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Mostrando postagens de maio, 2009

Famílias!

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“Os quatro cunhados saem com frequência e vão até ao vale, aos viveiros de cravos, onde vivem as irmãs suas esposas. Por lá travam duelos misteriosos com as brigadas negras, fazem emboscadas e vendette como se levassem a cabo uma guerra por conta própria, por antigas rivalidades de família.” Ítalo Calvino, In O Atalho dos Ninhos de Aranha (D. Quixote, p. 131, tradução de Maria do Carmo Abreu) Embora tenha terminado o prazo de validade ao celebérrimo modelo das ordenanças para toda a vida, cuja suprema sabedoria consistia em tirar o curso, ser admitido na Ordem para depois fazer o que lhe desse na gana, típico do com que máfia aqui, máfia ali, cá vamos subtraindo e roendo o colectivo, o que parece é que a coisa continua activa por aí, dando nas vistas, descaradamente e retouçando nas barbas das chefias, caso estas intentem alterar o status quo . A família, se transfigurada em modelo de grupo, deixa de ser família e passa a ser a célula primária do corporativismo. Transforma as relaçõe

LANÇAMENTO DO LIVRO:

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LIVRO DE LINHAGENS DA VILA DE NISA – Um Mapa de Identidades , de Filipe Manuel Louro Carita e João Maria Melato Carita Apresentação: Dr. José Dinis Murta Data : 31 de Maio às 17.00 horas Local: Biblioteca Municipal de Nisa

Lançamento de Livro

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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher Data e Local: 27 de Maio às 18.00 horas Fundação Calouste Gulbenkian – Auditório 3 Av. de Berna, 45A, Lisboa

Cláudia e Rafael

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Soneto a duas tartarugas (que eu conheço) Desexilado sou agora que me nomeaste aqui Entroncamento de sentidos alerta na esquina Adorno andrino no dorso da cidade imo de si Estatueta breve em marfim ao Sol de Arina. Da água a seiva húmida de coligir a pele senti Sede sob a concha o corpo aos membros ensina Que no frio é casa ou no estio o meio que escolhi De guardar a asa do lento voo pelos rios acima. Até à nascente do inclinado sol, o raio, a luz, a seta Que a estrela que busco entra pela janel@ abert@ E torna cada segundo contigo mais que a hora certa. Porém, o melhor da desibernação é este asterisco Por cuja mão cresce o astro ou se clarifica a meta E sacia o vício dando-me na boca precioso marisco!

Um poema de Al-Mutamid

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Só eu sei quanto me dói a separação! Na minha nostalgia fico desterrado À míngua de encontrar consolação. À pena no papel escrever não é dado Sem que a lágrima trace, caindo teimosa, Linhas de amor na página da face. Se o meu orgulho não obstasse Iria ver-te à noite: orvalho apaixonado De visita às pétalas da rosa. Al-Mutamid (Beja, século XI)

LIBERDADE

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Liberdade, que estás no céu... Rezava o padre nosso que sabia, A pedir-te, humildemente, O pão nosso de cada dia. Mas a tua bondade omnipotente Nem se ouvia. Liberdade, que estás na terra E a minha voz crescia De emoção. Mas um silêncio triste sepultava A fé que ressumava Da oração. Até que um dia, corajosamente, Olhei outro sentido, e pude, deslumbrado, Saborear, enfim, O pão da minha fome. LIBERDADE, QUE ESTÁS EM MIM; SANTIFICADO SEJA O TEU NOME. Miguel Torga

Player before Birth, por Louis Macneice

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Súplica Antes de Nascer (Player before Birth) Ainda não nasci; escutem-me! Não deixem nunca o morcego sanguissedento ou a ratazana ou a doninha ou o vampiro de pés aleijados chegarem ao pé de mim. Ainda não nasci; consolem-me. Temo que a raça humana com altas paredes me emparede, com drogas fortes venha a drogar-me, com enganos sábios enganar-me, em negras prateleiras e em banhos de sangue ensopar-me. Ainda não nasci; dêem-me Água para embalar-me, erva a crescer para mim, árvores que falem comigo, céu que cante para mim, pássaros e uma luz viva atrás do meu espírito, para me guiarem. Ainda não nasci; desculpem-me Os pecados que o mundo em mim vai cometer, as minhas falas quando me falarem, meus pensamentos quando me pensarem, minha traição engendrada por traidores atrás de mim, minha vida quando assassinarem por meio de minhas mãos, minha morte quando vivam por mim. Ainda não nasci; contem-me Os papéis que hei-de desempenhar, as minhas deixas quando os velhos me admoestem, burocratas m

Payton Geldi, por Zara

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Payton Geldi Payton geldi meyhaneye dayandi Siyah gömlek al kantara boyandi Garip annen oy buna nasil dayandi Aglama çakirim alir alir giderin seni Arar isen yar gönlünde bul beni Gide gide gitmez oldu dizlerim Aglamaklan görmez oldu gözlerim Nazli yare geçmez oldu sözlerim

Os Remakes e a Posteridade

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Remakes e posteridades: a TV e a cultura – eis mais uma contradição perfeita “A televisão é o único soporífero que se toma pelos olhos.” Vittorio de Sica Muitos são os hábitos que a humanidade tem perdido ultimamente: entre eles, o de conversar, o de conviver pensando, criticando, apreciando, estabelecendo laços para além das conveniências, para além do bota-abaixismo do narcismo frustrado e da peste emocional, da rigidez caracterial e dos fundamentalismos vários com que os terroristas da cultura e da religiosidade tentam cumprir o seu medo e desconfiança pelo outro, por menos que o conheçam, sobretudo se ele não bate palminhas a toda a porcaria que geram, gerem e propalam, a confirmar o pressuposto do antigo ditado, antigo é claro mas jamais desactualizado, que "quem se mistura com merda fica sempre cagado". Aquele conversar entre amigos, no café, ainda que muitos o não sejam e não passem de inimigos com problemas de motivação, de que falavam o Aquilino ou o Raul Brandão no

Poema de Natália Correia

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(De) SETE MOTIVOS DO CORPO por Natália Correia 6. Quando em halo de fêmea húmida e quente São íntimas ao fogo as ancas sábias, Está o corpo maduro no seu tempo Aromático de rosas esmagadas. São as Circes: fogueiras reclinadas Como panteras em nuvens de magnólias; Coxas versadas em abrir às lavas Do desejo confins de lassas glórias. Do amor, lúcida e plena anatomia; Magníficas mulheres com flor e fruto; Corpos de vagarosa fantasia Que a febre afunda em estrelas de veludo. Num esplendor de poentes envolvidas, Sentadas têm pálpebras de violetas; Mas erguem-se abrasadas; e despidas São um verão a sair de meias pretas. Capelines que lendas insinuam, De segredos os olhos lhes sombreiam. Dos ombros pendem-lhes mantos de volúpias São fábulas que os moços estonteiam. E aos seus leitos de prata e tílias altas Ébrios de lua sobem os mancebos. Elas enterram-se nuas como espadas Nas suas virilhas e armam-nos cavaleiros. Ó sazonada carne que circunda De asas, abismos e suados cumes O mistério d

Natal de Junho

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Houve grande dificuldade em agraciá-lo, o que se agravou substancialmente nas exigências gráficas da nomenclatura, por parte do funcionário do registo civil. Dessas, e talvez porque o escrivão fosse acérrimo defensor dos jogos da sorte, do tipo euromilhões e totobola, em que a garantia de êxito expedicionário cai de dupla nas nossas mãos, e como hesitasse na postura ou impostura do hífen, para garantir-lhe perfeição onomástica, assestou-lhe com um portentoso bisado homófono, e caligrafou com esmerado empenho e mordedura aprimorada de língua, no livro dos wellcomes a este mundo, demonstrando que estava ali para servir os clientes sob o beneplácito pretexto funcionário da rés pública: Benvindo Bem-Vindo, em gótico garrafal e de bonito efeito. «Apelidos: família da mãe?» «Esmeralda», respondeu de pronto a avó. «E do pai?» «Incógnito», afiançou a mesma, respondendo em compenetrado e místico êxtase, a fim de inculcar algum ar de tradição à solenidade do momento. Na falta de pai, a mãe e a

TRÊS POEMAS JAPONESES

1. Eis que hoje estou pensado: Valho menos que qualquer. Para o que vá perdoando Comprarei E levarei Flores a minha mulher. – Ishikana Takuboku 2. É manhã de Verão. Mas já as folhas Da figueira que seca se enferrujam E murmuram no vento E nos ramos que lhe tremem que lhes fujam. Dormir ou não dormir? Os fios eléctricos, Neles cigarras cantam, vão pelo céu acima; Murchas, as folhas tremem e os ramos temem O fim que se aproxima. Dormir ou não dormir? Quieto e escuro o céu, O céu que os fios cortam, Nuvens cobrindo o sol com seu véu. Cigarras tão distantes a meus ouvidos. E os que eu amo – perdidos. – Mamayara Chuya 3. As costas da mulher no espelho se espelhando Brilho macio de cera. Castanha, a cabeleira, No dorso seu tão liso luz de fosforescência. Borla de pó caída no lençol que, formando Com rugas de seu pano a carta marinheira De águas mediterrâneas, a Abril representa Em sua ausente essência. E o transe da mulher. Como cantava Com as linhas do corpo ruas de sua aldeia