Regresso ao Passado Imaturo

Voto e votarei, que ao rancho e ao pré, nunca faltarei


A democracia participativa e da cidadania pode ou não assentar na democracia directa embora, disso não restam quaisquer dúvidas, ambas reconheçam que a representatividade seja um princípio para a democracidade sistemática e plena, um caminho para algo superior, e não um fim político em si mesmo. A abstenção é o antónimo inequívoco dela. A incompetência o seu descendente directo. O caos, a bancarrota, a destruição da sociedade e suas instituições fundamentais, a desumanização e as tiranias, as ditaduras e a destruição do Estado de Direito, a sua magna realização.
Enquanto a matreirice e a esperteza saloia forem os valores premiados pela política portuguesa, dificilmente este país – tão desprezado por quem dele subsiste... – encontrará um rumo positivo e eficaz ou eficiente com destino ao desenvolvimento e sustentabilidade. E, independentemente das facilidades de acesso, crescente valorização na formação e desempenho, êxito na conclusão do ensino superior, o que verificamos indesmentivelmente é que os conhecimentos administrados se perdem pelo ralo da mediocridade, mal de lá saiam aqueles que tiveram o privilégio de o frequentar, quase nada é retido e muito menos praticado, nomeadamente no quanto à constitucionalidade, civismo, cidadania, pensar, agir e querer objectivos, uma vez que continuam a insurgir-se e reivindicar precisamente aquilo que queriam os mais ignaros do pré-25 A: Rancho e Pré garantidos, de forma vitalícia, se possível for.
Ora isto é sintomático de como funcionam as grandes mentalidades por ele formadas e dele saídas... E de onde meteram os pilares fundamentais da democracia: a defesa das liberdades, a solidariedade, a justiça, a responsabilidade, a consciência partilhada, a emancipação, a autonomia, a inovação e o conhecimento, a transparência e a honestidade, a igualdade e a cidadania activa. No lixo, e sem qualquer preocupação de reciclagem.
E de como usam as máquinas topo de gama das TIC que os papás e vovós lhes compraram, no seu acérrimo combate ao minúsculo e democrata Magalhães, a que são invariavelmente contra, por puro despeito, já que no seu tempo de ensino básico não lhe tiveram acesso: só para jogar na Quintinha do Facebook, posto que na grande maioria nem o Word utilizam corretamente ou sabem para que serve um motor de busca, dos mais divulgados e conhecidos, como o Google.
Todavia, são os primeiros a saber como os demais devem escrever e o que escrever, como devem publicá-lo – em suporte papel, pois claro!, que um escritor sem livros "físicos" é inconcebível –, e que conteúdos abarcar ou desenvolver, que personagens e ambientes retratar, as siglas a promover e a semiótica contemplada. Mas não só: outorgam-se ainda com direito a definir depreciativamente quem escolhe ler o que escrevo como "à rasca" e de gosto duvidoso.
Nem sentiram qualquer pejo em votar em partidos que já tinham anunciado a extinção do Ministério da Cultura, depois do anterior governo já ter extinguido a "Secretaria de Estado do Livro, da Leitura e das Bibliotecas"... E o que é que isso quer dizer? Como é que alguém que quer acabar com a cultura se autoriza a defini-la? Como é que alguém se considera com direito a exigir que não vá o tocador além do rabecão? Por falta de cultura, e de cultura democrática, que é assim que se comporta quem está tal e qual como caiu do sobreiro: sente prazer em dar à ignorância um estatuto exemplar... Depois queixa-se que a vida lhe corre mal.
Ah, canudo!

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