Fábulas Fantásticas, de Ambrose Bierce
O DESTINO DO POETA Jornadeava um Objeto pela estrada real, repleto de meditações e munido de mais coisa nenhuma, quando de súbito se viu ante as portas de uma grande cidade. Tendo pedido autorização para entrar foi preso sob a suspeita de acreditar em ritos e levado à presença do Rei. – Quem é o senhor e que profissão é a sua? – Perguntou-lhe o Soberano. – Sou Carlos, o Larápio, gatuno de esticão – respondeu o Objeto com grande rapidez de inventiva. O Rei ia-o mandar soltar quando o Primeiro-Ministro sugeriu o exame aos dedos do detido. Verificou-se que eram muito achatados e calosos. – Ah! – exclamou o Monarca – eu bem vos tinha dito! O nosso homem dedica-se a contar sílabas. É poeta. Entreguem-no ao Grande Dissuasor do Hábito de ter uma Cabeça. – Se Vossa Majestade mo permitisse – saiu-se, então, o Inventor Ordinário dos Castigos Engenhosos – eu proporia uma pena mais pesada. – Diga, diga – assentiu o Rei. – Que ele conserve a cabeça! E assim foi ordenado. In Ambrose Bierce, Fábulas