O Êxito e as Promessas
As Cortes da Galhofa
"O êxito está cheio de promessas até que os homens o alcançam: e então verifica-se que é um ninho do ano passado que os pássaros abandonaram."
– H. Beecher
Quase toda a gente diz disparates. Bom... exagero: das pessoas que eu conheço, muita delas, fazem-no. Incluindo eu!
O disparate é inerente à comunicação entre indivíduos de manifesta e declarada intenção social. E ele até não faz grande mal ao mundo, não atrofia a vida de ninguém, não avoluma a densidade e a estatísticas do errare humanum est (errar é próprio do homem), não destrói a natureza nem esgota os recursos naturais, e se polui o ambiente, é apenas nocivo a quem falhou o filtro de barbaridades, a que comummente chamamos sentido crítico, enquanto genuíno antivírus de prevenção contra as canalhices da governação, da vizinhança e da coleguia profissional, que é outra espécie de máfia na panelinha do safe-se quem puder. Porém, não reconhecer os próprios disparates ou branquear os dos demais, devido a qualquer sentimento de preferência, isso já se afigura deveras grave e prejudicial ao presente de cada um e futuro de todos nós.
A oratória da Assembleia da República, neste capítulo, é o suprassumo dos exemplos nocivos ao in/consciente coletivos da portugalidade vigente, enquanto pontapé de saída para o jogo do desenvolvimento no pano verde da sustentabilidade, alvitrando que no futuro nos espera um dominó enlouquecido com o qual teremos que dançar (cair/tombar) no dia-a-dia das lides do bem-estar, harmonia e sobrevivência. Uns dizem disparates, para os outros se rirem; e os que se riram, dizem depois outros disparates, em amena competição e faire play, para aqueles que antes os disseram, também se poderem rirem. É uma galhofa pegada, o que já sabíamos, pois desde há muito desconfiávamos que o deleite desses senhores e senhoras era, e é, o prejuízo que vão provocando em cada qual daqueles que os elegeu. As marafonas fazem teatrinhos, e os pinóquios capricham no donjuanismo consequente. Anima-se o regabofe do salão com os cantares e descantes da corte, anunciando uns para desanunciar outros, apresentando como decretos-lei os projetos-lei que jamais foram, atirando ao mar de seguida a pescada que nunca o foi. Mas a plateia ri-se, e o povo paga-lhes o divertimento, que é para isso mesmo que serve o orçamento!
Recapitulemos.
A cada qual a parte de ridículo que lhe cabe, por direito e conquista; que o saber de experiência feito, cabe sempre num ponto de vista. Contudo suspeito, que de entre todos os deputados que representam a nação, não haja um único sequer, que possa pôr sobre o peito a sua própria mão – sem se queimar de culpa (antes de um ato de contrição). Aliás, perguntamo-nos de que mais será capaz, aquele que não sente pudor nem vergonha por enganar um pobre?
Foi implantado e implementado – com pompa e circunstância – o célebre Plano Tecnológico, que se supunha vir a ser a vanguarda administrativa do progresso e desenvolvimento. Ninguém esquece o apanágio dessa "reforma" de excelentíssima expectativa e significado. Porém... Nas últimas eleições, milhares quiseram votar, mas não puderam exercer o seu direito que a constituição consagra também como dever de cidadão, porquanto o plano cumpriu a sua meta na complicadex expressão da cidadania democrática, porque o novo número estava lá mas não estava, não sendo omisso do cartão era todavia oculto, isto é, de consequências mágicas na subtração da identidade ao cidadão.
Por outro lado, empunhando o mesmo cartão, se tivermos isenção de taxas moderadoras e nos deslocarmos, por exemplo, a um hospital distrital (!!! – pasme-se...), temos que levar uma carta do Centro de Saúde a confirmar que somos quem somos e estamos isentos, pois no hospitalzinho não há uma máquina que descodifique/leia as informações configuradas no dito Cartão de Cidadão, que ao que parece a cuja cidadania ninguém passa cartão. Tem lá tudo: NID, NIF, NSS, NUS e de Eleitor – mas é o mesmo que não ter, pois ninguém o pode testemunhar, testar ou ler. Mas quando foi tirado pagámos 12 € por ele. É caso de Defesa do Consumidor (DECO), porquanto nos venderam um produto infuncional sob publicidade enganosa. De que mais será capaz quem engana um pobre?
Fácil resposta. Esse pobre que adoeça e vai ver como elas lhe mordem, desde que não seja a sorte favorece-lo no azar que teve e a coisa lhe passe com umas aspirinas... Porque se não for, então morre, de desespero, de desilusão e de falta de cuidados. E mais uma vez é do plano: está tramado. Se precisar de ir a um Centro de Saúde, então pode recorrer à Internet, e lá encontrará o site/portal do Centro que procura. O design é magnífico, as cores (re)laxantes, o letring magistral, as imagens bastante asséticas. As informações é que não são fiáveis pois, por exemplo, se quisermos saber a que horas terminam as consultas de recurso no fim-de-semana, seja ao sábado, então, estamparam lá que é às 20:00 horas mas se lá formos depois das 14:00 horas batemos com o nariz no portal. Isto é, tiveram verba para cumprir o plano mas depois esqueceram-se de actualizar os conteúdos num "reino" onde a única coisa que não muda nunca é a constante mudança, a elevada dose de incerteza e entropia que alimenta a governaça e nos destrói a segurança.
Mas tem uma vantagem de inegável valor calórico que nos agasalha o ânimo: as promessas que o Plano nos trouxeram foram um êxito estrondoso e imorredoiro. Continuam ativas. Continuam atuantes. Continuam promessas. E isso também está em qualquer plano. Sobretudo naqueles que não contemplam a respetiva e inerente avaliação. Posto que é esta a mais-valia dos planos. Então se não é aquilo que é porque lhe chamam plano?
Quem é capaz de enganar um pobre, o que não fará às outras pessoas?
Garante-lhe um ninho – mas das eleições passadas. Que os passarões abandonaram, por estar fora de prazo e vencida validade, como dirá H. Beecher. Ou como diria, se assistisse à galhofeira nacional da casa da portugalidade, onde parecem todos estar muito satisfeitos e bem servidos sem nada que fazer. E todos equipados com a tecnológica dignidade do plano... Então, porque não a aproveitam, e aos cómodos climatizados, modernos, reparados, para atualizar os simples conteúdos das instituições a que o aplicaram. Aí está, até podiam manter o mesmo número que não baixavam na qualidade (cortesã). Continuariam muitos, mas a fazer qualquer coisa útil a quem os elegeu, para que lhe não caísse a cruz em democracia rota de cidadania vã!
"O êxito está cheio de promessas até que os homens o alcançam: e então verifica-se que é um ninho do ano passado que os pássaros abandonaram."
– H. Beecher
Quase toda a gente diz disparates. Bom... exagero: das pessoas que eu conheço, muita delas, fazem-no. Incluindo eu!
O disparate é inerente à comunicação entre indivíduos de manifesta e declarada intenção social. E ele até não faz grande mal ao mundo, não atrofia a vida de ninguém, não avoluma a densidade e a estatísticas do errare humanum est (errar é próprio do homem), não destrói a natureza nem esgota os recursos naturais, e se polui o ambiente, é apenas nocivo a quem falhou o filtro de barbaridades, a que comummente chamamos sentido crítico, enquanto genuíno antivírus de prevenção contra as canalhices da governação, da vizinhança e da coleguia profissional, que é outra espécie de máfia na panelinha do safe-se quem puder. Porém, não reconhecer os próprios disparates ou branquear os dos demais, devido a qualquer sentimento de preferência, isso já se afigura deveras grave e prejudicial ao presente de cada um e futuro de todos nós.
A oratória da Assembleia da República, neste capítulo, é o suprassumo dos exemplos nocivos ao in/consciente coletivos da portugalidade vigente, enquanto pontapé de saída para o jogo do desenvolvimento no pano verde da sustentabilidade, alvitrando que no futuro nos espera um dominó enlouquecido com o qual teremos que dançar (cair/tombar) no dia-a-dia das lides do bem-estar, harmonia e sobrevivência. Uns dizem disparates, para os outros se rirem; e os que se riram, dizem depois outros disparates, em amena competição e faire play, para aqueles que antes os disseram, também se poderem rirem. É uma galhofa pegada, o que já sabíamos, pois desde há muito desconfiávamos que o deleite desses senhores e senhoras era, e é, o prejuízo que vão provocando em cada qual daqueles que os elegeu. As marafonas fazem teatrinhos, e os pinóquios capricham no donjuanismo consequente. Anima-se o regabofe do salão com os cantares e descantes da corte, anunciando uns para desanunciar outros, apresentando como decretos-lei os projetos-lei que jamais foram, atirando ao mar de seguida a pescada que nunca o foi. Mas a plateia ri-se, e o povo paga-lhes o divertimento, que é para isso mesmo que serve o orçamento!
Recapitulemos.
A cada qual a parte de ridículo que lhe cabe, por direito e conquista; que o saber de experiência feito, cabe sempre num ponto de vista. Contudo suspeito, que de entre todos os deputados que representam a nação, não haja um único sequer, que possa pôr sobre o peito a sua própria mão – sem se queimar de culpa (antes de um ato de contrição). Aliás, perguntamo-nos de que mais será capaz, aquele que não sente pudor nem vergonha por enganar um pobre?
Foi implantado e implementado – com pompa e circunstância – o célebre Plano Tecnológico, que se supunha vir a ser a vanguarda administrativa do progresso e desenvolvimento. Ninguém esquece o apanágio dessa "reforma" de excelentíssima expectativa e significado. Porém... Nas últimas eleições, milhares quiseram votar, mas não puderam exercer o seu direito que a constituição consagra também como dever de cidadão, porquanto o plano cumpriu a sua meta na complicadex expressão da cidadania democrática, porque o novo número estava lá mas não estava, não sendo omisso do cartão era todavia oculto, isto é, de consequências mágicas na subtração da identidade ao cidadão.
Por outro lado, empunhando o mesmo cartão, se tivermos isenção de taxas moderadoras e nos deslocarmos, por exemplo, a um hospital distrital (!!! – pasme-se...), temos que levar uma carta do Centro de Saúde a confirmar que somos quem somos e estamos isentos, pois no hospitalzinho não há uma máquina que descodifique/leia as informações configuradas no dito Cartão de Cidadão, que ao que parece a cuja cidadania ninguém passa cartão. Tem lá tudo: NID, NIF, NSS, NUS e de Eleitor – mas é o mesmo que não ter, pois ninguém o pode testemunhar, testar ou ler. Mas quando foi tirado pagámos 12 € por ele. É caso de Defesa do Consumidor (DECO), porquanto nos venderam um produto infuncional sob publicidade enganosa. De que mais será capaz quem engana um pobre?
Fácil resposta. Esse pobre que adoeça e vai ver como elas lhe mordem, desde que não seja a sorte favorece-lo no azar que teve e a coisa lhe passe com umas aspirinas... Porque se não for, então morre, de desespero, de desilusão e de falta de cuidados. E mais uma vez é do plano: está tramado. Se precisar de ir a um Centro de Saúde, então pode recorrer à Internet, e lá encontrará o site/portal do Centro que procura. O design é magnífico, as cores (re)laxantes, o letring magistral, as imagens bastante asséticas. As informações é que não são fiáveis pois, por exemplo, se quisermos saber a que horas terminam as consultas de recurso no fim-de-semana, seja ao sábado, então, estamparam lá que é às 20:00 horas mas se lá formos depois das 14:00 horas batemos com o nariz no portal. Isto é, tiveram verba para cumprir o plano mas depois esqueceram-se de actualizar os conteúdos num "reino" onde a única coisa que não muda nunca é a constante mudança, a elevada dose de incerteza e entropia que alimenta a governaça e nos destrói a segurança.
Mas tem uma vantagem de inegável valor calórico que nos agasalha o ânimo: as promessas que o Plano nos trouxeram foram um êxito estrondoso e imorredoiro. Continuam ativas. Continuam atuantes. Continuam promessas. E isso também está em qualquer plano. Sobretudo naqueles que não contemplam a respetiva e inerente avaliação. Posto que é esta a mais-valia dos planos. Então se não é aquilo que é porque lhe chamam plano?
Quem é capaz de enganar um pobre, o que não fará às outras pessoas?
Garante-lhe um ninho – mas das eleições passadas. Que os passarões abandonaram, por estar fora de prazo e vencida validade, como dirá H. Beecher. Ou como diria, se assistisse à galhofeira nacional da casa da portugalidade, onde parecem todos estar muito satisfeitos e bem servidos sem nada que fazer. E todos equipados com a tecnológica dignidade do plano... Então, porque não a aproveitam, e aos cómodos climatizados, modernos, reparados, para atualizar os simples conteúdos das instituições a que o aplicaram. Aí está, até podiam manter o mesmo número que não baixavam na qualidade (cortesã). Continuariam muitos, mas a fazer qualquer coisa útil a quem os elegeu, para que lhe não caísse a cruz em democracia rota de cidadania vã!
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