COMO NOS TORNÁMOS HUMANOS, por EUGÉNIA CUNHA

O Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian, realiza no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian (Av. de Berna, 45 A) a conferência – COMO NOS TORNÁMOS HUMANOS – que terá lugar no dia 21 de Janeiro, às 18h00, e será proferida pela Profª. EUGÉNIA CUNHA da Universidade de Coimbra, a que poderá também assistir em directo através do site: http://live.fccn.pt/fcg/ e enviar as suas questões ( darwin@gulbenkian.pt ) que o orador responderá no final da sessão.
Mais se adianta que Eugénia Cunha é Bióloga ( cunhae@ci.uc.pt ), doutorada em Ciências (especialidade Antropologia, 1994); é professora catedrática de Antropologia, do Departamento de Antropologia, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra desde 2003.
A evolução humana sempre foi uma das suas áreas científicas prioritárias porque entende que o conhecimento da história natural do homem é crucial para várias ciências tais como a Antropologia e a Biologia. Ver o homem como um Primata, conhecer os primatas não humanos, é um modo insubstituível de nos conhecermos. Entender o nosso passado é também indispensável para perspectivar o nosso futuro como espécie. A evolução humana é uma ciência eminentemente transdisciplinar, sujeita a mudança, rica em descobertas de vários tipos e em que a ausência de evidência não é evidência de ausência. A divulgação e o ensino da Paleontologia Humana têm sido uma constante.
Entre outros, criou e desde 1998 é responsável pelo Mestrado em Evolução Humana, agora 2º ciclo em Evolução e Biologia Humanas do Departamento de Antropologia da FCTUC. Nas licenciaturas de Biologia e Antropologia lecciona desde 1985 disciplinas de Evolução Humana e Paleontologia Humana.
Orienta/ou cerca de 30 teses de Mestrado na área em questão; orienta/ou 16 teses de doutoramento (incluindo 7 bolseiros da FCT). Preside o Departamento de Antropologia da FCTUC e o GEEV, Grupo de Estudos em Evolução Humana http://www.geevh.org/, cujo lema é “ a especialização conduz à extinção”.
Ministrou vária conferências, debates e seminários em Evolução humana em Universidades nacionais e estrangeiras assim como em Escolas Secundárias. Desde 1987 participa em congressos internacionais sobre evolução humana.
Tem desenvolvido e colaborado em vários projectos na sua área tais como o Projecto Ciência Viva sobre a divulgação da Evolução Humana intitulado “ A Grande Árvore da Evolução Humana” 2007.

COMO NOS TORNÁMOS HUMANOS
EUGÉNIA CUNHA
Esta pergunta recorrente que se coloca desde sempre vai buscar respostas a várias ciências e permanece um dos maiores desafios da antropologia e da biologia. Leva-nos a uma inevitável e fascinante viagem ao nosso interior e no tempo porque o entendimento de onde viemos elucida também sobre para onde vamos. E no exercício de mergulhar no passado, há que recuar até há cerca de 7 milhões de anos para encontrar os mais prováveis candidatos a primeiros hominídeos. Desde eles até ao presente, passamos por uma cadeia impressionante de antepassados, directos e indirectos, que vamos colocando na nossa árvore evolutiva, densamente ramificada mas da qual só conhecemos uma parte dos inquilinos. Falaremos de alguns deles, onde, como surgiram e como se relacionam connosco. As peças do puzzle vão surgindo com as novas descobertas e com a reavaliação de outras. Cada uma dessas peças conta-nos uma história. Mas cada vez mais, não são só os fósseis que permitem reconstruir a nossa história natural. O acesso ao nosso genoma e ao de alguns dos outros primatas levou-nos para uma nova era em que se procura identificar os genes e as alterações genéticas que nos tornaram únicos. A nossa singularidade remete-nos inevitavelmente para o órgão mais complexo do universo, o nosso cérebro. Recentemente, foi sugerido que um determinado gene, o HAR1F, possa vir a ajudar a perceber porque somos os mais encefalizados de todos os primatas. Mas temos que reconhecer que somos muito mais do que genes. A velha máxima “ somos aquilo que comemos” continua válida e o segredo do aumento do nosso cérebro, um autêntico devorador energético, parece ter sido contrabalançado por uma concomitante redução do aparelho gastrointestinal viabilizada por uma mudança na dieta. A incorporação de mais carne na dieta terá facilitado o crescimento cerebral. A hipótese ETH- Expensive- tissue hypothesis é aqui cruzada com o aumento do período de gestação, com a prematuridade do recém-nascido humano e com o crescente investimento parental por parte dos humanos como uma explicação possível para o facto de o nosso cérebro ser três vezes maior do que aquilo que seria de esperar. Mas este não é o nosso único traço distintivo. O bipedismo e a nossa linguagem têm sido cruciais para termos chegado onde hoje estamos. A chave está no cruzamento de todos estes traços distintivos, dos genes a eles subjacentes e na sua correcta contextualização ecológica. Sabendo que a evolução não é gratuita e que só quando os benefícios de uma dada mudança evolutiva superam os custos é que o processo avança, é um desafio destrinçar as cada vez mais peças chave deste intrincado ser que somos com a certeza de que muitas das questões só serão respondidas ao longo do próximo século, quiçá, no próximo grande aniversário de Darwin que, acredito, continuaria a dizer” Light will be thrown on the origin of man and history”.

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