Sobre o estádio no Estado


Previsões, sondagens, estatísticas e estimativas, cada um toma as que quer, para um ano a caldos Knorr...
Embora as contas estejam bem-feitas, os resultados não condizem. Isto é, na escala dos políticos, não obstante o raciocínio esteja correcto, as operações foram manietadas, adulterando assim os efeitos ao polinómio. As incógnitas e variáveis tiveram mais força que as acções concretas e as motivações. Intentou-se um salteado com pouca gordura, saiu uma salada fria, sonsa, deslavada e subalimentar. Para mais, se a «moda de faltar às aulas» nos dias de ponto (avaliação) pega, também denominadas «assistidas», e tudo indica que sim, num país cuja principal tradição reivindicativa nos andar de alevante só tem convencido pelo lado do não-fazer, então é caso para dizer que Portugal abrirá falência brevemente, como o exemplo que veio do frio (Islândia), pondo de pantanas todas as previsões, desde as orçamentais ou governativas, às do Banco de Portugal, Economist e europeias. O investimento público redundará noutro gasto supérfluo para enriquecer algumas empresas pródigas em engenharias, financeiras e obras públicas, far-se-á um novo aeroporto ainda que o tráfego aéreo diminua consideravelmente, dois ou três charcos para as rãs e lagostins de água doce se reproduzirem a bel-prazer, a aposta ferroviária limitar-se-á ao TGV, a quebra de receitas das autarquias locais pela redução dos efectivos fiscais no IMI, IMT, IRS, derrama e não aumento das taxas municipais e rendas das concessões à EDP, transformar-se-ão 555 milhões de € em meio milhão de razões para o poder local continuar com a política do pão com queijo que até hoje tão bem têm executado, e o ensino produzirá mais uns milhares de mal-formados aptos a licenciaturas e doutoramentos em retórica no safe-se quem puder, suficientes e necessários para desbaratar o PIB metendo-se na cadeia uns aos outros, alternando entre si nas secretárias ministeriais conforme o partido que estiver a comandar o establishment constitucional, assim como se manterão excluídos dos conteúdos programáticos do ensino básico, secundário, politécnico e superior quaisquer conceitos relacionados com o conhecimento e a liberdade, consciência cívica, responsabilidade, emancipação, respeito pela diferença, autonomia, gestão sustentável e democrática de recursos e distribuição equitativa dos resultados, ou valorização da cultura, da natureza, da paisagem, das condições ambientais e território aduaneiro, costeiro, atmosférico e da biodiversidade, desde que não seja para efeitos turísticos e imediatamente vendáveis. A eficiência energética será legitimamente usada para fugir ao fisco e dar dinheiro aos investidores nas campanhas eleitorais para as autarquias, subornar concelhos directivos nos estabelecimentos de ensino das áreas metropolitanas, aliciar novos quadros para a função pública, principalmente nas TIC e formação de formadores capazes de alterar as estatísticas do INE quanto ao desemprego e qualidade de vida. No restante, continuará a ser o país a que nos habituámos desde 1383-85: selvagem, mal amanhado, paroquial, corporativista, produtor de emigrantes e paraíso do xicoespertismo nacional, onde arte do bom viver se funda no gastar enquanto houver, pedir emprestado e não pagar, contar como ovo no cu da galinha, acusá-la de traição à pátria se não puser, e estabelecer compromissos que as gerações futuras hão-de cumprir como recompensa por terem nascido mesmo sem serem planeadas e muito menos desejadas.
Todavia, que ninguém perca a esperança, pois o PS(D) está com força de mudança: bastantes gays poderão vir a passar a ser menos homossexuais e muitas lésbicas menos fufas, além do que, finalmente, um português genuíno entrará na Casa Branca (como oferta de Barack às filhas).

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