Sherlock Holmes Contra Jack, O Estripador

Sherlock Holmes Contra Jack, O Estripador
Ellery Queen
Trad. Eduardo Saló
192 Páginas

O plano de fundo que sustenta a presente obra, é das maiores confusões que já alguma vez a literatura engendrou: dois primos (Frederic Dannay e Manfred B. Lee – 1905-1982 –, ambos redactores publicitários, e não obstante tenham passado a vida a discutir), criaram de parceria um narrador-detective, a atender pelo chamamento de Elery Queen, que não só veio a tornar-se mais famoso que os seus criadores como a sobreviver-lhe, porquanto continuam a sair novelas suas, ou da outra parelha suplente (Manford Lepofsky e Manfred Bennington Lee – 1905-1971),sabe-se lá!, que, auxiliado por um playboy com o aristocrático e principesco nome de Grant Ames III, se insurge contra a autoridade de Sir Athur Conan Doyle e sus muchachos, nada mais, nada menos que Sherlock Holmes e Dr. Watson, para a identificação desmascaramento do cruel serial killer londrino, Jack, de cognome, O Estripador.
Imaginosamente – ou nem tanto – Ellery parte na peugada do sinistro assassino montado na pena do Dr. Watson, quando Grant Ames III lhe impinge um diário inédito do diligente e esforçado repórter ou principal testemunha da aventureira e celibatária existência de Holmes. Lançado o desafio, estabelecida a igualdade de oportunidades e de acessos aos dados, estala então uma corrida de "mano a mano e par a par", cujo desfecho tem como inequívoco e excepcional beneficiado o leitor, pois pode assistir, de camarote, ao desenrolar e desdobramento de duas mentes e lógicas de raciocínio tão diferentes, quer nas suas génese e formação, quer nos tempos, ritmos e habitats, quão eficazes na comum tarefa do arrebatamento – porque é sempre disso que se fala quando se fala de arte, sobretudo se de literatura (ainda que de cordel).

A Study in Terror, que também veio a ser o título original do filme que se lhe baseou, pelo Colombia, com John Neville, Anthony Quayle e Georgia Brown por protagonistas, teve a sua primeira edição em português, tanto quanto sei!, no ano de 1966, data que, curiosamente, coincide com a do lançamento em inglês, pela Casa Portuguesa (com certeza), em Edições de Bolso, cuja tutela editorial (suponho) cabia a Luís de Campos – esse mesmo e se calhar, a quem devemos O Estirpador de Lisboa, de 1984, e que terá provocado ferrenha celeuma e zunidor burburinho durante vários anos seguintes –, já então traduzido por Eduardo Saló. Mais tarde terá vindo a ser publicado pelas Edições 70, na Colecção Alibi, da qual é a figura de proa e número um. Mas, comparativamente, quer nos formato, quer na encadernação, poucas alterações sofreu, à excepção de pequenas diferenças na composição e justificação do texto, resultantes, provenientes e em consequência de erróneas interpretações em algumas "incoerências" da primeira grafia, que em nada vêm a prejudicar o produto global, e trabalho final, e antes lhe emprestam pontuais diversidades que, de acordo com o costume, são o peculiar sal do coleccionismo.

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