O Homem Ilustrado



O Homem Ilustrado
Ray Bradbury
Trad. Eurico da Costa
216 Páginas

Os contos que compõem esta colectânea, embora se sucedam de forma inesperada e imprevista, ou cuja não é superintendida por nenhum encadeamento lógico, funcionam estruturalmente como flashbacks extraídos à experiência ilustrada de um homem tatuado com imagens tridimensionais. É no seu corpo/tela que elas se observam e se movem; e cada parte dele, cada centímetro de pele pergaminho, relata uma história inaudita e diferente. Ao narrador, a quem esse homem se junta para passar a solidão da noite, mais não compete que contar o que vê nele; mas o discurso é de Ray Bradbury, recheado de fantasmagorias marcianas – seja lá o que isso for e signifique –, prosopopeias, animismos, projecções irónicas, imagens e demais alucinações típicas do figurativo literário, que abastecem o universo da retórica inebriante surrealista, e nos conduz aos antípodas da estranheza, principalmente daquela que é logicamente possível em ficção científica. Contos lidos uns, imprevisíveis e esquisitos outros, mas fantasticamente credíveis todos, em sua tangente raiação com o impossível, são maioritariamente transpostos em Marte, que continua vermelho e ideal mesmo depois de todos os vaivéns que lhe conhecemos, e utópico sim, sobretudo para essa gente que aposta em manter aceso o direito ao sonho de serem felizes.

Ou seja, este autor, mesmo para os que já leram O País de Outubro, Vozes Marcianas, Crónicas Marcianas, Mundo Marciano, A Última Cidade de Marte, continua a sugerir-nos e sugestionar-nos as raízes quadradas dos círculos, autoriza-se a provar-nos como, ainda que a imaginação não tenha chegado ao poder, conforme era slogan dos terrenos e verdes anos revolucionários, os deuses devem e podem continuar a lutar, porquanto ao usufruí-la nos dará sempre a possibilidade de dele – do poder, digo eu –, prescindirmos com orgulho, com prazer e sem remorsos. Porque nos facultará igualmente outro poder que só muito dificilmente alguém poderoso terá acesso...

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