TRÊS POEMAS JAPONESES

1.

Eis que hoje estou pensado:
Valho menos que qualquer.
Para o que vá perdoando
Comprarei
E levarei
Flores a minha mulher.

– Ishikana Takuboku

2.

É manhã de Verão. Mas já as folhas
Da figueira que seca se enferrujam
E murmuram no vento
E nos ramos que lhe tremem que lhes fujam.
Dormir ou não dormir? Os fios eléctricos,
Neles cigarras cantam, vão pelo céu acima;
Murchas, as folhas tremem e os ramos temem
O fim que se aproxima.
Dormir ou não dormir? Quieto e escuro o céu,
O céu que os fios cortam,
Nuvens cobrindo o sol com seu véu.
Cigarras tão distantes a meus ouvidos.
E os que eu amo – perdidos.

Mamayara Chuya

3.

As costas da mulher no espelho se espelhando
Brilho macio de cera. Castanha, a cabeleira,
No dorso seu tão liso luz de fosforescência.
Borla de pó caída no lençol que, formando
Com rugas de seu pano a carta marinheira
De águas mediterrâneas, a Abril representa
Em sua ausente essência.
E o transe da mulher. Como cantava
Com as linhas do corpo ruas de sua aldeia
E a ladeira do porto e o vinho que espumava
E a concertina
E até a chuva sobre o polido corpo se passeia.
Pela janela atira a borla. Da janela atirada
Lá vai como flor que o sol espera
E é luar mediterrâneo e perfume no ar a Primavera.

– Kondo Azuma

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