Bernstein e a Social-Democracia

Mudar com a mudança do mudar


“(…)

Sentirás quanto amarga; quanto anseia
O sal de estranho pão; que é dura estrada
Subir, descer degraus da escada alheia.

Tua angústia há de ser mais agravada.
Te acompanhará no vale do exílio, vendo
Ignóbil gente, estólida, malvada.”

In XVII Canto do Paraíso, de Dante Alighieri (1265-1321)

Entendamos a mudança como a inequívoca transição entre dois Estados estáveis e distintos. Embora esta se tenha feito de forma lenta, tardia e com o serôdio de uma crise que começou a cumprir-se quando a maioria a entendia apenas como uma ameaça, o que é certo, é que o Estado, cujo governo saiu da batuta do PSD e de Passos Coelho, não é o mesmo que o PS e José Sócrates orquestraram (de tão requiem tom). E a sociedade também. Se quando ela muda exige novo governo, a verdade é que quando tem novo governo este a motiva para nova mudança. Bernstein, ao aperceber-se da dinâmica constante inerente a esta mudança, sentiu a necessidade de esclarecer-se conforme a evolução socioeconómica e abandonou os dogmatismos simplificadores das teorias marxistas e nacionalistas, fundamentais, aprofundando-a, dando uma nova expressão ao socialismo, excluindo o caráter finalista deste, e quiçá escatológica, de uma sociedade perfeita para justificar o deitar mão de todos e quaisquer expedientes ou meios que a consolidem, e colocou o acento tónico na via da execução das reformas graduais e adaptadas permanentemente à realidade, promovendo assim a mudança que a si mesma se vai mudando dentro da estabilidade gradualmente conseguida, dando a este modelo evolutivo o nome de social-democracia.
É preciso encontrar as soluções que melhor se adeqúem ao momento histórico que agora atravessamos, e não basta o Mayor dos municípios, Ruas de nome mas de rotundas pronúncias, retóricas e efeitos, vir à praça pública puxar as brasas prà sua sardinha, propalando que a parcela da dívida da generalidade das autarquias não se deve aos custos com pessoal, porque deve!, e não como circunstância direta da transferência de competências de alguns ministérios – educação, quase todos! – para as autarquias, ou que a percentagem dessa dívida comparada com a do poder central ser diminuta – 20% –, porque também não é, considerando o elevado número de câmaras municipais (380) que há em Portugal, pretendendo defender a sua corporação atacando as outras, além do posto que nela tem e desempenha, para que se possa acreditar minimamente que a responsabilidade no défice não lhes cabe com elevada relevância, uma vez que as autarquias, conforme é observável a olhos vistos – conforme a proximidade revela! –, têm vindo a satisfazer clientelismos políticos que, na prática e no terreno, faz disso uma descarada inverdade, pela numerosa quantidade de pessoas sem préstimos, funções, nem habilitações que albergam, e nada fazem, além de alguns "mandados" pràs chefias deste ou daquele sector, que apaparicam com mimos e presentes vários, sempre que a coisa está mais tremida, que desde que entram até que saem apenas se dedicam à quadrilhice pura e desabrida, fazendo comentários gratuitos acerca de quem chega e de quem parte, difamando este e aquele, apontando defeitos pessoais, handicaps ou companhias, e que continuamente vão "deambulando" nas bibliotecas municipais, nos centros de arte e espetáculos, nos museus e serviços municipalizados, como se às dificuldades que ao país acometem fossem superiores, alheios e, sobretudo, delas únicos beneficiários.
E soluções inovadoras. Posto que, politicamente, a inovação significa reforma, reforma das pessoas como reforma do sistema social, consequente adaptação e modernização das estruturas do poder, solidariedade entre as franjas sociais, grupos e comunidades, bem como o inequívoco assumir dos novos valores, nomeadamente o da sustentabilidade e da biodiversidade, isto é, um intercâmbio de identificação plena entre a inovação em si mesma e as noções teóricas e práticas, efetivas e profundas da social-democracia, que é o único caminho e modelo de desenvolvimento socioeconómico que conjuga a criatividade individual, o respeito pela pessoa humana, os mecanismos de decisão e as necessidades sociais e individuais com acuidade soberana no exercício efetivo da democracia da participação e da cidadania, com inigualável êxito, até hoje conhecido, reconhecido e valorizado no nosso país, eleitoralmente pelo menos, se atendermos não só às últimas legislativas mas também a quantas desde a implantação da República nele aconteceram.
Ou seja, é preciso reformar inovando, mas inovar às vezes significa apenas fazer justiça para criar uma sociedade mais harmonizada, ter da política uma visão estética (Francisco Sá Carneiro), o que passa irremediavelmente por convidar essas pessoas a sair, a reformarem-se, pondo assim definitivamente fim à injustiça social praticada e evidente com a sua admissão, e não vale a pena argumentar que a sua reforma será onerosa porquanto todos sabemos, segundo as últimas notícias, a maior parte dos rendimentos mínimos, subsídios disto e daquilo que o Ministério dos Assuntos Sociais e demais organismos de assistência social emitiram nos últimos anos foram ilegalidades com custos elevados, e que dificilmente serão recuperáveis. Ou disto também são as agências de rating, na sua manifesta má vontade americana, as responsáveis?
Cá me queria parecer! Quanto mais depressa acabarem com a mentira a que chamam política mais depressa também se ganhará a confiança dos mass media, dos mercados, dos investidores, da banca, das agências internacionais de notação, dos eleitores, dos portugueses e europeus, dos críticos e intelectuais, dos trabalhadores e seus representantes, se honestos forem; enfim, mais depressa chegaremos ao espírito reformista de uma social-democracia em mudança dentro da estabilidade imprescindível e harmoniosa. Uma sociedade mais bonita e feliz!

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