Piafé e marcar passo são andamentos de não ir a lado algum
Não Mais o Stop and Go
"O exercício do poder consiste tanto em lutar democraticamente pela sua conquista, como em saber sair do poder por mais que se invoque o interesse nacional como único motivo para dele não sair."
In Francisco Pinto Balsemão, Exercício do Poder e "Jogo de Vulgaridades", Editorial da Revista Progresso Social e Democracia, nº 4, Volume II, Setembro/Dezembro de 1984.
Tal como Roma, Mora e Pavia não se fizeram num só dia, também Portugal não sairá da cepa torta de um momento para o outro, por mais que os governos se esforcem a implementar as medidas enunciadas no plano (ou memorando) da Troika, adoptadas como programa de governo, sobretudo se para tanto não for acompanhado por uma onda de empenho e solidariedade dos demais cidadãos portugueses, sem responsabilidades administrativas e de gestão, é óbvio, mas que se subscrevem na linha de uma participação ativa, emancipada, consciente e amadurecida no exemplar reconhecimento das dificuldades com que nos iremos deparar no futuro próximo, tão próximo, que em nada não se distingue do presente. É urgente que esta tomada de consciência se faça com prontidão e não se atenha somente às forças políticas do arco governativo, antes pelo contrário assuma a dimensão de um desígnio nacional abrangente, rigoroso e sem ressentimentos. Desafetos políticos, objetivos eleitoralistas ou regionalismos divisórios. Eu próprio, que fui candidato à Assembleia da República por uma força da esquerda progressista não me coíbo de apoiar este governo em tudo o que for a favor da sustentabilidade, do equilíbrio das contas públicas, da resolução dos problemas estruturais e do emprego, de combate ao défice e investimento para o crescimento, do desenvolvimento humano, da segurança, da imagem externa e do recuperar da confiança dos mercados, do relacionamento entre Portugal e demais membros da CPLP, da biodiversidade, património, do racional ordenamento do território e da cidadania. E não me caem os parêntesis na lama por isso!
Entre o Bogio e a Boca do Inferno não há meio-termo, precisamente porque enquanto se discute e procuram bodes expiatórios as dificuldades aumentam, cavalgam, endurecem nas caraterísticas e especializam-se na eficácia. Não podemos continuar a fingir que tudo está bem e se recomenda, só para ganhar vantagens competitivas de lana-caprina e lugar de abençoado nas simpatias dos encarregados de secção, nem jogar de arrepio e tabela seca, dando garantias de uma coisa ser boa, ou óptima, só porque é nacional ou quem a vende morar na nossa rua, quando lhe vemos defeito e consequências nefastas, embora estas não nos prejudiquem diretamente mas a terceiros, pois não é pelo fato de estarmos todos mal que alguns têm que ficar ainda pior para beneficiar quem sempre se esteve nas tintas para quem estava mal quando nós andávamos a apanhar bonés. Uma crise não é uma esponja para apagar passados, nem muito menos um salvo-conduto para quem se conduziu no desmérito. Se há algo que antes era abominável, continua a sê-lo, e agora com muitos mais razões para o rejeitarmos. Porém, devemos abdicar de preconceitos e fatalismos, uma vez que temos que romper com aquilo que reforça sobremaneira a inércia portuguesa à inovação, reforma e mudança, sobretudo devido a estas se encontrarem ainda bloqueadas em três níveis distintos:
Bloqueadas culturalmente pela típica e tradicional da tenebrosa aversão ao risco, alicerçada nas rotinas e modos “estereotipados” e obsoletos de operar, escorados pela memória e reputação (narcísica), enciclopédicos, que impedem e obstaculizam à criatividade, originalidade e modernização;
Bloqueados administrativamente em consequência do inúmero e respectiva multiplicação de organismos públicos/fundações/secretarias/direções/agências e similares com competências mal definidas (e duplicadas), insustentáveis num Estado ainda simultaneamente centralizado que coexiste com feto raquítico dos corpos regionais, misturando competências e serviços numa amálgama sem lógica nem localização racional;
E bloqueadas politicamente porque o sistema eleitoral, a começar pela Lei nº 14/79, de 16 de Março, atiram o país para o ritmo de reformas do stop and go que é uma forma de parecer que muda ficando tudo na mesma, e às vezes até pior, a marcar passo num piafé de fraca escola e rafeiro estilo.
Enfim, a sociedade portuguesa que se apresta neste entrementes para se consolidar nos quadros interno, europeu e mundial, como uma sociedade amadurecida e emancipada à custa do esforço consciente dos cidadãos responsáveis, quer dizer, sofrido e adulto, dos próximos anos, será indiscutivelmente diferente daquela a que sobrevivemos caracterizada pelo laxismo, chico-espertismo e bairrismo corporativista serôdio, das últimas décadas, e ainda bem; sobretudo porque não nos podemos dar mais ao luxo do desenvolvimento por solavancos e arremetidas de alternância do vira-o-disco-e-toca-o-mesmo em que o stop and go nos solfeja as políticas, nem cair em propensas desforras à custa da qualidade de vida, bem-estar e progresso deste povo que não pediu para ser português mas não se importa, como até se orgulha disso.
Portanto, temos um governo e um enorme problema entre as mãos. Não é que não possamos falhar, nem tenhamos qualquer obrigação de fazer aquilo que outros ostensivamente destruíram. Mas temos cara, e queremos andar por todo o mundo sem vergonha da mostrar destapada, aberta e resplandecente. É essa a nossa vitória: consegui-lo. Entre outras menores e momentâneas, que as mais das vezes caem no ridículo… E, se for preciso, mudar outra vez, fazemo-lo, sem desprimor para ninguém. A nossa soberania não se trespassa em mercado ideológico nenhum desde que o tempo se começou a medir por badaladas lusitanas!
"O exercício do poder consiste tanto em lutar democraticamente pela sua conquista, como em saber sair do poder por mais que se invoque o interesse nacional como único motivo para dele não sair."
In Francisco Pinto Balsemão, Exercício do Poder e "Jogo de Vulgaridades", Editorial da Revista Progresso Social e Democracia, nº 4, Volume II, Setembro/Dezembro de 1984.
Tal como Roma, Mora e Pavia não se fizeram num só dia, também Portugal não sairá da cepa torta de um momento para o outro, por mais que os governos se esforcem a implementar as medidas enunciadas no plano (ou memorando) da Troika, adoptadas como programa de governo, sobretudo se para tanto não for acompanhado por uma onda de empenho e solidariedade dos demais cidadãos portugueses, sem responsabilidades administrativas e de gestão, é óbvio, mas que se subscrevem na linha de uma participação ativa, emancipada, consciente e amadurecida no exemplar reconhecimento das dificuldades com que nos iremos deparar no futuro próximo, tão próximo, que em nada não se distingue do presente. É urgente que esta tomada de consciência se faça com prontidão e não se atenha somente às forças políticas do arco governativo, antes pelo contrário assuma a dimensão de um desígnio nacional abrangente, rigoroso e sem ressentimentos. Desafetos políticos, objetivos eleitoralistas ou regionalismos divisórios. Eu próprio, que fui candidato à Assembleia da República por uma força da esquerda progressista não me coíbo de apoiar este governo em tudo o que for a favor da sustentabilidade, do equilíbrio das contas públicas, da resolução dos problemas estruturais e do emprego, de combate ao défice e investimento para o crescimento, do desenvolvimento humano, da segurança, da imagem externa e do recuperar da confiança dos mercados, do relacionamento entre Portugal e demais membros da CPLP, da biodiversidade, património, do racional ordenamento do território e da cidadania. E não me caem os parêntesis na lama por isso!
Entre o Bogio e a Boca do Inferno não há meio-termo, precisamente porque enquanto se discute e procuram bodes expiatórios as dificuldades aumentam, cavalgam, endurecem nas caraterísticas e especializam-se na eficácia. Não podemos continuar a fingir que tudo está bem e se recomenda, só para ganhar vantagens competitivas de lana-caprina e lugar de abençoado nas simpatias dos encarregados de secção, nem jogar de arrepio e tabela seca, dando garantias de uma coisa ser boa, ou óptima, só porque é nacional ou quem a vende morar na nossa rua, quando lhe vemos defeito e consequências nefastas, embora estas não nos prejudiquem diretamente mas a terceiros, pois não é pelo fato de estarmos todos mal que alguns têm que ficar ainda pior para beneficiar quem sempre se esteve nas tintas para quem estava mal quando nós andávamos a apanhar bonés. Uma crise não é uma esponja para apagar passados, nem muito menos um salvo-conduto para quem se conduziu no desmérito. Se há algo que antes era abominável, continua a sê-lo, e agora com muitos mais razões para o rejeitarmos. Porém, devemos abdicar de preconceitos e fatalismos, uma vez que temos que romper com aquilo que reforça sobremaneira a inércia portuguesa à inovação, reforma e mudança, sobretudo devido a estas se encontrarem ainda bloqueadas em três níveis distintos:
Bloqueadas culturalmente pela típica e tradicional da tenebrosa aversão ao risco, alicerçada nas rotinas e modos “estereotipados” e obsoletos de operar, escorados pela memória e reputação (narcísica), enciclopédicos, que impedem e obstaculizam à criatividade, originalidade e modernização;
Bloqueados administrativamente em consequência do inúmero e respectiva multiplicação de organismos públicos/fundações/secretarias/direções/agências e similares com competências mal definidas (e duplicadas), insustentáveis num Estado ainda simultaneamente centralizado que coexiste com feto raquítico dos corpos regionais, misturando competências e serviços numa amálgama sem lógica nem localização racional;
E bloqueadas politicamente porque o sistema eleitoral, a começar pela Lei nº 14/79, de 16 de Março, atiram o país para o ritmo de reformas do stop and go que é uma forma de parecer que muda ficando tudo na mesma, e às vezes até pior, a marcar passo num piafé de fraca escola e rafeiro estilo.
Enfim, a sociedade portuguesa que se apresta neste entrementes para se consolidar nos quadros interno, europeu e mundial, como uma sociedade amadurecida e emancipada à custa do esforço consciente dos cidadãos responsáveis, quer dizer, sofrido e adulto, dos próximos anos, será indiscutivelmente diferente daquela a que sobrevivemos caracterizada pelo laxismo, chico-espertismo e bairrismo corporativista serôdio, das últimas décadas, e ainda bem; sobretudo porque não nos podemos dar mais ao luxo do desenvolvimento por solavancos e arremetidas de alternância do vira-o-disco-e-toca-o-mesmo em que o stop and go nos solfeja as políticas, nem cair em propensas desforras à custa da qualidade de vida, bem-estar e progresso deste povo que não pediu para ser português mas não se importa, como até se orgulha disso.
Portanto, temos um governo e um enorme problema entre as mãos. Não é que não possamos falhar, nem tenhamos qualquer obrigação de fazer aquilo que outros ostensivamente destruíram. Mas temos cara, e queremos andar por todo o mundo sem vergonha da mostrar destapada, aberta e resplandecente. É essa a nossa vitória: consegui-lo. Entre outras menores e momentâneas, que as mais das vezes caem no ridículo… E, se for preciso, mudar outra vez, fazemo-lo, sem desprimor para ninguém. A nossa soberania não se trespassa em mercado ideológico nenhum desde que o tempo se começou a medir por badaladas lusitanas!
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