A TRAGÉDIA DUM DRAMA (SOCIAL) "Lopo Alves tirou o relógio e viu que eram nove horas e meia. Passou a mão pelo bigode, levantou-se, deu alguns passos pela sala, tornou a sentar-se e disse: – Dou-lhe uma notícia, que certamente não espera. Saiba que fiz... fiz um drama. – Um drama! – exclamou o bacharel. – Que quer? Desde criança padeci destes achaques literários. O serviço militar não foi remédio que me curasse, foi um paliativo. A doença regressou com força dos primeiros tempos. Já agora não há outro remédio senão deixá-la e ir simplesmente ajudando a natureza." In JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS, A Chinela Turca É mentira que a democracia em Portugal foi arrumada e enlatada pela direita. Eram poucos, estavam arredados dos meandros do poder e da finança, e não tinham a mínima credibilidade pública. Durante as duas décadas posteriores ao 25 A, a direita não passou de uma anedota que se contava nas tascas do populacho, andando de Ponço para Pilatos com as
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Mostrando postagens de 2012
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ZÉ-PENDETE, O CULTIVADOR DE RESSENTIMENTOS “Um perito é aquele que sabe cada vez mais a respeito de cada vez menos.” N. BUTLER No tempo dos bons e dos maus [também] havia bons que eram maus e maus que eram bons; mas Zé-Pendente sempre fora um assim-assim desde pequenino. Politicamente correto umas vezes, chico-esperto outras, nunca se opunha nem cumpria, que a meio das vontades tinha a sua no mais coisa, menos coisa, com que se ia safando no dia-a-dia. Porém, em dada altura, em que quase todos se formaram também tirou a formatura, outorgando-se digno de chapelada e demais tratos que a populaça a partir de então lhe concedeu. Hoje, é licenciado, embora faça exatamente a mesmas coisas que antes fazia – e de igual maneira. Tem as mesmas atitudes perante a vida, a natureza, os animais, as leis, a ética e os alheios, de que se apropria avidamente sempre que a oportunidade lhe é propícia. Contin
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PREFÁCIO Sou um autor de ficção científica e um historiador. A combinação não é tão invulgar como parece – para citar só alguns exemplos, Barabara Hambly, Katherine Kurtz, Judith Tarr, Susan Shwartz e John F. Carr usaram o que estudaram no colégio para dar profundidade e autenticidade aos mundos que criaram. No meu caso a ligação entre as duas coisas é ainda mais estreita. Se não fosse um leitor de ficção científica, provavelmente nunca teria acabado por ser um estudioso de história bizantina. Andava no liceu quando li LEST DARKNESS FALL, o clássico de L. Sprague du Camp, em que ele lançava um arqueólogo moderno na Itália do século sexto. Comecei a tentar descobrir quanto era inventado e quanto era real, e fui apanhado. O resto, de várias maneiras, é história. Este livro, portanto, assenta fortemente no meu fundo académico. Passa-se no começo do século catorze de um mundo alternativo em que Maomé, em vez de fundar o islão, se convertera ao cristianismo numa missão comercia
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UM PONTO DE VISTA... O pseudónimo Luzia é uma espécie de autor exterior ao universo confessional da narrativa, distanciado, no intuito de absorver e relatar a (peculiar) aventura interior humana, mas nunca tanto que impeça, ou venha a impedir que seja continuamente confundida com o autor implícito (Luísa Grande) para, assim, elevar, esclarecer, conseguir, a máxima objetividade textual dentro da (inevitável) subjetividade intrínseca ao género lírico e intimista cultivado pelos parnasianos. As cartas, as observações quotidianas, a experiência de vida, a infância que Luzia quer servir/mostrar ao leitor, são as mesmas que Luísa Grande viveu, experienciou, teve, e quiçá terá registado nos seus diários; Luzia foi buscá-los, deu-lhe a redação que entendeu, embutiu-os quase como flashbacks no texto que estava a redigir/compor ao momento e consoante a estrutura que lhe definira. Os seus melhores textos sobre Portalegre provavelmente foram escritos no Funchal – e vice-versa. Também a
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Dia 28 de Maio, pelas 18 horas, sessão do Grupo de Leitura READCOM de Portalegre, na Biblioteca Municipal sobre obra de Jorge Luis Borges O Grupo de Leitura READCOM – ou, numa terminologia mais corporativista, o CLUBE de LEITURA READCOM – de Portalegre, teve o seu período de arranque entre 2005 e 2008, no qual foram abordados, com relativa acuidade e crítica, conforme a oportunidade, aproximadamente 40 livros doutros tantos autores. Foi uma viagem por temas como a identidade, a diferença, o género e a literatura. Seguiu-se uma recapitulação do formato, que culminou na mudança de lugar e cenário para esses encontros com os livros. E desde então, periódica e regularmente, de mês a mês, na Sala Polivalente da Biblioteca Municipal de Portalegre, têm vindo a suceder-se… Desceu-se pelo continente africano num ano, entrou-se na América Latina no outro, com visitas guiadas a diversos autores e nações. Os últimos foram Chile e Argentina. Esta com Jorge Luis Borges, sobre a obra Ficç
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LANÇAMENTO DA REVISTA PLÁTANO nº 5, dia 23 de Maio de 2012, pelas 16 horas, na Biblioteca Municipal de Portalegre Sob a iniciativa do coordenador e responsável editorial, Mário Casa Nova Martins, a revista PLÁTANO, revista de arte e crítica de Portalegre, nasceu em má maré mas tem-se aguentado. Tanto assim que já vai no nº 5, e surge num momento histórico algo anorético para a carteira da maioria. A adivinhar pela capa e colaborações, propondo uma grelha eclética e diversificada. Vai ser apresentada ao público, dia 23 de Maio, pelas 16 horas, na Sala Polivalente da Biblioteca Municipal de Portalegre. Talvez não seja uma oportunidade a desperdiçar para quem, depois de um almoço de feriado a meio da semana, esteja recetivo às novidades e iniciativas que a sociedade civil portalegrense vai pautando, sem outra aspiração além da participação ativa no seu tempo e território… Que tal?
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CANTO DE JARDIM Há, no fundo deste velho jardim, um canto que faz as minhas delícias. Ensombrado pelas árvores dos quintais vizinhos, tem qualquer coisa de misterioso como os bosques… A erva cresce entre o musgo. Aqui e ali, surge, na sua haste delgada, uma papoila vermelha. Contra o muro vivem, exuberantes, a hera, o alegra-campo e, onde pode surpreender um raio de sol, debruça-se, miudinha, clara, uma roseira de toucar. No inverno, cheira a violetas, a terra húmida. Na primavera, tem um perfume especial de erva fresca, de folhas tenras. O rouxinol, que ama o mistério e a sombra, escolheu este canto do jardim, para nele exalar as suas lágrimas musicais, as suas harmoniosas queixas… Se eu tivesse a voz do rouxinol, era ali que chorava, que me queixava também… Portalegre, junho 1922. In LUZIA, Almas e Terras Onde Eu Passei , Edições Europa, pág. 37. Lisboa, 1936
LUZIA, escritora portalegrense
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AQUI VENHO CONTAR-TE AS MINHAS AVENTURAS (E DESVENTURAS) "Os homens fizeram as leis deste mundo, tudo a seu gosto. Eles são os senhores. Quando mesmo tenham menos talento, menos dotes do que nós, podem aspirar à Glória, ao Poder, a tudo. Nós, a nada. Para sermos alguma, é preciso ficarmos sempre simples mulheres. Ne soyons rien pour rester quelque chose. " In FELICIANO SOARES, Luzia – Espectadora das Comédias do Mundo, citando Luzia, num excerto de Lições da Vida. OS QUE SE DIVERTEM e RINDO E CHORANDO ainda não podem ser consideradas obras elucidativas da originalidade literária de Luzia, porquanto o não são, mas sim como exercícios de estilo exemplares onde a autora giza, delineia, aponta e estabelece os pressupostos gerais do seu discurso, que assim é sujeito a uma depuração contínua através da repetição exaustiva, até este se transformar no diamante lapidado cuja mestria de excecional ficionista é observável em ALMAS E TERRAS POR ONDE EU PASSEI, A ÚLTIMA ROSA DE VERÃO e DI
Convite para todos e todas a participar em Momentos de Poesia
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JOAQUIM CASTANHO E LÍDIA GODINHO em MOMENTOS DE POESIA Conforme tem sido habitual, de algum tempo a esta parte, acontecem Momentos de Poesia todos os meses na Biblioteca Municipal de Portalegre, mais precisamente ao segundo Sábado de cada mês, pelas 16 horas, sob a generalizada coordenação de Deolinda Milhano. Para essas sessões, segundo também o que normalmente tem acontecido, são convidados alguns autores portalegrenses – mas não só –, poetas – maioritariamente, mas não só – para participar e assim prestar seu contributo, lendo ou declamando os seus textos, de acordo com a livre escolha e estilo de cada um, e no formato que melhor lhes convém. Desta feita, calhou a sorte, no próximo Sábado, dia 14 de abril de 2012, a Joaquim Castanho, escritor natural de Portalegre, que terá iniciado a sua atividade literária exatamente com o género poético, e que conta já com um considerável número de títulos originais e inéditos, entre os quais quatro de poesia ( EUCLASIA, CAPAS NEGRAS, FAIT-DIVER
LUZIA, uma escritora que amava a sua terra, mas ela nunca lhe reconheceu a sua arte e personalidade...
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CARTAS DE UMA VAGABUNDA a LUZIA Que belas cartas! Que suaves linhas! São «Vagabundas», boa amiga? Qual! Todas se voltam para Portugal, Como voltam de longe as andorinhas. Ora, tão altas, como as estrelinhas, Em viva nebulosa espiritual; Ora soluços de água; ou roseiral; Ou sol cantando entre a seara e as vinhas. Senhora de Lourdes e de França Acaso entende a nossa língua? Alcança Que falam dela? Talvez não, talvez… Mande-lhe as “Cartas”, Santo António é luso E lhe dirá: – «Deixai, que eu vos traduzo… Que pena não saberdes português!» ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA
LUZIA, uma escritora portalegrense que os portalegrenses quase desconhecem...
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Ribeira Formosa – 6 de Outubro Aqui estou enfim, saboreando as apetitosas migas, esquecendo a civilização e fazendo as pazes com a vida. Não sei se a Joanninha anda de bem com ela… Eu andava de mal há muito tempo. Os homens – que é como quem diz também as mulheres… – tinham-nos indisposto. Estas árvores, esta divina solidão, no abençoado silêncio, a saudade mais viva «das queridas vozes que se calaram» e… tantas outras coisas deliciosamente indefinidas, estão-nos reconciliando. Por amor da beleza da terra perdoo a fealdade do coração dos homens – pode sempre acrescentar mulheres, que, entre os dois… E pela doçura de tudo o que fica, esqueço a amargura de tudo o que passa. Não será duas vezes o mesmo coração em que pus o meu desejo, a minha esperança, mas daqui a muitos anos, se eu voltar, as mesmas sombras discretas me acolherão e, como agora, a terra me sorrirá pacificadora e linda. Il fait bon … Sirvo-me da doce expressão francesa porque não encontro nenhuma em português que diga tan
E viva a língua portuguesa de torna-viagem!
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O PÁSSARO EXÓTICO E A ABELHINHA SALOIA Em egípcio, gato diz-se «miau». Ora, a novidade!... Isso, até os nossos bebés gatinhantes sabem! Afinal, não é essa a onomatopeia que mais usam para o chamar? Ao gato – digo eu! Não há dia nenhum que não aconteça algo imprevisível a quem anda ao deus-dará. Ora lhe calha implicarem-lhe com os costumes, ora com as expressões, como com as companhias. O certo é desagradar a muitos, ser indiferente para alguns, tolerado pelos demais, e estimado pela família (mais chegada, ou dos que diretamente de si dependem). Porém, isso não aquenta nem arrefenta quem tem o brio e autoestima levantados ao pulso da cegueira de quem não sabe que, como reitera a voz popular, é bem pior do a que de quem não vê. Não havendo a mínima razão para gostarmos de nós, sobretudo pelo que de inconfessável acerca de nós mesmos sabemos, desde as observações escatológicas aos erros e vergonhas inauditas, tentamos enlamear os nossos vizinhos com a peçonha de nosso existir, e vai daí q