidadania livre e responsável e consciente em cidadania obrigatória de maternidade/paternidade à força, e outros a tenham como instrumento de estabelecer a harmonia social, a equidade e justiça entre pares e semelhantes. Mas todos – repito: todos – livres.
Enfim, quem dá o que desconhece, é porque tem mais do que merece, ou como diz o povo, quem cabritos vende e cabras não tem, de algum rebanho lhe vêm. Que à educação não basta nomeá-la para tê-la, nem legislá-la para transmiti-la: é preciso praticá-la, conforme o designo que é respeitando que se ganha o ser-se respeitado. Pois o tempo dos educadores de classe já esgotou, está fora de prazo, incluindo na China. E quem se não avia no povoado, servirá de repasto aos lobos do serrado. (Que o mesmo é dizer que cabritos argumentos são, que de cabeços em cabeças saltam, e como vêm assim vão, embora desconheça se isto, venha a ser um dia verdade... ou ditado!)
Nós aqui, e o futuro tão perto!...
Segundo o relatório da Agência Europeia do Ambiente, divulgado no dia 26 de Fevereiro, o número de viagens e passageiros cresce em continuado, principalmente nos sectores rodoviário e aéreo, que são aqueles em que devia haver significativa diminuição de uso, pois são os mais poluentes e prejudiciais ao planeta, comprometendo seriamente os ganhos ambientais com tecnologias e combustíveis limpos, o que, mais ou menos, explica sumariamente como depois de dois anos (16.02.2005 – 16.02.2007) da entrada em vigor do Protocolo de Quioto os compromissos assumidos continuam por cumprir, sobretudo em Portugal onde o escasso investimento – embora bastante propalado e grosseiramente exibido – nos sectores das energias renováveis, dos transpores públicos, gestão do património natural, ordenamento do território e aprovisionamento de água, agrava contundentemente a nossa participação e contributo para o aquecimento global e respectivas alterações climáticas. O acidente na linha do Tua, os dessoramentos costeiros e invasões oceânicas no Algarve, Caparica e Esmoriz não deixam quaisquer dúvidas sobre isso. O aquecimento global, o aumento dos gases com efeito de estufa (GEE), o degelo do Árctico e Antárctico, o aumento das catástrofes naturais e as alterações climatéricas atestam bem como os portugueses, e demais países que preferem atender aos superiores desígnios umbilicais do orgulhosamente burros, mas centro do mundo, do que às determinações da sustentabilidade e sobrevivência da espécie, na multiplicidade étnica e cultural e histórica e económica e política e religiosa que a caracteriza, se têm esforçado em agravar, piorar, fragilizar, conforme podem e menos trabalho dê, menos desgaste lhes exija aos neurónios, melhor os aliene e infantilize perante o universo dos países civilizados, sejam eles europeus ou não, fazendo jus ao bucolismo remansoso em que apurámos o caldo patriótico e na mansidão salazarista dos brandos costumes, e brandos miolos sempre prontos a revelarem-se na brandura da imutabilidade, tão branda e apagada como o cinzentismo pensador que, aliás, nos cozeu tão brandamente no passado, mas tão brandamente, ao ponto de mantermos as mesmas brandas linhas na cosedura do presente.
Daí que ninguém estranhe, nem se interrogue, sobre a acanhada morosidade de aderência (e subscrição) do Estado português ao Tratado da Antártida, a não presença portuguesa no IPCC em Paris, o insignificante empenho autárquico em melhorar as frotas, redes, horários e serviço dos transportes públicos, e batea eufóricas palminhas à confusão democrática entre o poder central e o poder local, que em vez de governarem a bem do país e das suas gentes, acham que devem perpetuar-se como oposição, contrariar na prática a aplicação das determinações do outro, provavelmente saudosos da guerra fria e conceitos familiares de viver de Abel e Caim, em que governar significava e equivalia a matar mais para dividir por menos.
Bruxelas adoptou novas metas de redução e emissão de GEE, sobretudo de dióxido de carbono (CO2), para 20% até 2020, mas dispondo-se a ir até 30%, desde que os países mais industrializados façam o mesmo, fomenta encontros de meteorologistas e apresentadores europeus de programas de televisão sobre as previsões do tempo, no âmbito de uma campanha de sensibilização para o contributo que cada um de nós pode dar no combate às alterações climáticas; não obstante, os nossos gestores da coisa pública continuam a ganhar os seus chorudos cobres sem seleccionar o lixo, manter computadores e televisores ligados em casa como no serviço, e a deslocarem-se no pó-pó para ir beber o seu cafézinho de má-língua, quando o podiam fazer na tasca ao lado ou ir a pé.
E Stavros Dimas, comissário europeu responsável pelo ambiente, instou a comunidade internacional a iniciar urgentemente negociações respeitantes a um tratado geral sobre as alterações climáticas globais, que substitua o Protocolo de Quioto, cujos objectivos se esgotam em 2012; e o Comité Científico para a Investigação na Antártida (SCAR) promove o 3º Ano Polar Internacional – tendo sido os dois anteriores em 1882-83 e 1932-33 –, iniciando este mês, em Portugal, as suas comemorações; todavia, a barragem do Pisão continua a adiar-se, as Agendas 21 Locais inexistentes ou sem saírem do papel, a igualdade genérica esquecida nas actas das assembleias municipais, e as autarquias a entenderem por política a discussão do quanto lhes cabe do QREN para estender alcatrão, fazer banquetes de promoção de papas, enchidos e bolos, normalmente produzidos à base de organismos geneticamente modificados.
Isto é, o mundo pode desabar, que nós aqui, continuaremos impávidos e serenos, a insistir em manter-nos os insurrectos lusitanos, que não podendo usufruir egoistamente de algo preferimos destruí-lo a pensar, a permitir, a facilitar que outrem o desfrute: os nossos filhos e netos. Ou as nossas testemunhas abonatórias no julgamento da história do futuro. Esquecendo que se Deus não dorme, a Terra também não, embora as insónias não tenham nada a ver com isso!...
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